sexta-feira, 27 de abril de 2007



Está disponível pela primeira vez na Internet a emissão dedicada a Timor-Lorosae da série «Como no Cinema».

Foi a única vez que decidi partilhar a realização de um programa com outra pessoa. Sempre fui apologista de um programa – um realizador, mas não estou arrependido de ter aberto esta excepção. A parceria com o jornalista Manuel Acácio representou uma mais valia para o resultado final. Esta emissão também teve a particularidade de ter sido a única previamente montada e sonorizada. Das 57 emissões, foi a única que não montei em directo. Quando foi transmitida pela primeira vez na rádio, em Abril de 2001, o martirizado povo de Timor já estava desocupado pela Indonésia (foi invadido em 1975); já tinha passado por mais um banho de sangue (Setembro negro de 1999) e ainda não era um Estado independente, que só viria a ser oficialmente proclamado em 2002.



Destaque para os textos de Xanana Gusmão; depoimentos de figuras públicas timorenses e os sons captados em Timor-leste. Vozes de Inês Meneses e Fernando Alves.

Mais pormenores em: http://comonocinema.blogspot.com/
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quarta-feira, 25 de abril de 2007

33



Rádio Nostalgia /Abril 1974 - 2007
Paulo de Carvalho - "E Depois do Adeus"

A mítica canção que acabaria por fazer parte da história do nosso país, aqui na sua primeira aparição nacional. Note-se a recepção apoteótica de que foi alvo.


Que o poema seja microfone e fale
De repente uma noite destas às três e tal
Para que a Lua estoire
E o sono estale
E a gente acorde
Finalmente em Portugal


Manuel Alegre


Há 33 anos, foi assim na Rádio:
«Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas: as Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos, sinceramente, que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom-senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário só poderia conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais a fim de prestar eventual colaboração que seja... aliás, que se deseja sinceramente desnecessária.»


33 anos depois, na Rádio: Ainda não tinha chegado a meia-noite, já um portentoso fogo de artifício estalava nas vidraças. Em fundo soavam as últimas escolhas musicais de Tozé Brito na «Banda Sonora» de Nuno Infante do Carmo no RCP.
Pouco tempo depois da pirotecnia, nas estações ditas de referência, mais do mesmo como noutros dias: repetições de programas; os habituais noticiários de hora a hora, ou de meia em meia hora; música em playlist nos intervalos; a "conversa" do costume; repetições de rubricas, etc. E no RCP? Uma emissão especial a partir da meia-noite – e que dura 24 horas – à conversa com jovens adultos e algumas figuras públicas, reconhecendo o passado e perspectivando o futuro da vida no nosso país. Noticiários de hora a hora e muito pouca música, toda ela em português. Na madrugada de hoje na Rádio em Portugal – onde tudo se anunciou publicamente no antigo Rádio Clube Português – só o novo RCP fez a diferença.
Melhor exemplo que a Rádio em geral, deu a TV, nomeadamente a RTP-1, com toda a madrugada a ser preenchida com documentários ligados a esta data.

Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen


Os poemas de Alegre e de Sophia já os ouvimos na Rádio ao longo dos últimos trinta e três anos, mas o que se segue (ainda) não:













abril está a chegar

vinte e cinco poemas
vinte e cinco navios
vinte e cinco palavras
ao cair lento da tarde

gente que vem e vai
que semeia a terra com sol
gente com flores nos dentes
com um farnel de pássaros ao ombro
e um cajado herdado de nossos pais

gente que canta e dança com as gaivotas
sempre a treinar sempre a dançar
no sonho de se transformar em mar

vinte e cinco navios
vinte e cinco poemas
nos teus olhos pretos

vinte e cinco lanças deitadas ao luar

de cada vez que vais de cada vez que vens
vinte e cinco folhas atiradas ao vento
vinte e cinco navios que apascentam o mar
vinte e cinco traços riscados na sombra
vinte e cinco gritos atirados à espuma
uma candeia acesa na mão das bruxas
com vinte e cinco pedras às costas
para cantar

vinte e cinco poemas
que caiem a pique nas ruas

vinte e cinco crianças à roda
de mãos dadas com as cidades do mundo
abril não volta abril está à porta
e eu digo: até breve
para que o sol subindo a liberdade
anseie beijar vinte e cinco bocas
cheias de fome

com vinte e cinco pedras dentro
com vinte e cinco poetas
com vinte e cinco navios
com vinte e cinco músicas no rio

meus olhos estão húmidos
a verdade não se amarra
nas escolas no país e em toda a parte do mundo

dizem e lembram
que abril está a chegar

abril são as tuas lágrimas que eu enxugo
abril é o mundo.

Maria Azenha


segunda-feira, 23 de abril de 2007

Porto-Porto








O programa de rádio e podcast «Como no Cinema» esteve este fim-de-semana no Porto, na 4ª edição do «Festival audiovisual Black & White».

Estive como convidado no auditório da UCP (Universidade Católica Portuguesa/Escola das Artes Som e Imagem) para falar sobre rádio em geral e sobre podcast em particular. Comigo, na mesa de palco, estiveram o radialista e podcaster norte-americano Bob Boilen (All Songs Considered); Pedro Reis (Era Uma Vez) e Edgard Costa (PodComer). A moderação do debate esteve a cargo do jornalista João Paulo Meneses. Houve depois uma salutar e pertinente sessão de perguntas e respostas por parte do público. Muito ficou por dizer e esclarecer mas, deste encontro, há alguns pontos de maior relevo que devem ser reflectidos:

01. Regularidade - É fundamental para que o programa ganhe credibilidade e ouvintes. O defraudar da expectativa a tempo e horas mata o produto.

02. Facilidade - Ainda é exigido aos ouvintes um determinado esforço/conhecimento técnico para irem ao encontro do que procuram. Ainda é o anzol que anda à procura do peixe.

03. Quantidade - Há podcasts a mais para a procura. O podcast em Portugal peca por excesso e por defeito.

04. Qualidade - Há podcasts a mais e qualidade a menos. A maioria são claramente amadores, pouco elaborados e sem mais valia. Poucos são os que acrescentam diferença ou inovação. Este facto é consequência da liberdade de acesso, o que se saúda. Tanto mais que os interessados em fazer coisas – e que não tenham experiência audiovisual – têm de começar por algum lado. Ninguém nasce ensinado. Uma boa ideia pode resultar num mau produto e uma não ideia pode ter um óptimo resultado final. Tudo depende de como é feito.

05. Conhecimento - A esmagadora maioria dos ouvintes de rádio em Portugal desconhece o podcasting. O mais alarmante é o desconhecimento por parte das camadas mais jovens da população que, à partida, seriam as primeiras a familiarizarem-se com o fenómeno.

06. Reconhecimento - Muitos podcasts nacionais são muito pouco ouvidos. Resulta não só do desconhecimento como também da falta de consumidores que, embora conheçam e acompanhem o fenómeno, não dispõem de tempo suficiente para os usufruir com regularidade e, para além disso, já têm a sua quota de preferências mais ou menos consolidada. Pessoalmente, acho que o podcaster não deve ter como objectivos obter altas audiências ou querer figurar nos top ten. Deve fazer pelo simples prazer de fazer e nada mais.

07. Financiamento - O podcasting será sempre um fenómeno residual enquanto não se – e se – tornar numa indústria. Alguém pagaria para obter determinado programa em podcast? Eu sim, se quisesse esse produto. Porque não? Quanto à hipótese de donativo voluntário por parte do consumidor, acho que esse método seria uma espécie de oportunismo encapotado.

08. Acesso - A tecnologia podcasting ainda não evoluiu ao ponto de ser o peixe que vai de encontro ao anzol. Tem de se arranjar um procedimento mais simples e é necessário arranjar-se um nome em língua portuguesa.

09. Concorrência - O podcasting não é uma ameaça para a rádio. É mais uma ferramenta ao serviço da rádio. Bastante útil e potenciadora se bem utilizada pelas estações de radiodifusão. Apenas a rádio exclusivamente musical pode sentir o podcasting como uma possível ameaça. A rádio de palavra não acaba nunca.

10. Futuro - No último ano o podcasting não evoluiu tecnologicamente e os produtos sonoros independentes em Portugal não dispararam, quer em quantidade quer em qualidade. O que aumentou foi o volume de programas resgatados do éter para o formato podcast. Mas as potencialidades deste novo canal de comunicação estão longe de se esgotarem.


Ver na «Rádio Crítica»: «Perigos do Podcast» e «Outros "perigos" do podcast»
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Transcrição a partir do catálogo da 4ªedição do «Festival Black & White»:


Podcasting sem Podcasts?
Há muita gente desiludida com o podcasting, como que dando razão aos que, mal a técnica surgiu, prenunciaram a sua morte. Os que estão desiludidos convocam estudos, relatórios e a própria experiência para dizer que o podcasting não descola e que continua minoritário, que não encontrou uma forma de se viabilizar comercialmente, que a qualidade dos programas não aumentou e não se registaram significativas evoluções técnicas.
A desilusão será provavelmente proporcional ao entusiasmo inicial, o que só mostra que quando falamos de novas técnicas e de novas tecnologias é prudente alguma ponderação e que alguma reserva nas previsões é uma regra de bom senso.
De qualquer forma, a existir desilusão será quando muito com os podcasts e não ao podcasting.

(...)
Em contrapartida o podcasting é uma técnica claramente de futuro. O podcasting como técnica de redistribuição de conteúdos (áudio ou vídeo) que não podemos ou não temos de ouvir no momento em que são disponibilizados. E rádios e televisões já começaram a perceber isso mesmo.
(...)
E então teremos podcasting não apenas de programas mas também de notícias, de modo a que se concretizará o sonho de Bertold Brecht: o receptor não será mais o sujeito passivo da comunicação, mas aquele que escolhe o que quer ver e ouvir, o que constrói o seu próprio noticiário, o que intervém.
Com o podcasting, com este ou outro nome, com esta ou outra forma de eu poder escolher o que quero ver e ouvir.

João Paulo Meneses
Jornalista e investigador

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Sinopses dos podcasts convidados a partir do catálogo da 4ª edição do «Festival Black & White»:


All Songs Considered
http://www.npr.org/programas/asc/
“All Songs Considered” é um programa online da National Public Rádio (NPR – E.U.A.). Pode ouvir música, ver vídeos e apresentações de slides e ouvir entrevistas acerca dos cd’s favoritos dos críticos da NPR. É uma forma óptima de descobrir e aprender mais acerca de artistas que têm pouco ou nenhum tempo de antena. Começamos “All Songs Considered” porque recebíamos imensas cartas de ouvintes que queriam saber mais sobre a música que era passada entre as histórias do programa de notícias da noite da NPR, “All Songs Considered”. Ainda pode encontrar aqui as versões completas de alguns desses interlúdios, mas “All Songs Considered” evoluiu, apresentando agora músicas de todos os géneros e de todo o mundo. Estamos sempre à procura de grandes músicos e também de alguns que sejam divertidos.”

Como no Cinema
http://www.comonocinema.blogspot.com/
“Como no Cinema” é uma série de programas que se debruça sobre variados temas, utilizando uma grande multiplicidade de sons misturados com voz e música. Os temas podem ir desde a escalada de um alpinista ao cume do Evereste, passando pela história trágico marítima de Portugal, por aspectos sociais e políticos, até a temas de carácter social, existencial e humanista. Utiliza sons captados no exterior, vozes convidadas, alguma música, literatura em formas de poesia, prosa, conto ou teatro e extractos sonoros de filmes. A maioria das emissões são intemporais e o efeito de sua escuta é maximizar o imaginário onírico dos receptores, levando-os a desenvolver as suas próprias imagens. Tudo na Rádio pode ser dito como se fosse um filme. Porque tudo navida pode ser um filme, tudo na vida pode se como no cinema.

Era Uma Vez
http://www.recursoseb1.com/eraumavez/
O podcast “Era Uma Vez” é um projecto educativo que nasceu numa tese de mestrado na Universidade do Minho e ganhou vida própria alguns meses depois. É um recurso dirigido às crianças do jardim de infância, 1º e 2º ciclos do Ensino Básico, bem como aos professores. Contudo pensamos que qualquer pessoa que goste de ouvir histórias deve ouvir o nosso podcast. Temos os nossos episódios divididos em duas partes: uma história/poema e um diálogo que aborda conteúdos didácticos e que pede a participação dos ouvintes. Os trabalhos dos participantes é frequentemente exposto no sítio, numa galeria de trabalhos.

PodComer
http://www.podcomer.com/
“O “podComer” é um site de receitas e dicas que tem o 1º podcast de culinária de Portugal e o mais frequente realizado em língua portuguesa. Além das receitas serem escritas e ilustradas no site, são disponibilizadas em ficheiros MP3, e podem ser ouvidas em diversos diapositivos, tais como leitores de MP3, telemóveis, computadores e PDAs. E o mais importante é que a pessoa tem total liberdade de as ouvir quando e onde quiser.
O “podComer” foi lançado em Agosto de 2005 e tem hoje uma audiência significativa, com uma média de mais de 1.200 visitas por dia e média diária de mais de 1.700 páginas vistas.
Em 2006 foi nomeado como um dos 10 melhores blogs do com podcast do mundo, no concurso “The Best of Blogs” (BOBs) promovido anualmente pela revista “Deutsche Welle”.”


De salientar a excelente organização de um festival que contempla o vídeo, a fotografia e o som. A rádio nunca foi esquecida desde o início. Foi notável o acompanhamento e cortesia por parte dos responsáveis e elementos envolvidos no evento e, especialmente, o salutar convívio nas pessoas do director do festival Jaime Neves; da coordenadora Marta Reis; dos fotógrafos Nelson D'Aires e Galina Usheva; do músico e compositor Carlos Zíngaro e dos realizadores Carlos Ruiz e Michael Unger.
O festival «Black & White» tem tudo para crescer. Estejam atentos à próxima edição e, retenham para já, duas referências:
Second Life e Avatar.














Porto outra vez: decorreu na passada sexta-feira a 4ªfesta Queridos Anos 80, do blogue com o mesmo nome. Noite de enchente no Swing; nostálgicos indefectíveis e músicas que todos os infanto-juvenis de há 25 anos ainda conhecem de cor e salteado. Continua a ser o tal blogue que dava um grande programa de rádio. Por enquanto, tem dado grandes festas de rememoração, como foi a mais recente.

(Ó dear Tarzan Boy… e para quando Lisboa? E Coimbra e Faro? E o festival QA80?)















Está disponível desde a passada sexta-feira uma emissão inédita de Como no Cinema. É o epílogo da emissão antecedente, mas que nunca chegou a ser emitida na rádio (Abril de 2001) por falta de tempo na programação. Depois da narração do dia da revolução, o escritor/jornalista/artista plástico Fernando Grade reflecte sobre o que o era Portugal antes da revolução e como é depois desse dia.
"Portugal, que futuro?" é uma curta emissão inédita, datada do 27º aniversário do 25 de Abril de 1974.

Mais pormenores em: http://comonocinema.blogspot.com/
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Continuou na semana passada o ciclo «Abril, mês da Rádio de autor na RUC», a propósito do 21º aniversário da Rádio Universidade de Coimbra.
Como no Cinema também já por lá passou, mas nunca é demais anunciar os parceiros desta importante iniciativa da RUC:






Aos 21 anos a RUC convida 21 projectos para comemorar o aniversário em antena. Ao longo dos 21 dias úteis do mês de Abril, a partir das 18 horas, há sempre uma voz diferente em 107.9 FM ou via emissão online. De vozes que marcaram o éter a quase anónimos, abrimos a via a melómanos que nunca passaram pela RUC mas que partilham da mesma liberdade criativa para o conceito de programa de autor.


3ª Semana de Abril

Segunda, dia 16
O Núcleo de Rádio da Associação Académica de Aveiro apresenta Frequência Universitária.

Terça, dia 17
Luis Rei, ex-Xfm e actualmente na Zero, na RUM e na Antena Miróbriga dá voltas à world music em «Terra Pura».

Quarta, dia 18
Henrique Amaro, da Antena 3 apresenta um «Portugália» expressamente dedicado à RUC, cheio de surpresas e algumas relíquias.

Quinta, dia 19
Vitor Junqueira, mentor do extinto Musicnet e do blog «Juramento sem Bandeira» fazia programa na saudosa rádio do químico e guia-nos por originais que se notabilizaram por covers.

Sexta, dia 20
Chega o dia de mais uma rádio universidade entrar no projecto. Directamente do rio que lhe dá nome, a Rádio Universidade do Marão viaja com conviados ilustres numa emissão especial.


4ª Semana de Abril

Segunda, dia 23
«Orelha Extra» é descrito pelo autor Fernando Cabrita como um canal auditivo suplementar emitido na Rádio Universitária do Algarve todos os domingos entre as 19h e as 21h. Fernando Cabrita começou a fazer rádio ainda no tempo das piratas em Almodôvar e, depois de passar 6 anos pela rádio Castrense, acabou por abraçar o projecto da Rádio Universidade do Algarve a partir de 2005, consciente do risco que é explorar novos horizontes musicais mas com a consciência de que a boa música é boa em qualquer parte do planeta. O «Orelha Extra» pode ser ainda consultado e ouvido em online.

Terça, dia 24
Ricardo Saló é uma figura incontornável no panorama radiofónico nacional. A sua voz, a sua arte, a sua escrita e as suas teorias sobre um universo musical em constante mutação - o futuro da pop - acompanharam-nos com uma sapiência ímpar há vários anos. O «Fuga da Arte», emitido sábados às 24h na Antena 2, é provavelmente o seu projecto mais criativo e desarmante, um programa que só podia ser feito por Ricardo Saló. Na edição de hoje vamos «Até ao fim do mundo».

Quarta, dia 25
Daniel Quinta estuda comunicação social em Braga e todas as quartas entre a 1 e as 2 da manhã lança-se aos microfones da Rádio Universitária do Minho para mais uma «Sagrada Partitura», o conjunto das composições escritas por sublime inspiração, pelas quais a música se revela a Si mesma e nos dá a conhecer o mistério da Sua vontade. Uma hora eclética para ouvidos treinados e exigentes também online.

Quinta, dia 26
«Má Fama – Libertinagem no Éter» é um programa apresentado por Sérgio Hydalgo todas as segundas às 22h na Rádio Zero. Entrevistas, sessões ao vivo e muitos destaques são o sumo de um projecto «à lá John Peel» que pode ser seguido a par e passo na Internet, onde se pode ser ouvido em podcast. Nesta emissão, recupera-se a conversa com o carismático conimbricense autor de «1970», JP Simões.


Uma homenagem à arte ou ao prazer de «fazer rádio».
A RUC sopra as 21 velas em antena todos os dias úteis de Abril, a partir das 18 horas.

domingo, 15 de abril de 2007

Canções que salvam


As imagens que abaixo se vêm não são da canção de que vos venho falar. Não existe no YouTube (ainda?), mas mostram o mesmo homem que a escreveu e a cantou.
O que dizer de uma canção que já diz tudo?
Love Calls You By Your Name” conheci através da «Íntima Fracção», passei-a em muitas noites da rádio durante mais de uma década. É uma canção que salva – pode salvar – a alma e o coração. É purgatória e reflexiva.
"Love Calls You By Your Name" não faz parte do grande lote das canções mais conhecidas deste canadiano, filho da neve, mas também podia - e pode - estar entre as melhores do século XX.
É a descida àquilo que o pensador George Steiner chama de “tribunal da memória”, uma espécie de auto-exame em que, segundo Steiner, se formos verdadeiramente sinceros, chumbamos. Sem excepções. Descobrimos “o estranho” que há em nós (I was the stranger).
Na última noite em que a IF foi transmitida pela TSF, eu estava em emissão e quis dedicar os quinze minutos que lhe antecederam incluindo esta canção de Leonard Cohen. Foi a última vez que a pude passar na rádio.
Agora, nestes tempos de songs they never play on the radio, ela ainda pode ser escutada na emissão do 23º aniversário da IF. As melhores canções são como as pessoas; é nos momentos maus que se revelam. E a Rádio já não passa as melhores canções.
Não temos as imagens nem o som da canção (o amor chama-te pelo teu nome), mas temos o texto completo, as palavras, que encerram todo e qualquer discurso que sobre as mesmas poderia ou conseguiria mais fazer. Palavras para quê? Para serem lidas com todas as letras, especialmente as que não estão lá!



You thought that it could never happen to all the people that you became, your body lost in legends, the beast so very tame.
But here, right here, between the birthmark and the stain, between the ocean and your open vein, between the snowman and the rain, once again, once again, love calls you by your name.
The women in your scrapbook whom you still praise and blame, you say they chained you to your fingernails and you climb the halls of fame.
Oh but here, right here, between the peanuts and the cage, between the darkness and the stage, between the hour and the age, once again, once again, love calls you by your name.
Shouldering your loneliness like a gun that you will not learn to aim, you stumble into this movie house, then you climb, you climb into the frame.
Yes, and here, right here between the moonlight and the lane, between the tunnel and the train, between the victim and his stain, once again, once again, love calls you by your name.
I leave the lady meditating on the very love which I, I do not wish to claim, I journey down the hundred steps, but the street is still the very same.
And here, right here, between the dancer and his cane, between the sailboat and the drain, between the newsreel and your tiny pain, once again, once again, love calls you by your name.
Where are you, Judy, where are you, Anne?
Where are the paths your heroes came?
Wondering out loud as the bandage pulls away, was I, was I only limping, was I really lame?
Oh here, come over here, between the windmill and the grain, between the sundial and the chain, between the traitor and her pain, once again, once again, love calls you by your name.

1971

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Difícil paradoxo
Posso ser ouvido por todos, mas só posso ser escutado, recebido profeticamente por sujeitos que têm exactamente – e presentemente – a mesma linguagem que eu.
Os apaixonados, diz Alcibíades, assemelham-se aos que foram mordidos por uma víbora. Não querem, diz-se, falar do seu acidente a ninguém, excepto àqueles que dele também já foram vítimas, por serem estes os únicos capazes de compreender e desculpar tudo o que ousaram dizer e fazer sob o efeito das dores.


In: «Íntima Fracção» 

sábado, 14 de abril de 2007

Songs they never play on the Radio

Qual é a melhor canção do século XX? É uma pergunta de infinitas respostas. Mas José Duarte, radialista de longa data, autor dos mais famosos «Cinco Minutos de Jazz» da rádio portuguesa avança, através da Rádio, uma hipótese. Segura, diga-se. Contestável, como qualquer outra, mas que não foge muito a muitas outras concordâncias.

Muitos Jazz lovers – a maioria – consideram Billie Holiday a melhor voz feminina. A maior cantora de Jazz. Escolhi a melhor canção escrita no século vinte: “Strange Fruit”, um manifesto anti-racista.
José Duarte


De “Strange Fruit” existem numerosas versões instrumentais e cantadas. Das cantadas, destaco as magníficas versões – e todas elas muito distintas – de Robert Wyatt, Jimmy Scott, Nina Simone, Siouxie And The Banshees e Cocteau Twins. Destas, para mim, a mais tocante é a de Robert Wyatt, mas insuperavelmente mesmo é o original cantado por Lady Day. A letra é de Lewis Allen.
Eu sou um Jazz lover.



Southern trees bear strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop

1937


P.S.1: Na rádio em Portugal, que acontecerá a estas pérolas quando já não houver o Jazé?

P.S.2: Uma história verdadeira: Final dos anos 80, à saída de mais uma longa jornada de aulas na Escola de Artes António Arroio, em Lisboa, já na Alameda Afonso Henriques, perto da Fonte Luminosa, eu e mais uns quantos alunos fomos abordados – cercados – por um bando de dreads marginais, que eram mais ou menos da nossa idade. Entre eles estavam brancos e negros, entre nós só um era negro. Apontaram-nos facas de ponta e mola. Era um assalto. Adivinhem quem é que eles assaltaram… apenas o meu colega negro. Foi o maior acto de racismo a que assisti até hoje. Levaram-lhe tudo o que quiseram. A nós, os outros, nem uma palavra, nem um gesto. Depois daquilo, e assolados por uma frustração indescritível, sentimos todos - à parte do nosso colega vítima - a mesma indignação e desejo: queríamos ter sido assaltados!

sexta-feira, 13 de abril de 2007















Está já disponível a emissão «Como no Cinema» sobre a “A Memória Vivida do 25 de Abril de 1974”. Destaque para os depoimentos nos locais da acção através do jornalista, escritor e artista plástico Fernando Grade e para os seus textos narrados por Rogério Vieira.
Destaque ainda para os sons com história, nomeadamente “a senha” pela canção “Grândola Vila Morena” de José Afonso e o comunicado do Movimento das Forças Armadas lido em directo nos estúdios do antigo Rádio Clube Português pelo jornalista Joaquim Furtado, na madrugada desse dia histórico. É uma emissão datada do 27º aniversário da revolução dos cravos.

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terça-feira, 10 de abril de 2007

IF 23

Foram estes sons, este romper de uma nova aurora - apesar de ter acontecido pouco depois da meia-noite - que me puxaram para a «Íntima Fracção». Sou ouvinte deste programa desde Janeiro de 1987 e o programa de Francisco Amaral está agora a completar 23 anos. Mais do que dar os parabéns, devo antes dizer OBRIGADO! Pela eterna inspiração, pela salvação, pela memória do passado e a esperança no futuro, pela abertura de universos.

Mais sobre a «Íntima Fracção» na «Rádio Crítica»: Abril 1984; Janeiro 1987.
Entrevista a Francisco Amaral:
25 Fevereiro 2006.

Clássicos musicais da IF em lista publicada há um ano: IF 09 Abril 2006
Texto sobre os 20 anos da «Íntima Fracção»: 08 Abril 2004


segunda-feira, 9 de abril de 2007















Está disponível desde a passada sexta-feira a emissão «Como no Cinema» sob o tema Guerra (em geral) em Angola (em particular). É a continuação da emissão antecedente dedicada a África. Destaque para os sons com história do dia da independência de Angola e para os depoimentos de várias figuras públicas que, directa ou indirectamente, estiveram envolvidas nesses acontecimentos. É uma emissão datada. Na altura em que foi para o ar ainda decorria a guerra civil em Angola.

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O que fazemos quando nos declaram guerra e nos puxam para a guerra? Guerreamos contra vontade e ganhamos a guerra. E depois? Depois, sentados sobre as cinzas do inimigo, lambemos as feridas que o combate causou. É essa a lição da história e é esse o erro repetido da humanidade.

Ouvi esta versão ao vivo do tema "War" de Bruce Springsteen & the E-StreetBand (o original é de Edwin Starr) pela primeira vez na Rádio em 1986. Uma poderosa crítica política à guerra, ao absurdo da guerra. Springsteen esteve na guerra. Foi no Vietname que perdeu amigos ainda adolescentes. O videoclip aqui exposto começa com um pai e um filho a assistirem ao absurdo dessa guerra através da TV. Vejam depois como termina...



Viviam-se dias quentes da chamada “guerra fria”. Têm-me perguntado por que razão só tenho aqui publicado videoclips dos anos 80. O que tenho a dizer sobre isso, para além do que já tenho referido por diversas vezes, é que, quanto mais não fosse, na década de oitenta não morreu nenhum familiar meu, nem ninguém meu conhecido. Sei que nunca mais terei outra década assim.

Enquanto que dou por muito bem empregues os 215 minutos e 43 segundos da caixa «Bruce Springsteen & the E-Street Band live 1975 - 1985» (há 20 anos o CMR-Correio da Manhã Rádio emitia esta colectânea na íntegra, durante a madrugada), dei por muito mal empregues os 117 minutos deste filme: «300»(*) não passa de violência gratuita. Todavia, a grande sala de cinema estava repleta, mas as seis pessoas que me acompanhavam não têm culpa.

(*) O argumento (argumento?) é baseado na Banda Desenhada de Frank Miller com o mesmo nome. Não reconheço este Frank Miller (violento/sanguinário, como em «Sin City») o mesmo que nos anos 70 e 80 escreveu os dramas humanos do advogado Matt Murdock (Daredevil), do seu sócio Nelson Fogg, do repórter Ben Urich e a saga de Elektra. Isso sim, eram argumentos.


A Guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem, em detrimento de pessoas que se conhecem, mas não se massacram.
Paul Valéry


Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei que a quarta vai ser com paus e pedras.
Albert Einstein

segunda-feira, 2 de abril de 2007

RUC 21 anos

Como no Cinema e outros ilustres acompanhantes são convidados especiais nos 21 anos da RUC.
Agradeço publicamente o convite e faço a sugestão: oiçam a Rádio Universidade de Coimbra, principalmente nesta data especial, e visitem o site com todas as informações mais em detalhe. É lá que se encontra a descrição abaixo citada. Entretanto, fica já aqui o programa das festas para a primeira quinzena deste mês:



Aos 21 anos a RUC convida 21 projectos para comemorar o aniversário em antena. Ao longo dos 21 dias úteis do mês de Abril, a partir das 18 horas, há sempre uma voz diferente em 107.9FM ou via emissão online. De vozes que marcaram o éter a quase anónimos, abrimos a via a melómanos que nunca passaram pela RUC mas que partilham da mesma liberdade criativa para o conceito de programa de autor.
1ª Semana de Abril

Segunda dia 2
A Rádio Universitária do Minho associa-se a esta iniciativa com a recuperação do «O Roxo Urubu», programa mítico que deu origem aos Mini Drunfes (onde militava Miguel Pedro, dos Mão Morta) num especial fim de ano 1999-2000.


Terça, dia 3
Francisco Mateus, um nome incontornável da rádio actual e locutor da TSF, traz-nos «Como no Cinema» onde explora o conceito da rádio num programa que conta com a participação de Aníbal Cabrita.


Quarta, dia 4
Miguel Santos, da Fundação Calouste Gulbenkian, apresenta «Musa Lusa», programa semanal emitido em Londres na Resonance FM e inteiramente dedicado à musica Portuguesa.


Quinta, dia 5
Carlos Matos, uma cara metade do Festival Fade In apresenta aquele programa que há mais de uma década faz a diferença na cidade de Leiria, o «Unidade 304» que é emitido em 93FM.

Sexta, dia 6
Lúcia Nunes apresenta «Atritos Sonoros», um programa que, na Covilhã e mais concretamente na Rádio Universitária da Beira Interior, vai divulgando o que de melhor se faz na música nacional.
2ª Semana de Abril
Segunda, dia 9
Chega a hora da participação da eclética Rádio Zero, do Instituto Superior Técnico de Lisboa, com um programa gravado especialmente para o efeito.
Terça, dia 10
Pedro Esteves, uma voz da TSF, é autor do mais antigo podcast nacional e é com o seu «Lado B» que se associa a esta comemoração da rádio de autor.
Quarta, dia 11
José Duarte, que nos dá todos os dias 5 minutos de Jazz, apresenta um dos mais emblemáticos programas da rádio nacional: «A menina Dança?», semanalmente no ar na Antena1.

Quinta, dia 12
Inês Meneses, uma das mais carismáticas vozes femininas da rádio portuguesa, apresenta «Fala Com Ela», um programa semanalmente emitido na Radar. Nesta edição conversa com Carlos Vaz Marques, que na TSF leva a cabo diariamente o «Pessoal e Transmissível».

Sexta, dia 13
A Família Fazuma criou um projecto radiofónico único em Portugal e do site radiofazuma.com já saltaram para a Antena 3, onde semanalmente apresentam a sua «Música Enrolada».


Até ao fim do mês, outras rádios universitárias como Aveiro, Marão e Algarve e nomes como Henrique Amaro, Luis Rei, Fernando Alvim, Rui Miguel Abreu, Joaquim Paulo e Vítor Junqueira serão protagonistas de mais emissões.
Uma homenagem à arte ou ao prazer de «fazer rádio». A RUC sopra as 21 velas em antena todos os dias úteis de Abril, a partir das 18 horas.