quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Ainda o encontro com George Steiner na passada semana na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. (Re)leituras de um dos maiores pensadores contemporâneos. Um orador exímio. Depois de um primeiro contacto na Casa Fernando Pessoa em 2005 (com Steiner a falar em francês), agora um segundo momento (com Steiner a falar em inglês).
Freeman Dyson, menos dotado na oralidade, teve uma prestação mais discreta mas muito concisa. É cientista – dos melhores de sempre, não um ensaísta humanista como Steiner.
Até agora não dei conta que a Rádio se tenha debruçado minimamente sobre o assunto. Duvido que o venha a fazer. Terei perdido alguma coisa de ouvido? De vista, certamente que não.
O que diz George Steiner
Da conferência «A Ciência Terá Limites?»:
Há indícios sérios de que a teoria e prática científicas estão a bater contra paredes, contra limitações que podem vir a revelar-se insuperáveis.
Inúmeras galáxias repousam para lá do horizonte de qualquer potencial observação.
A observação cósmica está a aproximar-se dos seus limites.
As consequências epistemológicas e psicológicas serão incalculáveis.
[Sobre a Teoria das Super Cordas]
As suas conjecturas não chegam sequer a estar erradas.
Em todos os sistemas haverá sempre proposições que não podem ser validadas nem negadas.
Também é custoso verificar que ao mesmo tempo que se gastam milhões de dólares na exploração espacial, morrem milhões de crianças à fome.
Não é tranquilizador pensar que 20 milhões de americanos acreditam que Elvis Presley se levantou dos mortos, ou que financeiros de Wall Street dispõem de móveis dos seus escritórios sob a orientação de especialistas de animismo pseudo-oriental, ou que a senhora Blair usa amuletos contra os raios cósmicos.
Espanta-me que os pobres não se revoltem.
Não percebo como é que ainda não foi assassinado nenhum desses empresários que encerram fábricas e depois se metem nos seus jactos privados para ir passar férias a Barbados.
Depois de Agostinho e Tomás de Aquino, Maradona é o nosso último grande teólogo.
Das entrevistas realizadas pelo filósofo iraniano Ramin Jahanbegloo:
Consagrei toda a minha obra à seguinte questão, à qual o meu nome acabou por ficar associado: como racionalizar a Shoab? Como se pode tocar Schubert à noite, ler Rilke de manhã e torturar ao meio-dia? É mais uma pergunta a que não sou capaz de responder, mas que tomei por suporte de numerosas análises. Arthur Koestler, que é um amigo e um homem por quem tenho uma imensa admiração, estava, quanto ele, seguro de ter a resposta com a sua teoria sobre o desenvolvimento do cérebro moral e sobre a bestialidade de um anticérebro primitivo. Não posso julgar do acerto da teoria porque não sou biólogo, mas Koestler pensava que a única resposta possível vinha da ausência de relação entre os nossos dois córtex.
Do livro «A Ideia de Europa»:
As hastes dos pára-raios têm de ter ligação à terra. Mesmo as ideias mais abstractas, especulativas, têm de estar ancoradas na realidade, na substância das coisas.