quarta-feira, 31 de maio de 2006

OUTRAS RÁDIOS EM PORTUGAL NOS ANOS 80

Termina aqui a série de memórias radiofónicas que retenho enquanto ouvinte durante a década de 80. Depois do verão publicarei as referentes à década de 90.
As memórias que se seguem dizem respeito unicamente a estações da região de Lisboa:


RGT-RÁDIO GEST

Era uma estação local de Lisboa de génese pirata, a emitir em 96.6 FM. Tinha um perfil calmo, tranquilizante, mas com uma performance global algo desequilibrada. No entanto, teve bons profissionais e bons programas. Entre eles:

«A Oitava Colina»: Emissão de continuidade que fazia a transição da manhã para a tarde de 2ª a 6ª feira. Teve vários apresentadores, num tempo em que a RGT era a estação charme de Lisboa. Por ela passaram nomes sonantes do áudio visual português: Henrique Garcia (director), Manuela Moura Guedes, Artur Albarran, etc.

«O Canto do Narciso»: Henrique Garcia num programa muito pessoal. Textos lidos pelo próprio, e selecção musical a coincidirem com o ambiente proposto. Se a memória não me atraiçoa, era ao fim de semana.

«O Feitiço da Lua»: Madrugadas na RGT com apresentação e selecção musical de José Maria Lameiras. Da meia noite às sete da manhã. Com sete horas de emissão em directo, não admirava muito que se ouvissem obras quase na íntegra. Foi o caso do álbum ao vivo (1988) dos Pink Floyd. Ou então a divulgação (exclusiva? em primeira mão?) da excelente versão do clássico “People Are Strange” dos The Doors pelos Echo and the Bunnyman. Noites longas, noites longas…

«Suave Encanto»: Ana Luz a iluminar as tardes de Lisboa, de 2ªa 6ª (15:00/17:00). Uma voz fina e adocicada, elegante postura, selecção musical de carácter intimista. Já no limiar da erudição. Tinha um tema de Vangelis como indicativo, alguns instrumentais fetiche, como por exemplo o assombroso (e longo) “Sending Lady Load” tocado ao piano por Martin Duffy, no álbum “Pictorial Jackson Review” dos Felt.

«Gala RGT»: Emissão especial, penso que para celebrar o aniversário da estação ou o reveillon. Houve um convidado especial, o cantor Salvatore Adamo (“Tombe la Niege”) e a participação da cantora portuguesa Rita Guerra. Foi em 1988.

----------------------------------------------------------------------------------------------

RÁDIO CIDADE

Melhor do que isto só água de coco no deserto

Uma verdade histórica: a Rádio Cidade começou a emitir no dia 1 de Abril de 1986. Era uma rádio pirata a emitir para a grande Lisboa a partir da cidade da Amadora. Uma rádio “brasileira”, feita por apresentadores brasileiros, mas nesta fase iniciática em Portugal, também com animadores portugueses. Entre eles, alguns que trabalhavam noutras estações, de maior nomeada, e que utilizavam na Rádio Cidade nomes fictícios. Eu reconhecia-os pela voz. A dinâmica, a soltura e musicalidade do sotaque brasileiro tiveram uma aceitação imediata por parte de muitos ouvintes. Foi o meu caso. Estávamos em 1986 e aquela “agitação” brasileira era uma novidade fresca, cativante. Antes “daquilo” aparecer, ainda só tinha escutado algum FM da Renascença, a Rádio Comercial e a Antena1. De facto, os brasileiros na rádio faziam a diferença, apesar de a coabitação com os portugueses não fosse dissonante em antena. A postura era relaxante, divertida, descontraída, dinâmica (sem ser preciso gritar!), as trocas de serviço eram efectuadas em directo sempre com boas piadas à mistura, com bom gosto e elevação, mesmo com divertimento à mistura. Ainda estava à procura da sua forma, do seu tom definitivo. Até chegou a fazer relatos de futebol, mas fê-lo sempre diferentemente do que nós, ouvintes, estávamos acostumados. Uma rádio de “clima tropical” à conquista de mercado num país de Invernos longos e frios. A Rádio Cidade a que me refiro terminou com o silenciamento pré licenciamento, em 1989. Depois, quando reabriu já devidamente legalizada, não voltaria a ser a mesma coisa e eu desapareci do seu contacto. Mas desse período, quero citar os seguintes programas e profissionais:

«Espaço Êxito»: Programa de segunda a sexta-feira, (12:00/13:00) com o patrocínio do extinto jornal Êxito. Apresentação de José Maria Lameiras.

«Oásis»: O “oponente” do «Oceano Pacífico», mas com as devidas diferenças. A toada era igualmente lenta e suave, mas a apresentação e as músicas eram mais refrescantes. Teve vários apresentadores, sendo o único que me lembro, um tal de Marcelo.
Mais tarde haveria um outro “oponente” ao «Oceano Pacífico», chamado «Cidade By Night», mas esse espaço era já uma sombra longínqua do «Oásis».

A Rádio Cidade continuou depois com muitas diferenças e muitas mudanças de estilo. A mais gritante, e talvez a primeira, foi o afastamento de vozes com sotaque de português de Portugal. Em 2003, já nas mãos da Média Capital, foi a vez das vozes do Brasil serem afastadas de antena. Actualmente a Rádio Cidade, falada apenas em português de Portugal, chama-se Cidade-FM, e dirige-se a um público juvenil.

---------------------------------------------------------------------------------------------


CMR-CORREIO DA MANHÃ RÁDIO

A luz da cidade

Sintonizei (Lisboa, 101.5 FM) pela primeira vez o CMR em Abril de 1987. Fiquei “preso” à sintonia porque passava álbuns na íntegra. Sem palavra, sem nada. A minha permanência mais assídua neste posto devia-se não só à audição de discos inteiros (é preciso fazer notar que há quase vinte anos o consumo de música não era a democracia aberta que é hoje) mas principalmente pela curiosidade e expectativa de “quando é que alguém vai falar?”
Não esperei muito. Semanas mais tarde aparecia uma voz (gravada) masculina, possante e grave a dizer simplesmente isto: “Correio da Manhã Rádio”. Era aquilo a que hoje se designa por Teaser. A voz era de Rui Pego. Pouco depois surgiram os primeiros jingles, os primeiros spots, as primeiras vozes, os primeiros programas. Nascia uma nova rádio. Posso dizer que assisti – como ouvinte – ao nascimento de uma rádio desde o seu início anónimo de ocupação de banda.
O CMR-Correio da Manhã Rádio partiu da iniciativa do empresário Carlos Barbosa, fundador do jornal Correio da Manhã, que viu na rádio uma extensão do diário, um dos mais vendidos em Portugal. Vivia-se o período mais arrojado e estimulante do fenómeno das rádios pirata. Rui Pego foi o homem forte escolhido para fundar e dirigir a nova estação de Lisboa. Foi criada uma equipa de luxo, maioritariamente vinda da Rádio Renascença, ao mesmo tempo que era dada a oportunidade a novos valores.
O CMR era uma estação music/news. Programas mais elaborados ou de autor só à noite e também ao fim-de-semana. De segunda a sexta-feira, das 07:00 às 20:00 a rádio cumpria-se com painéis de animação e noticiários de hora a hora. Eu gostava deste figurino. Era prático, simples e eficaz.
O CMR nasceu em 1987 e viria a ser extinto em 1993. Para mim, enquanto ouvinte, o melhor período foi até 1990. Principalmente por causa dos seguintes programas:

«Faces Ocultas»: João Gobern é o único apresentador que me lembro deste programa feito a várias mãos. Um olhar diferente sobre um trabalho musical ou um artista. A cosmética editorial era de primeiríssima categoria. Não me lembro do dia nem horário de transmissão, mas lembro-me que era à noite.

«Mercado Negro»: João Vaz e a divulgação da chamada “música negra”, com predominância para os ritmos mais dançantes. Depois de Adelino Gonçalves, João Vaz foi o melhor divulgador da música negra norte americana e não só norte americana.

«Espelho d’Água»: Teresa Fernandes (desde há bons anos a voz off da TVI) na hora de almoço ao fim-de-semana (sábados, 13:00/15:00). Faça o fim-de-semana connosco. Requinte, bom gosto musical, por vezes muito aligeirado e… uma boa voz que, depois da extinção do CMR, não (que me desse conta) voltaria à rádio.

«A Dois Passos do Paraíso»: Fernanda de Oliveira Ribeiro (domingos, 13:00/15:00). O irmão dominical do «Espelho d’Água».

«Sábado à Noite Em Paris»: A esta altura perdi de memória sobre quem fazia este programa de charme nos sábados à noite do CMR. Retenho no entanto o indicativo, com a voz de Teresa Fernandes e a música (parte instrumental) do tema “La Folie” dos Stranglers. Recordo em particular uma emissão sobre cinema francês no fim do verão de 1989 (Jeanne Moreau, Marguerite Duras, «India Song»; Nouvelle Vague, etc…). Foi simplesmente deslumbrante.

«Os Silêncios de Ouro»: madrugadas dos sete dias da semana (02:00/07:00) onde eram emitidos álbuns na íntegra. No início destas cinco horas era divulgada a lista das escolhas (só com o nome dos artistas) e depois era ouvir a passagem de álbuns na sua forma integral, incluindo os espaços (brancas) entre cada tema. Nunca existiu a preocupação de ligar as partes, sendo a lista absolutamente ausente de critério. Há pelo menos três álbuns que fiquei a conhecer e a gostar graças a esta solução (fácil, diga-se, a fim de preencher um espaço vazio). Os três não poderiam ser mais díspares na forma, estilo e conteúdo: Bruce Springsteen & The E-Street Band “Live 1975-1985”; Curiosity Killed The Cat “Keep Your Distance”; Dead Can Dance “Whitin The Realm Of A Dying Sun”. Elucidativo?

«Baile de Finalistas»: Luís Ferreira de Almeida com canções pop-rock das décadas de 50 e 60, ao final da tarde (sábados e domingos). Tinha dinâmica e quase que se conseguia estar
in the school ao som daquelas memórias dos que eram jovens nos tempos da música yé-yé.

«Lugar de Lua»:
O lugar onde o coração se esconde é onde o vento norte corta luas brancas no azul
do mar e o poeta solitário escolhe igreja para casar
O lugar onde o coração se esconde é onde contra a casa soa o sino e dia a dia o homem soma o seu destino
Em 1989, Paulo Guerra em diálogos voz/poesia/música. (Sábado, 22:00/23:00).

«Até Jazz»: De Raul Vaz Bernardo e José Navarro de Andrade. O Jazz divulgado por dois entendidos. A vez e a voz dos especialistas do género na rádio.

«Deserto Azul»: Programa de Miguel Cruz ao fim de semana. Divulgação de correntes mais easy listening do Jazz instrumental.

«O Ano de Todos os Perigos»: Uma emissão especial no balanço feito ao ano de 1988. Uma espécie de grande reportagem musicada. O resultado final deste melting pot foi, no mínimo, soberbo.

«Especiais musicais»: Foram muitos e foram muito bons. Alguns (poucos) exemplos: Isabel Antena, Tim Buckley, Bob Dylan, Suzanne Veja, Bossa Nova, 10.000 Maniacs, The Smiths: o ocaso (no fim de 1987) da banda de Morrissey e Johnny Marr teve um epílogo à altura no CMR.

«Manhãs do CMR»: Primeiramente sob a condução de Rui Pego, foi depois durante muito tempo da responsabilidade (animação) de Mário Fernando. Em grande nível. A rivalizar no mesmo horário (2ª a 6ª, 07:00/10:00) estavam António Macedo (TSF), António Sala (Rádio Renascença), José Ramos (Rádio Comercial) e Francisco Sena Santos (informação na Antena1). À excepção da Rádio Renascença – que não ouvia – era para mim uma séria dificuldade escolher em qual das manhãs ficar. Muitas dessas vezes perdia-me a saltar de um lado para o outro. Às vezes conseguia-me fixar num deles, mas não era nada fácil…

«Entrevista»: Já nos primeiros anos da nova década de 90 lembro-me de algumas entrevistas feitas à noite por Pedro Rolo Duarte (durante a semana de segunda a sexta, durante uma hora, 23:00/00:00). Na primeira metade de 1992 lembro-me de dois convidados vindos da TSF: António Macedo, frisando com humor o facto de estar ali em directo naquela hora para a entrevista e de daí a não muitas horas ter de estar antes das seis da manhã no edifício ao lado para fazer emissão na TSF. Outro convidado foi Nuno Santos, ao tempo animador/coordenador na TSF. A diferença entre as duas entrevistas foi a parcialidade demonstrada por parte do entrevistador. Afectuosidade e afabilidade para com António Macedo, uma certa aspereza e pouca complacência para com Nuno Santos. Mas era precisamente essa ausência de imparcialidade que tornavam interessantes as entrevistas/conversas de Pedro Rolo Duarte no CMR. Pois se nem uma rocha lunar é indiferente ao que a rodeia, quanto mais um ser humano.

O Fim
Nos inícios da década de 90, o CMR flectiu um bom bocado o seu projecto inicial. Em minha opinião, mal. O período 1987-1990 foi inigualável e lamentavelmente descontinuado. Pareceu-me que o CMR quis rivalizar com a TSF. Começou, por exemplo, a transmitir relatos de futebol e debates políticos. Descaracterizou-se bastante e perdeu-me como ouvinte. A TSF já me tinha conquistado a alma e o coração. Assisti ao muito promissor e radiante nascimento do CMR, mas já não estava lá aquando do fim.
Apesar da legalização e da correspondente atribuição de licença de Rádio Regional Sul, em 1993, os proprietários do CMR fundem a estação com a Rádio Comercial aquando da compra e privatização desta. Nem uma nem outra estação ganharam com o negócio. O CMR foi extinto e a Rádio Comercial hoje é uma outra rádio, apenas mantendo o nome forte que é uma marca no mercado.
O lugar criado pelo CMR em Lisboa, de rádio urbana, cosmopolita e moderna, ficou vago e nunca foi preenchido. Houve uma tentativa – negada – de reocupar essa lacuna, com o projecto (ambicioso) da Rádio Central, que apenas durou escassos meses em finais de 1996. Mas, como se sabe, redundou em total fracasso.

Nomes de algumas das pessoas que fizeram o CMR: Rui Pego, Mário Fernando, Nuno Infante do Carmo, João Vaz, José Mariño, Teresa Fernandes, Margarida Pinto Correia, Luís Ferreira de Almeida, Margarida Guimarães, Paulo Guerra, João Gobern, João Pedro Bandeira, Madalena Queirós, José Carlos Cunha, Fernanda Oliveira Ribeiro, Rui Vargas.

-----------------------------------------------------------------------------------------------

TSF-RÁDIO JORNAL

Por uma notícia vamos ao fim da rua, vamos ao fim do mundo

Nasceu como rádio pirata em Lisboa (102.7 FM), com emissões regulares desde do célebre dia 29 de Fevereiro de 1988. A primeira notícia do primeiro noticiário, às 7 da manhã, lida por Francisco Sena Santos: “Paz no fisco durante três meses”. A partir de então, a rádio em Portugal mudara para sempre principalmente em termos informativos. Foi uma pedrada no charco. Tornou-se numa referência incontornável do jornalismo radiofónico e mesmo em termos estéticos. É ainda hoje a rádio mais imitada em Portugal.

terça-feira, 30 de maio de 2006

RÁDIO RENASCENÇA (canal 1) anos 80
















Das únicas três rádios nacionais que existiam na primeira metade dos anos 80, a Renascença foi sem dúvida a que menos ouvi. Da emissão em Onda Média, nada. Apenas algum do FM.
«Despertar», «O Jogo da Mala» e «Bola Branca» eram as vacas sagradas da Emissora Católica Portuguesa («Bola Branca» e o «Terço» ainda estão na programação diária), mas passaram-me completamente ao lado enquanto ouvinte. Não nego a importância que estes programas tiveram (têm) na história da rádio portuguesa nos últimos 25 anos, mas não me dizem rigorosamente nada. O «Despertar» com António Sala e (a amiga) Olga Cardoso era um fenómeno de audiências e lideraram durante anos, mas das duas ou três vezes que escutei (sempre em zapping, no rodar do botão) nunca me fixei. Achava aquele estilo muito arcaico em comparação com o que ouvia na Rádio Comercial, essa sim, a minha estação de eleição e à qual era extremamente fiel. A «Bola Branca» escutei talvez o mesmo número de vezes e nas mesmas circunstâncias, as do acaso. A Rádio Comercial era, para mim, por demais inevitável! Eu não conhecia ninguém que ouvisse a Renascença. Toda a gente falava na Comercial. Ao tempo parecia-me completamente impossível que a Rádio Renascença tivesse maior audiência que a Rádio Comercial e, talvez por isso, ainda hoje não consigo acreditar nos estudos de audiência de Rádio que se publicam trimestralmente no nosso país. Da RR apenas consumi algum do seu FM, para mim bem mais interessante.


RÁDIO RENASCENÇA 2006
Continua a ser a estação amiga do ouvinte. Continua a ser a Emissora Católica Portuguesa. Conservadora, previsível, pouco ou nada arrojada. Pouco ou nada atraente. Encetou, muito timidamente, uma espécie de modernização com mudanças a nível musical – um pouco mais actualizada – mas ainda assim não a posso considerar uma estação moderna. Tem bons relatos de futebol, feitos com inegável profissionalismo e qualidade. À noite faz a diferença («Edição da Noite», 23:00/00:00) optando por uma hora informativa enquanto que as rivais TSF e Antena1 estão a emitir música ou rubricas em reposição (excepção do jornal de desporto emitido na Antena1 depois das 23:30). Durante a madrugada é a estação que mais palavra tem, sendo neste aspecto a rádio nacional que melhor companhia faz para quem quer ouvir gente a falar, mesmo que diga pouco. A animadora de serviço (02:00/05:00) é Cristina Abranches de Almeida.
Da RR de hoje em dia só acompanhei até há pouco tempo o programa «Com Sal e Pimenta», (Sábado 12:00/13:00) não por ser uma cópia do extinto «Flash Back» da TSF, mas por lá ter estado presente um grande português chamado João Bénard da Costa.
Segundo as sondagens, a Rádio Renascença é actualmente a segunda estação nacional mais escutada. Durante muitos anos foi a primeira, perdendo há poucos anos a liderança para a “filha mais velha” RFM.


RÁDIO RENASCENÇA (FM) anos 80
As emissões em FM da Rádio Renascença começaram em 1984. O simultâneo Onda Média /FM era desfeito durante 12 horas por dia (das 14:00 às 02:00). Coube a João Chaves, recentemente chegado da Rádio Comercial, inaugurar as emissões do FM da Renascença. Esse momento não escutei, mas acompanhei – nem sempre com a melhor das assiduidades – os seguintes programas:

«A Cor do Som»; «Meia de Rock»; «A Ocidental Praia»: Rui Pego em autorias diversas. Recordo bem «A Cor do Som». Era o programa da Renascença que mais se aproximava da estética desenvolvida na altura pela Rádio Comercial. Sempre achei que Rui Pego deveria estar na Comercial e não na RR. Parecia-me ser a “casa natural” para um radialista como ele era naqueles tempos, ao lado de outros grandes nomes da sua geração.
Do programa «Meia de Rock» tenho apenas a vaga lembrança de se dedicar às novas correntes emergentes da música portuguesa. E acho que era feito a meias com mais alguém. Da «Ocidental Praia» só me lembro da toada “paisagística” e fundamentalmente do genérico, que era o instrumental “Mar de Outubro” da Sétima Legião, o mesmo indicativo da «Íntima Fracção, que por sua vez era um programa mais antigo.

«Serra de Estrelas»: Duas mãos cheias de música e algumas palavras para muitos amigos.
A primeira emissão foi no dia 15 de Outubro de 1984, pela mão de Jorge Peixoto. João Porto, um ano mais tarde, conduziria o “Serra de Estrelas” por anos a fio até ao termo do programa já na primeira metade dos anos 90. De segunda a sexta-feira (20:00/22:00) cumpria com inegável eficácia o “buraco negro” das audiências na hora do telejornal e da telenovela (RTP). Servia de antecâmara ao «Oceano Pacífico». O ambiente era bem conseguido, a selecção musical não comprometia, mesmo que por vezes fosse – em minha opinião – demasiado aligeirada. Os clássicos da canção popular norte americana de 60 e 70 tinham aqui lugar. Bob Dylan e Cat Stevens são apenas dois exemplos. Alguns instrumentais não identificados também brilhavam como estrelas nesta serra de duas horas. Por exemplo, alguém consegue identificar o curto cântico que durante muito tempo abria a segunda hora? Sempre me pareceu ser a voz de falsete de Jimmy Somerville (Bronski Beat; The Communards). Por outro lado, também tenho a sensação de se tratar da voz de Bobby McFerrin... mas será que era ele? Quando o «Serra de Estrelas» terminou, João Porto passou a assegurar as duas horas de emissão (01:00/03:00) depois do «Oceano Paçífico», onde repetia amiúde a frase «Há Músicas Assim», mas já era uma coisa muito distante do «Serra de Estrelas». Actualmente João Porto está nas madrugadas da RFM (segunda a sexta, 02:00/06:00).
[ACTUALIZAÇÃO 08 de Março de 2017: o tema de abertura da 2ª hora é "Remedial Interruption" de Shawn Phillips]. 
 

«Oceano Pacífico»: Iniciou-se em Outubro de 1984 com a presentação de Marcos André (2ª a 6ª, 22:00/00:00). Em Dezembro desse ano o programa é entregue à apresentação de João Chaves. O que ainda acontece. O sucesso do formato de programa de autor com baladas/slows, juntamente com um tom de voz meio sussurrante, foi largamente copiado um pouco por todas as rádios locais (…e outras menos locais). De duas horas, passou a três e destas para as actuais quatro (22:00/02:00). É o programa mais antigo da RFM. Até há dias (agora há um programa de música de dança, «RFM Clubbing», ao sábado entre as 21 e as 2h da manhã) era, há já muito tempo, o único programa dito de autor na RFM. Mas será que actualmente se pode designar o «Oceano Pacífico» como sendo um programa de autor? Em minha opinião, claramente que não. Porque se durante os anos 80 e grande parte dos 90 o apresentador João Chaves escolhia a música a seu belo prazer, hoje em dia está sujeito aos estudos/testes de audição, no que resulta numa autêntica playlist de baladas/slows que escapa à sua escolha pessoal. Ora, se o autor de rádio não tem o pleno domínio da sua emissão, se não é detentor da primeira e última palavra, se não tem total autonomia editorial, então não é um programa de autor. Mais: já ouvi temas da playlist da RFM (os mais baladeiros) a encontrarem igual passagem em pleno «Oceano Pacífico»…
Um verdadeiro programa de autor tem como princípio basilar fazer a evidente destrinça entre ele e o resto da programação, principalmente do resto da programação da estação em que se insere. Mesmo sendo uma triste sombra do que já foi, o «Oceano Pacífico» tem há muito o seu lugar na história da rádio portuguesa. E continua a ser plagiado por aí, até mesmo por estações que seriam – à partida – insuspeitas de o fazerem.

«O Último Metro»: Nuno Infante do Carmo, numa primeira fase acompanhado por Mário Fernando. Duas horas de grande música, fazendo a divulgação certa entre vários estilos da música popular anglo saxónica, entrando sem dificuldades em terrenos indy/alternativos, várias correntes do Jazz, etc. Um leque vasto de novidades e de sonoridades que não sendo novidade, incorporavam o novo. Em Dezembro de 1986 fiquei a conhecer através deste programa dois álbuns musicais que ainda hoje estão entre os meus preferidos. A saber: “Gone To Earth” de David Sylvian, através do tema “Taking The Veil”e “Filigree & Shadow” dos This Mortal Coil com o tema “The Jewler”. Mas houve mais: Everything But The GirlCome On Home”, Pat Metheny, J.J.CaleMagnolia” e Dead Can DanceDawn To The Iconoclast” e “Cantara”.
Em Setembro de 1987, «O Último Metro» foi apresentado por Maria Flor Pedroso, fazendo as férias de Nuno Infante do Carmo. O Programa terminaria pouco tempo depois – ouvi a última emissão, em que NIC desfilou os temas “residentes” do programa em anos de emissões – por causa da transferência (um pouco tardia) do autor para o CMR-Correio da Manhã Rádio. O indicativo de «O Último Metro» era genial. Ouvia-se uma composição de metropolitano parar numa estação, o apito avisador de fecho de portas, o som do arranque e um instrumental minimalista electrónico. Simples e belo como poucos.
Actualmente NIC é animador no Rádio Clube.


RFM anos 80
O outro canal da Renascença

No dia 1 de Janeiro de 1987, o FM da Rádio Renascença torna-se autónomo 24 horas por dia, isentando-se da emissão em simultâneo com a Onda Média. Era o nascimento da Renascença FM, a
RFM. Alguns programas que vinham do “velho” FM mantiveram-se inalterados. Foi o caso de «Serra de Estrelas», «Oceano Pacífico» e «Último Metro». Outros nasceram já sob a designação RFM. Entre eles, escutei os seguintes:

«Os 100 +»: A primeira experiência de playlist em Portugal. Uma longa série de horas em que os temas musicais eram apresentados em forma de contagem decrescente. Nada mais nada menos que uma centena! Daí o nome «Os 100 +». Desconheço se eram os cem mais pedidos pelos ouvintes, ou os cem mais escolhidos pelos vários animadores que apresentavam as muitas horas do programa, ou se havia outro método qualquer para eleger a centena de canções pop-rock comercial que desfilavam. Na altura em que apareceu não me pareceu uma má ideia, e lembro-me do bom acolhimento que o novo formato teve junto das pessoas do meu círculo de conhecimentos, mas não muito tempo depois comecei a fartar-me de ouvir por causa das repetições e da previsibilidade cada vez mais recorrente. Dei-me conta que os temas apresentados eram sempre – ou quase sempre – os mesmos. Apenas mudava a ordem. Na verdade era um não programa. Afinal, era só uma playlist, não era?

«A Ilha dos Encantos»: Amílcar Fidélis. Um ET da rádio, de voz estranha e enigmática, autor da maravilhosa “Ilha dos Encantos” na primeira etapa da RFM, desde 1987 até 1990. Noites de semana, da meia-noite às duas da manhã. Indie Pop de extremo bom gosto (Triffids "Goodbye Little Boy"; The Sundays "Can't Be Sure"; Pixies "La La Love You"; Anna Domino "Lake"), com rubricas fixas, como por exemplo “O Tesouro da Ilha”, que tinha a voz de Teresa Fernandes no jingle. Também havia alguns convidados esporádicos para se debater sobre determinado tema. Foi assim durante várias emissões no início de 1990 para fazer-se o balanço da década que entretanto acabara. Fidélis, com a então defunta década ainda arrefecer, fez corajosamente o balanço dos anos 80 como ainda hoje ninguém conseguiu fazer sobre a década de 90.



«Colar de Pérolas»: Uma selecção musical a cargo de Manuel Falcão com apresentação de Luís Silva (sábado, 00:00/02:00). Ao «Colar de Pérolas» devo a descoberta de... duas pérolas: os álbuns “Drum” e “Mettle” dos nova-iorquinos Hugo Largo, ambos concebidos em 1988. Os dois trabalhos deste atípico agrupamento avant gard tiveram amplo destaque neste programa da RFM.

«Atlântida»: Uma aproximação (muito aproximada mesmo) a um programa que habitava (e ainda habita) a mesma casa… “Oceano Pacífico”. Apresentação de Rui Branco (mais tarde com apresentação de Luís Silva). Sábados e Domingos (22:00/00:00). A voz de Rui Branco, que conhecemos da muita publicidade que grava, foi insuficiente para ganhar raízes. Penso que a ideia era manter a linha do «Oceano Pacífico» ao fim de semana, mas «Atlântida» afundou-se na comparação com o original.

«O Descanso do Guerreiro»: Marcos André, por ventura a melhor voz de sempre nos quase vinte anos que RFM tem de vida. Foi um espaço musicalmente sem grande interesse, mas que tinha na voz do apresentador a sua mais valia. Atenção: aqui já estávamos no início dos anos 90.

«A Vida Também se Diz»: Um pequeno apontamento religioso em espécie de aconselhamento diário. Era curtíssimo, reduzido a uma ou duas frases e a uma só ideia. Aparecia à meia-noite, entre o «Oceano Pacífico» e «O Último Metro». Para um jovem adolescente e assumidamente agnóstico, aquelas palavras não eram desconexas. Muito pelo contrário.


RFM 2006 
Só Grandes Músicas

Uma estação quase 100% musical (inclui sínteses noticiosas de hora a hora, das 07:00 às 00:00 e curtos apontamentos de cariz religioso), playlist de música pop-rock comercial. Tem uma apresentação estética demasiadamente plastificada, pouco natural. É a estação nacional mais escutada em Portugal, segundo as sondagens. Mas tal como dizem os políticos, “as sondagens valem o que valem”.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

RDP-ANTENA1 anos 80

Como já aqui referi anteriormente, a Rádio Comercial era a minha estação de eleição nos anos 80. Assim foi até quase ao fim da década. Mas na segunda metade dos anos oitenta o panorama radiofónico nacional começou a mexer e de que maneira! Novas rádios, o fenómeno explosivo das rádios pirata, novos projectos e novos desafios. O meio rádio em Portugal fervilhava, era aliciante para quem ouvia e acima de tudo, prometia muito. Acompanhei o desenvolvimento de algumas dessas movimentações sempre na qualidade de ouvinte. É disso que vos venho agora falar, partilhando memórias de um período hertziano muito conturbado mas imensamente rico.
Até à chegada das rádios pirata, a Rádio Comercial era a estação que mais ouvia. A seguir, com longa distância, vinha a Antena1. E o que me ficou na memória desses tempos da rádio pública? O seguinte:

«Viva o Sábado»: Tardes de Sábado, com três jovens apresentadores: Nuno Santos, Jorge Alexandre Lopes e Carlos Dias da Silva. Numa ainda muito pesada e cinzenta RDP, este programa foi uma das novas criações na Antena 1 com vista a rejuvenescer um pouco o produto final, dando abertura a novos profissionais. Eu era ouvinte do «Viva o Sábado». Participava nos passatempos em directo ao telefone afim de obter bilhetes para, por exemplo, aceder à “Festa dos matemáticos aplicados”. Ganhava as entradas, mas nunca lá ia receber o prémio do passatempo. Participava apenas porque queria fazer parte do programa, queria ser um deles! Ainda me lembro do número de cor: 66 76 14. Estávamos em 1986, 1987.

«Voo de Pássaro»: Júlio Montenegro, nas noites de segunda a sexta-feira (23:00/01:00). Este voo, natural e descontraído, pairava no ar depois do «Imaginário» de Graça Vasconcelos. O «Voo de Pássaro» era uma emissão de cariz musical, escolhida a dedo pelo autor e apresentador Júlio Montenegro, mas não dispensava a palavra, a frase certeira, alguma ironia (q.b.), e mesmo alguma intimidade. Por vezes, uma boa conversa. Um disco que fiquei a conhecer ao longo deste “voo”: "The Princess Bride" (1987) com a voz de Willy DeVille; Uma canção que marcou o programa e que perdura no meu ouvido: “Somewhere Down The Crazy River” de Robbie Robertson (1987).

«Sete Mares»: Sílvia Alves no seu melhor momento radiofónico. Na rádio portuguesa o indicativo do programa (“Saudade”, dos Love & Rockets) ficou-lhe para sempre associado. Tardes de 2ªa 6ª feira, que durante algum tempo teve a colaboração de Ricardo Saló.

«Janela Indiscreta» e «Em Busca do Acorde Perdido»: Ricardo Saló no papel que melhor desempenha no mundo da rádio: o de divulgador de correntes musicais futuristas e alternativas, quase sempre à margem dos territórios pop-rock, conseguindo com isso elaborar um ambiente em crescendo que não conhecia finais infelizes.

«Imaginário»: Graça Vasconcelos a liderar a equipa de um distinto magazine cultural (2ª a 6ª feira, 21:00/23:00). Dirigia-se a um público mais exigente, elitista até. Tinha como indicativo um tema de Ry Cooder da banda sonora do filme “Paris Texas” de Wim Wenders.

«Rocklandia»: Fernando Neves, e outros. Tardes de segunda a sexta-feira. O nome do programa diz tudo: a terra do Rock. Este espaço também fazia parte da tentativa de reordenação da RDP em busca de um público mais jovem.

«Íntima Fracção»: Francisco Amaral. A emissão inaugural foi na noite de sábado de 08 para 09 de Abril de 1984. Durante o verão desse ano, o projecto inicial fora a abandonado transitoriamente – por ter sido considerado demasiadamente hermético – tornando-se num espaço inócuo de divulgação de actividades ditas culturais, para, já no Outono de 84, regressar em definitivo ao conceito original “Sempre pouco para dizer, muito para escutar, tudo para sentir”. Infelizmente só captei este programa em Janeiro de 1987, mas continuo a acompanhá-lo até hoje. Sou um indefectível da IF.

«Espaço de Transição»: Jovens elementos da RDP, alguns da equipa de «Viva o Sábado» aqui num espaço nocturno (de segunda a sexta-feira, 23:00/01:00) aparentemente de transição, já que durou talvez mais do que se previa. Marcou-me pela música, boas apresentações, um estilo fresco a indicar um possível novo caminho - que não foi continuado - na pouco atraente Antena 1 de então. Era transitório e assim foi.

«Noites de Luar»: Este programa iniciou-se em Abril de 1984 e terminou exactamente no dia 31 de Dezembro de 1985. Alguma palavra, colaborações em várias áreas (que não me lembro, confesso!) e música, muito boa música. Conhecem o magnífico tema “Love At The First Sigth” dos Gist? Foi aqui que o ouvi pela primeira vez pela mão de Aníbal Cabrita.

«Do Choupal até à Lapa»: Sanção Coelho a recuperar com autoridade e sapiência a tradição do fado de Coimbra. Domingos à noite, a partir dos estúdios da RDP-Centro (Coimbra) para todo o Portugal. Não posso afirmar se este programa começou ainda nos anos 80; eu só o “apanhei” já do dealbar de 1990.

«Relatos de futebol de David Borges»: A par de Fernando Correia e Jorge Perestrelo, que nesta altura estavam na RDP-Rádio Comercial, David Borges era um dos melhores relatadores de futebol na rádio. Também era excelente como apresentador das emissões de desporto em estúdio.

«Especial Bruce Springsteen & The E-Street Band»: Ainda conservo a gravação desta emissão de rádio em duas velhas cassetes BASF. O triplo álbum ao vivo de Bruce Springsteen (Live 1975–1985), editado em 1986, foi muito bem acolhido na rádio em Portugal de então, sendo neste caso alvo de uma emissão especial conduzida por Jorge Alexandre Lopes, na tarde do último dia do ano de 1986 (há alguns anos, num mesmo 31 de Dezembro, estive a ouvir - novamente e na íntegra - esta gravação e… céus!!! O JAL estava irreconhecível!).


RDP 2006
Durante muitos anos andei revoltado por lá em casa ter-se que pagar uma coisa chamada “taxa de radiodifusão” anexada à conta mensal da electricidade. Porque razão ter que pagar por uma rádio que não ouvia? Ouvir a RDP até ouvia, mas muito pouco. E da Antena 2 rigorosamente nada. Hoje já não penso assim. A RDP tem vindo a melhorar com o tempo e melhorou substancialmente desde 2003. Actualmente já não mostra ser aquela criatura monolítica, cinzenta e apática como era há 20 ou 25 anos. A recente adesão ao digital (emissões on-line dos diversos canais: Antena1; Antena2; Antena3; RDP Internacional; RDP África; RDP Madeira-Antena1; RDP Madeira-Antena3; RDP Açores-Antena1; Podcast) confirma o acordar do monstro adormecido. Bastou isso para a RDP tornar-se desde já no maior fornecedor português de ficheiros digitais para descarregamento ou audição provenientes da emissão hertziana.
Mas a RDP nos dias de hoje não está isenta da sua eterna (?) dicotomia, pelo menos enquanto for uma empresa pública: rivaliza com a concorrência privada ao mesmo tempo que tem uma obrigação de concessão de serviço público. Ou dito de outra forma, se não tem a liderança nas audiências para quê continuar a gastarem-se tantas verbas no serviço público de radiodifusão? Sou defensor da existência em Portugal do serviço público de radiodifusão, não para rivalizar com os operadores privados, mas para ser diferente destes. Para ser uma alternativa sólida, qualitativa e credível.
Em 2006 a RDP, “A rádio que liga Portugal”, está com um pé em cada um dos lados, e sendo assim, não está assente em nenhum. Ficando a meio caminho, acaba por “apanhar” dos dois.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Não param de chegar novos acrescentos às memórias da Rádio Comercial nos anos 80:

O programa “O Passageiro do Noite” de Cândido Mota era transmitido apenas em Onda Média e não em simultâneo com o FM como dei a entender no texto sobre a “Doce Mania de Rádio”.

Foi-me lembrado um programa que ouvi na Rádio Comercial na década de oitenta, mas do qual já não tinha memória. «Dois Pontos», de Jaime Fernandes, onde em duas horas eram apresentados na íntegra dois álbuns musicais. O mercado discográfico vivia os seus melhores dias. As pessoas ouviam os discos na rádio e iam às lojas comprá-los. Todos os sectores da Indústria estavam satisfeitos (crise? qual crise?).
O programa «Dois Pontos» era matinal. Alguma estação nacional de hoje tinha coragem para fazer uma coisa assim? Todos sabemos a resposta!


Outros Programas da Rádio Comercial nos anos 80:

«Em Órbita» de Jorge Gil (já na versão Música Clássica); «O Homem no Tempo» de João Sousa Monteiro com João David Nunes; «Musicando» de José Freire; «Mão na Música» de António Macedo; «A Menina Dança» de José Duarte; «Sábado Muito Especial»; «Espírito Santo de Orelha»; «Dança Atlântica»; «Pretérito Quase Perfeito»; «Trópico de Dança» de João David Nunes.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Ainda sobre a Rádio Comercial nos anos 80

Graças a alguns ouvintes/leitores mais atentos da Rádio Crítica, é por demais oportuno fazer algumas rectificações ao texto anterior.
Um "ouvinte", que pediu anonimato, num e-mail enviado há dias, refere o seguinte:

(…)
O PBX era uma produção dos Parodiantes de Lisboa e foi emitido pelo Rádio Clube Português.
O Tempo Zip foi, inicialmente, produzido pela sociedade Zip-Zip (constituída pela equipa de produção do programa de televisão com o mesmo nome). O programa estava a ser emitido na Rádio Renascença quando foi comprado pela Sassetti. A equipa do programa mudou (e a temática também, como é óbvio) e é ao Tempo Zip desta fase que as pessoas geralmente se referem quando querem evocar O Tempo Zip. Esta equipa ganhou, aliás, um Prémio da Imprensa pelo trabalho desenvolvido.
O João Martins, que foi um excelente profissional, não foi produtor destes programas.
(…)


O texto já está devidamente rectificado.
Outro “ouvinte”:

(…)
Por motivos de ordem vária só hoje li o seu trabalho sobre a Rádio Comercial. Gostei. São referidos programas de que me esquecera completamente, outros de que não gostava nada e outros de que gostava muito e que lamento terem desaparecido. Certamente já não voltaremos a algo parecido e o meu tempo cada vez é mais curto. Uma pequeníssima rectificação: quando aborda as tardes desportivas fala de Fernando Neves de Sousa. Não é Fernando. Penso que quer referir-se ao José Neves de Sousa. Um bom jornalista, chefe da página de desporto do então"Diário de Lisboa", mais tarde escreveu na desaparecida "Gazeta dos Desportos". Bonacheirão, boémio, uma enorme família para sustentar mas que escrevia com um humor pouco comum em jornalismo desportivo. E sabia do que falava mesmo quando se entusiasmava quando tocava ao "seu" Sporting. E eu que até sou um benfiquista militante, mesmo assim gostava de o ler e de o ouvir. Com ele alternava um tal Wilson Brasil (penso que era assim que se chamava porque a memória aos 60 começa a derrapar) velhote simpático, que escrevia também na "Gazeta dos Desportos", lançou os Prémios Gandula mas que sempre me pareceu estar a leste do que comentava. O Jorge Perestrelo quando lhe passava o microfone dizia: "fala mestre". Não sei se por ironia, se por ternura.
(…)
H.S.


Agradeço a atenção e as rectificações em nome da verdade e da memória colectiva da Rádio em Portugal.

E agora uma adenda:
Estando na região de Lisboa, nunca tive acesso às emissões locais da região do Porto através da Rádio Comercial do Norte. Consta, por via de relatos que fui obtendo, que eram emissões muito boas, de grande qualidade. Lá nasceram nomes fortes para a rádio, como por exemplo Álvaro Costa. Disseram-me até que as emissões do Porto chegavam a superar a Rádio Comercial que emitia a partir da Capital. Faço, portanto, boa fé nesses testemunhos. Se os estúdios da Sampaio Pina tinham como homens fortes João David Nunes e Jaime Fernandes, as emissões a partir dos estúdios do Porto tinham como timoneiro Manuel Costa Monteiro, director da Rádio Comercial do Norte, que na altura também era comentador desportivo, nomeadamente de futebol. Podemo-lo escutar nos dias de hoje nessas mesmas funções de comentador aos microfones da TSF. Manuel Costa Monteiro é um dos históricos da Comercial de 80 que, felizmente, mantém-se no activo e em grande forma. Nós, ouvintes, sentimo-nos gratos.

Os próximos textos da Rádio Crítica vão, à semelhança do que foi escrito sobre a Rádio Comercial, ocupar-se das outras rádios que eu ouvia nos anos oitenta: RDP-Antena 1; Rádio Renascença (FM) / RFM; CMR-Correio da Manhã Rádio; RGT-Rádio Gest e Rádio Cidade.

domingo, 7 de maio de 2006

A «Doce Mania de Rádio»














RÁDIO COMERCIAL anos 80

Naquele tempo havia um rádio ligado em minha casa 24 horas por dia. Só existiam quatro canais nacionais de rádio: a RDP Antena 1 e Antena 2, a Rádio Renascença e a Rádio Comercial, que também pertencia à Radiodifusão Portuguesa. A Rádio estava sempre ligada na Rádio Comercial, especialmente na emissão de Onda Média. Isto até ter-se dado o advento do FM em Portugal, em larga escala, a partir de 1979. Não me lembro do nome do aparelho de recepção que o meu pai trouxe para casa em 1975 e que, na primeira vez que foi ligado, apareceu a voz de Raul Durão na Antena 1. Não me lembro da marca do modelo do aparelho, mas se tiverem oportunidade de ver o filme Apocalypse Now Redux (de Francis Ford Coppolla, rodado entre 1976 e 1979) aparece um rádio exactamente igual no momento do enterro do jovem soldado. Seria, todavia, com um outro receptor, um pequeno transístor manual (que lá em casa chamávamos de “bonequinha”) que escutaria, pela primeira vez, uma madrugada inteira de rádio. Fi-lo em segredo. Tinha nove anos e o programa que escutei durante toda essa noite chamava-se «A Noite é Nossa», de Ruy Castelar. Foi a primeira de muitas, imensas, incontáveis noites em claro a ouvir Rádio. E, obviamente, a ouvir a Rádio Comercial. O programa «A Noite é Nossa», de Ruy Castelar, não duraria muito mais tempo e, passado um ano ou dois, apareceu um outro programa na Rádio Comercial, no mesmo horário, que quase nunca perdia. Era o programa «No Calor da Noite», feito a várias mãos. Uma equipa de notáveis profissionais, entre eles Fernando Correia, Jorge Perestrelo, Luís Filipe Barros e José Augusto Marques. Cada qual fazia à sua maneira mas, em todos eles, havia uma forte dedicação. «No Calor da Noite» era uma companhia nocturna absolutamente arrebatadora. Eu já sabia que se começasse a ouvir esse programa não conseguiria dormir mais até ao fim. Este é apenas um dos muitos exemplos que trago na memória desses templos absolutamente dourados da doce mania de rádio. «Doce mania de Rádio», era uma frase cliché do programa «24ª Hora». Esse era outro dos espaços de emissão que eu ouvia assiduamente. Por exemplo, neste programa havia duas crónicas diárias absolutamente imperdíveis: o ressurgimento dos «Cinco minutos de Jazz» de José Duarte (após um interregno de vários anos na rádio portuguesa) e a crónica socio-política de José Manuel Homem de Melo. Mas tal como disse, estes são apenas alguns exemplos de uma torrente contínua de programas na Rádio Comercial, ao longo de 24 horas por dia. As manhãs, até um certo período, eram em simultâneo em Onda Média e FM. Podiam começar com a equipa de Luís Paixão Martins («Hora de Ponta»), Luís Pereira de Sousa («Hora a Hora»), Carlos Pinto Coelho, José Ramos, Herman José, Júlio Isidro, continuando depois com Ruy Castelar, Jorge Pego, etc. 
As tardes em Onda Média também foram, durante algum tempo, preenchidas com um programa feminino chamado «Ela», feito por várias elas, e que tinha uma crónica social interessantíssima feita por Carlos Castro. Em FM, era a «Discoteca» de Adelino Gonçalves, «O Vapor» de José La Féria, o «Rock em Stock» de Luís Filipe Barros, «Tempo de Fuga» (rigoroso exclusivo Pausadas de Portugal) com apresentação de José Ramos, «Cabo da Boa Esperança» com apresentação de António Macedo, já pela noite dentro «Quando o Telefone Toca» com Matos Maia (à 4ª feira havia o Top dos discos mais pedidos), o «Café-Concerto» com Maria José Mauperrin, depois a já falada «24ª Hora» que teve como apresentadores Pedro Castelo, Aníbal Cabrita e João Chaves entre muitos outros. Depois vinha «O Passageiro da Noite» de Cândido Mota, «O Som da Frente» de António Sérgio e «O Calor da Noite» dos notáveis de que já falei. 
A Rádio nessa altura em minha casa era e, acho que em todas as casas, mais importante que a Televisão. Muita gente não se lembra mas só havia a RTP 1 e 2. E a televisão em Portugal nessa altura não funcionava 24 por dia. As emissões começavam à tarde, por volta das 17:00 e às duas da manhã ou muitas vezes antes, já estavam encerradas. A Rádio sempre foi o órgão de comunicação social mais importante na minha casa. Estava então ligada 24 horas por dia. Acordava a ouvir rádio, tudo o que fazia era ao som da Rádio, estudava a ouvir Rádio, faltei a algumas aulas para ouvir Rádio, quase que gostava de ficar doente para poder ficar em casa a ouvir Rádio, deitava-me (e deito-me) sempre a ouvir Rádio. Muitas dessas noites, não chegava a dormir. Toda a bagagem musical que fui acumulando ao longo dos anos foi através da Rádio. E todo o investimento musical que, posteriormente fiz, foi estimulado pelo que conheci através da Rádio. É claro que muitas das coisas que conheci me levaram a conhecer outras e por aí fora (as playlists não permitem isso, salvo as raras excepções do costume). Nessa altura, nos últimos 25 a 30 anos, a Rádio tinha uma componente que hoje em dia caiu em desuso: a formação. A Rádio tinha três componentes fundamentais: a informação, o entretenimento e a formação. Hoje em dia, a formação está completamente posta de parte. Os programas tinham, de facto, impacto junto das pessoas. Havia muito mais ouvintes que há hoje. Havia mais tempo, as pessoas estavam mais disponíveis para ouvir Rádio. E faziam-no, sobretudo em casa. Na altura, a maioria das pessoas não tinha ainda transporte próprio. Hoje em dia a rádio ouve-se essencialmente nos automóveis. Esta diferença de disponibilidade demonstra o quanto diferentes são hoje os ouvintes de Rádio. Hoje, ouvem com menos atenção. São menos exigentes na subjectividade das emissões mas, por outro lado, as audiências de hoje em dia são mais exigentes no que toca à informação, ao jornalismo radiofónico. Hoje em dia há mais participação de ouvintes em directo na Rádio, há maior interactividade por via dos vários fóruns que se multiplicam em estações de referência, sendo que em muitos destes casos o excesso de palavra cai em redundância e na inutilidade. Transforma-se em ruído. E o excesso de informação transforma-se em desinformação (mas esse é um outro assunto que não interessa agora).
Por vezes, eu colocava dois aparelhos de rádio ligados em simultâneo. Um com o volume de som mais elevado que o outro, para assim produzir-se um efeito em eco que se espalhava por toda a casa. Aquilo era mágico! 


DADOS HISTÓRICOS 
A Rádio Comercial foi precedida pelo não menos histórico RCP-Rádio Clube Português. Após as nacionalizações em 1975, o RCP (privado) foi assim nacionalizado e caiu na alçada da RDP. Primeiro este canal nacional de radiodifusão chamou-se RDP-Programa 4. Depois, e por ser a única estação estatal a ter publicidade, começou a denominar-se – por sugestão de João David Nunes – Rádio Comercial.
Dia 10 de Março de 1979: João David Nunes assumia o cargo de director da Rádio Comercial. António Ribeiro é o director de informação. 
Junho de 1980: Jaime Fernandes assume o cargo de director de programas. 
Outros nomes pioneiros no arranque da Rádio Comercial: Rui Morrison, Paulo Coelho, Júlio Isidro, Dora Maria, Fernando Quinas, Jorge Moreira, Dulce Varela e Pedro Castelo. 


Acho que alguma da Rádio que já se vai fazendo, neste momento, em Portugal, não nos deixa muito envergonhados em relação à Rádio que se faz lá fora. 
João David Nunes, Abril 1981 


PROGRAMAS PARA A HISTÓRIA 
«Quando o Telefone Toca» que teve vários apresentadores, mas o único que me lembro bem é Matos Maia. Acompanhava com maior entusiasmo a emissão de quarta-feira por causa do top dos dez mais pedidos da semana. O objectivo era ouvir as canções “Eyes Without a Face” de Billy Idol e “Take a look at me Now de Phill Collins. Estavam lá sempre (1983/84). 

«Piadinhas e Torradinhas» e «Graça com Todos» dos «Parodiantes de Lisboa». As “piadinhas surgiam cedo pela manhã (no Inverno ainda de noite) e a “Graça” à hora do almoço (13:00/14:00) . Sempre de segunda a sexta-feira. Inesquecível a dupla Patilhas e Ventoinha, que aparecia já nos últimos dez ou quinze minutos da sessão «Graça com Todos». Lá iam eles desvendar mais um bizarro crime. Patilhas era o chefe, o inteligente. Ventoinha o bronco, o desastrado. Mas não eram poucas as vezes que o subalterno surpreendia e embrulhava o chefe…

«Café da Manhã» com Ruy Castelar e companhia. Da companhia fizeram parte duas estreantes vozes femininas, hoje ausentes do éter: Maria Alexandra e Isabel Risques. Onda média pura e dura, com música portuguesa, francesa e latino americana. Passatempos/ofertas e ouvintes em directo. Este era o Ruy Castelar diurno. Antes tinha havido o histórico «A Noite é Nossa» e, depois do «Café da Manhã», Ruy Castelar voltaria à terna noite para realizar o «Fantástico». Durou anos a fio, só sendo pulverizado pela privatização da Comercial em 1993. Fica na memória do «Fantástico» as intervenções da astróloga brasileira Diva Ferreira e especialmente os directos de Carlos Rebelo a partir da discoteca “Green Hill” na Foz do Arelho. O programa «Fantástico» ainda teve um remake na Rádio Nova (Porto) numa altura em que dispunha de emissão de e para Lisboa. Mas nunca mais voltou a ser a mesma coisa e a fantasia perdeu-se.

«A Grafonola Ideal» de Júlio Isidro. Salvo erro, apenas em Onda Média. E, se a memória não me atraiçoa, Júlio Isidro teve uma ou mais vozes femininas a acompanhá-lo neste programa da Comercial. Mas fez mais, especialmente a «Febre de Sábado de Manhã». Este último conseguiu feitos impensáveis na rádio de hoje. Qual é o programa que hoje conseguiria encher um estádio de futebol durante três horas para assistir a actuações musicais numa manhã de Sábado?

«Cantores do Rádio» de José Nuno Martins. Destaque óbvio para a música brasileira e estórias associadas. Outro programa de José Nuno Martins que deixou marcas na Rádio Comercial nos anos 80 foi «Interiores».

«Piquenicão» de Costa Macedo, numa romaria anual com ouvintes, amigos, familiares e agricultores. A rádio ao vivo e em directo. Literalmente.

«TNT-Todos no Top» de Jorge Pego, que numa determinada fase contou também com apresentação de Manuela Moura Guedes. Lembro-me da entrevista a Paul McCartney por altura da edição do álbum “Pipes Of Peace” (1983). A guerra-fria estava num dos seus pontos mais críticos.

«Rock em Stock» de Luís Filipe Barros. (Por um bom período de tempo foi feito por Ana Bola). Talvez o mais memorável dos programas da Comercial de 80, a par do «Som da Frente» e da «Discoteca». Rasgou horizontes e deu o Rock que os ouvintes portugueses nunca tinham escutado.

«Círculo em FM» de Paulo Coelho e Fernanda Ferreira, um programa que também contou com a apresentação de José Ramos.

«Discoteca» de Adelino Gonçalves. Um dos marcos da Comercial de 80. Enfoque especial para a chamada música negra mais dançante (funk) acompanhada por muito mais. Foi aqui, por exemplo, que se ouviu pela primeira vez o tema “Drive” dos Cars ou “Nightshift” dos Commodores em homenagem ao então assassinado Marvin Gaye (1984).

«O Vapor» de José La Féria. A ponte entre a «Discoteca» e o «Rock em Stock». Muito diferente – para melhor – era este La Féria daquele que também militava na Onda Média.

«Rolls Rock» , «Lança Chamas» , «Rei Lagarto e outras histórias» e em particular «Som da Frente», todos estes programas da autoria de António Sérgio. A história fala por si.

«Cabo da Boa Esperança» Apresentação de António Macedo. Um programa que abordava assuntos africanos. Não teve vida longa este programa da Comercial de 80 (final da tarde), mas a inigualável apresentação fica na memória. Outro programa de António Macedo que marcou: «É de Noite Já se Vê». (E aquela entrevista em directo em que o cantor Toni de Matos ainda conseguia fumar mais cigarros que o entrevistador?).

«Café Concerto» calmo e intimista de Maria José Mauperrin (ver mais abaixo).

«Morrison Hotel» de Rui Morrison. Sobriedade e bom gosto. Música de todos os tempos em perfeita simbiose. A voz distinta do autor complementava o atraente enquadramento.

«Pedras Rolantes» do próprio Rui Morrison com Rui Neves e Ricardo Camacho. A três mãos, uma emissão musical mas com palavra. Dos três.

«24ª Hora» O melhor magazine radiofónico que alguma vez ouvi. Era uma segunda e nova vida do mítico «23ª hora» vindo da Rádio Renascença (que nunca ouvi pela simples razão de que ainda não era nascido), mas já aqui os tempos eram outros. Um programa idealizado e concebido pelo grande produtor de rádio, que foi João Martins. A «24ª Hora» teve vários apresentadores (José Nuno Martins, Jorge Pego, Aníbal Cabrita, João Chaves, António Macedo, etc.) sendo Pedro Castelo o mais assíduo. Outros nomes participantes: Tomás Taveira (arquitectura), Paulo Gil, António Rolo Duarte, José Vaz Pereira (cinema). O lugar deixado vago pela “vigésima” ainda continua por preencher devidamente na rádio em Portugal.

«Cinco Minutos de Jazz» de José Duarte. Começou em 1966. Conheceu um hiato de vários anos após o 25 de Abril, mas retornou em Outubro de 1983 justamente na 24ª hora. Aí sim, apanhei o acontecimento na hora e sigo os «Cinco Minutos» até hoje.

«O Passageiro da Noite» O programa mais famoso na longa carreira radiofónica de Cândido Mota. O mais famoso e o mais polémico… 

«Country Music» de Jaime Fernandes. Até hoje, o melhor programa de rádio sobre a canção tradicional norte americana. 

«Dança Atlântico», «Trópico de Dança», «A Escola do Paraíso» e «W». O que uniu todos estes projectos? Um homem, um nome, muitas ideias: Miguel Esteves Cardoso. Não esteve sozinho. Ao lado do seu poder de génio, também materializado no mundo da rádio, estiveram João David Nunes, David Ferreira e Margarida Mercês de Melo. Já agora, onde estás tu, MEC? 

«Pão Com Manteiga» durou 98 semanas. Uma equipa de luxo liderada por Carlos Cruz: José Duarte, Mário Zambujal, Joaquim Furtado, Bernardo Brito e Cunha, Eduarda Ferreira, Orlando Neves.
Parte desta equipa esteve também envolvida em outros programas memoráveis, ainda sob a liderança de Carlos Cruz «Contra Ataque», «Duplex» e «Uma Por Semana». O Senhor Televisão também era um Senhor Rádio. Qualidade acima da média (na altura muito elevada). 
Irreverência, intransigência, independência. Alguém consegue pedir mais? 

«A Flor do Éter» e «Rebéu-béu Pardais ao Ninho» de Herman José & companhia: Vítor de Sousa, Margarida Carpinteiro, Lídia Franco e Ana Bola. Lembram-se do infindável folhetim «Fedora Fedoreva»? Radio novela humorística. Hoje não existe nada parecido.

«Se7e por Se7e» uma extensão radiofónica do semanário de artes e espectáculos «Se7e», com coordenação do então director da publicação Carlos Cáceres Monteiro.
E que equipa: António Macedo, João Gobern, Pedro Rolo Duarte, entre outros. 

«As Noites Longas do FM Estéreo» António Santos no seu melhor momento (monumento) de rádio.

«À Sombra de Edison» de Jorge Gil com locução de Cândido Mota. A arte do som e da palavra num ensaio experimentalista. 

«Tardes de Desporto» O futebol era quase sempre ao Domingo. Por vezes, raramente, também ao sábado. Artur Agostinho, Fernando Correia, Jorge Perestrelo, David Borges, Fernando Emílio, Abel Figueiredo (relatadores); António Macedo (como repórter de pista); Carlos Cardoso (comentador de arbitragem); Fernando Neves de Sousa (comentador de futebol); José Augusto Marques, Orlando Dias Agudo, etc. Mas o desporto na Comercial não era só futebol, como hoje acontece nas três maiores estações nacionais (Antena1, TSF, Renascença). Havia transmissões dos campeonatos mundiais e europeus de Hóquei em Patins, o atletismo tinha acompanhamento regular, o automobilismo também, em particular o saudoso Rali de Portugal Vinho do Porto. As inesquecíveis vitórias olímpicas de Carlos Lopes (Los Angeles, 1984) e de Rosa Mota (Seul, 1988) foram relatadas em directo na Rádio Comercial por Fernando Correia. Arrepiante, soberbo. 

Tantos e tão bons nomes da rádio feita em Portugal, todos juntos sob o mesmo tecto. Nunca mais aconteceu nada assim. 
E já agora, retomando e reforçando a saga dos paradeiros de radialistas desta altura: 

O que é feito de Abel Figueiredo? Foi com ele a relatar que o Sporting ganhou o último título nacional (1981) antes de uma longa travessia de 19 anos. No final do encontro, o ponta de lança sportinguista Jordão ofereceu a camisola a este narrador da Rádio Comercial. Ouvi tudo em directo! Em 1986, no verão, eram dele os relatos em directo – noite dentro – do campeonato Mundial de Hóquei em Patins no Sertãozinho, Brasil. Lembram-se? 

O que é feito Fernando Emílio? Era narrador desportivo (Futebol, Hóquei em Patins, atletismo e ciclismo). Entusiasta, por vezes frenético. Permaneceu na Rádio Comercial após a privatização desta em 1993, mas ainda no decorrer da década de noventa “desapareceu” do éter. 

O que é feito de Carlos Cardoso? Especialista em arbitragem de futebol, detentor de uma inconfundível voz rouca. As análises dele ao jogo em directo, principalmente nos grandes encontros de futebol, davam uma outra dimensão aquele tipo de transmissão. Sobriedade e saber, mesmo quando as emoções estavam ao rubro. Já na década de noventa exerceu as mesmas funções na TSF, mas depois disso – já na segunda metade dos anos 90 – nunca mais se ouviu. E se fazem falta análises correctas sobre arbitragem… 

O que é feito de Carlos Rebelo? Era o entusiasta repórter de serviço em programas de Ruy Castelar, particularmente nos directos a altas horas da noite na discoteca “Green Hill” na Foz do Arelho. Em que “praia” andará ele agora? 

O que é feito de João Gobern? Rádio Comercial e CMR – Correio da Manhã Rádio, onde foi um dos autores do programa «Faces Ocultas». Tem estado com muita regularidade e presença na imprensa escrita. A sua última (?) aparição radiofónica de que me tenha dado conta foi como cronista na TSF na primeira metade dos anos 90. 


MEMÓRIA E PASSAGEM 
Naqueles tempos fluorescente de rádio – que era um meio mais importante que a televisão – a Rádio Comercial era A Estação. Era a Rádio de referência em Portugal. A mais avançada profissionalmente e em conteúdos. Havia ideias, autores e realizadores que materializavam as ideias e os conceitos. Havia competição interna saudável. Discutia-se a rádio dentro da rádio com os seus protagonistas. Era a casa que albergava formas de expressão diversificadas e artísticas. Só foi possível porque vivia-se e respirava-se um clima de liberdade criativa, de respeito pela liberdade de pensamento e expressão de quem e para quem se fazia a rádio. Impensável nas outras Estações da época (RDP e RR).
Eis que entretanto se desenvolve a grande ritmo o fenómeno das chamadas “Rádios Pirata”, mas isso não foi “o mal” que veio por mal e que tenha afectado a Comercial. O pior veio depois, com o espectro da privatização. Começara a agonia. 


1993, A PRIVATIZAÇÃO 
A empresa proprietária do CMR-Correio da Manhã Rádio compra a Comercial e assim se estragam duas casas. Acabou o CMR que até dada altura, isto é, até começar a copiar a TSF, era a rádio mais bela de Lisboa. Uma estação de charme, fascinante em muitos aspectos, com inegáveis bons profissionais. E acabou a Comercial que até então conheceramos. A fusão não podia dar certo e não deu mesmo. Depois de uma longa agonia de indefinição, novos proprietários transformaram a Rádio Comercial (exclusivamente com emissão em FM) na «Rádio Rock», dirigida por Luís Montez, entretanto saído dos defuntos projectos XFM e NRJ-Energia/Radical. Estávamos já em 1997. O formato «Rádio Rock» foi adoptado após um estudo em que dava conta das preferências dos ouvintes portugueses. Afinal, o que o povo queria era Rock! O modelo (playlist, quase ausência de programas de autor) deu resultados positivos na óptica do mercado e das audiências, mas da Rádio Comercial enquanto Rádio Comercial e enquanto conceito, já só restava o nome, os emissores nacionais e o mágico corredor da Sampaio Pina. De resto, toda a magia tinha sido substituída pela Radio Format Target. 
O método fez doutrina e, em meados da primeira década do século XXI, todas – ou quase todas – as estações seguem o método. Até quando? 


RÁDIO COMERCIAL 2006
É uma estação de matriz musical, quase totalmente preenchida por playlist (de tops, comercial). Beneficia de uma boa cobertura nacional e é esse facto que lhe dá vantagem em relação às tantas outras rádios comerciais/musicais que por aí andam (afinal o tamanho conta…). Tem como objectivo destronar a RFM da liderança de audiências. Para atingir esse fim começou, desde 2003 (com a entrada em funções administrativas do ex-RFM Pedro Tojal) a copiar a estação rival mais directa. Desde finais de 2005 que a Rádio Comercial tem nova direcção. Desconheço se os objectivos estratégicos serão os mesmos, mas até à data, nada de muito diferente aconteceu, com a excepção – justa – do regresso de António Sérgio e a criação do programa «80 à Hora». 
Repito: Até à data, nada de muito diferente aconteceu. Vai acontecer? 



























Eis um dos programas de então:

«Café Concerto
Rádio Comercial – FM
Emissões: de 1980 a 1985
Realização: Maria José Mauperrin
Transmissão: de segunda a sexta-feira das 22.00 às 24.00 horas
Equipa: Maria José Mauperrin, Aníbal Cabrita, Manuela Gomes, Manuel Cintra Ferreira e Victor Consciência.
Colaboradores: Professor Manuel Baptista, Jorge Listopad, Fernando Dacosta, José Duarte, Miguel Esteves Cardoso, Sílvia Chico, Dr. Amaral Dias.

Era um programa fundamental, cultural, onde era feito o tratamento exaustivo das várias actividades ligadas à literatura, ao cinema e às artes plásticas.
Houve os mais interessantes debates e informações muito detalhadas sobre as várias realizações produzidas, tanto em Portugal como no estrangeiro, porque a actualização era uma constante e uma preocupação dos responsáveis.
Semanalmente, uma peça importante: uma entrevista – sempre conduzida por Maria José – a uma personalidade importante da vida intelectual, que era repartida pelas emissões da semana. Conversa sempre em tom coloquial, despretensiosa, pois todos se encontravam num café concerto.Os ouvintes punham questões aos convidados que depois iam ao programa responder em directo às perguntas feitas.
Foram mais de trezentas entrevistas que Maria José fez aos homens e às mulheres da cultura, desde sociólogos a pintores, de músicos a antropólogos, de gráficos a escritores.
Houve, também, convidados estrangeiros, nomeadamente Mário Lagos, Chico Buarque de Hollanda, Mário Soldati, entre outros.
Espaços especiais eram dedicados à ciência, aos livros e seus autores, à informática, ao jazz, às exposições, à psiquiatria.
Foi tentada – e conseguida – criar a atmosfera de um verdadeiro café concerto, espaço de convívio que surgiu em França, no século XIX, e onde dialogavam o malabarista com o intelectual, o músico com o pintor. Esse ambiente foi conseguido, e isso foi um dos motivos do grande sucesso do programa.
O entrosamento que era dado às palavras e à música, a selecção, correcta e rigorosa, a enquadrar-se no ambiente e na atmosfera criados, este todo homogéneo, contribui para que o Café Concerto fosse considerado um dos grandes programas da rádio portuguesa.
Quando deixou de ser transmitido houve grande reacção por parte dos ouvintes, e a imprensa especializada fez coro com esse descontentamento.
Mas o programa chegara ao fim e o regresso era irreversível.» 

in "Telefonia" de Matos Maia
Círculo de leitores

1994