domingo, 30 de novembro de 2008

bit X 2









Firmino Pereira, mais conhecido por Zito C., é o autor de «bitsounds», o podcast musical que hoje mesmo completa dois anos de edições e está de parabéns pela qualidade e continuidade. «bitsounds» já chegou ao mundo da webradio [Rádio Zero] e vai na edição nº 74. Mas, até ao dia de hoje, há um percurso que vamos agora conhecer na última das entrevistas que desde Fevereiro de 2006 foram sendo aqui publicadas aos podcasters que viriam a formar o núcleo fundador da recentemente inaugurada «Irmandade do Éter».
Mais do que a viagem a uma caixa de música avariada, vamos ficar a saber melhor quem é Firmino Pereira/Zito C., o que pensa e o que tem a dizer sobre Rádio, Música e Podcast.


Entrevista a ZITO C.


Quando aderiste ao Podcast? Como surgiu a ideia?

O primeiro «bitsound» nasceu a 30 de Novembro de 2006, e ainda com muito pouco conhecimento sobre podcasts. A ideia era muito simples, deixo a 'declaração de intenções' publicada na época:
"A experiência de gravar um podcast é semelhante à gravação de uma cassete com a compilação daquelas músicas que gostamos muito e que gostamos de partilhar. A diferença é que as cassetes eram direccionadas para alguém em particular, o podcast não tem público-alvo definido, é para quem o encontre e tenha interesse em ouvi-lo."


Achas que o podcast é uma ameaça à rádio tradicional ou é apenas uma mais valia como foi o aparecimento da Internet?

Não considero que exista qualquer tipo de ameaça, como em quase todas as novas tecnologias, temos que saber tirar o melhor proveito delas. As rádios ditas tradicionais têm sabido tirar o devido proveito desta nova tecnologia ao colocarem já muitos programas no formato podcast. E um podcast serve para muito mais que substituir programas de rádio, é um meio de difusão sonora que cada um pode utilizar a seu belo prazer.


Como vês o panorama actual das rádios em Portugal?

Ainda me considero órfão da extinta XFM. Foi a primeira vez que me identifiquei com uma rádio, com o seu conceito, com os seus objectivos, com quase toda a música, e essencialmente com a forma de fazer rádio. Foi com a XFM que conheci alguma da melhor música que ainda hoje gosto, e foi com a XFM que abri horizontes para tantos novos sons. Depois da XFM virei-me para a TSF, pelas notícias, pelos excelentes programas de autor. Com a mudança que ocorreu na TSF apenas continuo a ouvi-la quando se muda de hora. A Radar tem muitos programas interessantes que acompanho menos do que gostava.


As playlists são um mal necessário? Um mal necessário para as rádios para a viabilidade económica por via das audiências?

Não gosto nada de playlists, aceito a justificação da “viabilidade económica” sem no entanto compreender que à sua conta se deixem cair ou limitem excelentes programas de autor. Uma das vantagens dos podcasts é a liberdade total do seu criador.


O que pensas sobre a actual lei das quotas de música portuguesa na Rádio?

Não consigo perceber como se pode impor a uma rádio privada que passe determinado tipo de música, deve ser uma opção de cada uma. E será que alguém cumpre? Alguém fiscaliza? E se uma rádio não cumprir?


Voltando ao podcast: até onde achas que vai ter este fenómeno?

É apenas mais um meio de divulgação/difusão sonora. Veio para ficar e para conviver pacificamente com a rádio.


O podcast é a salvação para os autores?

O podcast, tal como a webradio, alarga e muito os potenciais ouvintes, e pode ajudar alguns autores/programas que não encontrem espaço na rádio tradicional.


«bitsounds» está na webradio Rádio Zero. Gostarias que o programa «bitsounds» encontrasse espaço numa rádio com maior dimensão?

Nunca vi o «bitsounds» como um programa de rádio, nem nunca tive qualquer pretensão a.
A ideia da Rádio Zero partiu do Pedro Esteves [lado B], que achou por bem recomendar-me ao pessoal da Zero, eles fizeram o convite, eu aceitei. Muito sinceramente não acho que seja um “programa” que justifique passar noutro tipo de rádio.


És ouvinte de rádio? Quando começaste a ouvir e o quê?

Actualmente ouço muito pouca rádio, e aí talvez a culpa seja dos podcasts e dos leitores de mp3. Ouço essencialmente notícias (TSF), e alguns programas de autor da Radar e da TSF.
Ouvir rádio sem ser como ruído de fundo comecei por voltas dos 13/14 anos. Culpa da «Íntima Fracção» do Francisco Amaral. Lembro-me que passava já tarde, e que gravava em cassete para ouvir durante o resto da semana, e para tentar descobrir os nomes que por lá passavam.


Da rádio que actualmente ouves, o que é que não perdes de ouvido?

Como disse ouço cada vez menos música na rádio, dou apenas alguma atenção aos seguintes programas da Radar: «Álbum de Família»; «Discos Voadores»; «S.O.S. Radar» e «Vidro Azul». Os programas que mais gosto na rádio são todos da TSF: «Pessoal... e Transmissível»; «Terra-a-Terra» e «Cais da Matinha».


Quais são os radialistas que mais gostas?

Naturalmente os programas que sigo têm os radialistas que mais gosto: Carlos Vaz Marques e Fernando Alves. Gostaria também de referir os radialistas que melhor sabem "dar música": António Sérgio; Pedro Esteves; Ricardo Mariano; Tiago Castro e Nuno Galopim. Uma nota especial para o excelente trabalho de sonoplastia de Mésicles Helin [da TSF].


Chegaste a ser ouvinte das Rádios piratas?

O mundo das rádios piratas passou-me um pouco ao lado...


Tens tido bom feedback do programa através da Internet e do Podcast?

O feedback que recebo é maioritariamente positivo, naturalmente nestas coisas da Internet quem não gosta vai embora sem deixar feedback.


Queres continuar a estar presente na rádio?

O «bitsounds» é um podcast que passa no éter virtual da Rádio Zero.
Penso continuar neste formato.


O que pensas do actual panorama radiofónico em Portugal?

Por cá há alguns programas muito bons, e rádios que tentam manter-se num mercado altamente competitivo. Como nos outros meios de comunicação social a competitividade nem sempre favorece a qualidade. O que menos gosto na maioria das rádios ditas comerciais é a falta de atenção que se dá à música. Mesmo em formato playlist as escolhas podiam ser mais interessantes, não arriscam nada, preferem dar às pessoas o que estas já conhecem.


Em tua opinião, qual seria/será a saída ou a salvação para a actual rádio tradicional?

A Rádio tem que se adaptar à constante mudança tecnológica. O desafio é partilhado com jornais e mesmo a televisão. Saber o quem, quando e como se ouve Rádio é fundamental, e principalmente não ignorar as novas tecnologias, antes saber tirar o máximo partido delas para chegar a cada vez mais ouvintes.


Já pensaste em dar voz – viva voz – às edições de «bitsounds »? Fazer a apresentação do alinhamento, por exemplo, como se fosse um programa de Rádio?

A questão da voz nunca foi equacionada para o «bitsounds», o formato não ajuda. A composição do «bitsounds» faz-se de muitos cortes e colagens de sons, sempre em camadas. O alinhamento que tento dar em texto escrito não é fiável, serve como referência. Com o «bitsounds» no alinhamento da Rádio Zero vou dando algumas pistas - em voz viva - sobre o que se vai passar no programa, e por agora fico-me por aqui. A voz masculina que apareceu algumas vezes, poucas, é minha.


De quem é a voz feminina no marcador de cada emissão de «bitsounds»?

A voz feminina é da Lara Ribeiro, uma “descoberta” do “caça-talentos” Pedro 'B' Esteves.


A música portuguesa ou em português está fora de «bitsounds». Alguma razão especial para isso ou é mera questão estética?

A falta de música portuguesa no «bitsounds» deve-se exclusivamente ao meu pouco, e lamentável, eu sei, conhecimento da música que se faz por cá. E ainda para pior, pelo «bitsounds» passa música de tantos e tantos países... um ponto a melhorar no futuro.


«Beating The Pearls» é um outro podcast ao qual estás ligado. O que é realmente?

O conceito do «Beating The Pearls» é simples: permitir que convidados façam um podcast, onde lhes é proposto:
"partilhar músicas esquecidas por muitos, desconhecidas por outros tantos, músicas fora de tempo, músicas gravadas na memória para sempre que necessitam de ser libertadas, que merecem voltar..."
Eu dou apoio técnico sempre que necessário.


«bitsounds»: http://bitsounds.blogspot.com/
«bitsounds» na Rádio Zero: 3ª feira (18:00/19:00):
http://www.radiozero.pt/programs/bit-sounds/
Mais sobre «bitsounds» na «Rádio Crítica: (17.Março.2008)

Outras entrevistas na «Rádio Crítica»:
Pedro Esteves (ladoB) 11.Fevereiro.2006
Ricardo Mariano (Vidro Azul) 18.Fevereiro.2006
Francisco Amaral (Íntima Fracção) 25.Fevereiro.2006
Nídio Amado ([percepções]; O Cubo) 07.Março.2006
Hugo Pinto (Miss Tapes) 17.Novembro.2008

domingo, 23 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (31)









João Gilberto: composição, voz e violão.
João NUNCA fez um playback na vida, excepto no Cinema, no filme “Copacabana Palace”. Ou tocava e cantava ele próprio, ou então não actuaria. Daí – mas não só por isso – existirem tão poucas actuações dele na TV. Esta é a gravação da Televisão pública Italiana (Raidue) de uma histórica actuação de João Gilberto no conceituado Festival de Jazz de Umbria, Itália, em 1996.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.


NÃO VOU PARA CASA
(João Gilberto)

Só vou para casa quando o dia clarear
Eu sou do samba pois o samba me criou
Se por acaso um grande amor eu arranjar
Não vou para casa, não vou, não vou
Não vou para casa, não vou, não vou

Eu sou do samba rasgado
Do samba bem ritmado
Que deixa a gente cansado de batucar
Mas se na roda do samba
Eu encontrar um amor
Aí, então, não vou para casa não, senhor, não vou, não vou

sábado, 22 de novembro de 2008

O Álbum Branco faz hoje 40 anos

















Ficou conhecido pelo nome de «The White Álbum», mas o verdadeiro nome do duplo disco dos Beatles chama-se exactamente «The Beatles». Foi editado no dia 22 de Novembro de 1968. Faz hoje 40 anos.
As quatro décadas de um dos mais significativos marcos da história pop/rock da segunda metade do século XX está a passar – literalmente – ‘em branco’ na Rádio em Portuguesa.
Mas há ainda (e até quando?) as excepções do costume. Felizmente que as excepções do costume mantêm a regra da pontualidade nestas alturas. É o caso do programa «Discos Voadores», de Nuno Galopim na RADAR. O jornalista do DN e autor do programa dedica a segunda de duas horas da emissão de «Discos Voadores» deste fim-de-semana a uma viagem ao passado, recordando alguns dos temas do «Álbum Branco» dos The Beatles. A indiferença da Rádio de maior dimensão em Portugal continua a passar ao lado do que é realmente importante na cultura musical. Em 2007 fizera o mesmo com os 40 anos do álbum «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» e, já neste ano de 2008, teve igual e reprovável comportamento na celebração de meio-século de Bossa Nova.
Pelo menos na RADAR, haverá a lembrança do «White Album» dos The Beatles.

The Beatles – “While My Guitar Gently Weeps” [The White Album] 1968

«Discos Voadores»,
Hoje, sábado (18:00/20:00) e amanhã, Domingo (20:00/22:00)
RADAR (Lisboa) 97.8 FM
Radar na Internet: http://www.radarlisboa.fm/

Mais sobre «Discos Voadores» e Nuno Galopim na «Rádio Crítica»: 26.Setembro.2005


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ladoB #200

Está disponível desde hoje (podcast/download) a emissão 200 do programa «ladoB» de Pedro Esteves.
Uma emissão especial e com vários convidados:
Telma Esteves (produção e apresentação); Ricardo MarianoPulsar»); Pedro Marques Pereira (Projecto Fuga); Ana Bravo (voz off); Sara Spade; Francisco Mateus («Linhas Cruzadas»); Scott Levesque (Wheat); Daniel Esch.








Falar do programa «ladoB» é falar inevitavelmente do seu autor, Pedro Esteves. Estamos todos aqui hoje a celebrar as duzentas emissões, a dar os parabéns a um espaço que desde 2004 nos tem trazido novos sons aos nossos ouvidos. E falar da importância do programa «ladoB» é falar também da importância que um espaço destes tem no actual panorama da Rádio que se pratica em Portugal, um panorama muito redutor - muito fraco - nas propostas musicais que apresenta. Todos nós temos a ganhar com o «ladoB» porque são espaços sonoros assim que nos trazem o novo e a novidade.

«ladoB» é divulgação e é descoberta!

Para mim é um privilégio ser ouvinte e colaborador do «ladoB». Colaborador desde Janeiro de 2006 com a crónica mensal «Linhas Cruzadas». Nessa primeira participação minha no «ladoB» trouxe ao programa uma das canções (On Some Faraway Beach) do primeiro álbum a solo de Brian Eno [Here Come The Warm Jets] e é com essa mesma canção que dou os parabéns ao companheiro da Rádio e amigo Pedro Esteves, renovando também os votos de muita força e coragem para continuar o «ladoB» por muito mais tempo.

A beleza de uma praia pode ser o paraíso de uma vida ou o inferno de muitas outras



Brian Eno – “On Some Faraway Beach” [Here Come The Warm Jets] 1973

Mais sobre «ladoB» e Pedro Esteves na «Rádio Crítica»:
ladoB (05.Maio.2005); Entrevista (11.Fevereiro.2006)


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (30)
















É das estrofes mais conhecidas da história da música brasileira. Tal como tantas outras composições da dupla António Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, esta canção teve – e continua a ter constantemente – novas versões. Na interpretação original com o guitarrista Toquinho e a cantora Maria Creuza, Vínicius de Moraes adicionou, com a sua própria voz, a narração do "Soneto da Fidelidade":

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor que tive:
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Eis a interpretação ao vivo de João Gilberto em São Paulo, com um público conhecedor, emocionado e rendido à arte dos maiores talentos de sempre da Bossa Nova
Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

EU SEI QUE VOU TE AMAR
(Tom Jobim/Vinicius De Moraes)

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Para te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (29)











Wilson Simonal de Castro (1939-2000) é talvez o nome mais obscuro e esquecido da Bossa Nova. Simonal foi um artista de muito sucesso nos anos 60 e 70. Pela mão do compositor e músico Ronaldo Bôscoli foi parar ao “Beco das Garrafas”, que nos anos 50 era o reduto da Bossa Nova no Rio de Janeiro. “Beco das Garrafas” era a rua onde se situava um conjunto de estabelecimentos nocturnos, no bairro carioca de Copacabana. Nos anos 50, o “Beco das Garrafas” era frequentado pelos artistas mais boémios da Bossa Nova. Consta que João Gilberto nunca lá pôs os pés. A alcunha de “Beco das Garrafas” deve-se à pratica dos moradores em atirarem garrafas vazias sobre os boémios mais barulhentos que saíam dos bares a altas horas da noite.
João Gilberto, o recluso, gravou “Lobo Bobo” no dia 4 de Fevereiro de 1959, em pleno Verão carioca. É um dos clássicos da Bossa Nova com o texto mais infantil, a par de “O Pato”.
Nas imagens, a interpretação de "Lobo Bobo" pelo esquecido Wilson Simonal, ao vivo na TV-Record em 1969.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

LOBO BOBO
(Ronaldo Bôscoli/Carlos Lyra)

Era uma vez um lobo mau que resolveu jantar alguém, estava sem vintém, mas arriscou e logo se estrepou. Um chapéuzinho de Maio ouviu buzina e não parou, mas lobo mau insiste, faz cara de triste. Mas chapéuzinho ouviu os conselhos da vóvó dizer que não para o lobo, que com lobo não fica só. Lobo canta, pede, promete tudo - até amor - e diz que fraco de lobo é ver um chapéuzinho de Maio. Chapéuzinho percebeu que o lobo mau se derreteu. Para ver vocês que lobo também faz papel de bobo. Só posso lhe dizer chapéuzinho agora traz um lobo na coleira que não janta nunca mais. Lobo bobo...


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (28)














Baden Powell (1937-2000) foi um dos nomes pioneiros da Bossa Nova, mas viria a abandonar o movimento para, em conjunto com Vinicius de Moraes, formarem um outro e novo movimento conhecido por «Os Afro-Sambas». Vinicius deixara também, por sua vez, a Bossa Nova. Esta nova aventura artística dos dois compositores foi encarada como um contra-movimento em relação à Bossa Nova. Ambos desmentiram e o tempo veio a confirmar que tinham razão. Powell e Vinicius nunca abandonaram por completo a Bossa Nova. Apenas quiseram expandir a sua arte por novos territórios da música brasileira, por possuírem talentos que não se resignavam a um só estilo.
Baden Powell, virtuoso guitarrista, aqui em dueto com a cantora Dulce Nunes, numa actuação na Televisão alemã em 1971.
João Gilberto gravou “Aos Pés da Santa Cruz” no dia 4 de Fevereiro de 1959 (há um vídeo com a interpretação de João ao vivo em Barcelona no ano 2000, mas de muito fraca qualidade de gravação. O violão nem se ouve…).

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

AOS PÉS DA CRUZ
(Marino Pinto / Zé da Zilda)

Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou

Em nome de Jesus um grande amor você jurou

Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou

Para mim você mentiu

Para Deus você pecou

O coração tem razões que a própria razão desconhece

Faz promessas e juras, depois esquece

Seguindo o mesmo princípio você também prometeu

Chegou até a jurar um grande amor

Mas depois esqueceu


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Miss 70













«Miss Tapes» completou, por estes dias, dois anos. Dois anos de, tal como refere o autor Hugo Pinto: Muitas interrupções, desmaios e devaneios depois, chega-se à edição 69 não sem algum espanto. Mas nem tanto. Afinal, a música nunca acaba. Teremos sempre o silêncio.

Em «Miss Tapes» o bom gosto e a qualidade estética imperam. As arquitecturas sonoras estão nos antípodas do que podemos encontrar hoje nas estações de rádio portuguesas. É, para já por isso, uma alternativa séria e segura para quem não quer ficar a dormir na forma anestesiante – leia-se: lavagem cerebral – a que os ouvintes hoje em dia estão sujeitos.
Em 2006, foram aqui publicadas entrevistas a outros podcasters/radialistas/bloggers. E, do elenco fundador da recentemente inaugurada «Irmandade do Éter» faltavam Hugo Pinto e Zito C. O autor de «bitsounds» também aqui estará no final deste mês, em entrevista, por ocasião do também segundo aniversário de edições. Mas agora, Hugo Pinto, autor de «Miss Tapes» que chegou agora à edição número 70.
Nesta entrevista, repetem-se questões levantadas aos anteriores podcasters a que a «Rádio Crítica» deu voz. Repetem-se – por coincidência ou não – algumas das mesmas inquietações e lamentos, dúvidas e incertezas, esperanças e desejos. Do podcast à música, da Rádio à vida.

A proposta é a mesma: quadros largos e profundos, esculturas com expressão e detalhe. Filmes mudos e musicais. Uma banda sonora quotidiana para uma vida real, surreal ou impossível. Um movimento orquestrado. Na noite, de dia. Ao entardecer.


Entrevista a HUGO PINTO

Quando aderiste ao Podcast? Como surgiu a ideia?

Aderi ao Podcast, como utilizador, em Novembro de 2006. A ideia surgiu devido à facilidade que hoje existe em podermos publicar e partilhar muito do que, também com extrema facilidade de meios, podemos produzir apenas com um computador ligado à Internet. Neste caso, podcasts musicais.


Achas que o podcast é uma ameaça à rádio tradicional ou é apenas uma mais valia como foi o aparecimento da Internet?

A maior ameaça à Rádio tradicional é a tradição. Ou seja, é a própria Rádio. E o mesmo se pode dizer relativamente à Imprensa ou à Televisão. A natureza destes meios implica uma dialéctica com a tecnologia e o progresso. Neste sentido, a Rádio e os outros meios considerados "tradicionais" devem saber integrar e tirar partido das extensões que a evolução proporciona. O vídeo não matou a Rádio, mas a Rádio mudou. Com o aparecimento da Internet aconteceram novas transformações. É assim que deve ser. Depois, é necessário ter em conta que na Rádio, na Imprensa e na Televisão trabalham profissionais, pessoas que dedicaram a vida a estudar o meio e a melhorar práticas comunicativas. Há uma sistematização do saber, um acumular – algo que os novos meios ainda não têm. Lá chegarão.


Como vês o panorama actual das rádios em Portugal?

Vivo fora de Portugal desde 2005, e o conhecimento que tenho do panorama actual advém das visitas periódicas que faço desde então. Pelo que me vou apercebendo, pouco mudou desde 2003 ou 2004. E isso, para mim, é um mau sinal. Em 2003, a TSF sofreu – e aqui sofreu tem um sentido literal – uma reestruturação que, entre outras coisas, apagou do éter nacional o melhor programa musical de Rádio dos últimos anos. Falo, obviamente, da «Íntima Fracção», de Francisco Amaral. Mais recentemente, também o António Sérgio perdeu a possibilidade de ser ouvido em todo o país. Antes disto, já tinham perecido rádios como a XFM ou a Voxx, dois projectos realmente alternativos. Os autores, aqueles que ouvem e fazem ouvir, têm cada vez menos espaço. Sobram as rádios locais, sendo que nas grandes áreas urbanas a dimensão local pode significar uma grande audiência.


As playlists são um mal necessário? Isto é, um mal necessário para as rádios e para a viabilidade económica por via das audiências?

Presumindo que a pergunta se refere às playlists que parecem ditadas por autómatos, diria que as playlists são um mal, ponto. A Rádio teve sempre um papel de agente divulgador musical. É óbvio que têm que haver critérios para a selecção musical, mas esses critérios deveriam ser definidos com uma lógica de promoção da diversidade. Há imensa música dita popular ou de cariz comercial de elevada qualidade. E sublinho apenas que há imensa, já que a qualidade e os gostos se discutem, e muito.


O que pensas sobre a actual lei das quotas de música portuguesa na Rádio?

A ideia, em si mesma, é triste. A obrigação não deveria ser um critério para a escolha das músicas que passam ou não na Rádio.


A música portuguesa ou em português está fora das «Miss Tapes»? Alguma razão especial para isso ou é mera questão estética?

Não está fora. Passo só aquilo que conheço e gosto. Assim de repente, acho que apenas passaram nas «Miss Tapes» três grupos portugueses: Wordsong, Dead Combo e Fé de Sábio.


Voltando ao podcast: até onde achas que vai ter este fenómeno?

Já foi. Há inúmeros casos de sucesso à escala global de diferentes géneros de podcasts. Num certo sentido, vão mais longe do que muitos (a maioria) dos órgãos de comunicação dos meios "tradicionais" jamais poderão ir.


O podcast é a salvação para os autores?

Num cenário em que a Rádio não tem espaço para os autores, acho que o podcast é um meio perfeitamente adequado a que possam continuar a desenvolver o seu trabalho e a partilhá-lo.


Gostarias que as edições "Miss Tapes" encontrassem espaço numa rádio?

Gostaria a Rádio de encontrar um espaço para as Miss Tapes?


És ouvinte de rádio? Quando começaste a ouvir e o quê?

Era um ouvinte ocasional, em Portugal. Além dos serviços informativos e, às vezes por necessidade, dos relatos do futebol, pouco mais ouvia nas antenas nacionais. No início dos anos 90 ouvia esporadicamente o «Som da Frente», do António Sérgio, na Rádio Comercial. Mas a verdadeira experiência de ouvir Rádio começou com a «Íntima Fracção», em meados dessa década. Nunca mais ouvi nada assim; não só mudou a minha forma de ouvir música como também mudou a forma de relacionar várias referências (música, literatura, cinema). E, claro, mudou a minha percepção da Rádio, de uma certa ideia da Rádio.


Chegaste a ser ouvinte das Rádios piratas em Portugal? Se sim, tens saudades desses tempos?

Era demasiado jovem nessa altura. Passava mais tempo a desarrumar os vinis lá de casa.


Em tua opinião, qual seria/será a saída ou a salvação para a actual rádio tradicional?

Acompanhar os tempos.


Tens tido bom feedback de «Miss Tapes» através da Internet e do Podcast?

Não tenho tido muito feedback, mas aquele que tem havido é bom e sabe ainda melhor. As poucas mensagens que me chegam dão para perceber que há pessoas que acompanham o que publico e que o fazem por sentirem as «Miss Tapes» como uma boa companhia. E tenho que agradecer o apoio constante de uns quantos indefectíveis desde o início, nomeadamente tu, Francisco Mateus, e o Francisco Amaral.


Incomoda-te ou satisfaz-te pensar que as «Miss Tapes» são uma extensão e magnífica reinvenção da «Íntima Fracção», como o próprio autor Francisco Amaral declarou publicamente?

É uma honra... Tenho pelo trabalho do Francisco Amaral uma admiração profunda e nunca escondi isso nas «Miss Tapes». Há muitas músicas que ouvi pela primeira vez na «Íntima Fracção» e que para mim hão-de ter sempre essa marca. Utilizo-as com frequência como se fosse essa a minha forma de prestar homenagem. O facto de o Francisco Amaral considerar as «Miss Tapes» "uma extensão e magnífica reinvenção da Íntima Fracção" é algo que me enche de orgulho. Uma vez disse-lhe uma frase que li algures; reza assim: "pouco respeito se tem por um mestre quando se fica seu aluno para sempre." Tentarei sempre procurar a minha voz, o meu tom. Mas a verdade é que nunca me libertarei da influência da IF. O Francisco Amaral, com muito custo e um talento incomensurável, construiu um caminho que eu só mais tarde vim a trilhar, a seguir. A forma que tenho de não faltar ao respeito a esse trabalho é, de algum modo, dar um sentido e consequências a eventuais desvios que consiga iniciar.


Enquanto ouvinte regular de «Miss Tapes» desde a primeira edição, encontro nas tuas composições uma grande dor... chamar-lhe-ia – que grande atrevimento o meu! – uma dor de alma. As «Miss Tapes» são um reflexo directo da tua vida pessoal?

Antes de tudo, as «Miss Tapes» são o reflexo dos meus gostos musicais. Sendo que a música foi sempre uma parte essencial da minha vida, não me parece forçado dizer que, consequentemente, sejam esse reflexo directo. E é verdade que procuro que cada edição das «Miss Tapes» tenha uma marca de água, algo que a torne distinta de outros podcasts ou programas de rádio. Acho que é aqui que entra o toque pessoal, por assim dizer. As músicas que passam nas «Miss Tapes» não obedecem a critérios como a novidade ou os elogios da crítica da imprensa especializada. Não há limites de épocas ou géneros nas «Miss Tapes», mas procuro um fio condutor entre as músicas, um sentimento comum, uma ambiência, uma ideia ou uma emoção. Gosto de pensar nas «Miss Tapes» como bandas sonoras, histórias com vários ou nenhum personagem, lugares próximos e lugares distantes, com sentimentos, risos e lamentos, com silêncios, explosões. Emoções. Por vezes acompanham o que sinto, outras tentam combatê-lo.


Já pensaste em dar voz – viva voz – às edições de «Miss Tapes»?
Fazer a apresentação do alinhamento, por exemplo, como se fosse um programa de Rádio?

As «Miss Tapes» não têm a minha voz, em primeiro lugar, devido a questões técnicas. Se tivessem a minha voz, seria apenas para, no final de cada edição, enumerar os nomes dos artistas que se ouviram. Again, tal como o Francisco Amaral fazia a apresentação do alinhamento quando a IF passava na Rádio. Perfect.


Os inícios das edições de «Miss Tapes» são sempre através de um intróito, um pequeno extracto, um pré-interlúdio. São, em minha opinião, grandes começos. Uma antecâmara para o que depois vem. São profundamente intencionais estes cuidados com os inícios de cada edição?

Obrigado. Tenho cuidados profundamente intencionais, para usar a tua expressão, com todos os momentos das «Miss Tapes», mas há, de facto, uma atenção especial dada aos inícios. É a partir dali que defino a ambiência, o registo, o som. Todas as «Miss Tapes» nascem a partir de uma música particular. Raramente essa música é a primeira a ouvir-se e as introduções servem para fazer a apresentação dessa música – preparam o caminho. São como que variações sonoras e musicais do "era uma vez".








Mais sobre Hugo Pinto e «Miss Tapes» na «Rádio Crítica»:
Há vida na Internet 03 Novembro 2006
Parabéns, Miss 09 Novembro 2007
A Miss está de volta 30 Abril 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (27)

















Beleza, complexidade e sofisticação. São os três adjectivos que definem por inteiro o conceito da Bossa Nova. Juntar três universos tão diferentes resultou na abertura de um outro e novo universo que se reinventa a cada geração e mantém-se maravilhosamente fresco.
De regresso às composições de António Carlos Jobim encontramos esses três adjectivos numa única e simples canção. Retrato do amor de Jobim pela cidade que o viu nascer (25 de Janeiro de 1927). A ele, e à Bossa Nova. Retrato da chegada de Jobim ao Rio de Janeiro (nos anos 50 era considerada a cidade mais bela do mundo) a bordo de um avião.
Depois da morte de Jobim (8 de Dezembro 1994), o aeroporto do Rio de Janeiro – o Galeão, como diz a canção – foi rebaptizado com o nome de Aeroporto Internacional António Carlos Jobim.
Canta, João, canta!

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



SAMBA DO AVIÃO
(Tom Jobim)


Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito para mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Aterrar

sábado, 15 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (26)









Alfredo da Rocha Viana Filho (1897–1973), conhecido como Pixinguinha, não foi um dos muitos nomes da Bossa Nova. Foi antes um dos artistas mais importantes da Música Popular Brasileira, especialmente do estilo Choro. Foi até criado no Brasil o «Dia Nacional do Choro» (23 de Abril) em homenagem ao nascimento de Pixinguinha.
A canção “Carinhoso” foi composta por Pixinguinha entre 1916 e 1917 e voltou às bocas do mundo pela onda da Bossa Nova, especialmente na versão de João Gilberto. João tem o grande dom de tornar as suas versões como as definitivas de quase todos os temas que interpreta. E este “Carinhoso” não é excepção.

Há uma recente versão desta canção por Marisa Monte e Paulinho da Viola. Ver e ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

CARINHOSO
(Pixinguinha/João de Barro)

Meu coração

Não sei porque

Bate feliz, quando te vê

E os meus olhos ficam sorrindo

E pelas ruas vão te seguindo

Mas mesmo assim, foges de mim

Ah! Se tu soubesses

Como sou tão carinhoso

E muito e muito que te quero

E como é sincero o meu amor

Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem

Vem sentir o calor

Dos lábios meus

À procura dos teus

Vem matar esta paixão

Que me devora o coração

E só assim então

Serei feliz, bem feliz


sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (25)










Outra das composições que Ary Barroso deu ao maravilhoso novo mundo da Bossa Nova. Através do canal Programa 3 da Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, Ary Barroso laçou aos quatro ventos a nova música brasileira. Fresca, pura e cristalina, como ainda hoje – passados cinquenta anos – permanece a Bossa Nova.
João Gilbero gravou “Morena Boca de Ouro” pela primeira vez no dia 30 de Janeiro de 1959.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.


MORENA BOCA DE OURO
(Ary Barroso)

Morena boca de ouro que me faz sofrer
O teu jeitinho é que me mata
Roda morena, vai não vai
Ginga morena, cai não cai
Samba, morena, que desacata

Morena é uma brasa viva pronta para queimar
Queimando a gente sem clemência
Roda morena, vai não vai
Ginga morena, cai não cai
Samba morena, com malemolência

Meu coração é um pandeiro
Girando ao compasso de um samba feiticeiro
Samba que mexe com a gente
Samba que zomba da gente
O amor é um samba tão diferente

Morena samba no terreiro
Pisando vaidosa, sestrosa
Meu coração, morena, tem pena
De mais um sofredor que se queimou
Na brasa viva do seu amor

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (24)











A pré-história da Bossa Nova teve um divulgador ímpar na Rádio, através de programa “A Hora do Calouro”. O programa viria a ter também uma extensão na Televisão brasileira. Ary Barroso (1903 – 1964) foi o primeiro e maior impulsionador do novo movimento cultural que estava a despontar. Visionário e cúmplice, é dele a composição do clássico «Aquarela do Brasil», aqui interpretado pelo eterno João Gilberto. Ary Barroso morreu no ano em que a Bossa Nova atingiu o cume. Na pré-história da Bossa Nova deu a conhecer ao mundo os nomes de Elizete Cardoso e Dolores Duran. Estava lançada a primeira pedra. «Aquarela do Brasil» vai ao fundo da essência e contém muitos termos linguísticos locais.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.


AQUARELA DO BRASIL
(Ary Barroso)

Brasil!
Meu Brasil Brasileiro
Mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingá
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil!

Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Canta de novo o trovador
A merencória à luz da lua
Toda canção do seu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado

Esse coqueiro que dá coco
Oi! Onde amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Por essas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
Onde a lua vem brincar
Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil Brasileiro
Terra de samba e pandeiro

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Irmandade do Éter









Nasceu a «IRMANDADE DO ÉTER»

Desejam devolver à arte radiofónica a sua pureza e honestidade anteriores. Independentemente do tema tratado, torna-se essencial que a obra transmita uma ideia autêntica, fruto da individualidade do autor. Este não tem de se submeter a regras rígidas e castradoras de construção, deve antes ser livre na sua criação artística. O autor aspira à beleza poética, à representação além da realidade audível: trabalha-se com a matéria da alma e a espiritualidade. Esta representação do "sonho" vai-se traduzir formalmente na busca da harmonia e equilíbrio entre os elementos.

É um projecto colectivo que simultaneamente agrega os espaços pessoais de cada um dos membros. Todos os dias cada um dos elementos publica um post. A «Irmandade do Éter» está a arrancar esta semana e é fundada pelos seguintes radialistas/podcasters/bloggers:

Francisco Amaral – «Íntima Fracção»

Hugo Pinto – «Miss Tapes»

Ricardo Mariano – «Vidro Azul»

Pedro Esteves – «lado B»

Zito C. – «bitsounds»

Nídio Amado – «O Cubo»

Francisco Mateus – «Rádio Crítica»

Todos desejam devolver à arte radiofónica a sua pureza e honestidade anteriores. E já está 'no Ar' em: http://irmandadedoeter.blogspot.com/


Para que resulte o possível deve ser tentado o impossível

Hermann Hesse


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (23)








João Gilberto foi a maior influência das gerações de músicos brasileiros que lhe sucederam. Caetano Veloso é o exemplo máximo, mas houve e há muitos mais. Digamos que há um tempo antes de João e da Bossa Nova e um tempo depois.
Em 1981 João Gilberto foi convidado por músicos da geração que o sucedeu para gravarem um disco em conjunto. Assim nasceu o histórico encontro entre o Mestre e os discípulos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. É desse encontro que data a fotografia acima publicada, no álbum «Brasil».
Já muitos anos depois, ao vivo em Buenos Aires, no ano 2000, o reencontro de João e Caetano. “Meditação” é uma das mais aclamadas composições da dupla Jobim/Mendonça. João Gilberto gravou-a pela primeira vez no dia 28 de Março de 1960.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



MEDITAÇÃO
(Antonio Carlos Jobim / Newton Mendonça)

Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou

Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (22)

“Este Seu Olhar” foi gravado por João Gilberto a 28 de Setembro de 1961. É uma composição de António Carlos Jobim. A versão que aqui vemos nas imagens é protagonizada por Toquinho. Guitarrista de excelência, Toquinho não é um nome directamente ligado à Bossa Nova. No entanto, esteve muito ligado a alguns dos seus máximos expoentes, como por exemplo Tom Jobim e – principalmente – Vinicius de Moraes.
Toquinho acrescenta na parte final desta interpretação as últimas estrofes da canção “Se Todos Fossem Iguais a Você”, também da autoria de Jobim. Esta última conheceu a sua versão definitiva na voz da cantora Maysa Matarazzo, a Condessa Descalça como era conhecida.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.


ESTE SEU OLHAR
(Tom Jobim)

Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim
Como eu de você

Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração
De quem sonhou
Sonhou demais
Ah! Se eu pudesse entender
O que dizem os teus olhos

domingo, 9 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (21)

Outro clássico dos primeiros anos do movimento musical Bossa Nova, outro tema retirado do infindável songbook de Tom Jobim.
João Gilberto gravou pela primeira vez esta canção no dia 5 de Abril de 1960.
A versão sonora aqui apresentada é do próprio autor, António Carlos Jobim, cantando em Inglês «Once Again».
O vídeo mostra uma fotomontagem a partir de imagens do filme «Masculin, Féminin» (1966) do realizador Francês Jean-Luc Godard, utilizando fotografias da actriz e cantora francesa Chantal Goya, protagonista desse filme.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.
OUTRA VEZ
(Antonio Carlos Jobim)

Outra vez
Sem você
Outra vez
Sem amor
Outra vez
Vou sofrer
Vou chorar
Até você voltar
Outra vez
Vou vagar
Por aí
Pra esquecer
Outra vez
Vou falar
Mal do mundo
Até você voltar
Todo mundo me pergunta
Porque ando triste assim
Ninguém sabe o que é que eu sinto
Com você longe de mim
Vejo o sol quando ele sai
Vejo a chuva quando cai
Tudo agora é só tristeza
Traz saudade de você
Outra vez
Sem você
Outra vez
Sem amor
Outra vez
Vou falar mal do mundo
Até você voltar
Até você voltar

sábado, 8 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (20)












Ele Veio da Bahia

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, cidade sertaneja da Bahia, no dia 10 de Junho de 1931.
João Gilberto é o “anti-herói” da música brasileira.
É conhecido pela sua imensa timidez. Diz-se que o seu apuradíssimo perfeccionismo o torna numa pessoa muitas vezes insuportável. Adora o silêncio, mas é capaz de ficar horas e horas a cantar ao som sincopado da batida do seu violão. E aquela voz… aquela voz murmurada, sussurrada, como um sopro quente duma brisa de Verão. Discreto e suave, extremamente melodioso e tropical.
Fechado por vontade própria no seu apartamento, João passa os dias e as noites a aperfeiçoar os seus temas. As suas aparições em público são escassas. Encomenda a comida por telefone e vão-lha levar a casa. Não recebe visitas, excepto a sua filha Bebel. É um génio criador, permanentemente a recriar-se e a nunca estar completamente satisfeito. O mais recente disco que gravou data de 1999.
Há quem não o compreenda e João sentiu isso na pele. Ingratidão e falta de respeito foram coisas que não lhe pouparam em algumas actuações ao vivo. Mesmo na sua terra natal. Mesmo antes de poder soltar a primeira nota, como se pode constatar
aqui

Mas dos fracos não reza a História… e eles passaram; João ficou!

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

EU VIM DA BAHIA
(Gilberto Gil)


Eu vim

Eu vim da Bahia cantar

Eu vim da Bahia contar

Tanta coisa bonita que tem

Na Bahia, que é o meu lugar

Tem o meu chão, tem o meu mar

A Bahia que vive para dizer

Como é que se faz para viver

Onde a gente não tem para comer

Mas de fome não morre

Porque na Bahia tem mãe Iemanjá

De outro lado o Senhor do Bonfim

Que ajuda o baiano a viver

Para cantar, para sambar para valer

Para morrer de alegria

Na festa de rua, no samba de roda

Na noite de lua, no canto do mar

Eu vim da Bahia

Mas eu volto para lá

Eu vim da Bahia

Mas um dia eu volto para lá

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (19)



Imagens repletas de história retiradas das páginas mais representativas da Bossa Nova. João Gilberto e o seu violão em 1961. Era o apogeu do movimento com maior significado alguma vez ocorrido na história da música em Português.
João Gilberto é uma personagem controversa e, por vezes (muitas vezes e muito injustamente) mal amado. No seu próprio país já foi vaiado e no seu próprio país retirou-se de palco. Viveu anos em Nova Iorque, mas voltou à sua terra de sempre. Actualmente vive sozinho num apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro. É considerado um Papa no Brasil. Uma espécie de santíssima entidade eremita. Não dá entrevistas, não sai de casa e muito raramente dá espectáculos. Há cinco anos cancelou a actuação prevista e agendada para o Coliseu dos Recreios em Lisboa.

A inexorável passagem do tempo… Nas primeiras imagens (a preto e branco) João Gilberto em 1961. No segundo vídeo (ao vivo num registo amador), o mesmo João ao vivo em Barcelona no ano 2000. Trinta e nove anos separam as duas imagens e João Gilberto mantém o mesmo samba com a mestria de sempre.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.




SAMBA DA MINHA TERRA
(Dorival Caymmi)

Samba da minha terra deixa a gente mole

Quando se canta todo mundo bole
Quando se canta todo mundo bole

Quem não gosta de samba bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé
Eu nasci com o samba no samba me criei
E do danado do samba nunca me separei


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (18)











Continua o desfilar de uma série de clássicos da Bossa Nova assinados; co-assinados e/ou interpretados por António Carlos Jobim.
Do imenso songbook do coração do movimento, a canção “Dindi”. Outras grandes interpretações deste tema: Ella Fitzgerald (ao vivo em Montreux, 1979); Frank Sinatra (1967); Astrud Gilberto e Rosa Passos (a chamada João Gilberto de Saias).
Neste vídeo, o encontro de António Carlos Jobim ao vivo com Gal Costa.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



DINDI
(Antonio Carlos Jobim/Aloysio de Oliveira/Ray Gilbert)

Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Para onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também

Ai, Dindi
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi
Ai, Dindi
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Olha, Dindi, fica, Dindi

E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
É, você não existe, Dindi


Versão em Inglês

Sky, so vast is the sky
With faraway clouds just wandering by
Where do they go Oh!
I don't know, don't know...
Wind that speaks to the leaves
Telling stories that no one believes
Stories of love
Belong to you and me

Oh! Dindi
If I only had words
I would say all the beautiful things that
I see when you're with me
Oh, my Dindi
Oh, Dindi

Like the song of the wind in the trees that's how my heart is singing,
Dindi Happy, Dindi, when you're with me
I love you more each day, yes
I do, yes
I do I'd let you go away if you'd take me with you
Don't you know,
Dindi I'd be running and searching for you like a river that can't find the sea
That would be me
Without you, Dindi

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (17)













A capa do disco mostra a edição da interpretação de João Gilberto, mas as imagens do vídeo referem-se à gravação original de António Carlos Jobim. É, de resto, a interpretação mais conhecida. Num recente espectáculo na TV-Globo, na celebração dos 50 anos da Bossa Nova, Caetano Veloso (discípulo de João Gilberto) cantou ao vivo “Ela é Carioca”. São também mais que muitas as versões deste tema e em várias línguas.
Há, da mesma altura (1967), uma versão bilingue – maioritariamente em Inglês – também interpretada por Jobim.
Ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



ELA É CARIOCA
(Tom Jobim/Vinicius de Moraes)


Ela é carioca
Ela é carioca

Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim para dar
Eu vejo na luz dos seus olhos
As noites do Rio ao luar

Vejo a mesma luz
Vejo o mesmo céu
Vejo o mesmo mar
Ela é meu amor, só me vê a mim

A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar A paz que sonhei
Só sei que sou louco por ela
E para mim ela é linda demais

E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca
Só sei que sou louco por ela

E para mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (16)

Astrud Gilberto cantou a versão mais conhecida deste tema de António Carlos Jobim. Outra das muitas composições de Jobim a conhecer inúmeras versões.
Há uma magnífica interpretação por Frank Sinatra – que canta o título “Água de Beber” em Português! Esta versão conta com a participação de António Carlos Jobim (em dueto com Sinatra) e é quase toda interpretada em Inglês.
Ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará

ÁGUA DE BEBER
(Tom Jobim)

Eu quis amar, mas tive medo

E quis salvar meu coração

Mas o amor sabe um segredo

O medo pode matar o seu coração


Eu nunca fiz coisa tão certa

Entrei para a escola do perdão

A minha casa vive aberta

Abri todas as portas do coração



Eu sempre tive uma certeza

Que só me deu desilusão

É que o amor é uma tristeza

Muita mágoa demais para um coração


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (15)












João Gilberto & Os Cariocas, numa actuação especial no filme «Copacabana Palace» (1962). João sentado, os Cariocas em pé. João Gilberto só toca sentado. Cenas de um filme que retrata de forma eloquente a socialitè grãfina / classe média-alta brasileira. Um nicho de uma sociedade que já não existe, amante desde a primeira hora da Bossa Nova, consumidora de Jazz norte-americano e que tinha a cultura Nova Iorquina como modelo de referencia. Mas a Bossa Nova é Samba, não Jazz. E o ambiente tropical subsiste ao género. “Só Danço Samba” é a simplicidade em canção e ao ouvi-la, de facto, só apetece mesmo dançá-la.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.


SÓ DANÇO SAMBA
(Tom Jobim/Vinicius de Moraes)

Só danço samba

Só danço samba

Vai, vai, vai, vai, vai

Só danço samba

Só danço samba

Vai!

Já dancei o twist

Até demais

Mas não sei

Me cansei

Do calypso

Ao tchá-tchá-tchá...

Só danço samba

Só danço samba

Vai, vai, vai, vai, vai

Só danço samba

Só danço samba

Vai!

Mais imagens e sons do filme «Copacabana Palace»:
Luíz Bonfá, João Gilberto e António Carlos Jobim na praia, acompanhados por três garotas de Ipanema (?), tocando e cantando o tema “Canção do Mar” da autoria de Bonfá.

Luiz Bonfá
Lá, onde a areia começa
Os teus olhos começam
Dizem coisas de amor

João Gilberto
O mar
Em silêncio adormece
E da areia se esquece

Tom Jobim
Deixando as gaivotas
Cantar a canção
Desse amor de nós dois