domingo, 25 de dezembro de 2005

O que deveria ser no Natal




















Esta é a banda sonora perfeita para este e qualquer Natal que se preze. A banda sonora que nenhuma rádio portuguesa passou.
As semanas de Natal e Ano Novo nas rádios em geral, não trazem nada de novo. Época estival, de meio gás, chega a ser sofrível a escuta das estações nacionais. O recurso fácil às repetições (das repetições!) não disfarça o desinvestimento produtivo. Especialmente no Natal. O Ano Novo já tem contornos de maior e relativa “normalidade” de funcionamento. Mas o que fazer? Há férias dos ouvintes, há êxodo citadino, há menos ouvintes…mas será que não se podia fugir à previsibilidade atroz das cançonetas de Natal que intoxicam as já de si asfixiantes playlists? Mesmo sendo a música o último reduto das estações, não seria vantajoso ir um pouco mais além e, sem querer ou poder fugir à época natalícia, apresentar um outro perfume sonoro? Esta Banda Sonora é só um exemplo, haveria muito mais a partir daqui, mas valeria a pena?
O povo está nas compras!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

TV on the Radio






















Os programas originalmente pensados e realizados em rádio raramente conseguem a mesma eficácia quando transpostos para outros suportes, nomeadamente para a televisão. "O Homem Que Mordeu o Cão TV" é um exemplo (recente) disso. Não resultou. É uma constatação antiga, mas continua a insistir-se em levar a rádio para a televisão.
O programa de rádio "1001 Escolhas" (já referenciado neste blogue) tem um remake semanal na RTP-N (domingos, 23:00 - 00:00) que, ao contrário da esmagadora maioria dos casos anteriores, resulta em televisão. Resulta porque é diferente da emissão radiofónica. Tem aspectos de complementaridade. Foi reformulado, tem uma outra equipa, embora mantenha a apresentadora Madalena Balça. Mas, apesar da eficácia encontrada na TV, o programa "1001 Escolhas" é melhor na rádio. Tem mais conteúdo, é mais variado, mais rico. A versão para TV é um programa de televisão que mantém o nome, a apresentadora e uma pequena parte do conceito rádio. É por isso uma outra coisa. Não me parece que se devam comparar Rádio e Televisão, mas já que as comparações entre estes dois figurinos parecem - neste caso - inevitáveis, é bom de ver (ouvir) que o formato rádio do programa "1001 Escolhas" sai a ganhar nesta mal disfarçada rivalidade.
Quando era criança, imaginava como seriam os programas de rádio que ouvia se tivessem imagem. Fazia imaginariamente a junção feliz e perfeita da rádio com a televisão...e assim formulava imagens fabulosas, impossíveis, outras mais concretas, outras bizarras, outras abstractas e por aí fora. Era preciso imagem concreta em ecrã de televisor? Claro que não, porque as imagens formuladas através dos sons são infinitamente mais ricas e poderosas que tudo o resto. Era assim, continua a ser assim e continuará a ser assim.
TV on the Radio? Não, obrigado. Só se for em disco!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Sobrevivência

Perante a onda que se agiganta, aí está o início da sobrevivência da rádio tradicional em Portugal:
TSF com seis títulos em "podcast" em 2006

No início de 2006, a TSF vai disponibilizar conteúdos de seis programas para podcasting, revelou Luís Proença, director adjunto da rádio. Rui Pêgo, director de programas da RDP, gostaria de começar a produzir conteúdos específicos para podcasting antes do Verão. A rádio portuguesa está às portas de uma revolução digital que a vai tornar perene."A rádio durante muitos anos foi irrepetível. Com a Internet isso mudou e o podcasting é uma evolução desta questão. Há um código RSS que eu subscrevo no meu programa de gestão de podcasts e a rádio vem ter comigo ao meu computador", considera João Paulo Meneses, jornalista e autor do progra- ma Radio.com na TSF - um dos seis que serão para já disponibilizados em podcasting. Também Sinais, Fado Maior, Pessoal & Transmissível, Mel com Fel e Eureka serão disponibilizados na íntegra pela TSF, no seu site. Também Rui Pêgo, director de programas da RDP, gostaria de contar com conteúdos específicos trabalhados para podcasting antes do Verão, mas ainda "não há nada de muito concreto". Pêgo assume que o podcasting é um "caminho incontornável que a rádio, particularmente a rádio pública, terá que percorrer" e que o projecto é transversal às três rádios - Antena 1, 2 e 3. A inclusão da "rádio digital numa plataforma de difusão é uma das coisas que temos vindo a trabalhar". Pêgo sublinha ainda que a RDP tem uma área multimedia "que cruza com a televisão".O director adjunto da Antena 2, João Almeida, assume que o podcasting "está em estudo" para os "programas de palavra, que os musicais levantam problemas de direitos de autor".João Paulo Meneses acredita que "mais cedo ou mais tarde todas as rádios vão ter, num curto espaço de tempo, grande parte dos conteúdos em podcasting". O jornalista considera mesmo que as rádios vão produzir conteúdos específicos para o meio até porque "o acesso à Internet vai banalizar-se como os frigoríficos e a partir desse momento haverá uma competição pela atenção do ouvinte".
Nos EUA, a rádio pública NPR lançou os podcasts a 31 de Agosto deste ano. Em Novembro, 11 programas da NPR estavam representados no top 100 dos mais descarregados no iTunes.


Marina Almeida
in Diário de Notícias
09/Dezembro/2005


Mas há, pelo menos, um (grande) problema por resolver:

Direitos de autor sem rei nem roque

"Estamos perante a maior discussão dos últimos 20 anos, relativamente aos direitos sobre a música e a imagem." É com estas palavras que Pedro Oliveira, responsável pelo Gabinete do Direito de Autor (GDA), um serviço de apoio técnico do Ministério da Cultura, apresenta a problemática da protecção dos direitos autorais dos conteúdos divulgados para podcast.

Sónia Correia dos Santos
in Diário de Notícias
09/Dezembro/2005

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O que eles dizem (6)

«Os utilizadores dos reprodutores MP3 ouvem música mas, crescentemente, também programas de rádio adaptados ou criados pela internet, um fenómeno chamado podcasting (ou podcast). A origem do termo podcasting sai da junção de iPod (popular reprodutor musical da Apple) e broadcasting (emissão). O podcasting trabalha com arquivos de rádio comprimidos para serem reproduzidos ao gosto do consumidor. O descarregamento nos computadores é automático, bastando que um utilizador instale um qualquer dos programas agregadores (gratuitos e fáceis de localizar na internet). Quando há algum podcast novo disponível, o software descarrega-o directamente, continua a ler-se no texto do jornal de Barcelona. Compara-se o fenómeno do podcast com o dos blogues. Como nestes, há notícias de proximidade, tecnologia, gastronomia, viagens, política, relações, religião. Para evitar questões de copyright, usam-se licenças tipo Creative Commons, que permitem o uso livre dos seus sons. Ainda semelhante aos blogues, o podcast é um fenómeno de baixo para cima, e nele entram novos agentes comunicacionais e que alteram a dinâmica dos media convencionais.»

Rogério Santos
in http://www.industrias-culturais.blogspot.com/
05/Dezembro/2005


Cotonete lança sete rádios dedicadas às presidenciais«Luís Osório, director de informação da Media Capital Rádio (dona do site), explicou que se trata de "um projecto ambicioso", que pretende "fazer serviço público". (...) Já as rádios de cada campanha emitem discursos integrais, excertos de reuniões e notícias específicas. Embora cada candidatura deva fornecer algum material, a organização da emissão está a cargo dos jornalistas. (...) Todas as emissões incluem "cerca de 30% de música", referiram os responsáveis, que não descartaram a hipótese de um modelo deste género vir a ser usado em situações semelhantes. "O paradigma da rádio está a mudar", afirmou o director de multimedia da Media Capital Rádio, Carlos Marques "Antes fazia-se uma rádio para uma vida, agora é possível fazer para nichos e por um período de tempo definido." »

in Diário de Notícias
7 de Dezembro de 2005


A NOVA ANTENA 2«De acordo com as notícias saídas anteontem e ontem, respectivamente no Diário de Notícias e Público, a grelha da Antena 2, a começar em Janeiro próximo, trará muitas novidades. Crescimento do jazz e da música étnica e surgimento da música electrónica, conquanto a oferta principal seja a música clássica, encontram-se entre as apostas.
Registo o aumento do espaço para a música de jazz. O programa único de Manuel Jorge Veloso, Toque de jazz, até alguns meses atrás à quinta-feira de manhã, entre as 10 e as 11 horas, e depois passado para a noite do mesmo dia, terá dois momentos, um ao sábado (novidades discográficas) e outro ao domingo (gravações ao vivo). A que se junta um grande alargamento da colaboração de José Duarte, que passa do diário Cinco minutos de jazz para uma hora de segunda a sexta-feira, Jazz com brancas. Depois da importante edição dos discos de jazz no jornal Público, colecção a acabar em breve, é mais um reconhecimento de alguém que tem feito muito pela divulgação moderna deste tipo de música.
Fico curioso com o programa Argonauta, de Jorge Carnaxide, de música electrónica e de ambiente, à quarta-feira. Será do tipo de alguns programas da rádio Oxigénio? Ou mais erudito? E com o soul, pela mão de Ricardo Saló, ele que já assinou programas de relevo em estações desaparecidas como a XFM e Voxx. E ainda com o boletim informativo (hoje, o Diário de Notícias informa que Paulo Alves Guerra, da TSF, recebeu um convite "desvanecido", mas ainda não tomou decisões).
A ideia de conceder mais espaço à diversidade parece-me apropriada. Retiro duas frases do texto de Marina Almeida (Diário de Notícias): "há muitas manifestações de inteligência que não queremos deixar órfãs" e "abrir portas a novos territórios sem pôr em causa os produtos dominantes", a música clássica (João Almeida, director-adjunto da Antena 2).»

Rogério Santos
in http://www.industrias-culturais.blogspot.com/
08/Dezembro/2005


Antena 2 aposta no fado e reforça jazz, 'soul' e 'world music'
«A Antena 2 vai "abrir as portas a novos territórios". A nova grelha da estação, que começa no primeiro dia de 2006, vai incluir, pela primeira vez, o fado, reforçando o jazz, o soul e na world music. A música clássica continua, no entanto, a dominar a programação, com a Antena 2 a apadrinhar uma temporada de concertos. A Antena 2, que se apresentará no novo ano com renovadas roupagens sonoras, quer cativar "mais inteligência", disse ao DN, João Almeida, director-adjunto da estação. Sem especificar os públicos em questão, apenas lançou "há muitas manifestações de inteligência que não queremos deixar órfãs". Por isso, a nova grelha, que será apresentada hoje, inclui maior diversidade. Um dos destaques Antena 2 para 2006 é Histórias do Fado. Este é o espaço para o fado histórico de Alfredo Marceneiro e da Severa, num registo de reportagem e de documentário. João Almeida, que reserva outras surpresas para a apresentação de hoje, sublinha que "pela primeira vez vai haver fado na Antena 2". Uma hora de jazz por dia no horário dos telejornais José Duarte, autor e apresentador de Cinco Minutos Jazz, passa a ter um programa diário (de segunda a domingo) de uma hora sobre jazz, entre as 20:00 e as 21:00. O soul, a música experimental e "mais arrojada", terá um espaço no segundo canal da rádio pública pela mão de Ricardo Saló. Já a world music entrará diariamente na grelha da estação, à hora de almoço, com João Almeida. A palavra chave é "abrir portas a novos territórios sem pôr em causa os produtos dominantes", a música clássica. Neste âmbito, a estação vai também promover uma temporada de música clássica. Estão previstos 50 concertos, em todo o País, ao longo de todo o ano, para celebrar vários compositores e a assinalar vários "centenários" - como os 250 anos do nascimento de Mozart, os 150 anos da morte de Schumann, entre outros. Também o boletim informativo da Antena 2 foi alvo de atenções e está "mais cosmopolita". João Almeida, entusiasmado, diz que a publicação, agora com um toque do departamento de marketing, está "graficamente deslumbrante". Esta é a primeira grelha da estação depois da entrada de Rui Pêgo para a direcção de programas da rádio pública, no Verão. O reposicionamento dos três canais (Antena 1, Antena 2 e Antena 3) foi já assumido como sendo um dos seus objectivos. Em entrevista ao DN, em Outubro, Pêgo disse que o serviço público "não pode ser uma coisa distante, razoavelmente institucionalizada, um bocadinho cinzenta, com uma arrogância intelectual absurda". No Bareme-Rádio do 3.º trimestre de 2005, a Antena 2 perdeu uma décima em relação ao período homólogo de 2004, com 0,5% de audiência acumulada de véspera.»

Marina Almeida
in Diário de Notícias
Terça-feira /06 de Dezembro de 2005

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Actualizações

Alguns programas na RDP-Antena1 e Antena2 já referenciados neste blogue mudaram recentemente de horário e dias de transmissão. A saber:

PORTO SEM ABRIGO
3ª p/ 4ª feira (00:00/01:00)
Antena1

1001 ESCOLHAS
Sábado (10:00/11:00)
Antena1

A MENINA DANÇA?
Sábado p/ Domingo (00:00/01:00)
Antena1

O AMIGO DA MÚSICA
Domingo (11:00/12:00)
repetição (23:00/00:00)
Antena1

EM SINTONIA COM ANTÓNIO CARTAXO
Domingo (11:00/12:00)
3ª feira (22:00/12:00)
Antena2


Algumas considerações enquanto ouvinte destes programas: A mudança de horário de "Porto Sem Abrigo" não alterou em nada a escuta do programa de Álvaro Costa. O mesmo não posso dizer sobre "A Menina Dança" de José Duarte. O sábado à noite já foi bom para a rádio de autor, mas agora só a prejudica. A incontornável TV e outras distrações nessa noite remetem a rádio para um canto ínfimo. Qualquer programa de rádio nesse período está remetido à escuridão quase absoluta. Já não pode ser uma aposta, muito menos colocando lá um programa com o requinte de "A Menina Dança". Merecia outro horário, ou para compensar, uma repetição.

Minha querida menina: lamento imenso, mas agora não me é possível acompanhá-la mais na dança!
Não se preocupe, menina...Sinatra continua a dançar e a cantar, mas só no meu leitor de
CD' s..."I´m sorry, but it´s true".

Os programas "1001 Escolhas" de Madalena Balça (agora também em formato televisivo na RTP-N) e "O Amigo da Música" de José Nuno Martins ganham com a mudança de horário, embora a concorrência seja maior nesses períodos.
"Em Sintonia com António Cartaxo": quanto a mim, enquanto ouvinte deste programa, perde com a alteração de horário. Às 11:00 da manhã de Domingo é um pouco cedo para esta escuta. Preferia o horário anterior à hora do almoço, mas ganha com a emissão de 3ª feira à noite.

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O que eles dizem (5)

"O artigo 4º do projecto socialista define uma percentagem das cotas para música recente (ler produção do último ano) ressalva fundamental, ou, no actual panorama de nostalgia FM generalizada, correríamos o risco de ouvir o Chico Fininho, ou o Dunas ou os Cavalos de Corrida de hora a hora…
O texto abre ainda excepções justas para programas temáticos., espécie em vias de extinção no éter nacional…
Com estações nacionais a ignorar ostensivamente a música portuguesa, o "apertão" tornou-se pedagógica e culturalmente obrigatório. Mas não basta regular a música portuguesa na rádio para salvar a indústria discográfica nacional nem mesmo o cada vez mais desinteressante éter nacional.
Para a rádio impõe-se cada vez mais uma definição e controle de identidade das frequências, sendo cada vez mais urgente travar a transformação sistemática das estações em Rádios Nostalgia… Legislação igualmente urgente neste capítulo!"

Nuno Galopim
In DN:música, 3 de Junho 2005
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Quando não vai a jeito…

"Introduzir quotas de radiodifusão e cortar a livre escolha de programação de quem emite pode ser um acto de violência contra a liberdade de expressão. Porém, perante o panorama radiofónico nacional, com estações (algumas com grandes audiências) a prestar serviços menos que mínimos à difusão da música portuguesa, era urgente pôr ordem na casa. Pela cultura, pelo património, pela economia."

Nuno Galopim
In DN, 3 de Junho de 2005

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LEI DA RÁDIO (2)

"Tal como no texto socialista, os restantes revelam dificuldade em definir criteriosamente o que é música portuguesa, defendendo o BE, PCP ou CDS que ter letra escrita em português é condição suficiente para se considerar uma canção como música portuguesa. Alerta aqui à clara abertura de flanco à música brasileira (mais que a proveniente da CPLP).
Os responsáveis das estações esfregariam as mãos de contentes e aproveitariam a quota obrigatória de "língua portuguesa" para nos dar doses alargadas de Marisas Montes, Caetanos Velosos ou Chicos Buarques (que nem são musicalmente nada de deitar fora, convenhamos), mas também todo o azeite importado, das Ivetes Sangalos às outras ainda bem piores que por aí andam. Será isto proteger a música portuguesa? Cautela! Não será melhor definição a que aponte simplesmente a música portuguesa como "a que é criada ou executada por cidadãos portugueses ou com residência permanente em Portugal"? Sobre esta última ressalva, recorde-se que Thilo Krasmann ou Mike Sargeant, para citar apenas dois exemplos, não deixaram nunca de fazer música "portuguesa"!

Nuno Galopim,
In DN:música, 10 de Junho 2005
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21 POR CENTO

Num mesmo mês, os políticos portugueses dão o cravo e a ferradura pelo mercado discográfico nacional e, de certa maneira, pela saúde da música que ainda se faz deste lado da fronteira. Os cinco partidos com representação parlamentar conseguiram encontrar alguma transversalidade (não confundir com unanimidade) sobre a necessidade de definir novas normas para a radiodifusão de música portuguesa (mesmo reconhecendo que a aplicação de quotas é horror e atentado à liberdade de expressão, chegámos à triste conclusão que hoje é um "mal necessário" perante o desgoverno do panorama radiofónico nacional). A "normalização" da desordem poderá abrir espaço de exposição a discos que simplesmente acabam ignorados (alguns mesmo depois de elogiados na crítica e/ou eleitos pelas vendas continuam excluídos do éter).
Se por este departamento se esperam agora as cenas dos próximos capítulos, num outro, igualmente urgente para garantir a recuperação de um mercado de música gravada que nos dois últimos anos perdeu 40 por cento da sua facturação (rombo assinalável e assustador), as notícias não podiam ser piores. Ao anunciar uma subida do IVA para 21 por cento, e não incluindo os discos (e fonogramas gravados em geral) entre os artigos "poupados" ao agravamento do imposto, o governo socialista aproxima o machado do pescoço de toda uma indústria que hoje pede pela vida… Num exercício de matemática cultural, podemos dizer que existe hoje uma injustiça de 16 por cento entre as letras (a cultura "séria" para quem pensa política e define impostos) e a música (coisa "divertida" para abanar o capacete e dar à perna). 16 por cento, entenda-se, a separar a taxa de IVA aplicada aos livros (cinco por cento) e o novo valor a cobrar aos discos. Mas os equívocos entre música e políticos não ficam por aqui…

Nuno Galopim,
In DN:música, 17 de Junho de 2005.

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RÁDIO PORTÁTIL

"Não vale a pena bater mais na má rádio que temos. Até porque, acreditando na velha máxima que pede aos incomodados que se mudem, mais não temos a fazer que mudar de frequência rumo aos raros oásis em FM ou, se não houver estações locais minimamente vitaminadas, desligar o aparelho. E antes o silêncio que mais doses do mesmo. Ou, em vez do silêncio, alternativas apelativas.
Primeiro foram as Web rádios em finais de 90. Floresceram pela web, com um sentido de urgência, com vontade de mudar hábitos, de devolver à rádio (mesmo sem éter) o seu velho e fundamental papel de divulgadora de música. Contrariando a sua transformação em mera auxiliar de manutenção de targets para lhes vender mais uma esfregona, um berbequim, um psiché ou umas férias não sei onde… Como todas as operações online de 90, com mais olhos que barriga e carroças à frente dos bois, as web rádios começaram a implodir, a falir. Calaram-se quase todas as que não estão ligadas a grandes grupos empresariais, e o sonho acabou mudo…
Com outra solidez, num tempo de evidente desvio de procura e consumo de música através da Internet, reconhecendo ainda o cada vez mais frequente recurso da blogosfera à difusão de ficheiros áudio seleccionados a gosto, uma nova ideia entrou em cena. Rádio portátil… Ou melhor, programas de rádio, geralmente em ficheiros mp3, para descarregar da web e ouvir, depois, em leitores portáteis.
Chamam-se podcasts, são um fenómeno nascido em 2003 e em franco crescimento desde finais de 2004, reflexo natural da explosão de consumo de leitores portáteis de música digital. O formato permite aos programadores de rádio (profissionais ou amadores) um novo veículo de distribuição de programas que tanto podem ter uma origem em estações hertzianas convencionais, por cabo, ou mesmo ser criações específicas para consumo via Internet.
(…)
A oferta de podcasts é tão vasta quanto a imaginação, de programas sobre cinema a solilóquios sobre o que o autor resolver contar, de jardinagem a economia, das artes à informática.
(…)
Como nos dias de ouro das web rádios, o grande problema que a crescente oferta de podcasting nos coloca é o da triagem, da selecção do que eventualmente nos interessa. Hoje, uma busca pelo termo "podcast" no Google pode dar-nos 61 milhões de entradas… Mas as ofertas de plataformas de programas já disponíveis limitam-se a arrumá-los por grandes temas. Haja espíritos bibliotecários capazes de arrumar a oferta, classificando-a. Haja guias que nos sugiram consultas e descobertas. Haja filtros e destaques. Ou a revolução acabará perdida entre milhões de ficheiros online."

Nuno Galopim,
In DN:música, 7 de Outubro 2005.

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(…)
"A concorrência é saudável, mas eu não sei se o mercado português publicitário permite as rádios muito especializadas. A Renascença não é uma rádio de notícias, é uma rádio que tem notícias.
(…)
Queremos ser uma rádio de causas. Em relação ao aborto, por exemplo. A Renascença é contra a liberalização do aborto, mas na informação ouvimos toda a gente, todos os pontos de vista. Alguns ouvintes até acham estranho. Não somos uma rádio sectária.
(...)
Temos uma aposta diferente das outras rádios. Entre as 23.00 e a meia-noite, oferecemos uma hora de informação. É um horário que não tem grandes audiências de rádio, mas há algumas dezenas de milhares de pessoas que nos ouvem. Resolvemos fazer aqui uma informação mais reflectida, mais pausada. As outras rádios ocupam este espaço com música."

Sarsfield Cabral (Director de Informação do Grupo Renascença)
In DN, 18 Novembro 2005.

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(…)
"O nosso caminho vai claramente diferenciar-se do da TSF. Até porque não somos uma rádio de Informação, somos uma rádio com muita informação, o que é diferente.
(…)
As rádios perderam protagonistas para a televisão e há novas gerações cheias de potencial. Isso ainda não teve consequências, não explodiu essa capacidade dinamizadora. Estou convencido de que está para acontecer, possivelmente nos próximos dois anos.
(…)
Hoje em dia, acho que as generalistas não fazem mais sentido, querem ser tudo, acabam por não ser nada e isso é um problema. As rádios têm de se especializar."

João Barreiros (Director de Informação da RDP)
In DN, 11 Novembro 2005.

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(…)
"As outras rádios tentam aproximar-se do modelo da TSF, porque é um modelo de sucesso.
(…)
As cotas (de música portuguesa) é que não fazem sentido, porque implicam a intervenção do poder legislativo numa área de programação de conteúdos e as rádios devem ser livres de programar os seus conteúdos."

José Fragoso (Director da TSF)
In DN, 4 de Novembro 2005.

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(…)
A rádio não pode apenas queixar-se do grande poder da televisão, não pode armar-se em coitadinha. Até porque o meio rádio tem virtualidades que a TV não tem. Não se pode é esconder.
(…)
A Antena 1 é uma music news e deve assumir-se como tal, não pode variar ao sabor das conveniências. Eu não me permito viver sem ambição, sem a boa ambição, a vontade de fazer mais, melhor e de chegar primeiro. Eu não me contento com a mesma audiência da TSF. Não nego que os nossos adversários são a Renascença e a TSF.
(…)
A Antena 1é muito mais que uma rádio notícias. Se é que a TSF hoje em dia é uma rádio notícias…
(…)
A Antena 1 tem claramente que se posicionar como uma rádio generalista, com uma forte componente noticiosa.
(…)
E estamos a trabalhar internamente para corresponder às novas exigências tecnológicas. Temos o caminho definido e há que aprofundá-lo. Não há qualquer preocupação do tipo «agora, vou fazer isto para combater a TSF ou a Renascença».
(…)
É evidente que há coisas erradas na programação das rádios portuguesas, que estão afuniladas, formatadas todas no mesmo sentido.
(…)
Nesse aspecto, a rádio regrediu muito nos últimos 15 anos. Não há nenhuma dúvida sobre isso. Importaram-se uns consultores internacionais e formataram rádios iguais às de Miami ou Nova Iorque.
(…)
O mercado costuma ser implacável nestas coisas. Quem tomou essas opções vai pagar por elas. Não tenho a menor dúvida. Mais cedo ou mais tarde, isso vai acontecer."

Rui Pego (Director de Programas da RDP)
In DN, 25 Outubro 2005.

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(…)
As rádios da Media Capital não são de informação, são rádios musicais, mas têm bastante informação. É mais difícil fazer boa informação em tempos curtos do que com todo o tempo disponível.
(…)
Mantinha a Antena 1 e privatizava a 2 e a 3. Esta última tem um parque de emissores brutal com tecnologia do melhor que existe. A Antena 2 é o que é: aparece com audiências residuais. Para quê existir se não tem ouvintes? Os serviços da Antena 2 e da Antena 3 podiam ser incluídos na Antena 1.
(…)
De repente, percebeu-se que a música portuguesa não vende, há pouca música portuguesa, logo só há aqui um responsável para dar a volta à questão, que é a rádio. Não é verdade, porque isto começa anteriormente, no preço dos discos, nos impostos, no investimento que se faz na música portuguesa face à música anglo-saxónica. A fórmula ideal, proposta aos grupos parlamentares, era nós darmos espaço publicitário para a promoção dos discos. Isso sim, não nos penalizava."

Pedro Tojal (Administrador da Media Capital Rádios)
In DN 20 Outubro 2005.

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(…)
"Quem não gostaria de ter uma rádio como a TSF? É uma das melhores rádios de informação da Europa. Com uma rede fantástica. Esse é o sonho de quem gosta de rádio.
(…) Já não há espaço para criar uma nova rádio de informação. O investimento para criara notoriedade e credibilidade levaria anos e seria tão alto que seria incomportável. Já existem três estações com boa informação: A TSF, a Antena 1 e a Renascença. É oferta suficiente.
(…)
O estado devia libertar ou arranjar mais uma frequência. Há espaço para mais uma rádio nacional em Portugal. Privatizar a Antena 3 é uma hipótese ou então criar-se uma frequência nova."

Luís Montez (Presidente da Lusocanal)
In DN, 8 Outubro 2005.

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