segunda-feira, 23 de abril de 2007

Porto-Porto








O programa de rádio e podcast «Como no Cinema» esteve este fim-de-semana no Porto, na 4ª edição do «Festival audiovisual Black & White».

Estive como convidado no auditório da UCP (Universidade Católica Portuguesa/Escola das Artes Som e Imagem) para falar sobre rádio em geral e sobre podcast em particular. Comigo, na mesa de palco, estiveram o radialista e podcaster norte-americano Bob Boilen (All Songs Considered); Pedro Reis (Era Uma Vez) e Edgard Costa (PodComer). A moderação do debate esteve a cargo do jornalista João Paulo Meneses. Houve depois uma salutar e pertinente sessão de perguntas e respostas por parte do público. Muito ficou por dizer e esclarecer mas, deste encontro, há alguns pontos de maior relevo que devem ser reflectidos:

01. Regularidade - É fundamental para que o programa ganhe credibilidade e ouvintes. O defraudar da expectativa a tempo e horas mata o produto.

02. Facilidade - Ainda é exigido aos ouvintes um determinado esforço/conhecimento técnico para irem ao encontro do que procuram. Ainda é o anzol que anda à procura do peixe.

03. Quantidade - Há podcasts a mais para a procura. O podcast em Portugal peca por excesso e por defeito.

04. Qualidade - Há podcasts a mais e qualidade a menos. A maioria são claramente amadores, pouco elaborados e sem mais valia. Poucos são os que acrescentam diferença ou inovação. Este facto é consequência da liberdade de acesso, o que se saúda. Tanto mais que os interessados em fazer coisas – e que não tenham experiência audiovisual – têm de começar por algum lado. Ninguém nasce ensinado. Uma boa ideia pode resultar num mau produto e uma não ideia pode ter um óptimo resultado final. Tudo depende de como é feito.

05. Conhecimento - A esmagadora maioria dos ouvintes de rádio em Portugal desconhece o podcasting. O mais alarmante é o desconhecimento por parte das camadas mais jovens da população que, à partida, seriam as primeiras a familiarizarem-se com o fenómeno.

06. Reconhecimento - Muitos podcasts nacionais são muito pouco ouvidos. Resulta não só do desconhecimento como também da falta de consumidores que, embora conheçam e acompanhem o fenómeno, não dispõem de tempo suficiente para os usufruir com regularidade e, para além disso, já têm a sua quota de preferências mais ou menos consolidada. Pessoalmente, acho que o podcaster não deve ter como objectivos obter altas audiências ou querer figurar nos top ten. Deve fazer pelo simples prazer de fazer e nada mais.

07. Financiamento - O podcasting será sempre um fenómeno residual enquanto não se – e se – tornar numa indústria. Alguém pagaria para obter determinado programa em podcast? Eu sim, se quisesse esse produto. Porque não? Quanto à hipótese de donativo voluntário por parte do consumidor, acho que esse método seria uma espécie de oportunismo encapotado.

08. Acesso - A tecnologia podcasting ainda não evoluiu ao ponto de ser o peixe que vai de encontro ao anzol. Tem de se arranjar um procedimento mais simples e é necessário arranjar-se um nome em língua portuguesa.

09. Concorrência - O podcasting não é uma ameaça para a rádio. É mais uma ferramenta ao serviço da rádio. Bastante útil e potenciadora se bem utilizada pelas estações de radiodifusão. Apenas a rádio exclusivamente musical pode sentir o podcasting como uma possível ameaça. A rádio de palavra não acaba nunca.

10. Futuro - No último ano o podcasting não evoluiu tecnologicamente e os produtos sonoros independentes em Portugal não dispararam, quer em quantidade quer em qualidade. O que aumentou foi o volume de programas resgatados do éter para o formato podcast. Mas as potencialidades deste novo canal de comunicação estão longe de se esgotarem.


Ver na «Rádio Crítica»: «Perigos do Podcast» e «Outros "perigos" do podcast»
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Transcrição a partir do catálogo da 4ªedição do «Festival Black & White»:


Podcasting sem Podcasts?
Há muita gente desiludida com o podcasting, como que dando razão aos que, mal a técnica surgiu, prenunciaram a sua morte. Os que estão desiludidos convocam estudos, relatórios e a própria experiência para dizer que o podcasting não descola e que continua minoritário, que não encontrou uma forma de se viabilizar comercialmente, que a qualidade dos programas não aumentou e não se registaram significativas evoluções técnicas.
A desilusão será provavelmente proporcional ao entusiasmo inicial, o que só mostra que quando falamos de novas técnicas e de novas tecnologias é prudente alguma ponderação e que alguma reserva nas previsões é uma regra de bom senso.
De qualquer forma, a existir desilusão será quando muito com os podcasts e não ao podcasting.

(...)
Em contrapartida o podcasting é uma técnica claramente de futuro. O podcasting como técnica de redistribuição de conteúdos (áudio ou vídeo) que não podemos ou não temos de ouvir no momento em que são disponibilizados. E rádios e televisões já começaram a perceber isso mesmo.
(...)
E então teremos podcasting não apenas de programas mas também de notícias, de modo a que se concretizará o sonho de Bertold Brecht: o receptor não será mais o sujeito passivo da comunicação, mas aquele que escolhe o que quer ver e ouvir, o que constrói o seu próprio noticiário, o que intervém.
Com o podcasting, com este ou outro nome, com esta ou outra forma de eu poder escolher o que quero ver e ouvir.

João Paulo Meneses
Jornalista e investigador

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Sinopses dos podcasts convidados a partir do catálogo da 4ª edição do «Festival Black & White»:


All Songs Considered
http://www.npr.org/programas/asc/
“All Songs Considered” é um programa online da National Public Rádio (NPR – E.U.A.). Pode ouvir música, ver vídeos e apresentações de slides e ouvir entrevistas acerca dos cd’s favoritos dos críticos da NPR. É uma forma óptima de descobrir e aprender mais acerca de artistas que têm pouco ou nenhum tempo de antena. Começamos “All Songs Considered” porque recebíamos imensas cartas de ouvintes que queriam saber mais sobre a música que era passada entre as histórias do programa de notícias da noite da NPR, “All Songs Considered”. Ainda pode encontrar aqui as versões completas de alguns desses interlúdios, mas “All Songs Considered” evoluiu, apresentando agora músicas de todos os géneros e de todo o mundo. Estamos sempre à procura de grandes músicos e também de alguns que sejam divertidos.”

Como no Cinema
http://www.comonocinema.blogspot.com/
“Como no Cinema” é uma série de programas que se debruça sobre variados temas, utilizando uma grande multiplicidade de sons misturados com voz e música. Os temas podem ir desde a escalada de um alpinista ao cume do Evereste, passando pela história trágico marítima de Portugal, por aspectos sociais e políticos, até a temas de carácter social, existencial e humanista. Utiliza sons captados no exterior, vozes convidadas, alguma música, literatura em formas de poesia, prosa, conto ou teatro e extractos sonoros de filmes. A maioria das emissões são intemporais e o efeito de sua escuta é maximizar o imaginário onírico dos receptores, levando-os a desenvolver as suas próprias imagens. Tudo na Rádio pode ser dito como se fosse um filme. Porque tudo navida pode ser um filme, tudo na vida pode se como no cinema.

Era Uma Vez
http://www.recursoseb1.com/eraumavez/
O podcast “Era Uma Vez” é um projecto educativo que nasceu numa tese de mestrado na Universidade do Minho e ganhou vida própria alguns meses depois. É um recurso dirigido às crianças do jardim de infância, 1º e 2º ciclos do Ensino Básico, bem como aos professores. Contudo pensamos que qualquer pessoa que goste de ouvir histórias deve ouvir o nosso podcast. Temos os nossos episódios divididos em duas partes: uma história/poema e um diálogo que aborda conteúdos didácticos e que pede a participação dos ouvintes. Os trabalhos dos participantes é frequentemente exposto no sítio, numa galeria de trabalhos.

PodComer
http://www.podcomer.com/
“O “podComer” é um site de receitas e dicas que tem o 1º podcast de culinária de Portugal e o mais frequente realizado em língua portuguesa. Além das receitas serem escritas e ilustradas no site, são disponibilizadas em ficheiros MP3, e podem ser ouvidas em diversos diapositivos, tais como leitores de MP3, telemóveis, computadores e PDAs. E o mais importante é que a pessoa tem total liberdade de as ouvir quando e onde quiser.
O “podComer” foi lançado em Agosto de 2005 e tem hoje uma audiência significativa, com uma média de mais de 1.200 visitas por dia e média diária de mais de 1.700 páginas vistas.
Em 2006 foi nomeado como um dos 10 melhores blogs do com podcast do mundo, no concurso “The Best of Blogs” (BOBs) promovido anualmente pela revista “Deutsche Welle”.”


De salientar a excelente organização de um festival que contempla o vídeo, a fotografia e o som. A rádio nunca foi esquecida desde o início. Foi notável o acompanhamento e cortesia por parte dos responsáveis e elementos envolvidos no evento e, especialmente, o salutar convívio nas pessoas do director do festival Jaime Neves; da coordenadora Marta Reis; dos fotógrafos Nelson D'Aires e Galina Usheva; do músico e compositor Carlos Zíngaro e dos realizadores Carlos Ruiz e Michael Unger.
O festival «Black & White» tem tudo para crescer. Estejam atentos à próxima edição e, retenham para já, duas referências:
Second Life e Avatar.



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