segunda-feira, 17 de março de 2008

CUBO mágico
















«O Cubo» é a evolução natural de «[percepções]». A evolução foi decretada pelo próprio autor (Nídio Amado) aquando da última emissão de «[percepções]», em Maio do ano passado.
Incorpora sons de filmes – não constituindo por isso só uma novidade estética – criando atmosferas e linguagens renovadas na ligação Cinema-Rádio. É uma estratégia lúdica de atracção, baseada numa arquitectura escultural como se fosse um puzzle matemático, uma álgebra estética que tem várias faces. Atravessa actualmente a fase Beta.
«O Cubo» é o ethos e o pathos de quem procura a transcendência. Quando David Lynch visitou recentemente Portugal, no Estoril, não se cansou de divulgar as vantagens da meditação transcendental. Lynch, defensor dessa prática reparadora da alma e dos sentidos, recorre a métodos mais ou menos conceituados e instituídos, mas também nessa ocasião se falou de praticar a transcendência recorrendo apenas à vontade/necessidade de o fazer, utilizando meios muito elementares, mas igualmente eficazes. Alguns desses requisitos passam pelo silêncio, respiração funda e pausada, alguma penumbra ou mesmo escuridão total e música. Música e silêncio em simbiose. Lisa Gerrard, dos Dead Can Dance, já o havia dito em 1994 aquando da edição do filme «Toward The Within» (de Mark Magidson ). "É muito fácil" [de atingir a transcendência] (…) basta entrar no som e deixar-se ir…", dizia Lisa. E, de facto, são poucos os meios estritamente necessários. É também claro que há regras básicas absolutamente indispensáveis. A primeira das quais, ultrapassada que está a predisposição individual inicial para o deixar-se abandonar, é a não oposição/censura/reprovação por parte de factores exteriores, nomeadamente por pessoas em coabitação. Se se habita com alguém assim, então essa pessoa está completamente a mais na nossa vida. Foi uma das razões – quiçá a principal – para Lynch se ter visto livre de três casamentos. Ou seja, não são admissíveis impedimentos externos nem outros. Se houver forte estorvilho, não se alcança de nenhuma maneira a transcendência, esse estado Alpha entre o som, o sono e o sonho, altamente revigorante e projectante. É uma viagem etérea, um voo, sem ter que tirar os pés do chão. «O Cubo» proporciona este tipo de transcendência.
«O Cubo» já ultrapassou as três dezenas de emissões, todas elas baptizadas individualmente – à semelhança de [percepções] – e podem encontrá-lo nas noites de Domingo para Segunda-feira no éter da RUM-Rádio Universidade do Minho (Braga). Também em podcast na vertigem da rede.

http://ocubo.net
Noites de Domingo para Segunda-feira (00:00/01:00)
rum: 97.5 (Braga)


Bitsounds






Quem também já ultrapassou uma importante fasquia quantitativa – mais de quarenta emissões – é o podcast «Bitsounds», da autoria de Zito C. «Bitsounds» é o irmão gémeo – não monológico – de «Miss Tapes» (de Hugo Pinto). Ambos são descendentes da «Íntima Fracção» (de Francisco Amaral), a par de outros irmãos de éter: «Vidro Azul» (de Ricardo Mariano), por exemplo. Atenção: descendência não significa concorrência nem plágio. Esta descendência é o reconhecimento, influência saudável e complementar da importância do conceito que a «Íntima Fracção» encerra. Um conceito de composição sonora que remete para a reflexão e introspecção. No fundo, uma composição de sentimentos, uma composição de Amor. E é assim que são feitas. «Bitsounds» (e o irmão «Miss Tapes») não inclui locução e não precisa. Há, felizmente, outros valiosos podcasts que abraçam essa característica («lado B» de Pedro Esteves, por exemplo). A composição sequencial de «Bitsounds» vale pelo seu encadeamento e, por favor, sejamos justos. «Bitsounds» não é uma juckbox! O termo juckbox é, neste âmbito, um termo depreciativo. Está intrinsecamente ligado à má ideia de playlist, isenta de critério e feita de sequências repetitivas, deprimentemente previsíveis, avulsas e ausentes de qualquer rasgo. Ora, «Bitsounds» (e «Miss Tapes») não se enquadram nesse espectro. Apesar de não soltar palavras ao vento, «Bitsounds» não nos está a dar "música".

http://bitsounds.blogspot.com
podcast de Zito C.

terça-feira, 11 de março de 2008

Matrizes

Viagens pelo património discográfico com Rui Vieira Nery
Antena2; Sábado (11:00/12:30)

















«Matrizes» vai na segunda de três emissões dedicadas ao músico e compositor norte-americano George Gershwin. Começando pelos anos vinte do século passado, através de gravações históricas nas vozes de, por exemplo, Al Johnson e Adele & Fred Astaire.
Programa extremamente didáctico, bem documentado e excelentemente bem apresentado, «Matrizes» é puro serviço público, conduzido numa hora e meia semanal por quem verdadeiramente percebe do que está a falar. O gosto e as escolhas de um musicólogo (que já foi Secretário de Estado da Cultura) em torno da música universal.
No próximo sábado, a última das três emissões dedicadas ao percurso artístico de George Gershwin, o homem que confundiu para sempre as regras do jogo entre o que era a música tradicional/popular e a música erudita. Está a ser uma delícia ouvir «Matrizes». Quem não conhece “Rhapsody in Blue”?











Nas mais recentes emissões do programa «Questões de Moral», Joel Costa tem dedicado a sua escrita e apresentação ao Cinema, isto é, a questões de moral relacionadas com certos cineastas quer através deles próprios, quer através da expressão da Arte das suas obras. Luis Buñuel, Jean Renoir, Roberto Rossellini, Roman Polanski e Federico Fellini já foram contemplados pela análise moral, sociológica e lúcida de Joel Costa. É para continuar, suponho e desejo.

«Questões de Moral»
Antena2; Segunda-feira (23:00/00:00)

sábado, 1 de março de 2008

A Rádio Como no Cinema











Está disponível pela primeira vez na Internet (Ouvir/download/podcast) uma emissão especial de «Como no Cinema» dedicada à Rádio no dia de celebração dos 15 anos da TSF (2003), que inclui sons com história da Rádio Jornal/Rádio Notícias, misturados com partes da emissão original de «Como no Cinema» em homenagem à Rádio no ano 2000 (e que foi primeiramente publicada na Internet em Março de 2007).

Este ficheiro sonoro estará disponível até ao próximo dia 31 de Março.

Conheci um guitarrista que dizia «a minha amiga rádio». Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa Terra Longínqua da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo a ouvir a rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida.

Sam Shepard
22/12/79
Homestead Valley, Ca.



O que eles dizem sobre a TSF:

Aníbal Cavaco Silva; Xanana Gusmão; Rui Vilar; Ricardo Salgado; Ludgero Marques; Carvalho da Silva; Mariza; Carlos Lopes; D.José Policarpo; Jorge Sampaio; Catarina Furtado; Herman José; José Eduardo Moniz; José Saramago; Júlio Pomar; Pedro Santana Lopes; Maria José Morgado; Durão Barroso; José Sócrates; Francisco Pinto Balsemão; Eduardo Lourenço; Mário Soares.

Ver aqui

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O que eles dizem (38)


Metade de uma vida a fazer rádio em directo
PÚBLICO 29.02.2008

João Paulo Baltazar, Margarida Serra, Manuel Acácio e Jorge Pena acompanham a TSF desde o primeiro minuto. Aos 40 anos passaram metade da vida a fazer rádio em directo e sentem-se privilegiados por se terem entregado com paixão a um projecto que cresceu à medida que a Guerra do Golfo estoirava, o Muro de Berlim caía, que a ex-Jugoslávia se fragmentava ou que Timor se tornava independente. Reconhecem que os tempos hoje já não são os mesmos. A TSF já não é a mesma. Mas não se imaginam a fazer outra coisa, passados 20 anos do primeiro dia. Por Ana Machado (texto)

João Paulo Baltazar 40 anos "Vivo numa encruzilhada. Eu e a TSF"

Tinha 20 anos quando leu a primeira revista de imprensa na emissão da TSF, no dia 29 de Fevereiro de 1988. "Foi um luxo ter integrado o primeiro curso da TSF, sinto-me um privilegiado. Contactámos com a nata da rádio portuguesa, o António Cartaxo, o Sena Santos, o António Macedo, o próprio Emídio Rangel, foi tudo muito intenso", lembra sobre os momentos que antecederam o acender da luz vermelha no estúdio, há 20 anos.João Paulo Baltazar diz que há um antes e um depois na rádio, uma escala marcada a meio pelo nascimento da TSF: "Viemos mudar toda a atitude no modo como se fazia rádio e até jornalismo. De repente chegámos a um sítio e a primeira pergunta que fizemos foi: onde está o telefone?" E nasceu a rádio em directo. "Já ninguém dedica uma vida a um projecto hoje. Isto já não se usa", desabafa sobre os 20 anos que ali investiu. Recorda como momentos mais intensos a reportagem em Amã, na Jordânia, no rebentar da Guerra do Golfo, ou no meio da batalha de polícias contra polícias, no Terreiro do Paço, os "Secos e Molhados", em 1989. "Discutíamos tudo, trabalhávamos horas a fio."Acredita que poderia ter-se enriquecido, se tivesse abraçado outros desafios: "Podia ter aprendido outras maneiras de fazer informação." E ainda não conseguiu alcançar, com 20 anos de rádio, aquilo que considera o seu sonho, um modo de fazer rádio mais criativo. "Há uma plasticidade que a rádio permite ao nível do envolvimento de quem escuta que está por explorar", algo em que, confessa, não se importava de investir nos próximos 20 anos. A memória das tradições perdidas pelo país fora são um apelo para o jornalista. Um apelo muito forte.Mas sente que a rádio vive num equilíbrio precário. "Trabalho num meio em plano inclinado. A rádio está em perda. O meu sonho não passa de um sonho. Hoje vivo na expectativa do que será o futuro da rádio. Vivo numa encruzilhada. Eu e a TSF."


Manuel Acácio 43 anos "A rádio é a minha casa"

Quando a equipa inicial da TSF se formou, Manuel Acácio era, entre os "putos", o velhote: "Tinha 24 anos, os outros tinham todos 20 anos, alguns nem isso." Tinha-se perdido então um professor de Filosofia e ganho um jornalista, de rádio. "A rádio é a minha casa. Muitas vezes foi mesmo a minha primeira casa ao longo destes anos todos. Profissionalmente nasci aqui", confessa sobre 20 anos ligados à TSF. Timor foi o tema que mais o marcou: "Sou conhecido como o timorense de serviço aqui na rádio", confessa sobre a sua entrega, e da TSF, a este jovem país: "Timor é uma das marcas da TSF." Começou tudo ainda antes do primeiro minuto da rádio. Timor foi o tema escolhido para o trabalho do fim do curso de formação da TSF: "A culpa foi do Adelino Gomes, que trouxe o Ramos Horta ao curso." E depois do referendo de 1999 lembra como estava um mês cá e um mês em Díli. Ainda navegando na memória de metade de uma vida, Manuel Acácio recorda uma das histórias mais divertidas, um pequeno episódio que lhe vem sempre à memória, quando lembra os 20 anos que passaram. A protagonista é a D. Matilde, a empregada de limpeza da rádio que tinha alergia ao pó: "Ainda estávamos nas Amoreiras e a D. Matilde, que se achava o elemento mais importante da rádio, entrou no estúdio, estava o António Macedo a fazer emissão, e levantou o braço da agulha, no prato de discos que estava a tocar, para limpar o disco. O Macedo ficou petrificado a olhar para ela, enquanto entrava uma branca enorme na emissão." A voz conhecida por fazer as honras do Fórum TSF, o dr. Manuel Acácio, como é costume muitos participantes lhe chamarem, confessa que não gosta de falar: "Sou um tipo introvertido e pessimista por natureza." O que até parece contraditório para quem, há oito anos consecutivos, assegura um espaço público da rádio de duas horas, todas as manhãs: "Sou quem o faz há mais tempo, o que tem um preço elevado em termos pessoais. Sofro um grande desencanto. Falamos muitas vezes dos mesmos problemas e os políticos surpreendem-se sempre e mudam muito as suas opiniões conforme a sua posição de governo ou de oposição", comenta. "Espero só fazer o Fórum até ao fim deste ano. Vejo-me a fazer rádio mais 20 anos. Mas o Fórum não."


Margarida Serra 41 anos "A TSF já não é o que era no início"

Nunca tinha trabalhado noutro sítio quando a TSF arrancou. Aos 21 anos Margarida Serra era um dos jovens elementos que integravam a equipa da TSF: "Vínhamos todos de um curso, nascemos todos da mesma forma. Viver aquele início foi muito estimulante. Vivíamos tudo com uma enorme paixão, estávamos aqui 36 horas seguidas, se fosse preciso. Tudo só por aquela paixão de fazer coisas novas." Lembra episódios hilariantes, como o que a apanhou uma vez, em pleno directo, ainda no estúdio das Amoreiras: "Estavam a instalar uma sanita no andar de cima. E o martelo que usavam fazia um barulho enorme e só se calava quando eu fechava o microfone." O resultado foi um ataque de riso em directo, que não conseguia controlar. Mas em 20 anos o que mais a marcou foi o trabalho na Bósnia, em 1996: "Foi o momento mais marcante destes meus 20 anos. Para já, foi a minha primeira experiência de guerra. E acompanhar aquele drama, viver aquilo, ver como toda aquela gente que sobreviveu deu a volta foi muito marcante." Mas esses foram outros tempos: "A casa mudou. Hoje, até para quem está de fora, ser da TSF desperta menos interesse, a marca já é diferente. Um pouco também porque a sociedade mudou, os media mudaram. Tínhamos só dois canais de televisão em 1988. Hoje a TSF já não é o que era no início. A rádio perdeu uma certa força em parte para a televisão e há outras rádios a fazer noticiários de meia em meia hora, algo que era uma marca nossa." Margarida Serra não se vê, mesmo passados 20 anos, a fazer outra coisa: "Sem ser rádio não, não me vejo a fazer mais nada. Gosto muito da rapidez da rádio. “Mas vive a TSF de uma outra forma: "Hoje há um entusiasmo diferente, sinto a mesma paixão pelo jornalismo, por fazer rádio, mas não é como antigamente.”


Jorge Pena 45 anos "A rádio era a nossa namorada"

Jorge Pena tem uma voz cavernosa, daquelas do antigamente da rádio. Mas é um homem de bastidores, dos que fazem a magia de pôr tudo a funcionar para que o jornalista brilhe. Coordenador técnico da TSF, pertence à casa também desde o primeiro minuto."Cheguei a estar 72 horas sem dormir. Só era possível porque éramos muito novos e gostávamos muito disto. A rádio era a nossa namorada." O que marcou mais estes seus 20 anos de casa foi a evolução técnica que a rádio sofreu. A história da TSF é a história da evolução técnica em versão muito acelerada. "Testemunhámos uma evolução constante nos últimos 20 anos. Quando começámos, não havia um computador. Hoje é tudo informática", lembra sobre os 20 anos que fizeram desaparecer as bobines, os cartuchos, os telefones de satélite em formato gigante, tudo substituído hoje por ecrãs de computador e telefones de bolso. Para trás ficaram as reportagens de exterior em que tinha de se levar às costas telefones de 75 quilos. Ao todo, contando com antena e gerador, o conjunto podia pesar 150 quilos. Jorge Pena ainda se recorda de muitas das vezes em que esse material foi usado em reportagens que acompanhou. E recorda como um problema com o material era um pesadelo: "Um dia tiveram de me ir buscar à noite a casa para resolver uma crise. O Manuel Acácio estava na missão do Lusitânia Expresso e o telefone de satélite, o tal pesado, tinha deixado de funcionar. Tínhamos investido muito naquela emissão. Seria dramático não emitir de lá. Aconselhei-os a fecharem a mala toda, levantarem-na no ar e deixarem-na cair no chão. E funcionou", diz sobre uma maneira muito portuguesa de resolver problemas "técnicos" que espantou os presentes na missão. "Não sou crente, mas acho que se deram aqui alguns milagres." Sentado ao computador, na sua sala não há bobines, nem telefones de 150 quilos. Apenas um ecrã de onde controla tudo: "Hoje é tudo mais complexo em termos técnicos, mas muito mais fácil de usar. Um programa que levava 24 horas a montar hoje ocupa três horas até ir para o ar e fica muito mais rico. Foi uma transformação muito acelerada que mudou a própria sonoridade da rádio", diz quem tem o ouvido treinado para o reconhecer.


Um projecto que quer continuar a ir "ao fim da rua e ao fim do mundo"
PÚBLICO 29.02.2008

"Hoje, como há 20 anos, tudo o que se passa, passa na TSF". Quem o garante é Paulo Baldaia, o director da rádio que hoje completa duas décadas de existência. Recém-chegado, Paulo Baldaia ocupou em Janeiro a cadeira deixada por José Fragoso. Mas não herdou só a cadeira de director. Herdou todo o trabalho de organização das comemorações dos 20 anos da estação. Hoje é dia de soprar as velas. "Este é o maior desafio da minha vida de jornalista e tenho muito orgulho do convite que me foi feito. Tenho a melhor redacção do mundo. Reagem muito bem a um acontecimento", lembra como na noite do atentado a Ramos Horta e Xanana Gusmão, no passado dia 11. "De repente tinha seis pessoas na rádio, de madrugada". Baldaia vive os últimos dias a correr. "Não é todos os anos que conseguimos celebrar", diz, sobre a efeméride que só acerta na data de quatro em quatro anos, maldição de quem nasce a 29 de Fevereiro. Há 20 anos Emídio Rangel, um dos fundadores da TSF, inaugurava a emissão, um minuto antes das sete da manhã, com uma de declaração de intenções sobre o que ia ser a nova rádio que queria romper com o modelo instituído, de rádio e de jornalismo, em Portugal. Depois o arranque das notícias era dado por Francisco Sena Santos: Paz no fisco durante três meses".... Nascia a primeira rádio dedicada 24 horas por dia, sete dias por semana, à informação. Hoje, como há 20 anos, a declaração de Emídio Rangel volta a ouvir-se à mesma hora. "Fizemos a diferença há 20 anos. Houve um momento em que até a comunidade política teve de se adaptar à TSF", conta Baldaia sobre uma maneira de fazer jornalismo que a rádio em directo inaugurou. "Mas isso foi há 20 anos e não vai voltar a acontecer. Hoje é preciso saber chamar as pessoas certas à antena, cativar novas audiências, novas gerações. Temos de nos adaptar", defende enquanto dava ordens e responde a dúvidas sobre os preparativos da festa. Para Paulo Baldaia os 20 anos da TSF encontram não só uma rádio mas um site e o papel da Internet no projecto não pode ser ignorado: "A audição de rádio na net está a crescer de dia para dia, tem de se melhorar a produção de informação no site e saber quem podemos ir buscar para nos ouvir. Hoje o país não é o mesmo. É certo que fizemos uma grande revolução e temos de honrar a nossa história. Somos líderes na informação de rádio e líderes na rádio entre a classe A e B. Mas temos de olhar em frente."Apesar de já se ter falado muito da rádio como um meio em declínio, Paulo Baldaia acha que a rádio tem ainda muito para dar: "Olho com muito optimismo para o futuro, tenho uma visão positiva do meio."

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TSF fez 20 anos e aposta forte no vídeo e na Net

'Site' registou o maior número de utilizadores únicos
"Paz no fisco durante três meses." Foram estas as primeiras palavras da TSF (Telefonia sem Fios) no dia em que nasceu, pela voz do jornalista Francisco Sena Santos, na manhã de 29 de Fevereiro de 1988. Eram 07.00 e Lisboa ouvia então a primeira emissão da rádio que hoje completa 20 anos de vida. "Gostava de ter aberto a emissão com uma história das artes, ou da cultura, e depois passar para uma de ciência", confessou ao DN Francisco Sena Santos, que considera que a TSF colocou estes temas "na agenda" da informação nacional."Discutiu-se também se deveríamos ter coisas preparadas, já gravadas." "Mas optou-se por confiar na actualidade e fazer tudo em directo", explicou Sena Santos. Curiosamente, "parece que as notícias se esqueceram daquele dia", que "não foi um dia febril". Ainda assim, o jornalista recorda os abraços no final da emissão e "a convergência formidável de pessoas que tudo tornaram possível". "O tempo acelerou-se e as rádios, tal como a TSF, fizeram disparar o tempo da notícia em Portugal." "Hoje é diferente, os tempos são outros", concluiu o jornalista. Vídeos no 'site' da rádio E são, de facto, outros tempos. Hoje, a TSF não chega apenas aos lisboetas. Além de emitir em frequência modelada para a capital, Porto, Coimbra, Alentejo, Algarve, Madeira e Açores, a emissão e a informação da TSF estão acessíveis até "ao fim do mundo", através do site da Internet.De acordo com os dados da Marktest, de entre todas as rádios portuguesas online, o site da rádio da Controlinveste (grupo que também detém o DN) registou mesmo o maior número de utilizadores únicos durante 2007: 611 mil.Algo que parece justificar a "aposta forte no vídeo" que a TSF vai incluir no seu site, que será renovado no terceiro trimestre deste ano, explicou ao DN o director, Paulo Baldaia. E "os grandes momentos, aqueles que acharmos que merecem ser acompanhados por vídeos, vão ser disponibilizados dessa forma aos internautas no nosso site", disse o responsável.Mas antes disso, já hoje, os vídeos dos depoimentos de Xanana Gusmão, Cavaco Silva, Jorge Sampaio, entre outros, a propósito do aniversário, vão estar disponíveis no site. Mais um passo no crescimento da rádio que há 20 anos dizia as primeiras palavras.

Filipe Feio
In: «Diário de Notícias»
Sexta-feira, 29 de Fevereiro 2008