quarta-feira, 31 de outubro de 2007















Ainda o encontro com George Steiner na passada semana na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. (Re)leituras de um dos maiores pensadores contemporâneos. Um orador exímio. Depois de um primeiro contacto na Casa Fernando Pessoa em 2005 (com Steiner a falar em francês), agora um segundo momento (com Steiner a falar em inglês).
Freeman Dyson, menos dotado na oralidade, teve uma prestação mais discreta mas muito concisa. É cientista – dos melhores de sempre, não um ensaísta humanista como Steiner.

Até agora não dei conta que a Rádio se tenha debruçado minimamente sobre o assunto. Duvido que o venha a fazer. Terei perdido alguma coisa de ouvido? De vista, certamente que não.


O que diz George Steiner
Da conferência «A Ciência Terá Limites?»:

Há indícios sérios de que a teoria e prática científicas estão a bater contra paredes, contra limitações que podem vir a revelar-se insuperáveis.

Inúmeras galáxias repousam para lá do horizonte de qualquer potencial observação.

A observação cósmica está a aproximar-se dos seus limites.

As consequências epistemológicas e psicológicas serão incalculáveis.

[Sobre a Teoria das Super Cordas]
As suas conjecturas não chegam sequer a estar erradas.

Em todos os sistemas haverá sempre proposições que não podem ser validadas nem negadas.

Também é custoso verificar que ao mesmo tempo que se gastam milhões de dólares na exploração espacial, morrem milhões de crianças à fome.

Não é tranquilizador pensar que 20 milhões de americanos acreditam que Elvis Presley se levantou dos mortos, ou que financeiros de Wall Street dispõem de móveis dos seus escritórios sob a orientação de especialistas de animismo pseudo-oriental, ou que a senhora Blair usa amuletos contra os raios cósmicos.

Espanta-me que os pobres não se revoltem.
Não percebo como é que ainda não foi assassinado nenhum desses empresários que encerram fábricas e depois se metem nos seus jactos privados para ir passar férias a Barbados.


Depois de Agostinho e Tomás de Aquino, Maradona é o nosso último grande teólogo.


Das entrevistas realizadas pelo filósofo iraniano Ramin Jahanbegloo:

Consagrei toda a minha obra à seguinte questão, à qual o meu nome acabou por ficar associado: como racionalizar a Shoab? Como se pode tocar Schubert à noite, ler Rilke de manhã e torturar ao meio-dia? É mais uma pergunta a que não sou capaz de responder, mas que tomei por suporte de numerosas análises. Arthur Koestler, que é um amigo e um homem por quem tenho uma imensa admiração, estava, quanto ele, seguro de ter a resposta com a sua teoria sobre o desenvolvimento do cérebro moral e sobre a bestialidade de um anticérebro primitivo. Não posso julgar do acerto da teoria porque não sou biólogo, mas Koestler pensava que a única resposta possível vinha da ausência de relação entre os nossos dois córtex.


Do livro «A Ideia de Europa»:

As hastes dos pára-raios têm de ter ligação à terra. Mesmo as ideias mais abstractas, especulativas, têm de estar ancoradas na realidade, na substância das coisas.

terça-feira, 30 de outubro de 2007



















30 de Outubro de 1938
Era, supostamente, apenas um programa de rádio. Mas a adaptação, por Orson Welles, do clássico de H. G. Wells A Guerra dos Mundos, transmitida nos EUA numa emissão especial de Halloween, lançou o pânico entre os ouvintes. Grande parte da emissão era composta por boletins noticiosos, em estilo realista, relatando a invasão da Terra por marcianos. Apesar de no princípio do programa ficar claro que se tratava de uma adaptação, muita gente não ouviu esses momentos iniciais e, segundo a imprensa da época (embora mais tarde se tenha concluído que alguns relatos eram claramente exagerados), muitos tentaram fugir, à medida que os "noticiários" davam novos pormenores sobre a chegada de cada vez mais naves cheias de marcianos, que disparavam gás venenoso para o ar. Na segunda parte da emissão, Orson Welles aparece como o "conhecido astrónomo" Richard Peirson. No final, os marcianos são derrotados por bactérias e germes terrestres, e Welles reaparece como ele próprio para lembrar que a emissão era apenas uma brincadeira. Mas por essa altura já muitos tinham entrado em pânico com descrições como a dos marcianos a incinerar pessoas com raios, ou um "repórter" a sucumbir em directo, vítima do gás venenoso. Apesar de Welles ter sido censurado pela brincadeira, graças a ela a sua fama e popularidade aumentaram extraordinariamente.

IN: «Público»
Terça-feira, 30. Outubro.2007

sábado, 27 de outubro de 2007

Lisboa: Bairro da Graça, Penha de França, uma antiga fábrica de chocolates, extintos cinemas e saudades do Alentejo. Retratos da sociedade portuguesa e do "Portugal javardo". Sonhos e pesadelos de um escritor.

Mário de Carvalho em «Pontos de Fuga»






Mais pormenores em: http://pontosfuga.blogspot.com/
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Mário de Carvalho é, amanhã, o convidado
do terceiro programa «Pontos de Fuga».
Ouvir promoção aqui

Que lugares guardamos na memória? Que importância têm nas nossas vidas?

Às vezes os meus sonhos, de noite, decorrem nesta casa em que eu morei até aos meus 15, 16 anos.

Os Pontos de Fuga de Mário de Carvalho. Este Sábado, os sonhos de um escritor que tem saudades do Alentejo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A Ciência e a Rádio

CONFERÊNCIA GULBENKIAN: A CIÊNCIA TERÁ LIMITES?
“A Ciência terá Limites?” é a interrogação de partida para a Conferência Gulbenkian 2007 que se realiza a 25 e 26 de Outubro, no Auditório 2 da Fundação. A reflexão incidirá sobre a eventual crise ontológica na Ciência: se os progressos científicos têm motivado os avanços da história desde os tempos pré-socráticos, a Ciência estará agora a entrar num beco sem saída devido às limitações técnicas e à incapacidade de comprovar novas teorias? Esta vai ser a questão de fundo presente nas intervenções dos oradores convidados. O professor e ensaísta George Steiner, convidado a conceber esta conferência e João Caraça, director do Serviço de Ciência da Fundação, deixam duas perspectivas em forma de análise introdutória para estes dois dias de reflexão.

















George Steiner está hoje e amanhã em Lisboa. Com ele estará, entre outros intervenientes, Freeman Dyson, um dos maiores físicos teóricos do mundo, responsável por estudos avançados sobre Mecânica Quântica. Dyson tem, ao longo da sua carreira, aflorado os limites da ficção científica.
Para além do tema título da Conferência, vai falar-se da Teoria das Super-Cordas que tanto me tem apaixonado nos últimos tempos (e que continua. Faltam-me centenas de páginas para concluir a leitura da teoria explicativa, da autoria de Edward Witten).
Da revolucionária teoria das cordas não se vai chegar a nenhuma conclusão, como se sabe de ante mão. Nem tão pouco se pretende, em escassos dois dias, reduzi-la à simplicidade de uma fórmula matematicamente composta por beleza, como fizeram Newton (F=ma) ou Einstein (E=mc2). Apesar disso, quão deliciosa é uma conversa sobre o assunto!
Ao Professor Steiner devo construtivas leituras, através de livros tão interessantes como «Errata» ou «A Ideia de Europa» e, principalmente, pela inquietante questão que ele foi um dos primeiros a levantar no século XX: “Como se pode tocar Schubert à noite, ler Rilke de manhã e torturar ao meio-dia?” Sobre esta pergunta, Steiner não encontrou ainda uma resposta cabal.

Sobre os limites da ciência
A introdução de Steiner não deixa dúvidas. Estamos perante uma das novas e mais intrigantes questões da Humanidade:

Desde os filósofos pré-socráticos até ao presente, a civilização ocidental tem sido virtualmente motivada pela confiança axiomática depositada no progresso científico. Podem ter existido erros (a cosmografia de Ptolomeu), momentos de regressão e de frustração, mas o movimento impulsionador da descoberta e do conhecimento científicos parece ter definido o da própria razão. A relação do pensamento humano com os avanços científicos foi fundamental para a antropologia, para os modelos da história humana implícitos em Galileu e Descartes. Foi fundamental para o estabelecimento da modernidade, do positivismo e do conceito de verdade nos trabalhos de Newton, de Darwin e dos seus sucessores. Por sua vez, as teorias científicas subscreveram a evolução constante da tecnologia na qual as sociedades ocidentais alicerçaram o seu poder. Tal como Bacon e Leibniz pregaram, as portas do progresso científico teórico e aplicado estiveram sempre abertas, definindo o horizonte do amanhã.
Será que continua a ser assim? Estarão agora à vista certos limites, certas barreiras às nossas expectativas? A possibilidade de a Teoria das Cordas não poder ser verificada nem falseada implica uma crise ontológica no seio do próprio conceito de ciência. Há motivos intrínsecos que nos levam a acreditar que a cosmologia e a correspondente exploração do microcosmos são as suas fronteiras. Não há nenhum instrumento de observação por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das «paredes douradas» externas ou internas do nosso possível universo local. O conhecimento da consciência tem-se mostrado radicalmente evasivo. Pode muito bem acontecer que as analogias computacionais constituam um beco sem saída. A incompletude e a indeterminação, exemplificadas pelas obras de Gödel e de Heisenberg, são «muros» contra as quais a razão embate em vão. A acentuada diminuição do número de estudantes inscritos em cursos de ciências «duras» no Ocidente é sintomática. Tal como o são as novas ondas de racionalismo, irracionalidade, fundamentalismo e superstição que actualmente se abatem sobre nós.
As conjecturas estarão certamente sempre erradas. A biologia sintética e a biogenética, a biocomputação, o aproveitamento de bactérias em processos industriais prometem avanços espectaculares. A matemática progride, por assim dizer, autonomamente. No entanto, talvez as grandes ciências clássicas e a sua auto-confiança se estejam a desvanecer, o que constituiria uma grande revolução em todos os domínios da consciência e da sociedade.
Esta Conferência pretende explorar algumas das possíveis consequências. O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o voltar a fazer voar.
George Steiner

Esta conferência conta com vários intervenientes nacionais e internacionais, sendo os nomes presentes mais sonantes os de George Steiner e de Freeman Dyson.
Já se sabe e já aqui se disse que as questões científicas (e outras) não têm tido grande atenção por parte dos media tradicionais, entre eles, a Rádio. Apesar de, nos anos mais recentes – desde o ano 2000 – a ciência tenha merecido uma atenção mais próxima por parte da Rádio, mas não de forma contínua, sendo uma abordagem sazonal.
Esta iniciativa da Gulbenkian tem na Rádio um dos seus apoios. Gostaria de ouvir na Rádio ecos desta conferência. Gostaria que Steiner povoasse o éter com a sua visão do mundo em geral e do futuro da ciência em particular. Também Freeman Dyson. Tanto tempo de antena que as rádios dedicam a jogadores de futebol, políticos, porta-vozes de tudo e de nada, gente sem o mínimo de interesse e gente com muitos interesses, e será possível que não arranja um pouco de tempo para dois dos mais brilhantes pensadores ainda vivos? Quero acreditar que os vou ouvir na Rádio. Vou estar atento. Vou estar à espera.

Entretanto, espero também que, avaliando pela excelente qualidade dos intervenientes, esta iniciativa em nada fique a dever à espantosa intervenção de há dez anos do paleontólogo Stephen Jay Gould, na altura falando sobre a Teoria da Evolução.
A conferência «A Ciência Terá Limites?» decorre hoje e amanhã no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa e a entrada é livre.

Ver programa completo. Hoje com George Steiner e amanhã com Freeman Dyson.


We have no more beginnings
George Steiner

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rádio Nostalgia - Outubro 1980/2007








Este começa por ser um texto cujo início não deveria ser assim. Se tudo tivesse corrido como estava previsto, estaria a escrever algo sobre o concerto que esteve para acontecer no passado domingo à noite, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. David Sylvian cancelou de véspera a actuação agendada para dia 21. A digressão mundial “The World Is Everything” já tinha visto as duas datas antecedentes (Moscovo e San Sebastian) serem anuladas por motivo de doença do músico inglês, causada por cansaço. Manteve-se, no entanto, a segunda data prevista para Portugal, no Teatro Circo em Braga, na passada terça-feira. Foi noite de casa cheia. Haverá nova data de Sylvian no CCB, a anunciar em breve, mas que só terá lugar depois das datas a efectuar no Japão, que terminam a 30 deste mês em Tóquio.
David Sylvian é uma das maiores referências musicais chegadas até mim através da Rádio. Ouvi-o pela primeira vez há vinte e sete anos, em Outubro, por ocasião da edição do álbum «Gentleman Takes Polaroids» dos Japan. Não posso precisar a estação radiofónica em que escutei o tema título do álbum da banda de Sylvian, Karn, Jansen e Barbieri (e nesse trabalho ainda com o guitarrista Rob Dean). Mas foi certamente numa destas duas: Rádio Comercial ou Rádio Renascença, ambas nos seus primeiros tempos em FM.
Esse disco de 1980 foi o primeiro contacto que tive com a obra de Sylvian, continuada no ano seguinte com o derradeiro e seminal «Tin Drum». Depois, a carreira a solo de um dos maiores estetas da orgânica pop. Até hoje. Domingo passado seria o segundo concerto do ex-frontman dos Japan em Lisboa. O primeiro foi em Setembro de 2001, no Coliseu dos Recreios (e Porto no dia seguinte). Braga foi agora contemplada com a sua presença e, provavelmente daqui a semanas, novamente Lisboa.
Em mais de trinta anos de carreira, distinguem-se com nitidez as várias vertentes de uma carreira multifacetada. Desde a fase inicial quase irreconhecível, na febre reminiscente do movimento Glam Rock, seguindo-se uma breve passagem Neo-Disco-Sound, desembocando depois na sofisticação primordial da estética visual e sonora, então designada de New Romantic. Estes foram os patamares alcançados por David Sylvian no tempo dos Japan. A solo, nos anos 80, Sylvian estruturou a sua carreira através de um perfil mais sóbrio, estabelecendo vitais parcerias com, por exemplo, Robert Fripp e Holger Czukay, sendo a estreita colaboração com Ryuichi Sakamoto a que mais se destaca. Uma colaboração que começou ainda no tempo dos Japan, precisamente no álbum de 1980, através do tema “Taking Islands In Africa”.
A colaboração da dupla Sylvian/Sakamoto é transversal a todas as fases da carreira a solo de David Sylvian e que ainda hoje perdura.
Nos anos 90, Sylvian experimentou vários registos, incluindo a electrónica e encetou outras novas parcerias, não evitando contudo, alguns hiatos prolongados.
Na primeira década do novo milénio, Sylvian realizou até agora novas experiências e novos projectos. No colectivo, o projecto Nine Horses.
De todas as várias fases na já longa carreira de David Sylvian, a que mais aprecio – apreciando todas as outras – é a da primeira metade de 80. Pela estética, pelo arrojo cenográfico, pela plasticidade, pela arquitectura electrónica muito avançada para a época, pelos arranjos minimalistas e pelo espírito de vanguarda.
Vai daí, eis uma das melhores recordações desses dias futuristas, através do tema “Nightporter” dos Japan, no álbum «Gentleman Takes Polaroids»:

Japan – Nightporter (1980)



Could I ever explain this feeling of love?
It just lingers on
The fear in my heart that keeps telling me
Which way to turn


We'll wander again
Our clothes they are wet
We shy from the rain
Longing to touch all the places we know we can hide
The width of a room that can hold so much pleasure inside


Here am I alone again
A quiet town where life gives in
Here am I just wondering
Nightporters go
Nightporters slip away


I'll watch for a sign
And if I should ever again cross your mind
I'll sit my room and wait until nightlife begins
And catching my breath, we'll both brave the weather again


Here am I alone again
The quiet town where life gives in
Here am I just wondering
Nightporters go
Nightporters slip away



Na noite da Rádio, foram muitas as canções dos Japan que incluí nas emissões de continuidade (antes do aparecimento das playlists).
Esta, a par de “Ghosts”, foi a que seleccionei mais vezes.

[Aqui uma muito recomendável versão ao vivo do mesmo tema].

sábado, 20 de outubro de 2007



Isabel Silvestre é a convidada do segundo programa da série «Pontos de Fuga».
Uma viagem à aldeia de Manhouce, aos cantos e aos encantos de uma terra escondida nas montanhas.

Mais pormenores em: http://pontosfuga.blogspot.com/

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sexta-feira, 19 de outubro de 2007















A tarde na praia. Dia de prolongado Verão ou Outono primaveril. Enquanto houver este Sol e Mar, há que aproveitar. Caminha-se esparsamente no denso areal deserto. Apanham-se conchas raiadas de bom tamanho, miniaturas de búzios e uma estrela-do-mar. Ouve-se o quebranto do mar e nos ouvidos mistura-se a sua eterna voz com sons que, não sendo Rádio, vieram ter a mim através da Rádio. Soa nos auriculares a melodia “Estate” na trompete de Jon Hassel; canta a voz escoante de Julie London em “Theme From a Summer Place”:

There's a summer place
Where it may rain or storm
Yet I'm safe and warm

Astrud Gilberto namorando o castelhano em “Tu Mi Delírio”; João cantando o tropicalíssimo “O Barquinho”:

Dia de luz, festa de sol e um barquinho a deslizar no macio azul do mar

Tudo isso é paz, tudo isso traz
Uma calma de verão, e então
O barquinho vai, e a tardinha cai

Jobim em “Wave”; Toquinho, Vinicius e Marília na imortal “Tarde em Itapoã”:

Um velho calção de banho
O dia para vadiar
Um mar que não tem tamanho
Um arco-íris no ar

Poesia outrora dita na Rádio, na voz de Maria:

Jaz aqui
Na pequena praia extrema
O capitão do fim

Ou Sophia, na voz de Inês:

É um esqueleto branco, o capitão
Branco como as areias
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração

Vem-me à memória que foi num cenário assim que nasceu a ideia de «Pontos de Fuga». Pessoas que falassem dos lugares que mais gostam e porquê. Daria um bom tema para programa de Rádio, pensei. Passaram-se anos até que concretizasse o projecto e o pudesse levar, por fim, às ondas da Rádio. Tudo isso é já passado, como se sabe. Mal vale a pena sublinhar que é preciso sair-se do pragmatismo para dar asas à imaginação. Acho difícil ter-se ideias para coisas novas estando cercado de tarefas ditas urgentes, na sanca quotidiana. O ócio é fundamental para deixar a mente entrar em derivas oníricas. Sonhar acordado. Foi isso que fiz. Foi dessa fuga que nasceram os pontos. Seria possível hoje voltar aos mesmos pontos de partida? Duvido. O ócio, a placidez, são coisas mal vistas e estão seriamente ameaçados. São estados catalogados de ineficiência e inutilidade por parte da sociedade practis urbano-moderna. Não tarda, descritos como defeitos capitais do ser humano deste novel milénio.

Nunca houve tantos seres humanos no planeta como agora, nestes profusos dias de fast living. Nunca houve tanta gente para comunicar e tantos meios para o fazer, na chamada sociedade da informação.
E, afinal, o que é a comunicação hoje em dia na era da comunicação? Perdem-se horas intermináveis em chats de conversação instantânea, em messengers, escrevem-se e consomem-se incontáveis e-mails, enviam-se infinitos SMS’s. Tudo formas de comunicação isolacionista, independentemente da distância física ser de um metro ou de milhares de quilómetros. Gente fechada em casa, sentada sobre o próprio cú, a bater no teclado e com os olhos pregados num ecrã de pixels. Multiplicam-se as conversas cortadas, assuntos deixados a meio, geram-se equívocos infindáveis e desnecessários. Dispensa-se com lividez a troca de olhares, o toque no ombro, a palma da mão ou um sopro primordial de tacto. É a pura expressão do pensamento fragmentado. Não se consegue falar com ninguém mantendo uma conversa com princípio meio e fim. Executam-se pedaços de conversa e nada mais. Não se sai da base mínima comunicacional e não se salta da rama. Os assuntos são levemente e frivolamente abordados, nunca verdadeiramente discutidos ou analisados ao pormenor. Multiplica-se e reproduz-se ad eternum a conversa de circunstância, vazia de conteúdo ou de pertinência. Ninguém tem paciência para uma conversa e, mais grave, para ouvir seja quem for. Temos que interromper e ser interrompidos a todo o momento. A viciante ditadura zapping e hedonismo oco. É esta a comunicação no dealbar do século XXI. Não há espaço para o detalhe, embora George Steiner parafraseasse: Deus está no detalhe, querendo dizer que é a vital importância do pormenor que augura o maior. Todas as grandes coisas nascem de forma pequena. Quando se nasce grande, morre-se cedo. Assim como uma coisa para ser bem feita, precisa de tempo. Dar tempo ao tempo, como apregoou sempre a sabedoria popular. O projecto «Pontos de Fuga» levou três anos a fazer a viagem da praia ao éter.

Mergulho por fim nas altas ondas desta maré viva de Outubro. Direi mesmo, neste verde e revigorante Mar de Outubro. Ao fim de horas na mais natural das hidromassagens, retiro-me com os lábios roxos e a pele franzida, sem a mínima necessidade de falar com ninguém. De nada serviria uma caterva de telemóveis nos momentos seguintes, ou sequer um simples auto-rádio. Um sorriso de contentamento apenas, próprio de quem acaba de sair de uma coisa abstractamente próxima de um orgasmo cósmico.
Chegado a casa, já dentro na noite, eis-me a percorrer e-mails, ouvindo rádio, espreitando telejornais e escrevendo isto mesmo.

A vida em Portugal seria menos difícil se fosse Verão o ano inteiro.

[E foi um dia sem rádio? Claro que não: cinco horas de estúdio em directo, escuta na viagem para a casa de falar e escuta no regresso].


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

PONTOS DE FUGA é uma série de dez emissões, transmitida pela TSF no verão de 2005.Em cada uma das emissões, uma personalidade leva-nos a um ou mais locais que consideram como sendo muito importantes nas suas vidas.

«Pontos de Fuga» não é um programa de entrevistas, mas sim de conversas, encontros e descobertas.

A promoção ao segundo programa pode ser escutada aqui





Que lugares guardamos na memória? Que importância têm nas nossas vidas?
Dez personalidades guiam-nos por lugares que guardaram para sempre.

Manhouce povo antigo fica entre Porto e Viseu
Tem duas pontes romanas que lhe servem de museu

Este sábado, Isabel Silvestre – a voz que canta a terra – numa das aldeias mais portuguesas de Portugal

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Foot radio-TV










Muitos consumidores de media, amantes e entusiastas do futebol, seguem há anos – é de resto um hábito antigo – as transmissões televisivas de jogos ouvindo o relato pela rádio. Acontece agora que muitos desses consumidores estão a perder o hábito. Começou-se a perder o hábito por duas fortes razões. A primeira delas prende-se com o aparecimento de canais fechados na televisão por cabo, que transmitem, há quase dez anos, jogos que a rádio não transmite. A rádio tem, aliás, desinvestido na cobertura de muitos encontros quer dos campeonatos nacionais, quer também das provas internacionais, dando espaço para a TV ganhar nesse terreno de jogo. A grande excepção tem sido o acompanhamento da Selecção Nacional de Futebol, cujos jogos – a pretexto do desígnio de Serviço Público – têm cobertura garantida pela RTP e RDP. O interesse público ou o interesse do público não é a questão que aqui levantada. A questão principal tem a ver com a segunda razão, e que é a diferença do tempo da imagem e do som para quem quer ainda acompanhar as imagens na TV e o relato na rádio. Pode parecer um mero pormenor de somenos, do foro exclusivamente técnico, mas que faz com que muitos ouvintes da rádio optem, por fim, pela televisão. O efeito já todos nós conhecemos. Estamos a ver uma imagem de um momento cujo som já nos chegou aos ouvidos um ou dois segundos antes, ou o contrário, que também acontece. Este efeito de atraso ou antecipação de um momento vivido em directo coloca o espectador/ouvinte numa posição de desconforto, algures entre duas vivências paralelas que deveriam ser uma só e em simultâneo. A questão final de tudo isto é que a rádio sai a perder. Muita gente ainda não pensou nisto ou nem sequer se deu conta do problema, mas em última análise, é a TV que rouba o ouvinte à rádio, apesar de o acompanhamento sonoro da TV ser muito menos aliciante que o da rádio. E esta é mais uma maneira de a Rádio perder ouvintes.
Esta tarde, aconteceu isto mesmo por ocasião do jogo entre as selecções principais de Portugal e do Cazaquistão. As imagens do encontro foram transmitidas em exclusivo para Portugal pela RTP. O mesmo encontro foi relatado pelas estações de rádio RDP-Antena1, Rádio Renascença, TSF e Rádio Clube Português. O relato da Antena1 estava ligeiramente à frente das imagens. Uma diferença mínima, própria da tecnologia. A TSF também. A RR estava incrivelmente sintonizada com as imagens da TV. Sem a mínima diferença (como é possível?) e o RCP com um atraso muito acentuado. É importante frisar que apenas o RCP não estava a transmitir desde o estádio Centrelny Almaty, fazendo o relato a partir da Escola Superior de Comunicação Social, numa emissão especial que não teve o futebol como tema único.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Guerra



















A manhã da rádio de hoje teve um tema central, ao qual apenas os mais distraídos ou contrariadores, passaram ao lado.
A Guerra. A guerra colonial/ultramar/libertação (dependendo das leituras). Este é um tema que volta e meia regressa à baila. Desta vez por causa do início de uma série de 18 capítulos, na RTP1 e com realização de Joaquim Furtado, sobre os treze anos de guerra que Portugal travou em África. Já na segunda-feira, no programa «Prós e Contras» na RTP1, o debate reacendeu-se.
Na RDP-Antena1, Joaquim Furtado esteve à conversa com António Macedo entre as dez e as onze da manhã. Na hora seguinte, o programa «Antena Aberta» não se dedicou ao assunto.
Na TSF, o programa de debate «Fórum» dedicou-se ao tema, também com a participação de Joaquim Furtado, para além dos (sempre presentes) ouvintes.
Ficou mais uma vez provado que este é um assunto ainda muito quente na sociedade portuguesa. É uma ferida aberta, com correntes de opinião muito diversas e contraditórias. A interpretação da história tem várias facetas de pensamento e discernimento. Não é uma matéria consensual. É a passagem do tempo que irá escrever o epílogo desta fase da história de Portugal do século XX. Daqui a outros quarenta anos talvez as coisas estejam mais nítidas e esclarecidas para a sociedade portuguesa. Por enquanto, as visões parcelares predominam, e talvez as reportagens de Joaquim Furtado em «A Guerra» ajudem a alargar horizontes. Visto o primeiro programa – que corajosamente não exclui imagens chocantes – o leque interpretativo de um país a preto e branco começou a alargar-se.











Hoje, terça-feira, ouvimos canções de Adriano Correia de Oliveira em várias rádios, a propósito dos 25 anos da morte do homem que cantou “Menina dos Olhos Tristes”. Não faltaram as elegias, os retratos psicológicos e artísticos justos e abonatórios, não só na Rádio, como também na TV e na imprensa escrita. Hoje usou-se e abusou-se do termo memórias de Adriano, num repetido parafrasear do título de uma obra literária de Marguerite Yourcenar.
Ontem, Adriano não se ouvia na Rádio e amanhã, Adriano voltará ao esquecimento. Certamente que Adriano Correia de Oliveira voltará a figurar nas rádios portuguesas daqui a cinco anos, quando se assinalarem os 30 anos da sua morte. É a próxima oportunidade. Até lá, continua banido, apesar da edição do álbum de homenagem que artistas nacionais lhe dedicaram agora. Adriano, banido das rádios de playlist (nem o serviço público de radiodifusão escapa), e os que agora o cantam, estarão por aí a soar por uma ou duas semanas. Depois, é mais um disco para a prateleira das boas intenções homéricas, cujas acções têm de se pautar pela fugaz brevidade para não se transformarem em profundo incómodo para as ditas leis do mercado que, com as memórias de Adriano só tem um e único pressuposto, que é o de postergar.
É o Portugal a preto e branco.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

VA5


















Vai hoje ser transmitida a emissão comemorativa do quinto aniversário do programa «Vidro Azul» de Ricardo Mariano.
Nesta emissão especial, o autor convidou várias pessoas para participarem, escolhendo e dissertando sobre uma escolha musical estritamente de carácter pessoal.

Passaram 5 anos e o meu sentimento não definha: o deleite e dedicação em cada VA, os amigos que com ele cresceram - sempre a música; o silêncio; o estúdio!Muitos dos que me seguiram de perto nesta viagem vão ser companhia no programa de celebração do 5.º aniversário do VA, dia 15 de Outubro, segunda-feira – arranque da nova grelha da RUC. As duas horas vão trazer outras vozes - todas do dentro - a dizer músicas do coração; no vagar de sempre... nos lugares do costume.Vai-me saber como nunca dizer-vos(lhes): boa noite, bem-vindos!
Ricardo Mariano

Agradeço publicamente o gentil convite de Ricardo, ao qual era impossível resistir.
Alguns dos meus irmãos de éter vão também estar comigo nesta celebração: Francisco Amaral, Pedro Esteves, para além de, é claro, o próprio Ricardo Mariano.
E que os aniversários sejam muitos e repetidos na inexorável passagem do tempo.

RUC – Rádio Universidade Coimbra 107.9
Segunda-feira (23h-01h); repete Sexta-feira (01h-03h).
podcast; blogue.

Mais sobre Ricardo Mariano e o programa «Vidro Azul» na «Rádio Crítica»:
Entrevista a Ricardo Mariano: 18.Fevereiro.2006
Do outro lado do Vidro: 22.Outubro.2006


Eis o primeiro tema a ser transmitido pelo «Vidro Azul» no dia 14 de Outubro de 2002:

Lisa Gerrard & Pieter Bourke "Sacrifice"



Seguem-se os convidados com as respectivas peças musicais e dois nomes/projectos musicais que passaram pelo VA em concerto:

1.ªparte:

1 - Inês Saraiva (RUC) - Dead Combo
2 - Ricardo Carvalho (RUC) - Jens Lekman
3 - Sara Mendes (RUC) - Destroyer
4 - Pedro Sousa (RUC) - Chico Buarque
5 - Novembro (projecto musical lisboeta num tema inédito para esta emissão) - Horizonte Descendente
6 - Pedro Esteves (TSF; lado B) - Joseph Arthur
7 - Pedro Arinto (RUC) - Breeders
8 - João Vaz (RUC) -Tim Buckley

2.ªparte

1 - Inês Patrão (RUC) - Elliott Smith
2 - Francisco Amaral (RCP) - At Swim Two Birds
3 - Francisco Mateus (TSF) - David Sylvian
4 - Álvaro Mendes (RUC) - Keith Fullerton Whitman
5 - Cecília Santos (RUC) - Massive Attack
6 - Diogo Pécurto (ex-Projecto Orfeu - "3 Northern Years", ao vivo no VA de 15 de Novembro de 2004)
7 - Paulo Santos (RUC) - Emilie Simon
8 - Cláudia Duarte (RUC) - Azure Ray

14 Convidados com peças e mais dois momentos com músicos amigos.
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O que eles dizem (26)

[Voltar ao mundo da comunicação social]
Gostaria de ter uma rádio. Estou a negociar com duas de Lisboa. Mas não sei quanto tempo vai demorar a concretizar este negócio.

[Comunicação social portuguesa hoje]
Está apanhada pelos grandes grupos económicos e tem como única missão vender por vender. Por isso os conteúdos estão cada vez mais pobres.

[Futuro para os grandes grupos nacionais]
Vão ser vendidos a grupos estrangeiros.

Carlos Barbosa (Presidente do ACP)
In: Diário de Notícias
Domingo, 14.Outubro.2007

sábado, 13 de outubro de 2007

A partir de hoje está disponível o primeiro programa da série «Pontos de Fuga».

PONTOS DE FUGA é uma série de dez emissões que realizei e que foi transmitida pela TSF no verão de 2005. Em cada uma das emissões, uma personalidade leva-nos a um ou mais locais que consideram como sendo muito importantes nas suas vidas.
Pela primeira vez disponível na Internet e em formato podcast. Aos sábados.





A primeira emissão tem como convidado o Professor José Hermano Saraiva. Este ilustre historiador leva-nos ao interior escurecido do Convento do Beato em Lisboa, onde repousa a família que Camões amou. Uma história de amor, perdida nas brumas da memória. Depois, recordando uma viagem à Serra da Estrela, José Hermano Saraiva conta-nos um tocante episódio ali ocorrido.

Mais pormenores em: http://pontosfuga.blogspot.com/
Ouvir/download/podcast

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

PONTOS DE FUGA é uma série de dez emissões, transmitida pela TSF no verão de 2005.
Em cada uma das emissões, uma personalidade leva-nos a um ou mais locais que consideram como sendo muito importantes nas suas vidas.

A promoção ao primeiro programa pode ser escutada aqui



Que lugares guardamos na memória? Que importância têm nas nossas vidas?
Dez personalidades guiam-nos por lugares que guardaram para sempre.

Eu trouxe-vos a um dos lugares mais tétricos… isto servia de cenário para um filme de terror, onde houvesse fuzilamentos. Isto é uma coisa horrorosa!

No interior de um convento, José Hermano Saraiva leva-nos à última morada da família que Camões amou.


Pela primeira vez disponível na Internet e em formato podcast. Aos sábados.
Mais pormenores em: http://pontosfuga.blogspot.com/
Ouvir/download/podcast

quarta-feira, 10 de outubro de 2007


















Esta quarta-feira prossegue a série de programas «Álbum de Família» na Radar. O álbum «In The Flat Field» dos Bauhaus é a segunda edição (de 50 álbuns) da terceira série do programa realizado por Tiago Castro (iniciada a semana passada, com o álbum «Curtains» dos Tindersticks). Reforço o que já aqui foi escrito há cerca de uma ano sobre a importância de um programa com estas características. Não retiro uma vírgula. Apenas acrescento um reparo em forma de lamento: a fraca disponibilização de programas – incluindo «álbum de Família» – em formato podcast da estação alternativa.

Ao álbum em questão propriamente dito: conheci-o através da Rádio, num dos programas de António Sérgio. O mesmo lobo que agora está apeado da toca. Por falar nisso, não seria a Radar um bom destino para o regresso de António Sérgio ao éter?

«Álbum de Família»
Bauhaus - "In The Flat Field" (1980)
Realização de Tiago Castro

RADAR: Quarta-feira (14.00 /15:00); Domingo (12.00 / 13:00)

Lista da primeira série completa de 50 álbuns de família: 13.Setembro.2006
Lista da segunda série completa de 50 álbuns de família: 19.Setembro.2007

RADAR podcast
RADAR site/emissão on-line
RADAR blogue: www.blogradar.blogspot.com/

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Ecos da manhã da Rádio

A morte de Raúl Durão. Soube esta manhã através da Rádio. O jornalista Raúl Durão não era aquilo a que habitualmente se designa de uma figura da Rádio, embora seja de lá que ele tivesse vindo. A sua imagem está directamente ligada à RTP, mas vem aqui ao caso referir que é dele a voz que mais atrás no tempo me lembro de ouvir na Rádio, em meados dos anos setenta. O acontecimento está tão vincado na minha memória como a chegada de meu pai a casa com um aparelho de rádio, novo em folha, ainda sem FM. A primeira voz que nele soou, assim que foi ligado, foi a de Raúl Durão na RDP.
Na TV foi sempre uma presença até há cinco anos. Um comunicador de excelência, com um poder de improviso inabalável. No serão do dia 4 de Dezembro de 1980, em casa com a família em frente ao televisor, é Raúl Durão que interrompe a normal – e sorumbática – emissão do primeiro canal da RTP para dar a notícia da queda de um avião Cessna em Camarate.
Esta manhã, oiço a notícia da morte de Raúl Durão através da voz de uma querida colega da rádio cuja voz ouvi, pela primeira vez, há quase oito anos. Ficam para sempre gravadas em nós, no interior do peito, no tremor das pernas, a notícia da morte de uma pessoa conhecida ou de quem gostávamos, mesmo que à teledistância. Nunca esquecemos como soubemos.
O tempo, a Rádio, a TV, os media, a vida e a morte. A qualquer hora.

Raul Durão
Lisboa / 09 Setembro 1942 – 09 Outubro 2007

Raul Durão entrou na RTP em 1971, através de um concurso para aquisição de locutores e apresentadores, juntamente com Ana Zanatti, Fernanda Andrade, Maria Elisa, Eládio Clímaco e Fernando Balsinha.