sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (12)












A primavera no Brasil coincide com o Outono na Europa, e o Verão com o Inverno. Daí que se ouça neste tema “Águas de Março / É o fim do Verão”. Um magistral jogo de palavras, utilizando variadíssimos termos linguísticos locais, pelo que a compreensão total da letra poderá ser imperceptível para a maioria dos portugueses. António Carlos Jobim em dueto com Elis Regina, ainda na primeira metade dos anos setenta, num álbum marcante para estes dois nomes consagrados da canção brasileira. Foi, também, o último mega sucesso de Jobim, embora o compositor/cantor/músico/maestro continuasse sempre em actividade e tivesse conhecido muitos outros êxitos até morrer. “Águas de Março” é uma das canções mais famosas da Bossa Nova, numa altura em que o movimento já não estava na moda e já não era uma novidade. Por esses dias, vibrava mais o Tropicalismo e a renovada Música Popular Brasileira. “Águas de Março” persiste nos nossos dias, com novas e sempre reinventadas interpretações, ultrapassando fronteiras. É um standard internacional. Uma das versões mais bem conseguidas dos últimos anos está no dueto entre a brasileira Marisa Monte e o norte-americano David Byrne.
O álbum «Elis &Tom &» foi editado em 1974 com uma publicação do jornal «O Pasquim».

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



ÁGUAS DE MARÇO
(Tom Jobim)


É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira

Caingá, candeia, é o Matita Pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de Março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto

É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manhã, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projecto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de Março fechando o Verão

É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de Março fechando o Verão,

É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de Março fechando o Verão

É a promessa de vida no teu coração

Pau, pedra, fim, Minho, esto, toco, oco, inho

Aco, vidro, vida, ó, côtche, oste, ace, jó

São as águas de Março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração.


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (11)










De todos os compositores – e foram muitos – da fase inicial da Bossa Nova, os que mais se destacam são António Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. A qualidade e o talento dos dois é tão importante para a música brasileira como a dupla de Lennon/McCartney para a música anglo-saxónica. Com o passar dos anos, já na década de 70, Vinícius ruma a outros e novos desafios e forma uma outra dupla, com Toquinho. Não é mais da Bossa Nova a arte de Vinicius, poeta e constante reinventor de estilos. Jobim torna-se maestro e João Gilberto – o maior intérprete do estilo – nunca abandona a Bossa Nova, embora fosse progressivamente saindo de cena sem, contudo, ter saído completamente. Ainda hoje realiza actuações ao vivo, mas são aparições muito raras. Há anos cancelou dois espectáculos que estavam previstos para Portugal. Curiosamente, os três maiores nomes de toda a história de meio-século de Bossa Nova, apenas actuaram juntos uma única vez, em Agosto de 1962.
Voltando à dupla clássica da Bossa Nova: “O Amor Em Paz” é outra das grandes composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

O amor é a coisa mais triste quando se desfaz
Palavras fundas, plenas de significado e autenticidade.
O tema foi gravado por João Gilberto no dia 16 de Agosto de 1961.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

O AMOR EM PAZ
(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

Eu amei
E amei-a de mim muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você

E encontrei em você
A razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor
É a coisa mais triste
Quando se desfaz

O amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (10)













Um dos maiores clássicos da Bossa Nova, principalmente através das interpretações femininas de Astrud Gilberto e Nara Leão. São muitas as versões deste tema, mas as interpretações das supra citadas vozes perduram até hoje. E uma das versões femininas actuais mais surpreendentes (2007) é a da cantora francesa Keren Ann.
A letra é da autoria do jornalista António Maria e a melodia pertence a Luiz Bonfá, virtuoso guitarrista que, tal como António Maria, esteve no surgimento da Bossa Nova desde o primeiro momento. “Samba do Orfeu” é outro clássico desta dupla.
Bonfá morreu na sua cidade natal, Rio de Janeiro, no dia 12 de Janeiro de 2001. Tinha 79 anos de idade.
Aqui fica “Manhã de Carnaval” numa interpretação de Nara Leão. Vejam o vídeo até ao fim e depois ouçam o que a Musa da Bossa Nova tem para dizer.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



MANHÃ DE CARNAVAL
(António Maria / Luiz Bonfá)

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus
Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (09)

Recorda o autor Dorival Caymmi: “Saudade da Bahia” nasceu numa tarde calorenta do verão de 1947. Eu estava sozinho num bar perto da minha casa no Leblon, no «Bar Bíbi», chateado com a agitação da cidade, quando me ocorreu a ideia. Era uma ideia tão melancólica – logo eu que sou optimista – que resolvi guardar a canção para mim, mostrando-a apenas a alguns amigos mais íntimos.





João Gilberto gravou “Saudade da Bahia” no dia 10 de Março de 1961.
Aqui a versão do próprio Dorival Caymmi com Tom Jobim.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



SAUDADE DA BAHIA
(Dorival Caymmi)

Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
"Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão"
Ai, se eu escutasse hoje não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos, mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar
Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um homem infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (08)











Pode-se considerar a composição "Insensatez" como a número 4 no ranking das mais populares construções da Bossa Nova (depois de “Garota de Ipanema”; “Samba de Uma Nota Só” e “Corcovado”). São incontáveis as versões deste tema, instrumentais ou vocalizadas, quer sejam em Português, quer sejam em inglês. Na língua de Shakespeare ficou baptizada como “How Insensitive”. Uma das versões cantadas mais conceituadas é a de Frank Sinatra, em dueto com Jobim. Das interpretações instrumentais mais bem sucedidas de sempre é a do próprio Jobim, ficando desde então (1961) conhecido como o ‘Gershwin Brasileiro’. Este epíteto – justo e significante – parte da arte musical de Jobim conseguir fazer um cruzamento extremamente eficaz entre as chamadas Baixa e a Alta Cultura. Tal como George Gershwin, António Carlos Jobim era mestre maior no território compreendido entre o Popular e o Erudito. E o mesmo se pode dizer da escrita de Vinicius de Moraes.
Compositores clássicos foram uma influência assumida por Jobim. Entre eles, Chopin. E é da composição do Prelúdio nº4 em Mi menor – Opus 28 de Frédéric Chopin que parte “Insensatez”. Um ponto de partida desde sempre declarado por Jobim. Aliás, são grandes as semelhanças, quanto mais não seja pelo romantismo e serenidade de ambas as peças. Confirmando essa ligação umbilical, não foi por acaso que o músico de Jazz Gerry Mulligan (um dos maiores de todos os tempos) gravou um «Prelúdio nº4» de Chopin com um arranjo totalmente Bossa Nova inspirado por Jobim.
João Gilberto gravou “Insensatez” pela primeira vez no dia 2 de Agosto de 1961.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

Versão de “Insensatez” de João Gilberto ao vivo em Roma em Agosto de 1983

INSENSATEZ
(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

A insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
O seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração que nunca amou
Não merece ser amado

Vai meu coração ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não
Pede perdão
Não é nunca perdoado


E agora, ver aqui uma homenagem da cantora Nara Leão (em 1973) à Bossa Nova, à canção “Insensatez” e a João Gilberto… saudades de João Gilberto.
Saudades também de Nara Leão, uma das vozes femininas mais importantes da Bossa Nova e a maior rival de Elis Regina. Ficou mesmo conhecida por «A Musa da Bossa Nova». No seu apartamento, no Rio de Janeiro, nasceram algumas das maiores interpretações de temas de, e com, artistas da Bossa Nova, como João Gilberto, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra ou Roberto Bôscoli. Nara Leão morreu prematuramente em 1989, aos 47 anos de idade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (07)
















Depois de “Garota de Ipanema” e “Samba de Uma Nota Só”, “Corcovado” é a terceira composição de António Carlos Jobim mais gravada no Brasil e no mundo. É uma composição de 1960, e João Gilberto gravou-a pela primeira vez em Março desse ano, no dia 30. Há uma segunda gravação muito mais famosa, com as participações de – para além do próprio João – da sua então mulher, a cantora Astrud Gilberto e ainda o saxofonista norte-americano Stan Getz. Na interpretação bilingue (Inglês/Português), “Corcovado” ficou com o nome de “Quiet Night of Quiet Stars”.
Na letra original desta canção, e logo na primeira frase, Jobim tinha escrito Um Cigarro, Um Violão. Durante as gravações João Gilberto convenceu Jobim a mudar a estrofe para Um Cantinho, Um Violão e assim ficou conhecida para sempre uma das mais belas melodias em língua portuguesa.
Jobim inspirou-se na vista que desfrutava a partir de uma janela do seu apartamento no Rio de Janeiro, na rua Nascimento Silva nº 107, donde avistava-se a estátua do Cristo Redentor no alto do morro [anos mais tarde a vista ficou tapada pela construção de um outro edifício]. A vista acabou, mas a canção ficou. Até hoje.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



CORCOVADO
(Tom Jobim)


Um cantinho e um violão
Este amor, uma canção
Para fazer feliz a quem se ama

Muita calma para pensar
E ter tempo para sonhar

Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo

Quero a vida sempre assim, com você perto de mim
Até ao apagar da velha chama

E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é Felicidade meu amor

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (06)

Thiago III era um barco que o compositor Ronaldo Bôscoli alugava para as suas pescarias. Era um pescador com grandes capacidades na pontaria. Nessas pescarias convidava amigos, quase todos pertencentes ao início da nova onda a que chamaram desde logo de Bossa Nova. Entre os convidados dessas incursões navegantes estavam a cantora Nara Leão, na altura namorada de Bôscoli. A canção que Ronaldo Bôscoli compôs, e que João Gilberto gravou pela primeira vez no dia 2 de Agosto de 1961, foi inteiramente inspirada nas viagens nesse barco chamado Thiago III. O tropicalismo está bem presente na patine desta canção.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

O BARQUINHO
(Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli)

Dia de luz
Festa de sol
E um barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão e o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar e o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis
Volta do mar desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
É a vontade de cantar
Céu tão azul ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz, tudo isso traz
Uma calma de verão e então
O barquinho vai
A tardinha cai
O barquinho vai…


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (05)

"Bim Bom" por si só faz um levantamento total de como a batida tão famosa do violão de João Gilberto se tornou no símbolo de um movimento musical que atravessou fronteiras e levou a música brasileira a terras distantes. A Bossa Nova é a expressão artística em Português que mais se internacionalizou. É muito mais famosa no mundo do que o Fado.
"Bim Bom" é, de todas as composições da Bossa Nova, a mais simples. De toda a complexidade simplificada da estrutura musical da Bossa Nova, nenhuma canção parece ser mais simples que esta. Singela, impressionante, expressiva.
Das muitas versões do tema, Astrud Gilberto (ao tempo, mulher de João) vocalizou uma das mais consagradas.

Gravação original de João Gilberto no dia 10 de Julho de 1958.


Na ausência de imagens de João Gilberto a cantar e a tocar “Bim Bom”, aqui fica uma interpretação do discípulo Caetano Veloso – ao vivo no Rio de Janeiro em 1985 – antecedido de um outro tema de João [“Hô-Bá-Lá-Lá”]. Repare-se nas palavras de Caetano sobre João Gilberto e sobre a Bossa Nova. Parece coisinha simples, não é?

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



BIM BOM
(João Gilberto)

Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bim bim

É só isso o meu baião
E não tem mais nada não
O meu coração pediu assim, só

Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bom

É só isso o meu baião
E não tem mais nada não

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (8)

O Verão também é tempo de leituras e, mesmo nos meses de «Silly Season», lá se vai falando e escrevendo sobre Rádio













O que eles dizem (42)

Internet ultrapassa Rádio
Em França, os investimentos publicitários na Internet durante o primeiro semestre do ano (14,7 % do total), ultrapassaram os realizados na rádio (13,3 %), passando a ocupar a terceira posição, depois da imprensa e da televisão. A progressão dos investimentos publicitários na Internet foi de 38,1 % em relação a idêntico período do ano passado.


J.-M. Nobre-Correia
In: DN sábado, 23 Agosto 2008
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Queda de receitas da rádio
No segundo trimestre do ano, a rádio comercial britânica acusou uma queda de mais de 10% das receitas publicitárias em relação a idêntico período do ano passado. A rádio é geralmente o primeiro média a acusar os efeitos de um afrouxamento da actividade económica.


J.-M. Nobre-Correia
In: DN sábado, 06 Setembro 2008

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Somos, senão o maior, um dos maiores grupos de rádio em Espanha e também queremos sê-lo em idioma Português. Temos não sei quantas mil emissoras a funcionar em Espanha e na América Latina.(…)
A M80 está a correr muito bem, a Rádio Romântica continua a sua reestruturação, a melhor rádio só em português, e a Rádio Comercial continua a ser uma das melhores rádios portuguesas. Desde que chegámos a Portugal queríamos fazer uma rádio de palavra e o RCP era ideal para fazer isso. Logicamente são mudanças muito dramáticas e drásticas. Mas estamos muito contentes e queremos continuar a crescer.(…)
O espírito do RCP é muito parecido com o da Cadena SER. O que temos feito é passar as fórmulas de fazer rádio para cá e adaptá-las ao estilo português. Estamos muito convencidos de que vai ser um sucesso. Não somos novos neste negócio.
(…)
Tendo em conta a Lei da Rádio, não podemos movimentar-nos. Estamos interessados em fazer uma coisa como RCP, que é uma fórmula muito local. Gostaríamos de fazer mais rádios locais.

Manuel Polanco (Administrador-delegado da Media Capital)
In: revista «Domingo» (Correio da Manhã) 08 Junho 2008
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O espaço das rádios é, por certo, feito de muitas diferenças e contrastes. Por isso mesmo, qualquer generalização será abusiva, do mesmo modo que abusivo será negar a existência de trabalhos muitíssimo competentes nos mais diversos comprimentos de onda. Seja como for, nada disso permite rasurar essa sensação quotidiana de que playlists e mentalidades burocráticas têm conseguido impor modelos (dominantes) de violenta normalização da música que se ouve e, mais do que isso, dos modos de a apresentar...

João Lopes
In: «Sound & Vision» (23 Julho 2008)
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Playlists da rádio são geriátricas

Que balanço faz destes 40 anos de carreira?
Naturalmente bom, mas também só faço esse balanço positivo porque ainda estou em actividade, se não estivesse, o meu lado pessimista iria toldar-me a resposta. Comecei com 18 anos na rádio, em 1968, em tarefas muito vulgares, aquilo que nós chamamos trabalho de continuidade. No entanto, o meu sonho concretizou-se desde que comecei a dominar um bocadinho a rádio em si, sobretudo a parte que para mim é muito filosófica, que é a rádio entrar dentro de nós. Desde então, a rádio passou a ser a primeira dama, a par da música, talvez até elas se confundam. Mas passou a ser uma necessidade quase catártica, trabalhar.(…)
O que é que o continua a mover?
O gosto pela música e pela rádio, acabando por haver quase um concubinato entre as duas coisas. A vontade de fazer rádio. Ninguém nunca a ouvir um programa da minha autoria vai ter a noção de que daquele lado está uma pessoa chateada a despejar música. É um prazer enorme dar música às pessoas.(…)
O que é que ainda não fez em rádio que gostasse de fazer?
O que já não venho a fazer, que é uma das minhas tristezas grandes, que é formar profissionais. O que adorava mais era poder dizer hoje, amanhã, ou depois, este tipo aprendeu comigo e é bom.

António Sérgio
In: JN (07 Junho 2008)
Entrevista de Elsa Pereira
Ler entrevista completa aqui

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Um comentador desportivo da BBC foi despedido por ter levado a sua «criatividade» longe demais. Durante o relato de um desafio de futebol na Radio Manchester (BBC), Chris Price disse que a defesa de uma das equipas tinha «mais buracos que um avião espanhol». Choveram protestos dos ouvintes, Price foi obrigado a pedir desculpa e a BBC mandou-o exercitar a sua criatividade à procura de um novo emprego.

João Alferes Gonçalves
In: Clube de Jornalistas on-line

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Este verão também houve uma canção em repeat na minha cabeça e no leitor de CD: “Before We Begin”. Este tema está no álbum «Haha Sound» dos Broadcast, editado no dia 11 de Agosto de 2003.



Em casa, uma mulher sozinha faz um lar, o homem um bar. 
Margarida Rebelo Pinto (escritora)

RCP-Rádio Clube Português
Segunda-feira, 30 de Junho 2008
(15:00/16:00)



[Para sexo] o homem precisa de um sítio, a mulher de uma razão. 
Aurélio Gomes

RCP-Rádio Clube Português
Segunda-feira, 30 de Junho 2008
(15:00/16:00)

Oito coisas do Verão 2008 (7)











No dia 29 de Agosto começou a actividade do novo Provedor da RDP através da segunda série do programa «Em Nome do Ouvinte». Adelino Gomes foi nome escolhido. Não obstante ser um profissional de Rádio com provas mais do que dadas ao longo de décadas, para todos os efeitos tratou-se de uma segunda escolha. O primeiro nome fora vetado.
Adelino Gomes sucede assim ao primeiro Provedor da Rádio Pública, José Nuno Martins. A seu tempo falarei aqui na «Rádio Crítica» do primeiro mandato, mas agora apenas direi que o que me espanta é que Adelino Gomes não tenha sido desde logo a primeira escolha para suceder a José Nuno Martins. Estou a gostar muito dos programas do segundo Provedor. Tem correspondido por inteiro às expectativas que dele tinha antes da primeira emissão. Diplomático, sério, directo, inequívoco, responsável e altamente credível.
Nas primeiras emissões de «Em Nome do Ouvinte», o novo Provedor realizou uma série de programas em que ouviu nomes conhecidos da rádio portuguesa, quase todos eles (se não mesmo todos) trabalharam na RDP.
Quanto a isso, apenas uma curiosidade: de todos os nomes escutados – e foram muitos – nenhum esteve ou está na TSF. Coincidência ou mero acaso?

José Nuno Martins terminou os programas «Em Nome do Ouvinte» em Abril de 2008.
Ver aqui a entrevista que o ex-provedor deu à revista «JJ» do Clube de Jornalistas (nº 35 Julho/Setembro 2008), concedida ao jornalista Luís Bonixe.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (6)
















Summertime / Summer Madness
Loucura em Veneza

Era o filme que me faltava ver de David Lean. E logo no Verão. E logo na “minha” sala, a grande, na Cinemateca.
Há dois momentos na obra de Lean. Dizem os críticos, duas fases bem diferenciadas. A primeira, de películas de menor duração e com menos meios de produção. Quase todas decorrentes em Inglaterra. Depois, a segunda fase. A das macro-escalas, a dos grandes espaços exteriores e decorrentes no interior da selva asiática, nas areias quentes do deserto, nas gélidas paisagens da Sibéria, na agreste orla costeira da Irlanda e no coração da Índia. Entre uma e outra fase está o filme «Summertime» (ou «Summer Madness» como também ficou conhecido).
A acção decorre em Veneza, uma cidade de todos e de ninguém. Uma cidade do mundo, há décadas orientada para os turistas. É lá que Katharine Hepburn (Jane Hudson, uma turista norte-americana) sonha com o amor de uma vida na Veneza de todos sonhos e de todas as desilusões. No fundo, em todas as fases da carreira, David Lean realizou “sempre” o mesmo filme, ou seja, tal como todos os outros grandes mestres da Sétima Arte – ou de qualquer outra forma de arte – foi fiel ao seu tema. No caso de Lean, os grandes dramas humanos. De filme para filme trocou os actores e as actrizes, mudou os cenários e as formas da acção. Mas a mesma patine está presente em todas as suas obras. E Lean, ao longo da sua prestigiada obra, aboliu como muito poucos a forte tendência maniqueísta no Cinema. Fica uma pergunta para quem já viu o filme «Summertime»: afinal, quem é que consegue condenar a conduta amoral de Renato de Rossi ou a displicência emocional de Jane Hudson?

Summertime/Summer Madness (trailer) - David Lean (1955)


domingo, 19 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (5)

















Alte
Perseguia há muito um dia em que, sem que nada fizesse para que isso acontecesse, não ouviria Rádio. Está mais que provado que a Rádio está incrivelmente presente em todos os nossos dias. Todos os acasos me tinham trocado as voltas até ao dia em que, de facto, não ouvi Rádio.
Viagem para sul, o encontro com amigos e o fim de tarde a banhos na pacata Ribeira de Alte. Este sim, foi um dia inteiro sem Rádio… e esteve para não ser. Por muito pouco. A avaria de um auto-rádio contribuiu de forma decisiva.
De regresso às voltas trocadas dos acasos, dias depois ouço, pela mesma Rádio que antes evitara, que no dia em que não a ouvi de facto, ELA estivera também em Alte, poucos dias depois de eu me ter banhado nas transparentes águas de sua ribeira.
ELA é Catherine Deneuve, a eterna actriz que Buñuel captou como nunca em «Belle de Jour», ao lado de Piccoli, Sorel e Geneviève Page.
Terá ela visto o fundo verde da ribeira de Alte e reparado nas chaminés do branco casario escadeado em seu redor? Terá ela (re)descoberto Cet Obscur Objet du Désir?

sábado, 18 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (4)












Em alguma vez na vida – e para os cinéfilos, muitas vezes na vida – ouvimos a voz dele. A voz grave e cava dos trailers. Deixámos de a ouvir desde o dia 1 de Setembro deste ano 2008. Aquela voz calou-se e calou-se para sempre.
Em quaisquer das áreas da locução há sempre uma voz melhor que as outras. A melhor a gravar anúncios de Cinema era a de Don Lafontaine: The Man, The Myth, The voice over Legend!

Entre os trailers narrados por Lafontaine, destacam-se "Batman", "Atracção Fatal" e "Exterminador". No final da década de 70 tornou-se na voz oficial da Paramount e durante a sua carreira narrou cerca de 5.000 movie trailers e 750.000 spots televisivos.
Don Lafontaine era norte-americano, nasceu em Minnesota em 1940, tinha 68 anos de idade e foi vitimado por uma insuficiência respiratória.

Ver site de Don Lafontaine : http://www.donlafontaine.com


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (3)











No Verão deste ano completaram-se vinte anos após a morte do músico, compositor e intérprete Carlos Paião.
Hoje é praticamente impossível o conseguirmos ouvir na Rádio "dita" de referência em Portugal. Há agora, por ocasião destes vinte anos, a edição de um disco tributo/homenagem a Carlos Paião e, por via disso, lá se vai ouvindo em formato playlist, por exemplo, o tema «Pó de Arroz» na versão de Tiago Bettencourt & Mantha.
Carlos Paião nunca foi uma das minhas preferências nos muitos alinhamentos e escolhas que fiz de música portuguesa para emitir na Rádio. Sei que, por duas únicas vezes, passei na Rádio dois dos seus mais conhecidos temas musicais. Por motivos diferentes. A primeira dessas vezes foi ainda nos anos 90, antes de um encontro de futebol cujo relato iria ser transmitido daí a minutos. O espaço entre o fim do noticiário e o começo do Especial Desporto foi ocupado pelo tema «Zero a Zero» de Carlos Paião. O jogo seria um clássico Benfica – Sporting que, por acaso, terminou… 0 – 0.
A outra vez das duas únicas ocasiões em que passei temas de Carlos Paião foi com o tema «Play-Back». Surgiu num alinhamento referente ao ano de 1981 num fim-de-semana de dez horas de emissão especial em directo, dedicadas aos maiores êxitos da década de 80. Em cada hora um ano e, em cada ano, havia sempre - pelo menos - um tema em português. 1981 foi o ano de Carlos Paião. Como é sabido, foi nesse ano que Paião venceu o Festival RTP da Canção, indo por isso representar Portugal no Festival da Eurovisão.

Aqui vemos a actuação de Carlos Paião com som directo – e sem Play-Back – na Eurovisão em 1981. A orquestra foi dirigida pelo maestro Shegundo Galarza (1924 – 2003):


Na década de 80 Portugal perdeu, de forma inesperada, os seus dois mais interessantes artistas musicais, se bem que muito diferentes. Primeiro fora António Variações, em 1984 (aos 39 anos), quatro anos antes do desaparecimento do autor de «Cinderela».
Carlos Paião morreu num acidente de viação. Tinha 30 anos de idade.
O país soube da notícia através do «Jornal de Sábado» na RTP, apresentado pelo (também já falecido) jornalista Adriano Cerqueira.

Ver aqui imagens da interpretação original de Carlos Paião no Festival RTP da Canção/1981

Ver aqui imagens da notícia na RTP (26 de Agosto 1988)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (2)

Ele em minha casa













Vic Chesnutt

Na recta final do Verão tímido, uma grande e inesperada surpresa. No cartaz do magnífico Festival B.O.M. [Barreiro Outras Músicas] os nomes de Vic Chesnutt e American Music Club.

Numa quinta-feira à noite, na véspera da actuação dos American Music Club, a estreia de Vic Chesnutt em Portugal para um concerto só para conhecedores.
No início dos anos 90 soava nos corredores da Rádio um jingle promocional a um programa especial a emitir daí a uns dias. O texto promocional começava com uma pergunta: “Quem é Vic Chesnutt?” Colegas desconhecedores, estimulados pela inquietude da pergunta, replicavam em voz alta a mesma questão: “Quem é Vic Chesnutt?”. Pois bem, a resposta veio através do próprio programa dedicado a um então desconhecidíssimo autor/compositor/cantor norte-americano. Por esses dias tinha entre mãos o primeiro álbum de Chesnutt – «Little» (1990). Nessa altura já esse registo inaugural de Chesnutt levava dois anos de publicação.
Mas respondendo à pergunta: “Quem é Vic Chesnutt?”
Chamar-lhe-ia antes o Robert Wyatt americano. Semelhanças não faltam. Ambos vivem sobre uma cadeira de rodas até ao fim da vida, são dotados de vozes que transmitem toda a dor do mundo e são autores e intérpretes das suas próprias composições. Cantam, como poucos, o sentimento da perda e a fatal condição humana. A história pessoal de Vic Chesnutt fala por si: embriagado e ao volante de um automóvel sofre um grave acidente de viação, em 1993, que o deixa semi-paralítico. Tudo na sua vida mudou e a música também.
O arranque da carreira de Chesnutt teve a preciosa ajuda de Michael Stipe enquanto produtor e colaborador activo nos primeiros discos de Vic. O melhor deles, nessa primeira fase, é «West Of Rome», editado em 1991. Antes já tinha conhecido a luz do dia «Little» (1990). Seguir-se-iam outros até aos nossos dias.
Vic Chesnutt afirmou que ficaria musicalmente realizado se um dia conseguisse escrever “uma má canção de Leonard Cohen”. Para grado dele – e de quem o gosta de ouvir – escreveu algumas canções ao mesmo nível do trovador canadiano. Actualmente, Vic Chesnutt já vai no décimo segundo álbum de originais, o último dos quais editado este ano, sob o título «Dark Developments» (já depois do concerto aqui referido).
No auditório, uma actuação intimista de Vic Chesnutt. Corpo e alma em cima duma cadeira de rodas e uma voz sofrida a cantar com ironia, auto-censura, culpa e desculpa. Toda a tristeza de uma vida salva pela perseverança e auto-crítica mordaz. A capacidade de rir de si próprio levada ao limite da ironia: “The Little Fucker? I’m the little fucker!”.
Não me lembro da última vez que passei Vic Chesnutt na Rádio. Foi, seguramente, há muitos anos. Mas se hoje pudesse escolher um dos seus cínicos e mordazes temas, escolheria “Stupid Preoccupations”.

Ver entrevista a Vic Chesnutt; Ver e Ouvir canção: “God Is Good” (com Victoria Williams)

Um grande aplauso para o Festival B.O.M.2008. Espero em 2009 a continuidade do nível atingido.


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (04)

João Gilberto é o Sol e a Luz da Bossa Nova, Vinicius de Moraes a alma e Tom Jobim o coração.
João Gilberto é a figura que mais inspirou artisticamente toda a vida de Caetano Veloso. Aqui os temos, juntos e ao vivo – Mestre e discípulo – no tema “O Pato”.
Há mais palavras, mas são eles que as dizem. Vejam e oiçam aqui

Esta composição fazia parte do reportório de uma das bandas brasileiras mais famosas dos anos 40 e 50: os Garotos da Lua, uma banda da qual João Gilberto também fez parte. Já a solo, o próprio João Gilberto recuperou-a, transformando-a numa das muitas e boas memórias dos primórdios da Bossa Nova.
Uma mirabolante brincadeira com as palavras e os sons das mesmas encadeadas.
Parece uma brincadeira, uma coisa infantil, mas é uma brincadeira muito séria. Um dos maiores sucessos de João.

João Gilberto gravou “O Pato” pela primeira vez a solo no dia 4 de Abril de 1960

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



O PATO
(Jaime Silva / Neuza Teixeira)

O Pato
Vinha cantando alegremente
Quém! Quém! Quando um Marreco
Sorridente pediu
Prá entrar também no samba
No samba, no samba...

O Ganso, gostou da dupla
E fez também
Quém! Quém! Quém!
Olhou para o Cisne
E disse assim: "Vem! Vem!"
Que o quarteto ficará bem
Muito bom, muito bem...

Na beira da lagoa
Foram ensaiar
Para começar
O tico-tico no fubá...

A voz do Pato
Era mesmo um desacato
Jogo de cena com o Ganso
Era mato
Mas eu gostei do final
Quando caíram na água
E ensaiando o vocal...

Quém! Quém! Quém! Quém!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (03)

Se ouvirem o tema “Night And Day” de Cole Porter imediatamente antes, ou a seguir, de “Samba De Uma Nota Só” sentirão algumas semelhanças. Mas são só semelhanças, pois a divisão e os encadeamentos sonoros são totalmente diferentes. Jobim, como mais tarde se verificaria sem a mínima dúvida, foi um compositor ao nível de Porter. No entanto a polémica foi, inicialmente, inevitável.
“Samba de Uma Nota Só” é uma das canções mais versadas de Jobim, principalmente por parte do mundo do Jazz norte-americano. Adquiriu na América o nome de “One Note Samba” e uma das interpretações mais carismáticas pertence a Ella Fitzgerald.

Ver e ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.

SAMBA DE UMA NOTA SÓ
(Tom Jobim / Newton Mendonça)

Eis aqui este sambinha feito numa nota só
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Esta outra é consequência do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência inevitável de você

Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
Não deu em nada

E voltei para minha nota como eu volto para você
Vou contar com uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só


segunda-feira, 13 de outubro de 2008













Vidro Azul - 6º aniversário

Os Convidados:
Sara Mendes / Pedro Arinto / Pedro Ramos / Francisco Mateus / Francisco Amaral / Inês Saraiva / Cláudia Duarte / Ricardo Carvalho / Ana Salomé / Rita Moreira / Pedro Esteves / Pedro Sousa / Inês Patrão / Catarina Pereira / João Vaz / valter hugo mãe / Paulo Santos / Carla Lopes

domingo, 12 de outubro de 2008

Oito coisas do Verão 2008 (1)

Eles em minha casa












Mark Eitzel & American Music Club

Big Night
Foi em 1987 que comprei um disco chamado «Engine» por causa de uma canção chamada “Big Night”. Tinha-a ouvido na Rádio. Desconhecia a banda de San Francisco, os American Music Club, mas passei a conhecer e tornei-me desde então num grande admirador. A escrita, a composição e a voz pertencem a Mark Eitzel. Na recta final do Verão 2008, o Festival B.O.M. [Barreiro Outras Músicas] trá-los a minha casa para uma actuação única no A.M.A.C.
Ao jantar, no «Verde Minho», uma conversa, sessão de autógrafos [Eitzel agradavelmente admirado por assinar capas de discos com tantos anos] e fotografias para a posterioridade.
Simpático, bastante afável. Perguntei a Eitzel pelo line-up do concerto da noite. Estava ansioso por ver e ouvir ao vivo algumas das (muitas) excelentes composições de Eitzel. Fiquei contente por saber que “Fearless” iria constar do alinhamento, mas a verdade é que perguntei se iriam tocar “No Easy Way Down” (*) ; “Big Night”; “Jenny”; “Western Sky” e “Can You Help Me?”. Eitzel sorriu e disse: “Vê-se mesmo que és um nosso fã… só um verdadeiro fã é que pediria essas canções!” e depois acrescentou: “Sim, vamos tocar algumas old songs, mas não essas…”.
Profissionalmente tinha já estado com grandes figuras da música mas, ali com Eitzel, estava meramente enquanto fã. E, garanto-vos, não é a mesma coisa.
Já no palco, algumas canções do novo álbum «The Golden Age» e, das mais antigas: “Outside This Bar”; “What Godzilla Said To God When His Name Wasn’t Found In The Book Of Life” e “Gratitude Walks”.
Que maravilhosa audiência, que bom ambiente… nós habitualmente só actuamos em dirty bars”, gracejou Eitzel para a plateia. Já antes tinha mostrado agrado pelo restaurante ao jantar e pelo magnífico Parque da Cidade onde caminhou durante a tarde.
No único encore, a canção “Fearless” do álbum «San Francisco» (1994).
Os American Music Club seguiram para Espanha, dando continuidade à digressão europeia, tendo sido este o único concerto em Portugal.

Ver entrevista a Mark Eitzel

Mais sobre Mark Eitzel na «Rádio Crítica» (18 de Outubro 2005)

Ver e ouvir canção “Western Sky”:



Where Are They?
Na sala, gente de meia-idade e alguns jovens. Nenhum dos meus antigos companheiros da rádio primordial… e é triste. Triste porque esse facto reflecte coisas não muito positivas, entre elas – e à cabeça – desinteresse pelo que já os interessou: a Música! E mais: a Rádio! A casa que lhes ampliou os gostos e conhecimentos. Que os fez crescer profissionalmente. Mas igualmente triste por outras razões e coisas mais ou menos evitáveis, tais como casamentos falhados, filhos, famílias destruídas e remendadas monoparentalmente; empregos mais ou menos precários, aborrecimentos vários e a acção inexorável do Tempo. Como disse Yourcenar: O Tempo muda e nós mudamos com ele. Enfim, como se costuma dizer ao mesmo tempo em que se encolhem os ombros, “é a vida”. E é a vida, mas é a vida sem qualidade.
Durante o concerto lembrei-me de algumas das vozes sem rosto que provaram o primeiro Éter e que ali não estiveram… o que é feito deles?


(*) "No Easy Way Down": Chamada de atenção para a emissão comemorativa dos seis anos do programa «Vidro Azul». Esta canção está lá e oiçam para saberem porquê!

Have this song on a compilation. I thought it was a better song than I could even write
Mark Eitzel

Na conversa com Eitzel, contei-lhe que a sua música sempre pertenceu ao meu leque de escolhas para difusão na Rádio. Devia ter sido mais rigoroso e ter-lhe dito que antigamente fazia parte das minhas escolhas, mas seria um bocado difícil explicar a uma pessoa distante da nossa realidade as razões pelas quais actualmente ele e os seus American Music Club não podem fazer parte do leque de escolhas da radiodifusão em Portugal. Mas claro – e ainda bem – que existem excepções. Mesmo que sejam as excepções do costume. As escolhas musicais de Ricardo Mariano são uma das (boas) excepções do costume.

Emissão de Aniversário «Vidro Azul» 13 de Outubro
RADAR - Domingo para Segunda-feira, 0:00-02:00 (repete Quarta-feira 01h-03h)
RUC - Segunda-feira, 23:00-01:00 (repete Sábado 02h-04h)

Mais sobre Ricardo Mariano e o programa «Vidro Azul» na «Rádio Crítica»:
Entrevista a Ricardo Mariano: 18.Fevereiro.2006
Do outro lado do Vidro: 22.Outubro.2006
VA5: 15.Outubro.2007
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O que eles dizem (42)

Se houvesse um Deus mau que me dissesse: vou tirar-te tudo o que tens, mas podes escolher uma única coisa com que possas ficar. Essa coisa que eu escolheria era a música.

Maria Filomena Mónica
In: RTP-N
10 Outubro 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (02)

"Desafinado" [samba bossa-nova] de Newton Mendonça e Tom Jobim é considerada a canção-manifesto da Bossa Nova, pela simplicidade da letra e da música e pela magnífica interpretação de João Gilberto com a sua peculiar voz de pequeno porte, mas de perfeita colocação das palavras.
João Gilberto gravou pela primeira vez “Desafinado” no dia 10 de Novembro de 1958.

Após o grande sucesso de "Chega de Saudade" que marcou o início do movimento Bossa Nova na música popular brasileira, onde a cadência do samba passou a ser marcada principalmente por uma batida diferente de violão, introduzida por João Gilberto, os compositores musicais da época passaram a produzir novas músicas no estilo Bossa Nova. Assim surgiu "Desafinado" samba de autoria de Tom Jobim e Newton Mendonça, onde os dois grandes músicos e amigos compuseram em conjunto a letra e a música. Newton Mendonça iniciou a sua carreira musical em 1950, tocando piano na Orquestra do Waldemar no Rio de Janeiro; dois anos depois passou a tocar piano no bar «Posto Cinco» revezando a função com Tom Jobim, também pianista. Newton Mendonça actuou ainda no «French Can Can» e na «Casca», sempre no Rio de Janeiro. Em 1952 teve a sua primeira música gravada: "Você Morreu Para Mim", em parceria com Fernando Lobo, num disco de Dora Lopes. Em 1953 fez a sua primeira composição em parceria com Tom Jobim: "Incerteza", gravada por Maurici Moura. Nesse mesmo ano actuou como pianista nos famosos bares «Mocambo» e «Mandarim», neste último actuando à vez com Johnny Alf.Newton e Tom compuseram muitas outras músicas de sucesso como por exemplo: "Só Saudade"; "Foi a Noite"; "Luar e Batucada"; "Castigo" e "Meditação". Todas gravadas pelos melhores cantores da época: Dalva de Oliveira, Osny Silva, Cláudia Morena, Sylvinha Telles, Izaurinha Garcia. A dupla de compositores Tom Jobim e Newton Mendonça foi uma das melhores do movimento Bossa Nova.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



DESAFINADO
(Tom Jobim e Newton Mendonça)

Se você disser que eu desafino amor
Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que deus me deu


Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração


Fotografei você na minha Rolleyflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Ele é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito
Bate calado, que no peito dos desafinados
Também bate um coração


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (01)

Vem do Verão deste ano as comemorações dos cinquenta anos da Bossa Nova. A Rádio em Portugal, para variar, passou ao lado de uma das datas mais importantes da música mundial do último meio século.
Inaugura-se aqui e agora uma série de crónicas diárias que deveriam estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa na «Rádio Crítica» durante cinquenta dias até ao fim do ano.




Dos três nomes maiores da Bossa Nova (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto) só João está vivo. Será através das interpretações dele que iremos ver e ouvir a maior parte dos 50 clássicos aqui publicados.

“Chega de Saudade” é uma canção escrita por Vinicius de Moraes (letra) e por Antonio Carlos Jobim (música) em meados dos anos 50. Foi gravada pela primeira vez em Abril de 1958 na voz de Elizete Cardoso, que a gravou com arranjos do maestro Antonio Carlos Jobim, acompanhada também pelo violão de João Gilberto. A versão de Elizete foi lançada em Maio desse ano no Álbum «Canção do Amor Demais». Alguns meses depois, a canção recebeu novas versões, primeiro pelos Os Cariocas, e também por João Gilberto, num disco de 78 rotações lançado em Julho que tinha, no lado B, a música “Bim Bom”, da autoria do cantor. A faixa-título do LP lançou para sempre a carreira de João Gilberto.
Mais tarde, esta gravação antológica ficou reconhecida como o primeiro registro fonográfico da Bossa Nova.
A canção “Chega de Saudade” foi gravada por João Gilberto Prado Pereira de Oliveira no dia 10 de Julho de 1958.
A versão que aqui vemos ao vivo, muitos anos depois, conta com a participação especial (inesperada?) de Bebel Gilberto, filha de João (actualmente também cantora com uma carreira a solo). A jovem Bebel faz dueto com o pai, cantando uma versão feminina da letra que consta do original primeiramente cantado por Elizete Cardoso.

Texto originalmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line



CHEGA DE SAUDADE
(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)

Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela
Não pode ser, diz-lhe numa prece
Que ela regresse porque eu não posso
Mais sofrer
Chega de saudade a realidade
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca, dentro dos meus braços
Os abraços hão-de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é para acabar com esse negócio de você viver sem mim
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...


O "Chega de Saudade" mudou a minha vida
Carlinhos Lyra

Quando escutei pela primeira vez a música fiquei paralisado. Tudo era completamente novo, a música, a letra, o canto, a forma de tocar violão.
Edu Lobo