quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quase Famosos













Porque o melhor da música não tem que ser um segredo escondido; Porque há muita música de qualidade que não conhece a glória dos tops

Terminou Domingo passado a segunda época completa do programa «Quase Famosos» no RCP-Rádio Clube Português.
O programa de Nuno Costa Santos e Pedro Adão e Silva vem da grelha de arranque do reinaugurado RCP (Janeiro 2007). O primeiro horário de emissão de «Quase Famosos» foi à noite, de Sábado para Domingo (00:00/02:00) e actualmente estava a ser transmitido no início das tardes de Domingo (13:00/15:00).
Os primórdios – a nível público – de «Quase Famosos» [«All Most Famous», título traduzido/adaptado retirado do Cinema] vem da Internet através de um blogue: [ http://www.quasefamosos.blogspot.com/ (07.Julho.2004 – 23.Junho.2006)], com a assinatura de seis participantes: Cristóvão Gomes, Eduardo Nogueira Pinto, Francisco Mendes da Silva, Ricardo Esteves Correia, Nuno Costa Santos e Pedro Adão e Silva. Todos eles ligados à musica enquanto consumidores e divulgadores sob a forma de DJ’s. Chegaram a “dar” música no bar «Frágil» em Lisboa.

«Quase Famosos» é um espaço de música alternativa (a frase adjacente ao nome do programa é bem elucidativa) e a sua principal característica é o espírito despretensioso, tanto do material apresentado – que feliz e assumidamente nunca chegará aos Tops de massas – como da apresentação dos autores, sem vozes trinuantes de locutores de FM. A isto ajuda a utilização de um discurso curto mas substancial. Nitidamente a informalidade e o aparente alinhamento aleatório de temas musicais difundidos provocam um agradável efeito surpresa. Claramente em contra-corrente com as playlists dominantes que de surpreendente não têm absolutamente nada.

«Quase Famosos»
Ver alinhamentos dos programas: http://quasefamosos-rcp.blogspot.com/

Domingo passado, Nuno Costa Santos e Pedro Adão e Silva despediram-se desejando boas férias, declarando que também merecem descansar (não se põe isso em causa) mas sem anunciarem o regresso depois das férias. Os autores remeteram a continuidade de escuta para o podcast e downloads (via Internet no site da estação) dos programas já transmitidos pelo RCP. Ficámos sem saber se «Quase Famosos» fará a terceira temporada no RCP. É natural que até os próprios autores não saibam se voltam. O RCP – renovado desde Janeiro de 2007 – é pródigo em incógnitas quanto ao dia de amanhã. Desde a reestruturação operada até hoje, que a grelha de programação sofreu inúmeras alterações. Programas que aparecem e subitamente desaparecem sem chegarem sequer a aquecer o lugar, radicais mudanças de horários de outros tantos programas, conteúdos vários e também – principalmente – de pessoas. Apresentadores, jornalistas, colunistas e convidados pretensamente permanentes ou regulares mudam ou desaparecem constantemente. A instabilidade emocional da estação transparece no dia-a-dia. Os balanços de uma navegação tempestuosa já tiveram piores momentos, mas parece que o RCP ainda está em busca do rumo certo e ainda não encontrou a sua própria voz. A bússola frágil aponta para vários “Nortes”, e nada mais há de severamente prejudicial para uma estação de rádio que a irregularidade. É o caminho mais curto para perder ouvintes ou, no caso do RCP, não os ganhar.
É claro que o RCP tem coisas boas. Algumas muito boas mesmo. «Quase Famosos» é só um exemplo, mas felizmente há mais.








A negação da Rádio na Rádio
Actualmente – isto é, desde há largas semanas – que o RCP estabelece prolongados simultâneos com o canal televisivo por cabo TVI-24. Horas e horas em que o RCP – estação de rádio – retransmite o que o citado canal de TV transmite. Se no caso do programa «Lugar Cativo» a simultaneidade é assumida e devidamente enquadrada, no resto das retransmissões nada faz sentido. Mas o que é isto? No mínimo uma bizarria! A linguagem de TV é totalmente diferente da linguagem da Rádio. As peças de TV são muitas vezes legendadas, têm enquadramento adequado para quem vê e ouve em simultâneo e não para quem apenas ouve. Ouvindo o jornal das 21:00 da TVI-24 [apresentado por Henrique Garcia], por exemplo, não se sabe quem está a narrar a peça, qual a qualidade em que determinada pessoa está a falar, sobre o quê; etc, etc. E não acontece apenas com espaços noticiosos. Ao fim-de-semana à tarde é transmitido em simultâneo com a TV-I 24 os programas «À Rédea Solta» [Pedro Granger com jovens a falarem de assuntos juvenis] e as entrevistas/conversas de Alexandra Lencastre em que não se sabe quem é que está a falar porque simplesmente essa informação vital está a ser fornecida apenas a quem vê! Acresce a este facto a qualidade do som esvaziado que não é de Rádio. Se há buracos por preencher na grelha do RCP, e não se investe em programação cuidada, então ao menos que sejam ocupados por música escolhida por alguém responsável por isso (existe?) em forma de playlist. Goste-se ou não, ainda seria a Rádio na Rádio. O que é totalmente desprovido de sentido é o simultâneo Rádio-TV nestes moldes. Então para que serve a Rádio? Para que serve o RCP nessas horas? Não foi para isto que se fizeram o RCP e a TVI-24, pois não?
A D-E-S-C-O-M-U-N-I-C-A-Ç-Ã-O é total. É a negação da Rádio promovida na própria Rádio e por ela difundida.

http://radioclube.clix.pt/

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Heróis no AR















O que eles dizem (45)

«O que as pessoas que advogam as playlists defendem (na estrita linha das políticas das administrações, claro) é que têm de dar às pessoas o que elas querem. Como sabem o que é? É simples: fazem uns estudos de mercado (com uns universos que deixam muito a desejar) às portas dos supermercados, em que perguntam às pessoas o que elas gostam de ouvir. Sinceramente não acho nada fiável, é uma mentira estatística, onde não cabe um Tom Waits. Porque é preciso ver que o problema das playlists é saber o que lá se põe. Uma playlist pode ser recheada de muitas maneiras».
(...)
«Os formatos são mais baratos. Os ficheiros de áudio são muito pesados, como se sabe, exigem muita memória, mas a memória embarateceu muito. Eu posso hoje em dia programar horas e horas de emissão, e isso custa muito menos dinheiro do que ter pessoas em antena a serem criativas. A questão do custo é fundamental. Mas é preciso estar atento às consequências de só fazer assim».

António Sérgio
Autor do programa «Viriato 25»
RADAR [Lisboa 97.8 FM] 2ª-6ª feira (23:00/01:00)
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«Tudo começou com a palavra Questões. Eu já tinha feito um outro programa, chamado Questões de Família, que girava em torno das óperas – um dia dei por mim a pensar que a maior parte das histórias das óperas (e não só, também as das tragédias, as do teatro, como por exemplo a de Hamlet) eram todas questões de família. Nas óperas de Verdi também é assim, ele tem aliás uma fixação nas questões entre os pais e as filhas. Um dia esse programa acabou e pediram-me que fizesse outro. Pensei então que precisava de um conceito onde coubesse tudo, e foi assim que cheguei à palavra Moral. Mas não a moral dos costumes, antes a moral entendida como ética, sim. Porque todas as questões são questões de moral. A lei cobre muita coisa, mas e os aspectos éticos? Os do BPN estão cobertos pela legalidade, mas estarão pela moral? Uma moral para hoje».
(…)
«Os gestores, os administradores, os banqueiros, os ministros, os políticos, que eram pessoas moralmente insuspeitas, em tipos que conseguiram rebentar com a economia mundial – o que não quer dizer que não houvesse já fraudes e vigarices, mas a verdade é que a escala da questão moral é agora global, tal como o mercado».
(…)
«Quem é que em meados dos anos 1990, quando imaginei o programa, se atrevia a defender a intervenção do Estado na economia? Quem o fizesse era um retrógrado ou um fascista, um intervencionista ou, pior ainda, um comunista, que são os grandes interventores. O mercado era uma coisa sacrossanta, estava no seu esplendor, todos os opinion makers eram liberais. Foi uma vaga, que tudo liberalizou e chegou às relações de trabalho».

Joel Costa
Autor do programa «Questões de Moral»
RDP-Antena2 2ªfeira (13:00/14:00); (23:00/00:00)

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«Sempre que os puristas, ou os fundamentalistas, ficam arreliados, é bom sinal, é sinal de que estamos a deitar muros abaixo, a abrir janelas, porque a música é um bem que não deve ser fechado em clubes privados só para alguns».
(…)
«Hoje em dia, havendo uma oferta de possibilidades que parece infinita, acho que a generalidade das pessoas acaba por se perder. Mas há ainda muita gente que gosta de descobrir coisas novas, que gosta de se deixar surpreender, para além dos formatos e dos tops de vendas. Gente que vai dispensando essa música descartável, a novidade que se ouve durante uma ou duas semanas e que depois desaparece. Isso tem que ver com a maneira como se consome música e com a formação cultural que não há... e que leva a que tantas pessoas não procurem para além daquilo que é dado pelas playlists. Por outro lado, é preciso ver que muita dessa música que passa nas rádios de massas não tem nada que ver com a nossa cultura, e é também por isso que os mais jovens não ouvem rádio. O hip-hop, por exemplo, que é uma das linguagens que mais interessam os adolescentes, praticamente não existe nas rádios. E o hip-hop em português nem se fala, está ausente na maioria delas».
(…)
«A maneira como nós tratamos actualmente a música tem consequências».

Tiago Santos
Autor do programa «Planeta Jazz»
Oxigénio [Lisboa 102.6 FM] sábado (20:00/22:00)


In: «Notícias Magazine» [DN; JN] Domingo, 19 de Julho 2009
por Sarah Adamopoulos; Fotografia de Rui Coutinho
Ler trabalho completo aqui (em linha até dia 25)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A LUGAR COMUM tem a honra de apresentar:

ESTREIA EM PORTUGAL DE PIKELET E JENS LEKMAN




















Com o Verão, a Lugar Comum propõe um pouco de Suécia e um pouco de Austrália em Coimbra e, em co-produção com o Maus Hábitos, no Porto. O Salão Brazil (Coimbra) e o Maus Hábitos (Porto) acolhem a estreia em Portugal da australiana Evelyn Morris PIKELET e do sueco Jens Lekman que se fará acompanhar por Viktor Sjöberg. Depois do período de reserva apenas para associados da Lugar Comum, as reservas encontram-se agora abertas ao público em geral até à lotação prevista da sala.

EVELYN MORRIS [PIKELET] (Austrália) + JENS LEKMAN & Viktor Sjöberg (Suécia)

Sexta-feira, 17 de Julho de 2009 - Salão Brazil – Coimbra
Sábado, 18 de Julho de 2009 - Maus Hábitos, Porto (co-produção Maus Hábitos /Lugar Comum)
















A voz doce de Evelyn Morris marcará presença em ambas noites. A singer songwriter australiana apresentará em solo europeu o seu primeiro longa duração, intitulado simplesmente "Pikelet". Ainda desconhecida no Hemisfério Norte, é no entanto apontada como um dos nomes mais sonantes da actual indie pop australiana, tendo actuado em palco na companhia de nomes como Beirut, Camera Obscura, Sufjan Stevens, Jeffrey Lewis e Jens Lekman.
Oriunda de Melbourne, o seu curioso percurso corre em paralelo ao do projecto Baseball, banda punk / hardcore australiana, na qual assina as funções de baterista. No entanto, é a solo que as suas composições confessionais lhe têm valido assinaláveis críticas da imprensa, tecendo nas cordas da sua guitarra (e por vezes nas teclas de um acordeão) melodias de rara beleza.
















Corria o ano de 2006, quando Jens Lekman colocou à venda através do seu website alguns dos seus instrumentos mais queridos. De imediato, a imprensa antecipou a sua desistência e muitos temeram pelo fim do seu curto percurso. Porém, meses mais tarde, o regresso ao estúdio veio desmentir aquelas notícias, tendo então o autor escandinavo explicado o motivo de tal acto: com o produto da venda comprou uma passagem de avião para San Francisco, indo ao encontro de uma menina por quem se tinha enamorado dias antes. (*)

O relato deste episódio serviria para uma qualquer faixa de Jens Lekman. Do seu registo simultaneamente melancólico e tonto seríamos resgatados por uma secção de metais que nos conduziria através de um refrão contagiante (e por vezes dançável). Pontuada por elementos electrónicos, essa mesma faixa comportaria samples de um qualquer vinil adquirido num mercado de Joanesburgo ou da cópia de Graceland que Jens escutou vezes sem conta ao longo da adolescência. A sua edição passaria então à margem de muitos, num mero EP de quatro faixas, num tributo a Arthur Russell ou Jonathan Richman, distribuída à porta de um dos seus cada vez mais raros concertos.

Jens Lekman é um músico especial. Figura frágil e naïf, ri-se de si próprio e da sua má fortuna, da forma atrapalhada como lida com os afectos e dos gestos daqueles a quem endereça as suas composições. Por vezes, causa-nos até um certo embaraço, de cada vez que escutamos um dos seus poemas. Ora faz-se acompanhar em palco de um mero ukelele como traz consigo uma orquestra formada por seis louras escandinavas, e ainda assim, qualquer que seja a formação, nunca a sua relação com o público se torna distante. Sempre foi cúmplice e próxima... paciente até nos e-mails que faz questão de responder pessoalmente.

Após a edição de Night falls over Kortedalla, em 2007, raras têm sido as ocasiões em que pisou os palcos. Revelando-se avesso a sucessivos meses de estrada, com a pressão de encenar algo celebratório todas as noites, preferiu afastar-se e rascunhar o seu próprio roteiro. Nos últimos meses passou por Seul, Sidney e Los Angeles. Encontramo-lo ao longo das próximas semanas em São Paulo, Curitiba e Buenos Aires. Longe do circuito dos festivais e das grandes salas, no presente Jens pretende apenas viajar, levando as suas composições a novas paragens, fazendo desses ocasionais concertos noites de memorável celebração.

No dia 17 de Julho, no Salão Brazil, em Coimbra e no dia 18 de Julho, no Maus Hábitos, no Porto, Jens Lekman apresentará pela primeira vez as suas composições ao público português, em dois concertos que, segundo o próprio, serão efervescentes e dançáveis.

* o episódio relatado pode ser encontrado na belíssima faixa "I don’t know if she’s worth 900K".

Links:
MySpace de Pikelet
Site de Jens Lekman
MySpace de Viktor Sjöberg

Preço (Concerto em Coimbra)
ASSOCIADOS LUGAR COMUM - €10 (+ oferta de pin)
NORMAL - €12,50 Preço
(Concerto no Porto) NORMAL - €15

Contactos: Lugar Comum
Email: geral@lugarcomum.pt

Atendendo à lotação da sala de Coimbra e à procura já manifestada de entradas para o concerto de Pikelet e Jens Lekman, a Lugar Comum decidiu, excepcionalmente para este evento, seguir orientações específicas para a reserva de entradas que podem ser consultadas no seu site oficial. As reservas para o concerto no Maus Hábitos devem ser feitas por e-mail para geral@maushabitos.com, sendo também possível adquirir bilhetes na FNAC.

LUGAR COMUMassociação de promoção e divulgação cultural

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rádio Nostalgia



A memória
Foi a única canção que realmente gostei de Michael Jackson.
Lembro-me nitidamente da primeira vez que ouvi esta balada na Onda Média da Rádio Comercial, ainda na década de 70, onde o locutor de serviço enalteceu – e muito – as qualidades vocais de Michael Jackson, na altura um adolescente de 17 anos de idade.
E também me lembro da última vez que escutei “One Day in Your Life”, até à publicação aqui deste texto e deste vídeo. Foi numa tarde de Verão, num dia da vida. Oferta de flores brancas ao prenúncio do futuro que, de facto aconteceu mas, contra todas as previsões e desejos acalentados, também morreu numa rua de Benfica às quatro e meia da tarde. O rádio do quarto estava sintonizado na igualmente defunta Rádio Nostalgia (104.3 – Lisboa).
Nesta semana em que Jackson teve o seu funeral físico, a lembrança de uma canção que já atravessou gerações e cujo interprete ainda vai perdurar em muitas memórias.

“One Day in Your Life” foi publicado originalmente no álbum «Forever Michael», editado em 1975.
Nas imagens, uma actuação dos irmãos Jackson Five, também durante o ano de 1975. Os Jackson Five iniciaram a carreira em 1966. Michael estreou-se a solo em 1972.










A vida não pára. O autor do blogue «Queridos Anos 80» volta a organizar uma festa para nostálgicos da música popular anglo-saxónica mais conhecida de várias décadas:

O próximo sábado marca a edição de mais uma festa Geração 70 80 90, no Ar D'Mar, na praia de Canide – Norte, em Vila Nova de Gaia. As Summer Sessions estão aí, com o Verão a dar o mote e os DJs Pedro Mineiro e Tarzanboy a porem toda a gente a dançar.

NOTA: Numa recente sondagem/votação feita por Tarzanboy no seu blogue «Queridos Anos 80», a canção “Billie Jean” foi a mais votada pelos visitantes. Numa lista de 16 temas de Michael Jackson, nenhum é “One Day in Your Life”. E correctamente. Os temas a votação cingem-se apenas à década de 80.