sábado, 27 de dezembro de 2008

Bossa Nova – 50 Anos 50 Clássicos (46)
















Lembram-se da jovem Bebel Gilberto, filha de João, sentada ao lado do pai a cantar a letra feminina de “Chega de Saudade”? Ei-la aqui de novo, muitos anos mais tarde, aos pés do pai. Porém, desta vez sem cantar. Apenas a admirar a arte do progenitor.
João Gilberto nunca foi dado a duetos. Em disco apenas o fez, muito timidamente, com a sua então mulher Miúcha, em 1976. Ao vivo, para além da filha Bebel, João Gilberto aceitou os duetos femininos com Astrud Gilberto, Rita Lee e ainda as participações de, como anteriormente assistimos, cantoras como Gal Costa e Maria Bethânia. Com vozes masculinas, fez duetos com Caetano Veloso e, antes disso, com Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
A timidez de João Gilberto é reconhecida em todas as vertentes da sua vida. O escritor Jorge Amado – que com a sua mulher Zélia Gatai foi padrinho do casamento de João com Miúcha – conta que João Gilberto lhe pedira para interceder junto do então futuro sogro Sérgio Buarque de Hollanda a fim de poder facilitar o matrimónio com a filha e irmã de Chico Buarque.
“Ronda” é um tema antigo da música brasileira. Foi escrita originalmente em 1945 e gravada pela primeira vez em 1953, pela voz da cantora Inezita Barroso. Existe uma grande capacidade das cantoras e cantores brasileiros cantarem como se fossem do sexo oposto, vestindo a pele do outro. “Ronda” é uma canção escrita para uma mulher cantar, mas João Gilberto não ligou ao género e, com sabedoria e autoridade, converteu este tema numa canção totalmente ao estilo Bossa Nova.

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



RONDA
(Paulo Vanzolini)


De noite eu rondo a cidade
A te procurar, sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares
Você não está

Volto para casa abatida
Desencantada da vida
O sonho, alegria me dá
Nele você está

Ah, se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, essa busca é inútil
Eu não desistia

Com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei-de-te encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos
Jogando bilhar

E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João


A Bossa e o Jazz
João Gilberto canta "Fotografia", canção de Tom Jobim, no festival de Jazz de Umbria - Itália. Gravadas em 1996, estas imagens foram transmitidas pelo canal italiano de TV Rai Due.
Depois da feliz, frutuosa e de boa memória parceria do saxofonista norte-americano Stan Getz com João Gilberto, Astrud Gilberto e António Carlos Jobim, a Bossa Nova começou a ser identificada como uma forma de Jazz. Nada mais errado. É claro que a massificação da Bossa Nova através de interpretações soberbas de nomes tão enormes e influentes como Ella Fitzgeral ou Frank Sinatra alimentaram o equívoco de chamar Jazz à Bossa Nova que, na realidade, é um género de Samba, naturalmente brasileiro, tropical sim, mas – e acima de tudo – um Samba sofisticado e de refinado bom gosto. Todavia, tornar-se-ia extremamente popular e acessível a todas as classes sociais.
Antonio Carlos Jobim explica de forma categórica a diferença entre Jazz e Bossa Nova e desfaz de vez a confusão.
Ver e ouvir aqui

Crónica que deveria estar a passar na Rádio. Não passa na Rádio, mas passa aqui durante cinquenta dias até ao fim do ano. Texto inicialmente escrito para Rádio adaptado para leitura on-line.



FOTOGRAFIA
(Tom Jobim)


Eu, você, nós dois
Aqui neste terraço à beira-mar
O sol já vai caindo e o seu olhar
Parece acompanhar a cor do mar
Você tem que ir embora
A tarde cai
Em cores se desfaz
Escureceu
O sol caiu no mar
E aquela luz
Lá em baixo se acendeu
Você e eu

Eu, você, nós dois
Sozinhos neste bar à meia-luz
E uma grande lua saiu do mar
Parece que este bar já vai fechar
E há sempre uma canção
Para contar
Aquela velha história
De um desejo
Que todas as canções
Têm para contar
E veio aquele beijo
Aquele beijo



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