quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (50)
















Chega hoje ao fim a série "Bossa Nova 50 anos 50 clássicos" aqui na «Rádio Crítica». A última canção a figurar não podia ser outra a não ser o maior dos muitos e bons clássicos da Bossa Nova: "Garota de Ipanema».
É uma das canções com mais versões em todo o mundo. São incontáveis e encontram-se na casa dos milhares. Todos os anos são gravadas novas interpretações e é assim desde 1964, depois da histórica gravação do álbum que juntou num estúdio de Nova Iorque João Gilberto, Astrud Gilberto, Antonio Carlos Jobim e Stan Getz.
Desde as actuações no Au Bon Gourmet, em 1962, no célebre acontecimento conhecido por "O Encontro", que João Gilberto e Antonio Carlos Jobim não actuavam juntos. Fizeram-no pela segunda vez 30 anos depois e já sem Vinicius de Moraes. É desse reencontro que surge esta interpretação de "Garota de Ipanema", em 1992.

João Gilberto: Tom, e se você fizesse agora uma canção que possa nos dizer, contar o que é o amor?

Tom Jobim: Olha Joãozinho, eu não saberia sem Vinicius para fazer a poesia.

Vinicius de Moraes: Para essa canção se realizar, quem dera o João para cantar.

João Gilberto: Ah, mas quem sou eu, eu sou mais vocês, melhor se nós cantassesmos os três.

GAROTA DE IPANEMA
(Tom Jobim/Vinicius de Moraes)

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho?
Ah, porque tudo e tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo
Se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
















João Gilberto é, de todos, o artista mais representativo do movimento Bossa Nova. É, em 2008, o maior ícone vivo da cultura brasileira.
Vinicius de Moraes o poeta diplomado da Bossa Nova, ou como o próprio se decretou, o branco mais preto do Brasil. Nenhum outro escreveu o Amor na música como ele.
António Carlos Jobim o Maestro soberano, que exalava melodia por todos os poros. Sabiamente refutou a ligação da Bossa Nova ao Jazz no sentido de não aceitar a Bossa Nova como sendo um género derivado do Jazz, mas sim um género totalmente novo. E tinha razão. Há ligações da Bossa Nova ao Jazz, mas apenas em cruzamento. Têm origens muito diferentes e distantes. Bossa Nova é SAMBA!

Astrud Gilberto
É dela a voz que canta a parte em inglês da canção. Primeira mulher de João Giberto e a primeira com quem «O Mito» partilhou a vocalização de uma canção.
A verdadeira e total internacionalização da Bossa Nova aconteceu a partir daqui, mas ainda na década de sessenta viria a ter um segundo e grande momento além fronteiras e outra vez com origem nos Estados Unidos. Frank Sinatra, encantado pela beleza melódica e pela plasticidade da Bossa Nova, telefona a Antonio Carlos Jobim a convidá-lo para gravarem um disco. Foi em 1967 que aconteceu «Francis Albert Sinatra & António Carlos Jobim». Nesse trabalho encontram-se novas versões de clássicos da Bossa Nova. Para além da "Garota de Ipanema"/"The Girl From Ipanema" estão "Insensatez"/"How Insensitive"; “Dindi”; "Meditação"/"Meditation"; “Corcovado”/Quiet Nights of Quiet Stars” e “O Amor Em Paz”/”Once I Loved”. No ano seguinte, «Francis Albert Sinatra & António Carlos Jobim» ganha o Grammy de melhor álbum, tirando o prémio ao álbum «Sjt. Pepper' s Lonely Hearts Club Band» dos Beatles.

THE GIRL FROM IPANEMA

Tall and tan

And young and lovely

The girl from Ipanema

Goes walking

And when she passes

Each one she passes

Goes ahhh

When she walks

She's like a samba

That swings so cool

And sways so gently

That when she passes

Each one she passes

Goes ahhh

Oh, but he watches so sadly

How can he tell her he loves her

Yes, he would give his heart gladly

But each day when she walks to the sea

She looks straight ahead not at he

Tall and tan

And young and lovely

The girl from Ipanema

Goes walking

And when she passes

He smiles but she doesn't see

She just doesn't see

Antonio Carlos Jobim & Frank Sinatra num especial da TV norte-americana. O maestro tropical divide as luzes da ribalta com a voz de veludo. Um medley do álbum que gravou com Sinatra que inclui, para além de outros clássicos da Bossa Nova, "The Girl From Ipanema" na versão bilingue. É notável a coragem de Jobim em cantar ao lado do então melhor cantor do mundo!


Outra interpretação bilingue Português/Inglês de "Garota de Ipanema"/"The Girl From Ipanema". António Carlos Jobim com o crooner norte-americano Andy Williams no dia 15 de Março de 1965.




Antonio Carlos Jobim & Vinicius de Moraes – "Garota de Ipanema"
Ao vivo em Itália, na cidade de Milão no dia 18 de Outubro de 1978. Com Vinicius e Jobim estavam também Toquinho e Miúcha. Uma histórica digressão pela Europa onde só faltou mesmo a presença de João Gilberto. No final da canção, Vinicius de Moraes relembra com Jobim como "nasceu" a Garota de Ipanema.




Joao Gilberto & Caetano Veloso - "Garota de Ipanema"
Meste João e discípulo Caetano ao vivo na capital do país das pampas no ano 2000.



Nesta série faltaram vários outros clássicos – alguns dos mais antigos – que não puderam ser aqui apresentados por inexistência de vídeos ou, a existirem, por escassez de qualidade para uma devida apreciação. Canções como "Bolinha de Papel”, “Trevo de Quatro Folhas”, “Coisa Mais Linda”, “Trenzinho (Trem de Ferro)”; “Saudade Fez Um Samba”, “Amor Certinho”, “Maria Ninguém”, “A Primeira Vez”, “Presente de Natal”, “Só Em Teus Braços”, “O Nosso Amor”, “Se é Tarde Me Perdoa” ou “Você Já Foi à Bahia?” ficaram de fora da série "Bossa Nova 50 anos 50 clássicos". Crónicas que deveriam ter passado na Rádio. Não passaram na Rádio, mas passaram aqui durante cinquenta dias até ao fim deste ano. Textos inicialmente escritos para Rádio adaptados para leitura on-line.




















Hoje, meio-século depois do grande começo, a Bossa Nova continua nova e é permanentemente renovada. Em todos os quadrantes do mundo ela é ouvida, consumida, apreciada e difundida.
As mais célebres composições de Tom Jobim ouvem-se nos mais diferentes locais desde aeroportos, hotéis, metropolitano, salas de espera, videowalls e, para além de tudo o mais, em rádios de todos os países dos cinco continentes.
Incrivelmente fresca e cristalina, a Bossa Nova continua o seu rejuvenescido percurso na cultura brasileira e mundial através de nomes como Bebel Gilberto, Paula Morelenbaum, Bossa Cuca Nova, Suba, Cazuza, Trio Jobim, Vinicius Cantuária, Arto Lindsay, Kátia B, Cibelle, Celso Fonseca, Erlon Chaves, Isabelle Antena e muitos outros.

As composições da Bossa Nova falam de amor, sonhos, desilusão e esperança. Referem a redenção do Homem e da Mulher através do Samba. Procuram a paz e a harmonia da vida. São letras tristes, na sua maioria, mas que buscam quase sempre uma saída airosa com final feliz. Dão largo espaço ao futuro. A simplicidade das intenções juntamente com a sofisticação dos arranjos conferem à Bossa Nova uma beleza única. É por ser uma grande Arte que resiste incólume à passagem do Tempo.

Reportagem da TV brasileira sobre João Gilberto: ver aqui


BOSSA NOVA – 50 ANOS 50 CLÁSSICOS
Para ler, ver e ouvir: 'clicar' sobre o nome das canções

01-CHEGA DE SAUDADE
02-
DESAFINADO
03-SAMBA DE UMA NOTA SÓ
04-O PATO
05-BIM BOM
06-O BARQUINHO
07-
CORCOVADO
08-INSENSATEZ
09-SAUDADE DA BAHIA
10-MANHÃ DE CARNAVAL
11-O AMOR EM PAZ
12-ÁGUAS DE MARÇO
13-
A FELICIDADE
14-ROSA MORENA
15-SÓ DANÇO SAMBA
16-ÁGUA DE BEBER
17-ELA É CARIOCA
18-
DINDI
19-SAMBA DA MINHA TERRA
20-EU VIM DA BAHIA
21-OUTRA VEZ
22-ESTE SEU OLHAR

23-MEDITAÇÃO
24-AQUARELA DO BRASIL
25-MORENA BOCA DE OURO
26-
CARINHOSO
27-SAMBA DO AVIÃO
28-AOS PÉS DA CRUZ
29-LOBO BOBO
30-EU SEI QUE VOU TE AMAR
31-
NÃO VOU PARA CASA
32-É LUXO SÓ
33-VOCÊ VAI VER
34-PARA MACHUCAR MEU CORAÇÃO
35-O GRANDE AMOR
36-
É PRECISO PERDOAR
37-SEM COMPROMISSO / RETRATO EM BRANCO E PRETO / TRISTE
38-
AVARANDADO
39-ESPERANÇA PERDIDA / UM ABRAÇO NO BONFÁ
40-SAMPA / MENINO DO RIO
41-
DORALICE / LÁ VEM A BAIANA
42-VIVO SONHANDO / LOUCO
43-CORDEIRO DE NANÃ / DE CONVERSA EM CONVERSA
44-BRIGAS, NUNCA MAIS / DISCUSSÃO
45-VOCÊ E EU / SE É POR FALTA DE ADEUS
46-RONDA
/
FOTOGRAFIA
47-ACONTECE QUE EU SOU BAIANO / CORAÇÃO VAGABUNDO
48-VOCÊ NÃO SABE AMAR / EU SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA
49-ASTRONAUTA (samba da pergunta) / WAVE /
ISTO AQUI O QUE É
50-GAROTA DE IPANEMA / THE GIRL FROM IPANEMA

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (49)
















Esta canção representa um dos exemplos mais flagrantes da frescura e permanente actualidade da Bossa Nova. Simples, directa, curta. Dois minutos e doze segundos de magia pura. A arte da simplicidade em todo o seu esplendor. “Astronauta” podia ter sido uma canção gravada hoje. Poderia ser a canção que João Gilberto gravaria amanhã ou depois. Gravou-a há quase quatro décadas, e está no álbum homónimo de João Gilberto de 1970. São as palavras e a voz de João que contam toda a história do “Samba da Pergunta”.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



ASTRONAUTA (samba da pergunta)
(Pingarrilho & Marcos Vasconcellos)

Ela agora
Mora só no pensamento
Ou então no firmamento
Em tudo o que no céu viaja
Pode ser um astronauta
Ou ainda um Passarinho
Ou virou um pé-de-vento
Pipa de papel de seda
Ou quem sabe um balãozinho
Pode estar num asteróide
Pode ser a estrela-D’alva
Que daqui se olha
Pode estar morando em Marte
Nunca mais se soube dela
Desapareceu


A onda que se ergueu no mar
A versão vocal definitiva de "Wave" não pertence a João Gilberto, mas sim a Nara Leão, a musa da Bossa Nova. A versão instrumental definitiva de "Wave" pertence ao seu criador, Antonio Carlos Jobim. É dos temas da Bossa Nova com maior número de interpretações. Uma das versões vocais mais conhecidas é a de Caetano Veloso. Ao longo dos anos já se tornou impossível quantificar as versões de um dos clássicos máximos da Bossa Nova.
Aqui apreciamos a interpretação ao vivo de João Gilberto em 1980, na histórica actuação do «Mito» no Brasil depois de quase duas décadas a viver em Nova Iorque.



WAVE
(Tom Jobim)

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho para te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender

Enquanto a noite vem nos envolver


Isto é Brasil
Voltamos às composições de Ary Barroso para assistirmos a uma muito rara actuação de João Gilberto. Rara porque João está bem disposto em palco, nada incomodado com o ruído da multidão à sua frente. E rara, principalmente, porque mestre João fala e interage afavelmente com o público. As composições de Ary Barroso são recorrentes odes ao seu país e à singulariade da cultura do povo Brasileiro. Um dia diferente para uma plateia apreciadora e devota do «Mito». João Gilberto ao vivo em Águas Claras, no ano de 1983.



ISTO AQUI O QUE É
(Ary Barroso)

Isto aqui ô-ô
É um pouquinho de Brasil, iá-iá
Deste Brasil que canta e é feliz
Feliz, feliz
É também um pouco de uma raça
Que não tem medo de fumaça ai, ai
E não se entrega não
Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar
Olha só o remelexo que ela sabe dar
Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar
Olha só o remelexo que ela sabe dar
Morena boa que me faz penar
Põe a sandália de prata
E vem para o samba sambar
Morena boa que me faz penar
Põe a sandália de prata
E vem para o samba sambar

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (48)

João Gilberto ao vivo em mais uma das grandes composições de Dorival Caymmi. Imagens do canal italiano Rai Due no Festival de Jazz de Umbria, Itália, em 1996. Nos primeiros discos de João Gilberto os arranjos do seu violão eram acompanhados por muitos outros instrumentos, nomeadamente instrumentos de cordas, como por exemplo violinos, violoncelos e também instrumentos de sopro, como flautas, tuba e oboé, para além ainda de outros instrumentos como guizos e piano. Ao vivo – salvo raríssimas excepções – João Gilberto apenas se faz acompanhar pelo seu violão. E é o bastante. As cordas da sua viola acústica valem por uma orquestra inteira.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



VOCÊ NÃO SABE AMAR
(Dorival Caymmi)

Você não sabe amar, meu bem
Não sabe o que é o amor
Nunca viveu, nunca sofreu
E quer saber mais que eu
O nosso amor parou aqui
E foi melhor assim
Você esperava e eu também
Que esse fosse seu fim
O nosso amor não teve querida
As coisas boas da vida
E foi melhor para você
E foi também melhor para mim



João Gilberto ao vivo em São Paulo, no ano de 1997. Uma canção escrita por Lamartine Babo e Francisco Matoso em 1941. "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda" originalmente era uma valsa, e João Gilberto dá-lhe o toque final ao mais puro estilo Bossa Nova da maneira como só ele sabe fazer.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



EU SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA
(Lamartine Babo/Francisco Matoso)

Eu sonhei que tu estavas tão linda

Numa festa de raro esplendor
Teu vestido de baile lembro ainda
Era branco, todo branco, meu amor
A orquestra tocava valsas dolentes
Tomei-te aos braços, fomos dançando, ambos silentes
E os pares que rodeavam entre nós
Diziam coisas, trocavam juras a meia voz
Violinos enchiam o ar de emoções
E de desejos, uma centena de corações
Para despertar teu ciúme, tentei flertar alguém
Mas tu não flertaste ninguém
Olhavas só para mim
Vitórias de amor cantei
Mas foi tudo um sonho
Acordei

domingo, 28 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (47)











Não é João que deve a vénia. Somos nós que lha devemos fazer. Por tudo o que fez em cinquenta anos de carreira. Meio-século de Bossa Nova não existiria sem ele. O homem que não dá entrevistas e que raramente sai de casa, mata a solidão abraçado ao violão. Um e outro são inseparáveis. João Gilberto não saberia cantar sem o seu eterno violão. O mesmo já não acontece com Caetano Veloso, aqui em dueto com o seu ídolo João. Caetano Veloso, sem violão, mas com muita devoção ao mestre.
“Acontece Que Sou Baiano”, outra composição de Dorival Caymmi e depois “Coração Vagabundo”, uma canção do próprio Caetano Veloso. Ao vivo em Buenos Aires, no ano 2000.
De novo juntos e em palco. João Gilberto – o mito, o mestre; Caetano Veloso – a figura, o discípulo.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



ACONTECE QUE EU SOU BAIANO
(Dorival Caymmi)


Acontece que eu sou Baiano
Acontece que ela não é
Mas tem um requebrado para o lado
Minha Nossa Senhora
Meu Senhor São José
Tem um requebrado para o lado
Minha Nossa Senhora
E ninguém sabe o que é

Há tanta mulher no mundo
Só não casa quem não quer
Porque é que eu vim de longe
Para gostar dessa mulher

Essa que tem um requebrado para o lado
Minha Nossa Senhora
Meu Senhor São José
Essa que tem um requebrado para o lado
Minha Nossa Senhora
E ninguém sabe o que é

Já plantei na minha porta
Um pézinho de Guiné
Já chamei um pai-de-santo
Para benzer essa mulher



CORAÇÃO VAGABUNDO
(Caetano Veloso)


Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

sábado, 27 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (46)
















Lembram-se da jovem Bebel Gilberto, filha de João, sentada ao lado do pai a cantar a letra feminina de “Chega de Saudade”? Ei-la aqui de novo, muitos anos mais tarde, aos pés do pai. Porém, desta vez sem cantar. Apenas a admirar a arte do progenitor.
João Gilberto nunca foi dado a duetos. Em disco apenas o fez, muito timidamente, com a sua então mulher Miúcha, em 1976. Ao vivo, para além da filha Bebel, João Gilberto aceitou os duetos femininos com Astrud Gilberto, Rita Lee e ainda as participações de, como anteriormente assistimos, cantoras como Gal Costa e Maria Bethânia. Com vozes masculinas, fez duetos com Caetano Veloso e, antes disso, com Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
A timidez de João Gilberto é reconhecida em todas as vertentes da sua vida. O escritor Jorge Amado – que com a sua mulher Zélia Gatai foi padrinho do casamento de João com Miúcha – conta que João Gilberto lhe pedira para interceder junto do então futuro sogro Sérgio Buarque de Hollanda a fim de poder facilitar o matrimónio com a filha e irmã de Chico Buarque.
“Ronda” é um tema antigo da música brasileira. Foi escrita originalmente em 1945 e gravada pela primeira vez em 1953, pela voz da cantora Inezita Barroso. Existe uma grande capacidade das cantoras e cantores brasileiros cantarem como se fossem do sexo oposto, vestindo a pele do outro. “Ronda” é uma canção escrita para uma mulher cantar, mas João Gilberto não ligou ao género e, com sabedoria e autoridade, converteu este tema numa canção totalmente ao estilo Bossa Nova.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



RONDA
(Paulo Vanzolini)


De noite eu rondo a cidade
A te procurar, sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares
Você não está

Volto para casa abatida
Desencantada da vida
O sonho, alegria me dá
Nele você está

Ah, se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, essa busca é inútil
Eu não desistia

Com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei-de-te encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos
Jogando bilhar

E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João


A Bossa e o Jazz
João Gilberto canta "Fotografia", canção de Tom Jobim, no festival de Jazz de Umbria - Itália. Gravadas em 1996, estas imagens foram transmitidas pelo canal italiano de TV Rai Due.
Depois da feliz, frutuosa e de boa memória parceria do saxofonista norte-americano Stan Getz com João Gilberto, Astrud Gilberto e António Carlos Jobim, a Bossa Nova começou a ser identificada como uma forma de Jazz. Nada mais errado. É claro que a massificação da Bossa Nova através de interpretações soberbas de nomes tão enormes e influentes como Ella Fitzgeral ou Frank Sinatra alimentaram o equívoco de chamar Jazz à Bossa Nova que, na realidade, é um género de Samba, naturalmente brasileiro, tropical sim, mas – e acima de tudo – um Samba sofisticado e de refinado bom gosto. Todavia, tornar-se-ia extremamente popular e acessível a todas as classes sociais.
Antonio Carlos Jobim explica de forma categórica a diferença entre Jazz e Bossa Nova e desfaz de vez a confusão.
Ver e ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



FOTOGRAFIA
(Tom Jobim)


Eu, você, nós dois
Aqui neste terraço à beira-mar
O sol já vai caindo e o seu olhar
Parece acompanhar a cor do mar
Você tem que ir embora
A tarde cai
Em cores se desfaz
Escureceu
O sol caiu no mar
E aquela luz
Lá em baixo se acendeu
Você e eu

Eu, você, nós dois
Sozinhos neste bar à meia-luz
E uma grande lua saiu do mar
Parece que este bar já vai fechar
E há sempre uma canção
Para contar
Aquela velha história
De um desejo
Que todas as canções
Têm para contar
E veio aquele beijo
Aquele beijo

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (45)

















A Banda Nova acompanhou António Carlos Jobim por vários anos. Dela fizeram parte o violoncelista Jaques Morelenbaum. Entre as coristas figuraram a filha de Jobim, a segunda mulher, Ana e ainda Paula Morelenbaum. Esta última viria a formar mais tarde, juntamente com Jacques Morelenbaum, mais o filho e o neto de Jobim, o Quarteto Jobim Morelenbaum. Depois, ainda com Jacques Morelenbaum, Paula foi a voz do projecto Sakamoto/Morelenbaum2, que gravaram a obra «Casa». Um magnífico trabalho realizado no interior da própria casa de António Carlos Jobim, versando originais do autor de “Vivo Sonhando” e de tantos outros clássicos da Bossa Nova. O pianista japonês Ryuichi Sakamoto – fã assumidíssimo de Jobim – ainda encontrou impressões digitais do Mestre no piano que utilizou nessas gravações, anos depois da morte de Tom. Paula Morelenbaum tem agora uma carreira a solo onde, sem excepção, recorre ao espólio do melhor da Bossa Nova reinventando-a e prolongando-a no tempo actual.
Aqui fica a interpretação do tema “Você e Eu” da dupla de autores Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, homenageados ao vivo por Tom Jobim e a sua Banda Nova (há actualmente uma outra formação brasileira com o mesmo nome mas que em nada está relacionada com a de Jobim).
João Gilberto gravou este clássico maior da Bossa Nova no dia 14 de Setembro de 1961.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



VOCÊ E EU
(Carlos Lyra/Vinicius de Moraes)


Podem me chamar
E me pedir e me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal
Podem preparar
Milhões de festas ao luar
Que eu não vou ir
Melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir
E também podem me obrigar
Até sorrir, até chorar
E podem mesmo imaginar
O que melhor lhes parecer
Podem espalhar
Que eu estou cansado de viver
E que é uma pena
Para quem me conheceu
Eu sou mais você
E eu




SE É POR FALTA DE ADEUS
(Antonio Carlos Jobim/Dolores Duran)


Se é por falta de adeus
Pode ir embora desde já
Se é por falta de adeus
Não precisa mais ficar
Seus olhos vivem dizendo
O que você teima em querer esconder
A tarde parece que chora
Com pena de ver
Este sonho morrer
Não precisa iludir
Nem fingir e nem chorar
Não precisa dizer
O que eu não devo escutar
Deixe meus olhos vazios
Vazios de sonhos
E dos olhos teus
Não é preciso ficar
Nem querer enganar
Só por falta de adeus

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

19 de Dezembro de 1968












Faz hoje exactamente 40 anos que ficou gravado para a posterioridade um dos muitos e famosos serões em casa de Amália Rodrigues. Desta vez a ocasião foi ainda mais especial, pois Amália recebia a visita do grande poeta da Bossa Nova Vinicius de Moraes que, de passagem por Portugal antes de ir passar o Natal a Roma, visitou Amália na sua casa, na Rua de São Bento em Lisboa. Havia outros nomes ilustres presentes: David Mourão Ferreira, José Carlos Ary dos Santos, Natália Correia e Alain Oulman. Noite de tertúlia, serão de gente que se ama e admira, uma homenagem aos poetas e à poesia. Um caldo de cultura unindo os dois lados de um imenso oceano de séculos. E a noite foi gravada para ser, posteriormente (1970) ser editada em disco, no formato na altura pouco visto entre nós de duplo LP. Em 2001 o disco «Amália/Vinicius» foi reeditado em CD pela EMI-Valentim de Carvalho. Nele se ouvem textos ditos da autoria de, por exemplo, Alexandre O’Neill, José Régio ou Pedro Homem de Mello. Camões é igualmente evocado. E, claro, poesia do próprio Vinicius de Moraes, como por exemplo este lindíssimo “Poema Dos Olhos da Amada” dito pelo próprio Vinicius, autor dos célebres “O Dia da Criação” ou ainda “ Saudades Do Brasil Em Portugal”.
Aconteceu magia naquela noite… uma noite diferente. As noites assim, de tertúlia e saudável comunhão cultural, acabaram.
Já agora, dizer que a Bossa Nova também foi cantada em Portugal por Amália em “Formiguinha Bossa Nova”, com letra de Alexandre O’Neill (não faz parte da gravação «Amália/Vinicius»).
No dia 8 de Março de 2001 transmiti na íntegra na Rádio esta histórica gravação. Tinha liberdade para isso. Também aí as noites eram diferentes… e acabaram.


Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais nocturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus

A cantora brasileira Maria Bethânia fala sobre o poeta Vinicius de Moraes e canta o “Poema Dos Olhos da Amada”. Ver & ouvir aqui

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (44)















Duas canções de duas duplas. “Brigas Nunca Mais” de António Carlos Jobim com Vinicius de Moraes e “Discussão” do mesmo Jobim, com o seu mais antigo parceiro, Newton Mendonça. A parceria de compositores mais famosa da Bossa Nova é a de Jobim com Vinicius, mas antes houve Newton. E foi com Newton Mendonça que Jobim assinou temas tão marcantes da Bossa Nova como “Desafinado”, “Tristeza”, “Samba De Uma Nota Só” ou ainda “Meditação”. Todas estas canções foram gravadas pela voz e violão de João Gilberto. João Gilberto gravou “Brigas Nunca Mais” no dia 23 de Janeiro de 1959 e “Discussão” no dia 30 de Março de 1960.
Aqui vemos a junção das duas composições pela voz da cantora Gal Costa. Canções que falam de paz e reconciliação no amor. Quem não gosta?
Segue-se também um texto assinado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. Veja-se o que um grande poeta escreveu sobre outro grande poeta.


Parece que tudo já foi dito sobre Vinicius. Agora só vale a pena dizer da saudade que ele deixou. Então vamos aguardar o futuro. Daqui a vinte ou trinta anos uma nova geração julgará estética e não emocionalmente o poeta, com uma isenção que nós não somos capazes de ter. Eu acredito que a poesia dele sobreviverá, independente de modas e teorias, porque responde a apelos e necessidades de todo o ser humano.
Vinicius passou a vida preocupado à sua maneira, usando meios próprios de expressão, com o problema do destino e da finalidade do Homem.
Para ele a princípio, essa finalidade consistia na identificação com o absoluto. Depois com o tempo e para sempre, com o amor, que compreende uma vida social e individual, fundada na justiça e na paz. A plena realização do amor era a seu ver a razão da vida. E a poesia era o meio de tomar conhecimento e de espalhar essa verdade.
A sua vida foi a ilustração do seu ideal poético. Ele queria um mundo preparado para o amor, livre de limitações, pressões e humilhações sociais e económicas. Ora, um ideal dessa natureza é certamente eterno. E Vinicius defendeu-o com muita eficácia, quer na poesia pura, quer na poesia em forma de música.


Carlos Drummond de Andrade

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



BRIGAS, NUNCA MAIS
(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)


Chegou, sorriu, venceu depois chorou
Então fui eu quem consolou sua tristeza
Na certeza de que o amor tem dessas fases más
E é bom para fazer as pazes, mas
Depois fui eu quem dela precisou
E ela então me socorreu
E o nosso amor mostrou que veio para ficar
Mais uma vez por toda a vida
Bom é mesmo amar em paz
Brigas nunca mais


DISCUSSÃO
(Tom Jobim/Newton Mendonça)

Se você pretende sustentar opinião
E discutir por discutir
Só para ganhar a discussão
Eu lhe asseguro, pode crer
Que quando fala o coração
Às vezes é melhor perder
Do que ganhar, você vai ver
Já percebi a confusão
Você quer ver prevalecer
A opinião sobre a razão
Não pode ser, não pode ser
Para que trocar o sim por não
Se o resultado é solidão
Em vez de amor, uma saudade
Vai dizer quem tem razão




João Gilberto ao vivo na Bahia em 1978

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (43)











Em 1981 João Gilberto juntou-se a Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia para gravarem o álbum «Brasil». É hoje em dia tido como um dos marcos da música brasileira. Nele cantam-se clássicos de todas as eras da música popular brasileira e, entre eles, este simplicíssimo “Cordeiro de Nanã”. «Brasil» foi o primeiro trabalho que João Gilberto gravou depois de ter regressado dos Estados Unidos, onde viveu entre 1961 e 1980. Uma dúzia de anos mais tarde, o mesmo João Gilberto com Maria Bethânia ao vivo com a participação de Gal Costa cantam “Cordeiro de Nana” na reinauguração do Teatro Castro Alves em Salvador da Bahia, no ano de 1993.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



CORDEIRO DE NANÃ
(Mateus/Dadinho/Heraldo)


Sou de Nanã Nanã
Nanã Nanã ê
Sou de Nanã Nanã
Nanã Nanã ê

O que diz Gal Costa sobre João Gilberto (1997) Ver & ouvir aqui




DE CONVERSA EM CONVERSA
(Isaurinha Garcia)

De conversa em conversa
Você vai arranjando um meio de brigar
De palavra em palavra você está querendo
É nos separar
Parece até que o destino uniu-se com você
Só para me maltratar
Pois cada dia que passa é mais uma tormenta
Que eu deixei ficar
Nosso viver não adianta
É melhor juntarmos nossos trapos
Arrume tudo que é seu
Que vou separando os meus farrapos
Vivendo dessa maneira continuar é besteira
Não adianta não
O que passou é poeira
Deixa de asneira que eu não sou limão

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (42)











Os Cariocas é um conjunto vocal, criado em 1942 por Ismael Neto, e é um dos agrupamentos mais antigos do Brasil. Vai já na sétima formação. Todas as grandes composições da Bossa Nova foram interpretadas pelos Cariocas. O estilo é, por eles, aligeirado. Uma espécie de banda de salão a tocar e interpretar covers. Eles estiveram com João Gilberto na actuação para o filme «Copacabana Palace». Na única vez que Vinicius de Moraes, António Carlos Jobim e João Gilberto tocaram juntos ao vivo, no Au Bon Gourmet (Rio de Janeiro), Os Cariocas estavam com eles.













Essas actuações históricas ficaram conhecidas como “O Encontro”, das quais participaram ainda o conhecido baterista Milton Banana e o baixista Otávio Bailly. Os Cariocas começaram nas festas de bairro no Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro e foram os meninos do rádio. Já depois da prematura morte do seu principal fundador, Ismael Neto (1956), entraram no movimento Bossa Nova desde a primeira hora. A partir dos anos 60, Os Cariocas tornaram-se famosos nas Américas, fazendo digressões de grande sucesso nos Estados Unidos, México e Argentina.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



VIVO SONHANDO
(António Carlos Jobim)


Vivo sonhando, sonhando
Mil horas sem fim
Tempo que vou perguntando
Se gostas de mim
Tempo de falar de estrelas
De um céu, de um mar assim
Falar de um bem que se tem
Mas você não vem, não vem
Você não vindo, não vindo
A vida tem fim
Gente que passa sorrindo
Zombando de mim
E eu a falar em estrelas
Mar amor e luar
Pobre de mim
Que só sei te amar
Você não vindo, não vindo
A vida tem fim Gente que passa sorrindo
Zombando de mim
E eu a falar de estrelas
Mar amor e luar
Pobre de mim que só sei te amar



LOUCO
(Wilson Batista)

Louco, pelas ruas ele andava
O coitado chorava
Transformou-se até num vagabundo
Para ele a vida não valia nada
Para ele a mulher amada
Era seu mundo

Conselhos eu lhe dei
Para ele esquecer
Aquele falso amor
Ele se convenceu
Que ela nunca mereceu
Nem reparou
Sua grande dor
Que louco!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (41)











Dorival Caymmi escreveu esta canção em 1945. João Gilberto Gravou-a no dia 1 de Abril de 1960. É um dos mais antigos clássicos da Bossa Nova. De novo em palco Mestre e Discípulo. Ao vivo em Buenos Aires no ano 2000 - quarenta anos depois de ter gravado esta canção - João Gilberto canta e toca “Doralice” acompanhado por Caetano Veloso. Dorival Caymmi nasceu em 1914 e morreu no Verão deste ano. Entrou na música por acaso e as suas composições pautam-se pela extrema simplicidade. Assinou grandes clássicos, como por exemplo “Saudade da Bahia”, “Saudades de Itapoã” ou “Maracangalha”. Há uma praça em Itapoã com o seu nome e também uma avenida em Salvador da Bahia.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



DORALICE
(Dorival Caymmi/Antonio Almeida)

Doralice eu bem que lhe disse
Amar é tolice
É bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho
Ao som do lamento do meu violão

Doralice eu bem que lhe disse
Olha essa embrulhada
Em que vou me meter
Agora amor
Doralice meu bem
Como é que nos vamos fazer?

Um belo dia você me surgiu
Eu quis fugir mas você insistiu
Alguma coisa bem que andava me avisando
Até parece que eu estava adivinhando

Eu bem que não queria me casar contigo
Bem que não queria enfrentar esse perigo
Doralice
Agora você tem que me dizer
Como é que nós vamos fazer?



LÁ VEM A BAIANA
(Dorival Caymmi)

Lá vem a baiana
De saia rodada, sandália bordada
Vem me convidar para dançar
Mas eu não vou
Lá vem a baiana
Coberta de contas, pisando nas pontas
Achando que eu sou o seu iôiô
Mas eu não vou
Lá vem a baiana
Mostrando os encantos, falando dos santos
Dizendo que é filha do senhor do Bonfim
Mas, para cima de mim?!
Pode jogar seu quebranto que eu não vou
Pode invocar o seu santo que eu não vou
Pode esperar sentada, baiana, que eu não vou
Não vou porque não posso resistir à tentação
Se ela sambar
Eu vou sofrer
Esse diabo sambando é mais mulher
E se eu deixar ela faz o que bem quer
Não vou, não vou, não vou
Nem amarrado porque eu sei
Hum hum hum hum hum hum...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (40)
















Outro original de Caetano Veloso na interpretação de João Gilberto. Está no álbum «João», editado em 1991. É, até à presente data, o último disco de João Gilberto que inclui composições originais. “Sampa” teve direito a um videoclip realizado de raiz para a canção, o que representa outra raridade na longa carreira de meio-século de João Gilberto. Há outras composições do discípulo Caetano Veloso a serem interpretadas pelo mestre João Gilberto. Para além de “Sampa” (em todos os aspectos, uma grande canção), João cantou, por exemplo, “Menino do Rio”, “Desde Que o Samba é Samba”, “Coração Vagabundo” ou “Avarando”.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



SAMPA
(Caetano Veloso)

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que viDe mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende de pressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo Quilombo de Zumbi
E os novos baianos te podem curtir numa boa
E novos baianos passeiam na tua garoa


João Gilberto ao vivo no Brasil em 1980, cantando um clássico de Caetano Veloso com Caetano Veloso a assistir aos espectáculo na plateia. No final, o inevitável aplauso para uma magistral interpretação de João e orquestra.



MENINO DO RIO
(Caetano Veloso)

Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção corpo aberto no espaço
Coração, de eterno flerte
Adoro ver-te
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto para Deus
Proteger-te
O Hawai seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo
Eu desejo o teu desejo
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção
Como um beijo

sábado, 13 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (39)







Billy Blanco, que com António Carlos Jobim co-assina “Esperança Perdida”, é um arquitecto e escritor que sempre se sentiu atraído pela música. “Para Variar”, de 1951, é a sua primeira composição conhecida. Os grandes nomes da Bossa Nova cantaram temas por assinados por Billy Blanco. Entre os intérpretes estão Elizete Cardoso, Dolores Duran, Dick Farney, Elis Regina, Os Cariocas, Baden Powell, António Carlos Jobim e João Gilberto.
João gravou esta canção da dupla Jobim/Blanco no álbum «João Gilberto En México» em 1970.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



ESPERANÇA PERDIDA
(Antonio Carlos Jobim / Billy Blanco)

Eu para você fui mais um

Você foi tudo para mim
Fiz de você o meu céu
Minha razão, meu tudo enfim
As coisas belas da vida
De nada servem porque
Porque não tenho querida
Você


UM ABRAÇO NO BONFÁ
(João Gilberto)

Um instrumental original (primeiramente gravado em 1959) de João Gilberto, dirigido ao seu amigo e companheiro de Bossa Nova, o guitarrista Luiz Bonfá.
Interpretação ao vivo no Palace de São Paulo no dia 13 de Abril de 1994.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (38)












A dada altura, algumas das canções de Caetano Veloso passaram também a ser interpretadas por João Gilberto. O sonho de qualquer discípulo: ver o mestre a trocar de papel com o fã. Aconteceu, certamente, um dos sonhos da vida artística de Caetano Veloso. Não só trabalhou directamente com o seu mestre João no disco «Brasil» (em 1981 com Maria Bethânia e Gilberto Gil) como ainda partilhou com ele o palco, mostrando sempre devoção e admiração. Caetano no palco com João Gilberto é sempre a segunda figura, como acontece aqui nesta interpretação do tema “Avarandado”, ao vivo na Argentina, na cidade de Buenos Aires no ano 2000.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



AVARANDADO
(Caetano Veloso)


Cada palmeira na estrada
Tem uma moça recostada
Uma é minha namorada
E essa estrada vai dar no mar
Cada palma enluarada
Tem que estar quieta, parada
Qualquer canção, quase nada

Vai fazer o sol levantar
Vai fazer o dia nascer
Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (37)












João Gilberto tem esta canção gravada no álbum «Live in Montreux», registado ao vivo no dia 18 de Julho de 1985, no festival de Jazz de Montreux, na Suiça. Nestas imagens vemos uma versão encurtada de “Sem Compromisso” gravada numa sessão informal e sem compromisso por António Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda em 1978. Chico Buarque não pode ser considerado um músico de Bossa Nova, mas a Bossa Nova foi determinante para a sua carreira. Ao contrário de Caetano Veloso e Gilberto Gil – que protagonizaram o contra-movimento denominado de «Tropicalismo» – Buarque manteve-se sempre fiel aos seus mestres João Gilberto, Vinicius de Moraes e, principalmente, António Carlos Jobim, a quem chamava de «Maestro Soberano».
Nesta espécie de ‘Jam Session’ está também presente Miúcha, uma das irmãs de Chico Buarque, que foi a segunda mulher de João Gilberto (depois de Astrud) e que também é a mãe de Bebel Gilberto, filha de ambos (nasceu em 1966).

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



SEM COMPROMISSO
(Geraldo Pereira / Nelson Trigueiro)


Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Para não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba
E eu lhe tiro para dançar
Você me diz:
Não, eu agora tenho par
E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis




RETRATO EM BRANCO E PRETO
(Chico Buarque)

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que, no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com os seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em coleccionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Para lhe dizer que isso é pecado
Trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão
Vou coleccionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração




TRISTE
(Antonio Carlos Jobim)

Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
O sonhador tem que acordar
Tua beleza é um avião
Demais para um pobre coração
Que pára para te ver passar
Só para me maltratar
Triste é viver na solidão

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (36)










João Gilberto, na sua carreira de meio século, cantou e gravou em cinco línguas. Para além da língua mãe – o Português – João cantou em Espanhol, Francês, Italiano e Inglês.
Mas a língua de origem é incomparavelmente maioritária em toda a obra de João Gilberto. A experiência em línguas estrangeiras não foi necessária para internacionalizar a carreira de João Gilberto. Toda a gente que o vai ver e ouvir prefere que o faça em Português.
Em 1996, esta canção “É Preciso Perdoar” foi interpretada, numa magnífica versão bilingue, por Cesária Évora, Caetano Veloso e Ryuichi Sakamoto no disco «Red Hot & Rio». Arrisco a afirmar que a versão em questão supera o original. Coisa muito rara quando o original é um tema interpretado por João Gilberto. Normalmente as suas interpretações são definitivas. João Gilberto gravou “É Preciso Perdoar” no álbum homónimo em 1973.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



É PRECISO PERDOAR
(Carlos Coqueijo/Alcivando Luz)


Madrugada já rompeu
Você vai me abandonar
Eu sinto que o perdão você não mereceu
Eu quis a ilusão agora a dor sou eu
Pobre de quem não entendeu
Que a beleza de amar é se dar
E só querendo mentir nunca soube o que é perder para encontrar
Eu sei... que é preciso perdoar
Foi você quem me ensinou que um homem como eu
Que tem por que chorar
Só sabe o que é sofrer se o pranto se acabar