quinta-feira, 30 de março de 2006

O que é feito deles?

(continuação)

A memória é mesmo assim… selectiva, autónoma. Quando de rajada escrevi o texto anterior senti, por mais de uma vez, que incorrera no erro do esquecimento. Mas não conseguia descobrir “quem”, “onde”. Num texto evocativo, recorrendo unicamente à memória, haveria sempre alguém que iria ficar de fora. Assim foi. E logo ficara de fora aquele que para mim, e sem desprimor de todas as pessoas da rádio que já publicamente mostrei admiração e apreço, considero ser o melhor radialista de todos os tempos (leia-se: do meu tempo enquanto ouvinte). É também por ele, mas não só, que sinto a obrigação de voltar a escrever uma continuação do texto de ontem. São mais dez pessoas, dez nomes. E vou começar exactamente pela grande falha memoranda que enunciei.

Cândido Mota: o mítico “Passageiro da Noite” de que fui ouvinte instável. Sentia desconforto quando ouvia aquilo. Mas ao mesmo tempo o programa tinha grandes momentos de conversa íntima, de grande proximidade entre as partes envolvidas, embora as coisas às vezes resvalassem para o plano escatológico. O “Passageiro da Noite” foi, por vezes, um esplendor de humanidade. Emissor e receptor num só. O programa durou quase dois anos. Era notoriamente um registo de enorme desgaste para o interlocutor da cabina. Até que numa célebre noite (que eu ouvi com grande espanto!) Cândido Mota foi inusitadamente às cordas e disse: “Hoje o passageiro sou eu! Chegou a minha hora!”… e foi por ali fora criticando a administração da Rádio Comercial onde o programa era feito. Veio processo, e foi-se embora o animador. O programa foi suspenso, conhecendo uma segunda (e curta) vida sob a moderação de Teresa Cruz e Orlando Dias Agudo que foram ao tapete em poucos meses.
Voltei a escutá-lo, já na década de 90 na Rádio Comercial, num programa diário de conversa solta durante uma hora com um convidado diferente por dia. Era também na Rádio Comercial, em directo à noite. Chamava-se «Salada com Todos». Não ouvi a derradeira emissão, mas parece ter sido problemática, com novos desabafos críticos do animador, que depois disso, não voltou mais.
Cândido Mota teve muitas e variadas aparições radiofónicas (RCP – Rádio Clube Português; RDP – Antena1 e Antena2; Rádio Comercial). Manteve-se sempre visível nos media, quer fosse na televisão, colaborando com Herman José, quer na gravação de voz off ou em spots de publicidade. Na rádio, é actualmente (há já bons anos) voz de estação da RDS – Rádio Seixal. E é justamente na vila do Seixal que o encontro, ao vivo, todos os anos a apresentar as festividades no dia 25 de Abril.
Cândido Mota, em nome próprio, está fora da rádio há mais de dez anos, mas continua a ser, em minha opinião, o mais versátil, o mais completo radialista que encontrei enquanto ouvinte. Lamento duas coisas: que Cândido Mota tenha saído da rádio tão prematuramente e de eu ainda não ser nascido nos tempos em que ele dava voz – e que voz – ao «Em órbita». Felizmente, em 2001, consegui ouvir alguns excertos dessas prestações no decorrer de uma conversa com Jorge Gil, autor do «Em órbita» e de «À Sombra de Edison». Este último já pude acompanhar como ouvinte, mas durou tão pouco tempo…

Já agora, o que é feito do próprio Jorge Gil, autor dos já citados programas «Em órbita» e «À Sombra de Edison». A última vez que o escutei foi em Março de 2001, Antena2, na derradeira emissão de «Em órbita». Dois anos mais tarde, ainda colhi com surpresa a decisão da Portugal Telecom em acabar com o financiamento dos «Concertos Em órbita» que também eram da responsabilidade de Jorge Gil. Desde então…

E o que é feito de Jorge Pego, autor do histórico “TNT –Todos no Top” na Rádio Comercial (anos 80). Muita gente talvez já não se lembre, mas o “TNT” teve também a locução de Manuela Moura Guedes. De segunda a sexta-feira, das dez da manhã ao meio-dia. Era uma manhã imperdível para mim, alternando com a onda média e as inevitáveis idas à escola. E se era difícil sair de casa àquela hora…
Actualmente ouço-o na Sic-Notícias num programa sobre automóveis, de resto uma área a que sempre esteve ligado.

E o que é feito de António Santos, autor do refinadíssimo programa “As Noites Longas do FM Estéreo” da mesma Comercial de 80. Foram seis anos e audiências que chegavam aos 48%, 49%. Valores absolutamente impensáveis para qualquer rádio portuguesa de hoje. Via António Santos muito na televisão, principalmente nos tempos do “Jornalinho”, na RTP. Nos anos 90, já na segunda metade, foi assessor político e desde então, nem rádio nem televisão.

E o que é feito de Maria José Mauperrin, realizadora do elegantíssimo “Café Concerto” na Rádio Comercial, durante os primeiros cinco anos da década de 80, de segunda a sexta-feira (22:00/00:00). Cultura nas áreas da literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, etc. Com ela também estavam Aníbal Cabrita, Manuela Gomes, Manuel Cintra Ferreira, Victor Consciência e um vasto leque de colaboradores, entre eles, José Duarte, Miguel Esteves Cardoso, Jorge Listopad, Carlos Amaral Dias, Fernando Dacosta, etc

E o que é feito de Graça Vasconcelos, autora do excelentíssimo “Imaginário” na RDP-Antena1, nas noites de 2ª a 6ª (antecedia o “Voo de Pássaro” de Júlio Montenegro). Um género de magazine cultural, dirigido a um público mais exigente. Classe e distinção. Tinha como indicativo um tema de Ry Cooder da banda sonora do filme “Paris Texas” de Wim Wenders.

E o que é feito de Luís Paixão Martins, sabendo-se que actualmente é empresário em publicidade e relações públicas. Há pouco mais de vinte anos era editor das manhãs da Comercial. As melhores manhãs informativas que ouvi na década de 80. Por essa altura fazia dupla com António Macedo. Aquilo é que era…

E o que é feito de Pedro Castelo, também ele uma das vozes do mítico «Em órbita» e o apresentador que mais gostei do programa “24ª Hora” na Rádio Comercial / anos 80. Foi e é um grande conhecedor de automobilismo. Já nem sei quando o ouvi pela última vez a fazer rádio. Já deve ter sido mesmo há muito tempo…

E o que é feito de Jaime Fernandes, radialista em todos os aspectos, autor de programas de música “Country”. Eu não sou grande apreciador do género, com a excepção de alguns artistas, mas apresentados por Jaime Fernandes na rádio eu gostava de muitos mais. Depois de se retirar da produção desses programas, o mesmo acontecendo com outro radialista – Rui Almeida – a Country Music perdeu por completo expressão no nosso país.

E o que é feito de Paulo Coelho, co-autor com Fernanda Ferreira dos célebres “Os Símbolos do Tempo” e “Círculo em FM”. Este último com divulgação de edições do Círculo de leitores, pausando com música (da boa!). O recentemente falecido José Ramos também fez aqui locução.

E o que é feito de Ricardo Camacho, músico e produtor, homem ligado à medicina mas também homem da rádio. Foi co-autor do programa “Pedras Rolantes”, em parceria com Rui Neves e Rui Morrison.

E o que é feito de Miguel Esteves Cardoso, um prodigioso da escrita, da crítica e da criação, que esteve envolvido em tantos projectos eficazes na Rádio Comercial e que agora já nem na TV se vê?


Destas gerações, e destes tempos dourados da rádio em Portugal, há ainda alguns nomes que se mantêm no activo. António Macedo, Aníbal Cabrita, Ricardo Saló, Luís Filipe Barros, António Sérgio, Rui Pego, José Nuno Martins, Francisco Amaral, Sanção Coelho, António Cartaxo, Edite Sombreireiro, José Duarte. Acho que, mesmo assim, com esta “segunda leva” de evocações e memórias, ainda me devo ter esquecido de alguém que, para mim, teve um papel importante na rádio enquanto ouvinte. Penitenciar-me-ei devidamente se disso me der conta.

Como é claramente notório, a parte de leão destas evocações pertencem a um período muito específico da Rádio Comercial, que percorreu toda a década de oitenta em Portugal. E não por acaso. É um facto histórico e inegável que foi a estação de rádio mais importante nessa altura e que muita gente recorda com saudade. Atenção: saudade, não saudosismo.
Para quem, como eu, viveu intensamente como ouvinte esses dias gloriosos da rádio, vai com certeza identificar-se com um texto que estou a ultimar e que aqui publicarei em breve.


quarta-feira, 29 de março de 2006

Paradeiros



















Das quase três décadas que levo enquanto ouvinte de rádio, há programas, há nomes, há pessoas da rádio que me fazem hoje em dia muita falta apesar de, na sua esmagadora maioria, nunca as ter conhecido nem de nunca as ter sequer visto. Através dos seus programas na Rádio, foram grandes companhias para mim. Estavam no meu quarto, sonorizavam as minhas tarefas, suportavam os meus tempos de estudo, iam comigo para a escola, estiveram à mesa comigo em todas as refeições oficiais e oficiosas, dormiram comigo, foram assunto de muitas conversas, obrigaram-me a comprar cassetes, discos de vinil e CD. Levaram-me a adquirir e a ler livros. Fizeram-me ver cinema. Contribuíram para a minha catarse diária (todos nós temos direito a isso!). Recordo aqui algumas dessas pessoas, alguns desses programas. São factos, que tiveram o seu papel formativa e informativamente na minha vida. Cada qual à sua maneira e com graus de intensidade distintos. Mas todos estes que agora recordo, entre muitos outros, foram e são importantes. Neste caso apenas me dirijo, em forma de elegia, a pessoas que estão actualmente “desaparecidas” do mundo da rádio. A mesma Rádio que provoca sonhos e paixões e que destrói carreiras. Umas por opção, outras por força das circunstâncias, outras por razões que desconheço. São pessoas que, por um momento ou mais das suas vidas, dedicaram-se à rádio e a essa “manigância” hoje cada vez mais rara e abstracta que é pensar, esboçar, conceber e realizar um programa de rádio. Pessoas que passaram pela rádio, ou que quiseram que a rádio passasse pelas suas vidas ultrapassando a simples condição de ouvinte, deixando as marcas que deixaram. Povoaram imaginários, influenciaram gostos, afectaram de forma positiva o modus vivendi de quem fez e de quem ouviu.

O que é feito deles?
O que é feito de Júlio Montenegro, radialista veterano do qual eu ouvia sempre o seu magnífico “Voo de Pássaro” na RDP-Antena1, durante os serões de segunda a sexta-feira, das 23:00/01:00, na segunda metade da década de 80. Era um dos raros programas que não perdia de ouvido na cinzenta rádio pública de então. Este voo reluzia!

O que é feito de Pedro Albergaria, mais veterano ainda, autor do inesquecível “Viva o Velho” na Rádio Comercial. Profundo conhecedor de música popular das décadas de 50, 60 e 70, e uma das mais poderosas vozes do então “F.M. Estéreo”. Tinha como indicativo de programa o magnífico instrumental “Albatross”, dos Fleetwood Mac na era do guitarrista Peter Green.

O que é feito de Ana Luz, mulher de voz acolhedora, autora do esplêndido “Suave Encanto” na há muito tempo extinta RGT – Rádio Geste (Lisboa 96.6), dirigida por Henrique Garcia, nas tardes de 2ªa 6ª, das 3 às 5. Tinha um tema de Vangelis como indicativo, Maria João Pires como amiga e alguns instrumentais fetiche, como por exemplo o assombroso (e longo) “Sending Lady Load” tocado ao piano por Martin Duffy, no álbum “Pictorial Jackson Review” dos Felt.
Ana surgiria tempos depois já num registo muito diferente, na Rádio Comercial, julgo que em Onda Média.
A última exposição pública da qual que me tenha dado conta foi como apresentadora, ao lado de Júlio Isidro, num programa de TV de que já nem me lembro o nome. Mas da rádio lembro!

O que é feito de Amílcar Fidélis, homem de voz estranha e enigmática, autor da maravilhosa “Ilha dos Encantos” na primeira etapa da RFM, desde 1987 até 1990. Noites de semana, da meia-noite à uma da manhã. Indie Pop de extremo bom gosto, com rubricas fixas, como por exemplo “O Tesouro da Ilha”, que tinha a voz de Maria Flor Pedroso (?) / Teresa Fernandes (?) no jingle. Também havia alguns convidados esporádicos para se debater sobre determinado tema. Foi assim durante várias emissões no início de 1990 para fazer-se o balanço da década que entretanto acabara. E tão diferente que era a RFM nesses tempos…

O que é feito de Ana Maria Delgado, autora do mais que brilhante programa “UNO”, na RJC – Rádio Jornal do Centro/TSF-Coimbra, entre 1990 e 1993. Um belo tango como genérico, várias vozes convidadas a dizerem textos de poesia ou prosa, música de sonho, tendo como portfolio essencial o que de melhor se encontra no vetusto American Song Book. A frágil e aguda voz da autora só aparecia no fim para desvendar a ficha técnica. Depois da unificação em rede da emissão da TSF/Press para todo o país, e da abolição de uma série de programas de autor, entre eles o “UNO”, nunca mais se soube nada de Ana Maria Delgado. E assim terminou um programa de primor refinado.

O que é feito de Rui Morrison, o grande senhor de “Morrison Hotel” na Rádio Comercial. "Morrison Hotel" é um dos programas de rádio que mais recordo. Era mais do que isso. Era um conceito, uma estética sublimada. Tinha por indicativo um curto e belo instrumental de Tom Waits. “Morrison Hotel” teve duas fases. Gostei de ambas. Só não gostei dos hiatos e do fim. Continuei a acompanhar Rui Morrison na Comercial mesmo quando ele já não estava no seu melhor, assinando um programa inócuo e fraco por comparação com o “Hotel”, chamado “Caixa de Música”, que tinha por indicativo um tema instrumental também de Tom Waits (e Crystal Gayle) na Banda Sonora do filme “One From The Heart”.
Até 1993 não lhe perdi o rasto, mas depois veio a privatização da Rádio Comercial e… lá se foi embora o criador do melhor hotel da rádio portuguesa.
Rui Morrison reapareceu em 1996 na efémera Central (93.7, Lisboa), num horário nocturno a par do Jornalista João Paulo Guerra (nos noticiários). Dedicou-se depois por inteiro à publicidade, ao teatro e ao cinema. Mas a rádio…

O que é feito de Sílvia Alves, autora do saudoso “Sete Mares” na Antena1, na segunda metade dos anos 80. O indicativo do programa era o tema istrumental "Saudade" dos Love And Rockets. Animadora nas extintas XFM e Voxx. O último programa que assinou na rádio tinha o nome de “A Amante do Gerente Comercial” (Voxx). A sua voz grave, profunda, arrastada e meio rouca devem ter inspirado tal designação para essa derradeira (até quando?) passagem pelo mundo da rádio. Desde 2001 que o éter não se deixa arrebatar por uma das vozes femininas mais sedutoras de sempre.

O que é feito de João David Nunes, director do melhor período que conheci na Rádio em Portugal: anos 80 na Doce Mania de Rádio Comercial. Ele era a cara e o corpo desse grande projecto. Um senhor, um aristocrata da rádio, dono de uma das mais singulares vozes da rádio e também da publicidade no nosso país. Ouvia-lhe as leituras e declamações com o ouvido encostado ao transístor. Como quem ouvia uma história de embalar, mas nunca me dava o sono! Actualmente ouvimo-lo em spots de publicidade, mas não a fazer rádio.

O que é feito de Mafalda Lopes da Costa, autora do poético “Do Outro Lado do Espelho”, na TSF, nos primeiros anos da década de 90. A arte do som e da palavra num casamento feliz, porém com um final abrupto e inesperado.
Mafalda reapareceu em finais dos anos 90 justamente na TSF com “Da Capa à Contra Capa”, uma crónica literária diária. Mas depois disso, na rádio, nada!

O que é feito de Rui Neves, autor do mítico “Os Musonautas” na Comercial de 80. Um Jazz man dos hemisférios mais difíceis, que espalhou mistérios vários em programas na XFM e na TSF. Lembram-se de "Jazzosfera" e “O Jazz é Como as Bananas”?
Sei que está – ou esteve até há pouco tempo – ligado ao Centro Cultural de Belém. Mas quanto a rádio…

O que é feito de António Curvelo, especialista em Jazz e Blues, autor de programas de boa memória na TSF. “Quem Tem Medo de Charlie Parker?”, “TSF-Blues” ou “Jazz Avenue” são os exemplos. A partir do verão de 2003, com a reestruturação da Rádio Notícias, calou-se esta voz da rádio. Continua a escrever sobre Jazz e Blues na imprensa, mas não é a mesma coisa.

O que é feito de Isabel Simões, animadora na RJC-Rádio Jornal do Centro/TSF-Coimbra. Em nada ficava a dever às maiores vozes femininas do seu tempo. Foi um privilégio para quem a ouvia nas emissões locais. O resto do país perdeu um bocado em não a poder ter conhecido. A sua última aparição pública, pelo menos que me tenha dado conta, foi num canal de TV por cabo cuja temática era a Saúde.

O que é feito de Fernando Quinas, a voz clássica da publicidade dos “Parodiantes de Lisboa” que escutei diariamente desde 1975 até meados de 80, sempre em onda média. Talvez a primeira voz que me lembro de escutar em rádio. Uma das figuras de renome da Rádio Comercial, que apanhei em diversas apresentações. A última vez que ouvi Fernando Quinas em directo foi em finais de 2002, na também já extinta Rádio Nostalgia. Ele assegurava o período da noite, desde as 20:00 até às 00:00. Actualmente surgem nas emissões de continuidade da Radar frases/provérbios com a sua voz.

O que é feito de Maria Alexandra, uma das animadoras com melhor presença na rádio em Portugal dos últimos 25 anos. Ouvi a sua estreia em directo ao lado de Ruy Castelar, nessa verdadeira instituição que era o “Clube da Manhã” na onda média da Rádio Comercial. Seguiu o seu próprio caminho a solo na rádio e um dia chegou à televisão. Depois desapareceu. Esteve, não sei se ainda está, em spots de publicidade. E se a rádio necessita de uma animadora assim…

O que é feito de Isabel Risques, outra talentosa voz feminina que também teve a sua estreia ao lado de Ruy Castelar. A última vez que a escutei na rádio foi na TSF nas “Estórias de Portugal”. E a última vez que lhe escutei a voz foi em voz off na televisão por cabo.

O que é feito de José La Féria, autor de “O Vapor” nas eternas tardes do «FM Estéreo» da Comercial, das 15:00 às 16:00. O programa que sucedia a “Discoteca” de Adelino Gonçalves e antecedia o “Rock em Stock” de Luís Filipe Barros. Ouvi pela última vez José La Féria na segunda metade dos anos 90 na Onda Média da Comercial, entretanto transformada em Rádio Nacional e já encerrada.

O que é feito do próprio Adelino Gonçalves, autor da ainda hoje muito relembrada “Discoteca”, no início das tardes da Comercial (13:00/15:00). Às vezes eu faltava às aulas para ouvir estas emissões. Conheci imensa música nesta Discoteca. Já na década de 90 recusou ir para a RFM, regressando ao éter em meados dessa década, na NRJ-Rádio Energia. Mas as coisas não parecem ter corrido lá muito bem e desapareceu do mundo da rádio. Não há muito tempo “apanhei-o” numa crónica musical na Rádio Marginal (Lisboa, 98.1).
Continuamos a ouvi-lo em publicidade e em voz off nos canais de TV por cabo.
Mas, e a rádio?


O tempo que tudo transforma, transforma também o nosso temperamento. Cada idade tem os seus prazeres, o seu espírito e os seus hábitos
Nicolas Boileau
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O que eles dizem (14)
A morte do Zé Ramos é uma daquelas coisas impensáveis, embora previsíveis. Impensáveis porque não nos passa(va) pela cabeça deixarmos de vibrar com aquela voz firme, com aquele timbre grave a arrastado, aquele porto de emoções único. Previsível, infelizmente, porque José Ramos tinha tanto de genial como de excessivo. Ele viveu sempre em cima do risco. No tabaco, no álcool, na velocidade, no jogo, na vaidade, mas também na entrega total. A SIC deve-lhe muito. Quem gosta de televisão e de rádio... também.
Nuno Azinheira
in Diário de Notícias
Sábado, 25 Março 2006

sábado, 25 de março de 2006

Questões de Moral




















A verdade de um homem é em primeiro lugar aquilo que ele esconde
André Malraux

Caído em cheio na era do progresso tecnológico, da política-espectáculo, da informação, do economicismo, do consumismo, da compulsiva formatação dos espíritos e da degradação da ideia ancestral de cultura, o cidadão comum continua a interrogar-se quanto à circunstância histórica e moral que lhe cabe viver.

Joel Costa, agent provocateur. Ele corta a direito e não tem papas na língua. Questões tão diferentes e tão igualmente importantes da humanidade foram e são tratadas por ele com o acre da crueza de quem nada teme. Religião, trabalho, direitos, patronato, sociedade, exploração, personagens (Cristo), polémicas várias (Código Da Vinci). O lançador das farpas no fio da navalha que “sofre” de lucidez aguda e que tem força no movimento da denúncia, argúcia no discurso e coragem para chamar «os bois pelos nomes». É assim “Questões de Moral”. É assim Joel Costa, um provocador no que isso tem de melhor. Ou se gosta muito ou se detesta bastante. Se a justiça é cega, então não é justa. “Questões de Moral” não pretende ser moralista ou Joel Costa um qualquer arauto da pureza que ninguém tem. Apenas desmascarar ou desmistificar algumas das inúmeras ilusões negativas que nos poluem a cada momento. Arredam-se cortinas. Faz-se um pouco de luz onde predomina a escuridão. E já não é tarefa pouca.
Quem gosta, sente-se compreendido e aprecia devidamente. Quem não gosta, coma menos! Neste programa não há meias tintas.
Como sou adepto da verdade, sou declaradamente fã deste homem. E você?

O programa Questões de Moral não passa da interrogação (nem sempre ligeira, nem sempre pretenciosa), ditada por uma consciência de cidadão comum em busca do nexo moral escondido no tempo das suas novas angústias, nas instituições, nas pessoas, nas coisas, no presente, no passado – e até na música.
Pode não se gostar. Pode não se concordar. Pode não se aplaudir. Mas pode-se pensar.

Questões de Moral
Escrito e apresentado por Joel Costa
RDP – Antena 2
Quinzenalmente de 2ª p/ 3ª feira (00:00-01:00)
Repete na 2ªfeira intercalar (10:00/11:00)

P.S: Senhor Joel, e para quando uma emissão sobre “O Mito da Mulher Casada”?

quinta-feira, 23 de março de 2006

Repetições


























Já me têm perguntado se não consumo mais meios de comunicação social para além da Rádio. Bom, demonstrei já por diversas vezes neste blogue que consumo jornais e… televisão. Veja-se as citações de jornais diários, como por exemplo o “Diário de Notícias”, “Público”, ou semanários como o “Expresso” ou o “Blitz”. Também consumo televisão, mas muito mais selectivamente do que a Rádio. Estou muito mais disponível para ouvir rádio do que ver TV. E, verdade seja dita, a televisão portuguesa também não ajuda muito. Hoje em dia quem não tiver televisão por cabo está fora do mundo. Não quero dizer que a rádio actualmente seja muito mais apelativa, mas para mim está em primeiro lugar.
Dos programas televisivos que procuro não perder de vista estão estes: “60 Minutos”; “Eixo do Mal”; “Toda a Verdade”; “Expresso da Meia-noite” [SIC-Notícias]; “O Belo e a Consolação” [SIC]; “1001 Escolhas [RTP-N]; “A Alma e a Gente”; "Clube de Jornalistas"; “Vidas” [2]; “Prós e Contras” [RTP1] e mais alguns com menos regularidade (documentários, biografias, debates especiais, jogos importantes de futebol – sim, gosto de futebol! E filmes só no TCM). E como é possível para mim acompanhar estes programas todos com regularidade, quase sempre sem perder nenhum? Porque os canais de TV os repetem. E assim, se não os “apanho” numa altura, “apanho-os” noutra. Neste conjunto de exemplos vindos do mundo televisivo há programas que repetem mais do que duas vezes, sempre em horários diferentes.
Isto para dizer que a rádio repete menos que a televisão. Refiro-me a programas específicos e, nomeadamente, aos de palavra. Sim, porque as playlists são repetidas (repetitivas) durante semanas, meses, anos…
As repetições são uma vantagem subvalorizada pela rádio. Na TV a repetição é, em princípio, mais penosa. Porque não só repete o som como as imagens que o acompanham. É sempre igual, no seu todo. Uma repetição radiofónica é sempre diferente, e não nos impede de realizar tarefas paralelas, como conduzir, por exemplo. Mas em Portugal, a TV repete mais que a rádio. Esta, por sua vez, “gasta” a antena com mais do mesmo (playlist) quando poderia estar a repetir um programa ou uma crónica bem mais interessantes. Há estações que o fazem (TSF; Antena1; RCP). Mas não é o bastante. E o recurso à audição pelos arquivos na Internet (e já agora, por Podcast) não serve de desculpa. Ainda há muita gente sem acesso.
No caso das repetições por rádio, quem ouviu e gostou, volta a ouvir e a gostar. Quem não ouviu, ouve pela primeira vez. Assim atingem-se mais ouvintes e o produto repetido é melhor rentabilizado no seu objectivo primordial: a escuta.

«E você? Ainda está aí?»

«…então fique para ouvir (…) nas manhãs da Comercial!». Era muitas vezes esta a frase utilizada por José Ramos nas saudosas “Manhãs da Comercial” nos anos 80. Eram os tempos da Doce Mania de Rádio. Como ouvinte, acompanhei o arranque destas manhãs da Comercial. Estávamos em 1985, e o horário 07:00-10:00 de segunda a sexta-feira era repartido nos dias entre José Ramos e Herman José. Depois de algum tempo assim, Herman deixou as manhãs da Comercial, ficando estas entregues por inteiro a José Ramos. Foram anos gloriosos esses, em que eu ainda não tinha a má relação que tenho hoje com esse fenómeno natural e estranho a que chamam manhãs. Emissões de bom humor. José Ramos fazia-as com grande entrega, grande gosto. Isso era claramente visível. Era livre de dizer o que muito bem quisesse. Escolhia as músicas que queria. Era um verdadeiro animador de rádio, pleno de liberdade editorial. Depois de uma pausa, já no início dos anos 90, aconteceu o regresso de José Ramos às manhãs da Comercial. Mas já não eram a mesma coisa. Talvez eu sinta isto por deformação enquanto ouvinte, por já estar a consumir outro tipo de rádio nessa altura. Ou então era a própria Rádio em Portugal que já tinha mudado.
A partir de 1993, com a privatização da Rádio Comercial, deixou de haver espaço para um radialista das características “clássicas” de José Ramos. E o resultado está à vista de todos. Sem liberdade total, não queria continuar na rádio. É claro que ele não precisava da rádio para nada, muito pelo contrário. Havia a imensa publicidade que gravava, havia a voz off na SIC e outras coisas, entre elas a paixão pelos automóveis.
Mas nem só de pão vive o homem. José Ramos estava afastado do que mais gostava – a Rádio – porque não aceitou deixar de ser livre. E ele sentia esse afastamento com desgosto. Ele próprio o disse em Junho último, quando foi convidado no programa “Prova Oral” da Antena3. “Não aceito regressar à rádio sem ter a garantia de ter um programa só meu onde possa fazer o que quiser”, disse. E sobre o actual estado de coisas na radiodifusão em Portugal, afirmou: “Esses consultores estrangeiros que contratam para formatar as nossas rádios só cá vêm para mamar uma pipa de massa. Não percebem nada disto!”. José Ramos foi convidado nessa emissão da Antena3 a propósito do livro autobiográfico que então lançara intitulado “NO AR – Live on Paper”.
Desde há poucos meses, José Ramos tinha uma crónica semanal na RDP-Antena1, no painel "Os Reis da Rádio", do qual também fazem parte outros nomes grandes da história da rádio portuguesa dos últimos trinta anos.

E você? Ainda está aí?

Foi nas manhãs da Comercial, na voz de José Ramos, que Portugal ficou a saber em primeira mão do trágico acidente de aviação que vitimou o então presidente moçambicano Samora Machel. Os noticiários eram de meia em meia hora, editados pelo jornalista Jorge Moreira. Uma inovação na altura, e, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, foi um figurino inaugurado pelas manhãs da Rádio Comercial. Ainda não existia a TSF.
Foi também nas manhãs de rádio com José Ramos que conheci algumas das canções que ainda hoje me acompanham. “Bound For Glory” e "Once An Angel" do álbum “Old Ways” de Neil Young, “Okie From Muskogee” de Merle Haggard ao vivo num espectáculo para as tropas no Vietname; a incrível versão de palco do tema “Jersey Girl” de Tom Waits por Bruce Springsteen e a E Street Band; O álbum homónimo de Rui Veloso em 1986; a estreia nacional da canção “Pássaros do Sul” de Mafalda Veiga; dois instrumentais: um da banda sonora do filme “Cal”, composta por Mark Knopfler e um outro da autoria do guitarrista português Francis. E sempre que ouvia estas canções associava-as ao José Ramos nas manhãs da Comercial. Mas principalmente a canção “J’arrive” na voz de Jacques Brel. José Ramos, numa madrugada da Rádio Comercial, enquanto convidado, levou alguns temas para se ouvir. “J’arrive” era um deles, e José Ramos explicou a escolha, dizendo que aquela canção que lhe causava arrepios de morte. Isto porque Brel gravou-a quando já tinha sido desenganado pelos médicos. Gravou-a quando sabia já que não iria sobreviver ao cancro que o atacara. Cantou-a como se fosse a última vez na vida.



O que eles dizem (13)

Hoje vamos ter uma emissão especial. Não escolhemos um tema, antes preferimos escolher uma personalidade e, a partir dela, deixar que o tempo nos conduza para onde lhe apetecer. O nosso convidado de hoje é um dos ícones da comunicação, o verdadeiro "monstro". Ele já fez rádio (a sua grande paixão), é a principal voz da SIC (sim, é esse com uma voz incrível) e foi - e continua a ser - um dos principais locutores de publicidade.
José Ramos escreve um "photomaton de retalhos da sua vida" e dá-se a conhecer. Esta auto-biobgrafia da voz que já faz parte de nós, ganha agora um corpo que podemos ficar a conhecer melhor.
NO AR – “Live on paper” é o livro sobre o qual vamos falar hoje.A partir das 19h, vamos conhecer José Ramos!

in http://provaoral.blogspot.com
23 Junho 2005


No caso, importa-me pouco o que fazia José Ramos. O que sei é que tinha uma voz que invejava, uma voz que provoca natural inveja em quem, como o signatário destas linhas, sonha acordado com a rádio mas não faz grande esforço por encaixar-se no caciquismo em que hoje funciona o excrementício meio de comunicação.

Pedro Gonçalves
in http://1poucomouco.blogspot.com/
22 Março 2006


Acho que acreditei que ele se ia safar, outra vez. Foram tantos os problemas cardíacos que ele teve ao longo da vida, tantas vezes o risco disto acontecer e tanto o desprezo dele pelas regras da vida e da morte - e de tudo ele se foi safando com uma energia inacreditável. Algum dia tinha de ceder, mas acho que, lá no fundo ele sabia disso. Sabia disso, mas também que já que nos é dada uma vida, mais vale vivê-la com um gozo descomunal e sem restrições do que ganhar um grão de saúde e ficar privado das coisas de que se gosta. Quem é que pode dizer que isto é uma má lição de vida? Aqui está um homem que manteve até ao fim um par de tomates do tamanho da sua incrível, inigualável voz de trovão. Toda a gente vai sentir a falta dele. Mesmo as pessoas que não fazem a mínima ideia de quem ele era.

Nuno Markl
in http://www.havidaemmarkl.com/
21 Março 2006

terça-feira, 21 de março de 2006




















É um talkshow interactivo, aberto aos ouvintes via telefone, onde cabem as grandes questões da humanidade, boçalidades, a pertinência, a impertinência, o “chinelo”, verdades e mentiras, mitos, fantasias, ficções, o niilismo, o cinismo, a(s) “bocarra(s)” de circunstância sobre algo ou a despropósito de tudo, o trejeito, a superstição, piadas com e sem piada. Há um tema diário, mas sem assuntos tabu. Vida, sexo, amor, felicidade, velhice, morte, etc. A “Prova Oral” tem tudo. E tudo começou em 2003.
A primeira fase do programa foi com Fernando Alvim (que ainda continua), acompanhado por Nuno Calado. A seguir juntou-se-lhes Rita Mendes. Calado saiu do programa pouco tempo depois e ficaram como dupla «a Rita e o Alvim». Esta dupla perdurou com sucesso, até se desfazer no verão de 2004. Raquel Bulha substituiu Rita e é, desde Outubro desse ano, a apresentadora que partilha a tarefa (o prazer?) com Fernando Alvim.
A «Raquel e o Alvim». Os dois complementam-se. Ele é o traquina, o destabilizador. Ela assume o papel equilibrador, mais moderado, mais maduro. Nos tempos da Rita Mendes, a dupla era um tanto ou quanto mais radical.
Também há convidados, e muitas vezes, convidados de luxo. Pela “Prova Oral” já passaram figuras ilustres como por exemplo D. Duarte Pio de Bragança, Júlio Isidro, Miguel Sousa Tavares, Inês Pedrosa, Rogério Samora, José Ramos, Luís Filipe Barros, Ana Sousa Dias, Sobrinho Simões, Manuel João Vieira, Helena Ramos, Carlos Amaral Dias, Laurinda Alves, Carlos Alberto Moniz, José Hermano Saraiva, Henrique Cayatte, Francisco José Viegas, António Pedro Vasconcelos, Maria Filomena Mónica, Zeca Baleiro. Enfim, pessoas das mais variadas áreas da sociedade.
A “Prova Oral” já fez (e faz) passatempos, concursos [«OK KO»], deslocações a outras cidades e lugarejos [Galafura], criou personagens fetiche [Brás], recebe imensas mensagens escritas durante o programa através do blogue.
A “Prova Oral” está no canal jovem da RDP, sendo por inerência, dirigido aos jovens. Mas há participações de ouvintes de outras gerações e com idades bem mais avançadas. É abrangente, o que só demonstra – mais uma vez – que o conceito de «ser jovem» é muitíssimo relativo.
O horário de transmissão à tarde (99,9% das vezes em directo) é francamente favorável ao sucesso deste “fórum” livre, descontraído, fresco, informal (toda agente se trata por “tu”).
Há um horário de repetição também com uma boa quantia de ouvintes (entre eles eu) às seis da manhã. Este é um dos actuais programas da RDP que não perco de ouvido.
Se a “Prova Oral” é serviço público?
Sim, é!

Tudo o que aqui for dito será revelado durante o programa... ok, a maior parte! Toda a linguagem é permitida, excepto a obscena e ofensiva para qualquer um dos intervenientes deste espaço!



PROVA ORAL
com Raquel Bulha & Fernando Alvim
RDP-Antena3
2ª a 6ª (19:00/20:00)
repetição: 2ª a 6ª (06:00/07:00)
Blogue: http://provaoral.blogspot.com/

domingo, 19 de março de 2006

Perigos do Podcast














Podfading

Afinal não é só um mar de magníficas possibilidades este fascinante fenómeno do Podcast. Também há alguns “contras” a ter em atenção. Um deles é de não haver benefícios para os autores de Podcast. Pode ser, à partida, o maior factor de desmotivação para continuar. A regularidade dos podcasters está ameaçada por dentro. Como se vê na notícia do PÚBLICO, começar é fácil, manter nem tanto. É um sério alerta para quem quer começar a produzir em Podcast. Se é para acabar pouco depois do arranque, então o melhor é nem sequer começar. A irregularidade de produção descredibiliza o formato. Afecta profundamente o valor e o princípio mais nobre do Podcast, que é ser uma alternativa credível à rádio actual. A regularidade é fundamental.


O que eles dizem (12)

«As baixas do podcasting

Ryan e Jen Ozawa estavam a voar alto nos tops do iTunes, gozando de um muito invejável grupo de 15 mil ouvintes no seu podcast semanal, The Transmission, dedicado inteiramente à série televisiva Lost (Perdidos). Mas depois, escreveu recentemente um repórter da Wired online, numa reviravolta dramática digna de qualquer argumento televisivo, o casal residente no Hawai deixou a sua audiência estupefacta quando, de um dia para o outro, decidiu colocar um ponto final no The Transmission.
O programa do adeus dos Ozawas, emitido no final de Janeiro, foi um choque para o mundo dos podcasts, onde poucos autores/artistas conseguem gozar de tanta popularidade. The Transmission chegou mesmo a atrair a atenção de vários actores da série Perdidos e tinha já um genuíno clube de fãs. Mas com Ryan a dar aulas à noite e com três filhos em casa o tempo consumido pelo programa começou a ser avassalador para o casal. “Gravávamos depois de ver a série passar na televisão, estávamos online por volta das três da manhã e no dia seguinte éramos um par de inúteis”, explicou Ryan Ozawa, 32 anos, empregado bancário.
O Podcasting atraiu milhares de pessoas com base na premissa de que qualquer um pode criar um programa áudio, construir uma audiência online e mesmo chegar ao estrelato. Menos celebrado, recorda o texto da Wired, é o facto de um número imenso de programas começar e acabar num abrir e fechar de olhos. O fenómeno já tem nome, podfading, criado por Scott Fletcher em Fevereiro de 2005 quando desistiu dos seus dois podcast.
Embora seja difícil contabilizar as vítimas do podfading, Rob Walch que dirige um programa de entrevistas a podcasters chamado Podcast411, arrisca que pelo menos um quinto dos podcasters não chega ao décimo programa; e espera que o cemitério dos podcast fique ainda mais povoado à medida que todo o processo tecnológico se for tornando mais fácil. No seu programa, Walch só entrevista quem já conseguiu ultrapassar a barreira dos 10 episódios.
“O podcasting é uma daquelas coisas que é barata e fácil de começar mas que depois consome uma enorme quantidade de tempo e dedicação sem que no fim exista qualquer recompensa monetária”, resume Brian Reid, blogger e jornalista freelancer entrevistado pela Wired.»

J.A.
in PÚBLICO
Domingo, 19 Fevereiro 2006

quarta-feira, 15 de março de 2006

Sonhos Lúcidos























ARGONAUTA

Uma hora de pura música electrónica e ambiental. A electrónica é acima de tudo música para a mente. Subtil, evanescente, intensamente cerebral, é uma sonoridade que sugere, evoca, envolve; desvenda ângulos inesperados e escondidos da realidade, insinua-se por passagens secretas, flui pelo éter; define espaços, capta atmosferas, descreve paisagens, sugere estados de espírito, recorda memórias ancestrais.

Na década de noventa criou-se o conceito de sleepy concerts, concertos em que as pessoas assistem deitadas a espectáculos de música instrumental de carácter ambiental. Esta ideia fantástica de levar uma plateia a ser maximizada para uma atmosfera comum de partilha de intimidade foi um dos temas já abordados no programa «Argonauta» na Antena 2. É um dos novos programas da nova grelha da Antena 2 iniciada no passado dia 1 de Janeiro.
É um espaço raro na rádio actual, pois esta alimenta-se de ruído saturado a todas as horas. «Argonauta» é um programa raro, também porque assenta o seu painel sonoro no silêncio e nos baixos tons sonoros, interrompidos apenas pela apresentação do que se está a oferecer. Neste aspecto, o ritmo vocal do apresentador não é lá muito coincidente com o ritmo musical que o programa expõe. Mas não é danoso, não chega a prejudicar dolosamente o efeito de flutuação. A informação adicionada quase que – por grandes momentos – se poderia reduzir ou mesmo dispensar. Pelo contrário, o horário do programa é que se poderia alargar, com o efeito imediato de se conseguir escutar as obras musicais com menos encurtamentos.
«Argonauta» é uma iniciação ao voo. Recomendado apenas a quem deseja (e necessita) “ter asas” para voar.
Voltemos aos sonhos… sonhos acordados, sonhos lúcidos.

Os sons inspirados na atmosfera dos planetários para trazer até às pessoas a música das esferas. Porque nós viemos das estrelas, e as estrelas são o nosso destino…

ARGONAUTA
Um programa de Jorge Carnaxide
RDP-Antena2
4ª feira (21:00/22:00)

P.S: Excepcionalmente esta quarta-feira, 15 de Março, este programa dará lugar a uma transmissão em directo do Teatro Viriato em Viseu. Um recital de piano com Jorge Moyano.

sábado, 11 de março de 2006

Boas, estranhas e más notícias no mundo da rádio em Portugal

Guardemos o melhor para o fim. Comecemos pelo menos positivo, ou dito de outra forma, pelo pior:

Más notícias:
01- Está disponível para download a emissão n.º 73 do "lado B". Uma edição que marca o fim da transmissão do "lado B" na Rádio Ocidente. Recentemente adquirida pelo Grupo Renascença, a Rádio Ocidente vê interrompidos os programas de autor (onde se inclui o "lado B"), sendo estes substituídos por uma "playlist"...
"No Ar" desde Maio de 2004, o "lado B" passa pela última vez na Rádio Ocidente este fim-de-semana (não esta emissão -n.º 73, mas a anterior). O programa de hoje é pois, o primeiro "lado B" em formato exclusivamente PODCAST. Até ver.

02- Música Portuguesa
«Lei da Rádio publicada em 'Diário da República'
A Lei da Rádio, que determina as quotas para emissão
da música portuguesa, já foi publicada em Diário da República. Trata-se do artigo 44.º, que estabelece que a programação musical dos serviços de programas de radiodifusão sonora tem de ser obrigatoriamente preenchida, em quota mínima variável entre 25% e 40%, com música portuguesa. Na estação pública, a quota não deve ser inferior a 60%.»

in DN.05.Março.2006


Estranhas Notícias:
01- O RCP-Rádio Clube Português mudou de nome. Agora é só Rádio Clube.
"Ressuscitado" em 2003 pela mão de Pedro Tojal, em substituição da Rádio Nostalgia, este "novo" RCP nunca chegou aos calcanhares do RCP de outros tempos. Apenas mantinha o nome. Um nome forte, implantado no mercado e na memória do público. Ao fim de 3 anos, e já com Pedro Tojal fora da Média Capital Rádios, eis que se altera um pouco o perfil do canal. Mas era necessário alterar um nome tão forte, só para ficar "Rádio Clube"? Será marketing? O RCP de Pedro Tojal era para ombrear com a Rádio Renascença. E o actual Rádio Clube, é para rivalizar com a "generalidade" da Antena1 ou é para se aproximar em termos informativos da TSF? Quem sabe?


O que eles dizem (11)


«Osório muda perfil do RCP
Quatro meses depois de ter assumido a direcção de informação da Media Capital Rádios, Luís Osório alterou já o perfil do RCP, uma das principais apostas do grupo de comunicação social agora controlado pelos espanhóis da Prisa. O Rádio Clube Português (Lisboa, 104.3 FM) tem, desde segunda-feira, uma nova grelha de programas, com uma mais forte componente informativa, em que cabem, por exemplo, entrevistas diárias de uma hora a personalidades portuguesas ou mesmo um especial de duas horas com o balanço do mandato de Jorge Sampaio, como aconteceu ontem. "Não queremos ser uma rádio informativa, mas sim mais generalista, onde a informação tem obviamente um papel importante", resume ao DN Luís Osório.Com uma nova assinatura ("Rádio Clube - O clube de quem sabe"), novos separadores musicais, comerciais e de informação, novos jingles e logotipo, a estação, que tem em Miguel Cruz o seu director de antena, lançou segunda-feira novos espaços, onde se destaca O Convidado do Clube, uma entrevista de Luís Osório a uma figura da sociedade portuguesa (as duas primeiras foram Miguel Sousa Tavares e o ministro Alberto Costa), com emissão às 17.00 e repetição à meia-noite. Para lá da opinião de Nuno Rogeiro, rubricas sobre o trânsito e informação financeira, já existentes até aqui, juntam-se agora o humor de Luís Filipe Borges (uma aposta de Osório ainda no tempo de A Capital, e apresentador de A Revolta dos Pastéis de Nata, na 2 e a análise de desporto do treinador Luís Norton de Matos. "Queremos tornar a manhã e a tarde ainda mais dinâmicas", explica o jornalista. Para o director de informação, a aposta é simples: "sem perder os ouvintes já conquistados, queremos agradar a outro tipo de público, que gosta de se informar, de reflectir e que quer que a sua rádio tenha capacidade de influenciar a sociedade portuguesa".»

Nuno Azinheira
in DN.08.Março.2006


02- «Mais uma rádio local que escapa aos pressupostos da licença
O som francófono da Rádio Paris Lisboa, que há 15 anos se tinha instalado em Lisboa, deu lugar este mês, a uma nova rádio, a Rádio Europa. A ligação à cultura francófona permanece nesta nova estação, que emite nos 90.4 da RPL. Mas a aposta agora é mais para a música instrumental e para a informação. E a publicidade passa a ser uma realidade até aqui ausente. Antonieta Lopes da Costa, directora da estação, que acompanhou o nascimento da RPL em Lisboa e que, após um interregno, ali se mantém desde 1994, afirma que na nova Rádio Europa se alterou muita coisa e não só o nome: "Mudámos para já para um jazz instrumental, com uma música francesa por hora. E vamos querer puxar por alguma música clássica em certas alturas do dia."Outra aposta da nova Rádio Europa é a informação. "Temos mais colaboradores, para além da equipa anterior que se manteve. Contamos com colaboradores especializados como Nuno Crato, Helena Matos e Helena Sacadura Cabral", adianta ainda, referindo que a emissão em francês continuará a ser assegurada pela Radio France International entre as 21h00 e as 07h00. Mas a que se devem estas alterações e a mudança de nome? "Temos um novo projecto comercial e queremos demarcar-nos do anterior modelo, que nunca teve publicidade", conta Antonieta Lopes da Costa. "Até aqui recebemos sempre uma subvenção da Radio France International, o accionista maioritário da rádio, que entretanto mostrou intenção de diminuir essa participação gradualmente. Procurámos então um parceiro no mercado que pudesse explorar comercialmente a rádio. "Foi assim que nos últimos tempos a emissão dos 90.4 passou a ser explorada comercialmente pela Rede A, empresa dirigida por Luís Montez, que detém a Rádio Capital. Este tipo de modelo outsourcing, de exploração comercial de uma antena, não é muito comum em Portugal, onde as rádios preferem apostar nos seus próprios departamentos comerciais. A Rádio Renascença é uma excepção nesse campo, onde conta com a empresa Intervoz para fazer a exploração das rádios do grupo. Mas com orçamentos muito apertados, nem sempre é possível contratar quadros para formar departamentos comerciais próprios."Já tínhamos uma estrutura de exploração publicitária de rádio, que operava no nosso grupo. Esta parceria é apenas uma maneira de rentabilizar essa estrutura", garantiu Luís Montez, responsável também da Luso Canal, que detém mais três frequências de rádio na grande Lisboa: Rádio Marginal, Rádio Oxigénio e Radar FM. "É uma relação estritamente comercial", garante, sobre a parceria com a nova Rádio Europa, assegurando que o interesse da Rede A não passa pela frequência de rádio em si. Para Antonieta Lopes da Costa, com um novo modelo de rádio não fazia sentido manter o mesmo nome da Rádio Paris Lisboa. "Continua a ser uma rádio para uma minoria. Mas mais temática, mais direccionada. A Rádio Europa é uma rádio onde a música é um factor muito importante", conclui.»

Ana Machado ("Público" - 7 Mar 06)


03- «Metade das rádios da Madeira processadas pelo ICS por violação da lei
Sete das 14 estações de rádio privadas da Madeira foram processadas pelo Instituto da Comunicação Social (ICS) por violação da Lei da Rádio. As frequências fiscalizadas, na quase totalidade propriedade de uma empresa controlada pelo secretário-geral e líder parlamentar do PSD madeirense Jaime Ramos, emitiam em cadeia e não tinham programação própria, como determina a lei. Segundo a legislação em vigor, as rádios generalistas ou informativas devem emitir pelo menos três serviços noticiosos regulares sobre a área geográfica da sua influência, por si produzidos. Esses serviços noticiosos e a redacção devem ser obrigatoriamente assegurados por jornalistas com carteira profissional. Pelos indícios recolhidos no arquipélago, o ICS e a Alta-Autoridade para a Comunicação Social (AACS) desencadearam processos contra a Rádio Jornal da Madeira, propriedade do governo regional, por emitir em cadeia com as cinco rádios de Jaime Ramos, todas beneficiárias de subsídio governamental concedido individualmente como se funcionassem com meios técnicos e humanos autónomos. Apesar das advertências, aquele operador continua a transmitir em cadeia com as rádios locais sediadas na maioria dos 11 concelhos do arquipélago. No Tribunal de Santa Cruz está pendente um processo de fiscalização efectuada em 1999 à Rádio Zarco, com instauração de contra-ordenação em 2002, por falta de programação própria. Idêntico procedimento foi desencadeado em 2000 contra a Rádio Sol e Girão FM, também pela falta de programação própria e de informação. Estas duas últimas frequências locais - que pertencem, tal como a primeira, à empresa Ramos Marques e Vasconcelos, sociedade de Jaime Ramos e outros dois deputados sociais-democratas detentores de seis rádios locais - também foram condenadas, mas o alvará foi renovado tacitamente. A Rádio Porto Moniz, propriedade da Associação Desenvolvimento da Costa Norte da Madeira (Adenorma) fundada pelo deputado social-democrata Gabriel Drumond, foi igualmente condenada a uma coima de 9975 euros - que está a ser paga em prestações - por emitir em cadeia com a Rádio Jornal da Madeira, situação que se mantém. Esta ilegalidade pode ser penalizada com a suspensão da licença. Também a Rádio São Vicente, da Associação dos Bombeiros Voluntários deste município, e a Rádio Viva FM, propriedade da Radiurbe e licenciada para cobrir o concelho da Calheta, foram fiscalizadas por indícios de emissão em cadeia com a Rádio Jornal da Madeira, mas o processo foi arquivado.»

Tolentino de Nóbrega ("Público" - 1 Mar 06)



Boas notícias:
01- Finalmente, desde há poucos dias, está disponível a emissão da Radar na Internet... mas levou tempo! E para quando um site a sério?
02- Finalmente, desde há poucas semanas, as emissões da RDP on-line. E para quando o Podcast?
03- O regresso de Nuno Infante do Carmo à animação radiofónica (Seg. a Sex. das 17h às 19h e das 20hàs 21h). É no Rádio Clube. Um regresso que não consegue matar as saudades do "Último Metro" e do CMR. Mas é de saudar.

terça-feira, 7 de março de 2006

[percepções]





























É um Photoshop sonoro. As layers numeradas (layerlist) sucedem-se umas às outras, como quem sobrepõe folhas de acetato, deixando transparecer a percepção que a última deixou. Um tema, uma imagem, uma frase, um sentimento, um motivo e… zás! flash! À volta do clarão de luz e sombra, um conjunto de músicas directamente ou indirectamente ligadas ao tema escolhido. Não é uma composição da palavra, mas se uma imagem vale por mil palavras, aqui um som vale por quantas palavras que se diriam. Trata-se de um ensaio sonoro com imagem cuidada através de um blogue, ouvidos selectos em Braga e tudo à volta, e mãos sensíveis num click cibernauta.
Por vezes, na matiz final, [percepções], da autoria de Nídio Amado, toca-se o absoluto infinito.



Entrevista a NÍDIO AMADO


Quando começaste a fazer rádio?

A minha relação com a Rádio Universitária do Minho (RUM) começou há cerca de quatro anos. Uma troca de e-mails, sobre música, com o autor de um programa, Luís de Sousa, que acabou num convite para visitar a estação. Não tinha qualquer intenção em fazer rádio, apesar de ser um ouvinte compulsivo de rádio. Acabei por fazer amizades dentro da RUM. Conheci várias pessoas que partilhavam da mesma paixão pela música e, claro, pela rádio, o que me levou a frequentar com regularidade as instalações. Algum tempo depois integrei a Escola Rum, uma espécie de tubo de ensaio para novos programas, mas nunca fiquei satisfeito com os resultados… Não me atraía fazer um programa dentro dos moldes tradicionais, sobretudo no que dizia respeito à parte da locução. Assim, durante bastante tempo ajudei a seleccionar temas para passar em antena, nomeadamente, os destaques/novidades que passavam na RUM. Fui tendo outras colaborações esporádicas, por exemplo, cobertura de concertos e outros eventos. Após várias experiências criei um formato, que, posteriormente, apresentei ao director de programas, o [percepções]. Mais tarde fui convidado para integrar a equipa que faz um programa diário sobre novas tendências da música electrónica, o hi-tech.


Quando começou o [percepções]?

Em termos exactos o [percepções] começou há 63 semanas. Claro que a ideia começou a ser trabalhada e experimentada há mais tempo.


Como e quando aderiste ao Podcast?

Desde o início que o programa tem um suporte digital na Internet, o blogue http://infinitu.blogspot.com/ e uma mailinglist. A ideia era criar um suporte digital que complementasse o programa. Cada emissão do [percepções] teria um tema especifico, à qual estaria associada uma imagem, ou seja, em cada semana faria um ensaio sonoro, complementado com uma componente gráfica, sobre uma percepção escolhida por mim. O programa seria emitido semanalmente na RUM e estaria disponível para download no blogue, pretendia criar o conceito de rádio-blogue. Até que, passado alguns meses do inicio das emissões regulares do [percepções], percebi que estava a surgir na Internet um formato muito semelhante ao que eu tinha imaginado para o blogue, o podcast. A migração do programa para o podcast acabou por ser uma evolução natural do que tinha projectado inicialmente.


Achas que é uma ameaça à rádio tradicional ou é apenas uma mais valia como foi o aparecimento da Internet?

A rádio tradicional sempre teve uma grande desvantagem em relação à televisão, as pessoas quando não podiam ver um programa deixavam o vídeo a gravar. A rádio sempre foi um meio de comunicação em que os programas tiveram um tempo de vida curto, reduzido ao momento da sua emissão. A menos que houvesse uma repetição, se alguém perdesse um programa não o podia ouvir. O podcast vem colmatar esta grande desvantagem da rádio. Por outro lado, penso que dentro de dois ou três anos poderá ser uma grande vantagem comercial para as rádios. Com a evolução dos telemóveis em termos de hardware e software vai criar-se um mercado para conteúdos áudio pagos e, consequentemente, uma boa oportunidade de negócio para a rádio. Um pouco como está agora a acontecer com o itunes. Só que na Europa, e em especial em Portugal, dada a nossa tradição no uso do telemóvel acho que as pessoas só aceitarão pagar quando a tecnologia estiver disponível nestes equipamentos e for tão simples de usar como no itunes. Se a rádio souber adaptar-se, o podcast será, sem dúvida, uma mais valia.


Como vês o panorama actual das rádios em Portugal?

Tenho 27 anos e comecei a ouvir rádio regularmente desde os 14. Acho que houve nos últimos anos uma regressão generalizada em termos qualitativos. Talvez a excepção tenha sido a Antena1, que tem melhorado, significativamente, sobretudo com o recrutamento de elementos valiosos dos quadros da TSF, apesar de ainda não ter conseguido libertar-se de alguns maus vícios do passado. O encerramento da VOXX foi lamentável, tal como aconteceu com a XFM nos anos 90, e a expansão do grupo Média Capital acabou por ser negativa, a estratégia que adoptaram de formatação das rádios teve resultados desastrosos. Tenho bastantes saudades da TSF dos anos 90.


As playlists são um mal necessário? Um mal necessário para as rádios, isto é, uma espécie de concessão ou uma necessidade para a viabilidade económica por via das audiências?

As playlists são essenciais para a fixação de audiências. A gestão que é feita das playlists é que pode ser positiva ou negativa. O principal erro é a forma leviana como essa gestão é feita. Muitas vezes baseiam-se em estudos de mercado cujas conclusões me levantam muitas dúvidas. É uma questão que tem merecido bastante reflexão na RUM.


O que pensas da nova lei sobre as quotas de música portuguesa?

Uma ideia triste. Não é com leis deste tipo que se vai fazer a defesa e promoção da música portuguesa. Acho que se deveria apostar em criar estrutura editorial nacional forte para promoção daquilo que melhor se produz em Portugal, uma estrutura que promovesse a música dentro do território nacional, mas também lá fora. Um pouco à semelhança daquilo que acontece nos países nórdicos.


O programa [percepções], de que és autor, está a fazer o caminho inverso. Começou numa rádio e agora está em podcast. O podcast é a salvação para os autores?

O podcast é mais um meio para os autores darem a conhecer os seus programas. Um meio novo que tem como grande vantagem dar uma dimensão nacional aos programas emitidos em rádios locais e uma dimensão internacional aos programas emitidos em estações nacionais. É obvio que também vai abrir novas possibilidades a quem não tem espaço numa rádio. Acima de tudo vai criar novas oportunidades, vai permitir experimentar novos formatos. Não me admiraria muito se em breve tivéssemos programas a fazerem o caminho inverso, passarem do podcast para uma rádio.


Mas gostarias que o [percepções] continuasse no éter? Se sim, gostarias que o programa [percepções] encontrasse espaço numa rádio com maior dimensão?

Sim, claro que gostaria, apesar de a minha ideia ser não prolongar, excessivamente, o tempo de vida do programa. Aliás, neste momento já começo a pensar num substituto. Dadas as características do programa, tenho a perfeita consciência de que se trata de um formato para uma minoria de pessoas. Por isso, o ambiente natural de um programa como o [percepções] é uma rádio com as características da RUM.


És ouvinte de rádio? Quando começaste a ouvir e o quê?

Sou um ouvinte regular de rádio desde os 14 anos. Comecei a ouvir a TSF no início dos anos 90. A grelha era riquíssima mas acho que, inicialmente, o que mais me atraiu foi a informação.


Da rádio que actualmente ouves, o que é que não perdes de ouvido?

A informação da Antena 1 e da TSF, alguns programas de autor da RUM (“Cooltronica”; “Janela Amarela”; “Dicionário da Rádio”; “Rum Upload”…), alguns programas de autor da RUC (“Intima Fracção” e “Vidro Azul”…), o “Cinemax” na Antena 1 e vou ouvindo as emissões online de algumas rádios estrangeiras na Internet: Xfm London; Resonance FM, Radio4… Agora que a Radar tem emissão online tenho curiosidade em ouvir o “Discos Voadores” do Nuno Galopim.


E os radialistas que mais gostas. Quais são?

Esta pergunta é complicada… Fernando Alves, João Paulo Guerra, Ricardo Saló, Tiago Alves, Carlos Vaz Marques, Francisco Amaral, Francisco Sena Santos, Inês Meneses, Lara Marques Pereira…


Tens saudades dos tempos das piratas?

Sinceramente, nunca estive dentro do fenómeno, apesar de adorar ouvir as histórias dos tempos em que a RUM funcionava como rádio pirata.


O [percepções] é o "teu" programa ou o programa "possível"?

É o programa possível. A minha actividade profissional ocupa o meu tempo livre quase todo. O programa é montado por mim e a nível técnico se tivesse mais tempo poderia ir mais longe, tenho várias ideias em termos de sonoplastia que gostaria de experimentar.


O que dizes dessa experiência de trabalhares numa rádio de autores como a RUM? Respira-se um ambiente estimulante e de criatividade contínua?

Sem dúvida, apesar de todas as dificuldades que uma rádio como a RUM enfrenta no dia a dia para sobreviver. Há um ambiente de partilha de ideias e de trabalho muito estimulante. A RUM, neste aspecto, funciona quase como uma bolha de oxigénio, pois a cidade de Braga tem uma oferta cultural bastante limitada e a rádio acaba por compensar este facto.


Tens tido bom feedback do programa através da Internet e do podcast?

É curioso que recebo mais feedback de pessoas que não estão no raio da frequência da RUM, portanto pessoas que descarregam o programa na Internet. Mas no geral o feedback que tenho recebido tem sido muito positivo.


Queres continuar a fazer rádio para sempre?

Para mim mais importante do que fazer rádio, no sentido de ter um programa de autor, é estar na rádio. Quero estar numa rádio onde haja liberdade estética e que seja independente, tendo sempre consciência de que uma rádio tem de gerar receitas. Às vezes é preciso fazer concessões, mas estas devem ser feitas de uma forma equilibrada. Agora, se quero continuar a fazer programas, a produzi-los… não tenho uma ideia definida quanto a isso. Neste momento a minha principal preocupação é ser útil à RUM.


A opção estética de não dares voz deve-se a alguma razão especial ou é meramente isso mesmo, uma opção estética?

Quando frequentei a Escola RUM não gostei do resultado final de algumas sessões de locução que fiz, apesar de as pessoas que me orientaram terem uma opinião contrária. O que me levou a pensar em criar um programa em que não houvesse voz. Acho que, no fim, a opção acabou por ser estética, o formato que apresentei tinha espaço para vozes "sampladas", por exemplo, de filmes.


Que influências radiofónicas tem o [percepções]?

Por estranho que pareça, a maior influência acaba por ser o cinema. A ideia é que cada programa seja um ensaio sonoro, onde todas as semanas escolho um tema diferente, uma nova percepção. Cada [percepções] assemelha-se a uma banda sonora, daí que a inspiração venha muitas vezes do cinema. Não é alheio a isto, o facto de eu ser um cinéfilo fervoroso.


[percepções]
Rádio: RUM – Rádio Universidade Minho (Domingo p/ Segunda-feira: 00:00/01:00)
Blogue: http://infinitu.blogspot.com/
Download: http://www.megaupload.com/pt/?d=WPYD0MS2
Podcast: http://feeds.feedburner.com/PercepcoesPodcast


infinitu é a casa virtual de [percepções] programa com residência fixa, no éter da universitária, nas madrugadas de domingo para segunda, às 00horas para braga e tudo à volta na frequência 97.5 e no ciberespaço, via real áudio, em www.rum.pt

segunda-feira, 6 de março de 2006

Prisioneiros Digitais
















(OS OUTROS)

Eis-nos no século XXI. Um homem (ou mulher) encontra-se só nas quatro paredes de um estúdio de rádio, sentado em frente a uma mesa de mistura. À sua frente uma miríade de leds luminosos, vias e fontes sonoras , terminais e programas de computador, um relógio [atómico], aparelhos vários de reprodução sonora. Um microfone. Alguns papéis, um guião, um mapa de publicidade e uma playlist. Tudo para cumprir ao milímetro e ao milésimo. E o que tem que fazer este homem ou esta mulher? Cumprir, cumprir. Emitir os programas (quando os há!) dos outros, colocar por ordem e apresentar a lista de músicas escolhidas por outros, declamar frases publicitárias escritas por outros, ler as introduções e finalizações a programas (dos outros) escritas por outros, ter a rapidez e a síntese técnica para não falhar em toda esta concepção designada por outros. É isto que é ser animador de rádio, na rádio tradicional do século XXI. Não importa se a pessoa que ali está sabe algo mais do que executar aquela tarefa, ou se poderia com esse mais saber acrescentar mais valias ao produto final que se lhe encerra nas mãos e na voz. O que faria aquele homem ou aquela mulher que ali está se dispusesse de liberdade? O que nos ofereceria a sua capacidade onírica? Que pouco mais de azul nos traria aquele “ele” ou aquela “ela”? Não sabemos…agora. Já o soubemos, não já?
Mas nós ­­– todos nós – também somos os outros para os outros.


Há um pequeno número de homens e mulheres que pensam por todos os outros, e para o qual todos os outros falam e agem

Jean Jacques Rousseau


P.S: Atenção, jovens que pensam em fazer rádio. Muita atenção ao futuro que procuram!
(Mas há uma coisa chamada Podcast, não há?)
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O que eles dizem (10)

“Hoje colocam-se em estúdio os técnicos certinhos, que não falhem o momento do jingle nem a playlist que alguém preparou. O bom profissional de rádio hoje já não é o autor, é o que é ágil de mãos para pôr o que lhe mandam pôr no momento certo. Os outros em que me incluo, daqui por dez anos são pré-história.”

Armando Carvalhêda
in DN
11.Dezembro.2005



«No texto que escreveu para o livreto da compilação [Febre de Sábado de Manhã 25 anos] menciona o estado actual da rádio portuguesa, sublinhando a ditadura das playlists. Ainda consegue ligar a rádio para ouvir música?

Não, porque para mim a rádio é descoberta, e aquilo que eu verifico é que, embora tenha metido a pata na poça inúmeras vezes, eu e a minha geração corremos riscos. A Febre de Sábado de Manhã foi um risco no seu todo, mas todos os dias se corriam riscos – com as nossas escolhas musicais, a nossa capacidade de mostrar ao público o que é que vinha de novo. Agora a rádio só passa coisas garantidas, onde raramente a novidade entra. Hoje prefiro a rádio de palavra.

E qual é que passa a ser o papel da voz nesse contexto?

Nunca ouço alguém a explicar minimamente o que é que se vai ouvir. São acríticos, não informam…Isto não é uma crítica às pessoas que estão nessas funções. Alguém os manda fazer assim e a vida está difícil para todos. Credito que haja muita gente que está atrás do microfone com muita vontade de fazer coisas e de ter ideias, mesmo que sejam um disparate. Hoje em dia, penso que o lápis azul foi substituído pela caneta que assina o cheque do ordenado.»

Júlio Isidro
in BLITZ (entrevistado por Jorge Manuel Lopes)
24.Janeiro.2006

domingo, 5 de março de 2006

Eram manhãs assim













Aos Domingos, levantávamo-nos bem cedo, por vezes para apanhar o primeiro autocarro da manhã, ou para chamar um táxi. Havia um ponto de encontro bem definido na cidade para o qual nos dirigíamos. Dávamos tudo o que tínhamos e o que não tínhamos para poder ir mais além, para podermos evoluir um bocado mais. Era paixão pura, dedicação quase extrema, chegando mesmo a prejudicar as nossas vidas pessoais. Muito jovens ainda, na alvorada dos anos 90, sentíamos, talvez por um instinto inocente, que poderíamos fazer a rádio dos nossos sonhos. E fazíamos! E fizemos, naquelas manhãs de Domingo, das 07:00 às 11:00 horas. E era assim, porque as manhãs a que devíamos ter direito, durante os chamados "dias úteis", estavam ocupadas por uma opção de “estética pimba”, muito em voga na época (e que persiste ainda hoje em muito lado), que literalmente assoberbava tudo quanto era horário mais ouvido. Enfim, uma contingência inultrapassável para nós. Não esmorecemos. Fomos em frente com o vigor dos 20 anos. Queríamos dar provas do nosso valor. Queríamos provar a nós próprios do que éramos capazes. Esta odisseia durou mais de um ano. E não terminou porque nos tivessem imposto um fim. Fomos vencidos pelo cansaço, o que não é coisa pouca quando se está a remar contra a maré. Mas valeu a pena.
O tempo passou, é certo, e tudo isto é já passado, mas os resultados deram o seu proveito.
Volvidos mais de 15 anos, o meu colega dessa “aventura”, Luís Bonixe, é jornalista, colabora no jornal “Público”, é professor de comunicação, cronista semanal numa rádio local e recentemente, desde Dezembro passado, autor do blogue “Rádio e Jornalismo”. Preocupado com os contornos e evolução actuais no mundo da rádio e do jornalismo radiofónico em particular, temos agora à disposição da blogosfera um novo espaço de reflexão. É assim, virtualmente, que agora nos reencontramos nesta outra aventura, certamente com menos constrangimentos.

sexta-feira, 3 de março de 2006

EM ÓRBITA





















O MELHOR DE TODOS?

De todos os programas que marcaram a história da radiodifusão em Portugal, o “Em Órbita” tem sido maioritariamente apontado como o mais importante de todos. É o mais citado, o mais referenciado, o mais popularmente “clássico”. Terá sido este o melhor programa de sempre na rádio portuguesa?
O percurso do “Em Órbita”, iniciado na década de sessenta, sofreu alterações de figurino, percorreu várias décadas e atingiu várias gerações de ouvintes.
No meu caso, enquanto ouvinte, só entrei em órbita nos anos 80, já o programa de Jorge Gil aderira à chamada “música antiga” de carácter erudito, com especial enfoque no período Barroco. Depois de ter estado em várias frequências (RCP, Rádio Comercial, RDP), o “Em órbita” conheceria o canto do cisne nos primeiros meses de 2001 na Antena 2. Foi há cinco anos. O fim chegara por decisão do próprio autor. Fica na história, fica a história:

«Criar Gosto» (como na qualidade que reúne todas as outras), e a procura de novas formas do Dizer Radiofónico, constituem as duas únicas linhas onde se inscreve o horizonte comum a toda a vida do Em órbita.
«Se hoje em dia ele for somente entendido e classificado como um “programa de música erudita”, todo o trabalho investido ao longo de quase trinta anos terá sido mal compreendido, ou então teremos falhado no modo como procurámos atribuir-lhe uma identidade própria – que deveria afirmar-se como algo autónomo e independente da música que transmite.
«Há contudo razões para acreditar que assim não sucede, já que existem provas seguras da existência de um público que se manteve fiel ao programa, a despeito das mudanças por ele experimentadas com o passar dos anos.
«A permanência desse auditório, assim como a conquista de um outro que foi aderindo ao movimento da redescoberta do verdadeiro espírito da Música Antiga (oculto durante vários séculos), não pode decorrer apenas de um fenómeno de identificação mimética do gosto dos ouvintes com as opções que foram sendo assumidas pelos responsáveis do Em órbita.
«Não foi só a qualidade da música transmitida que permitiu ao programa manter um público fiel.
«O modo como ele questionou o Dizer Radiofónico, e as formas encontradas para levar à prática os resultados de semelhante indagação, estão igualmente na origem daquilo que atribuiu ao Em órbita a condição própria de um “objecto familiar”, à semelhança daqueles retratos antigos de família que não se podem perder – porque nos dizem sempre coisas novas.
«Se o programa não tivesse despertado intimidades afectivas naquelas regiões da alma onde as coisas ganham a força do que é credível, nunca teria havido condições para a mudança radical que se operou no início de 1974, quando a chamada música erudita estava excluída de qualquer estação de rádio de vocação comercial.
«E se foi possível levar por diante semelhante projecto, com naturais perdas de audiência nos primeiros anos, é porque já existia uma audiência cuja generosidade a tornava receptiva à semente de um gosto musical mais rico e profundo.»
Palavras de Jorge Gil que explicam opções, dão definições e caracterizam espaços e fronteiras para um dos grandes programas de rádio portuguesa e que marcou toda uma geração.
Fundamental para um completo entendimento do espantoso feed-back que o Em órbita provocou é o ter-se em conta que não foi só pela qualidade da música que o programa se consagrou. Foi também por um nível altíssimo de qualidade técnica que contrastava com o desleixo e o amadorismo generalizados na nossa rádio.
Uma das mais brilhantes análises ao Em órbita, foi feita, no Expresso, por Rui Vieira Nery:
«Tudo começou com um grupo de jovens profissionais da rádio que em meados da década de 60, em pleno reino do nacional-cançonetismo, de Rafael e de Gianni Morandi, tocava regularmente o que de melhor e mais avançado se fazia na música popular anglo-americana, constituindo um espaço radiofónico alternativo que serviu de referência de qualidade a toda uma geração marcada pelo movimento associativo universitário, pela resistência antifascista, pelo trauma da guerra colonial, pela ruptura com os códigos morais pequeno-burgueses dos filmes cor-de-rosa de Doris Day e Marisol. Depois veio o 25 de Abril, a geração que se formara ao som do Em Órbita entrou de uma vez por todas na esfera do poder e o próprio grupo dos responsáveis pelo programa se dissolveu enquanto tal para gradualmente se ir convertendo – com diferentes graus de felicidade conforme os casos no novo núcleo dirigente da rádio portuguesa.
«Mas a vocação alternativa do Em Órbita não se tinha esgotado, quando a consagração institucional do seu primeiro figurino ameaçava transferi-lo das convulsões do desafio para a rotina fácil do sucesso, o programa reconverteu-se radicalmente em termos que muitos consideram quase suicidas e dedicou-se exclusivamente à música erudita, com destaque para o repertório barroco. Os seus níveis de audiência desceram vertiginosamente e tudo indicava que a sua própria sobrevivência estaria em breve seriamente ameaçada.
«A nova aposta do Em Órbita assenta sobretudo não só na promoção de um repertório pré-romântico quase desconhecido entre nós como na insistência na sua execução com instrumentos e práticas interpretativas originais, um movimento que em toda a Europa lutava ainda arduamente pela conquista de uma credibilidade que lhe era negada pelos herdeiros da tradição interpretativa oitocentista.
«O combate de Jorge Gil, que ficara sozinho à frente do programa, começou pouco a pouco a surtir efeito. Os níveis de audiência começaram de novo a subir (no início da década de 80 eram já dos mais altos da rádio portuguesa) e a consequência mais evidente deste fenómeno que se foi verificando foi uma procura crescente de gravações de música antiga no mercado discográfico nacional.
«A partir de 1985 o Em Órbita passou a promover concertos de música antiga. Começou com a Orquestra Barroca de Amsterdão, dirigida por Ton Koppman, para celebrar os tricentenários de Bach e Handel, e prosseguiu com produções tão importantes como a primeira audição moderna de La Guerra de los Gigantes de Sebastian Duron, pelo Hesperion XX, o Tristão e Isolda medieval de Bóston Camerata, os concertos de música de câmara de Jordi Savall, Ton Koopman e do Musica Antiqua, de Colónia ou a apresentação monumental das Vésperas de Monteverdi dirigidas por Savall, poucos dias antes da sua gravação num dos álbuns mais unanimemente aclamados da discografia europeia dos últimos anos.
«O Em Órbita, que soube sempre ir à frente e desbravar caminhos novos na vida musical portuguesa, deveria ser hoje, após vinte e cinco anos de provas excelentes, uma realidade sólida, acreditada e disputada pelos grupos económicos deste país como interlocutor privilegiado para as suas iniciativas de mecenato cultural.»
Fica assim dissecado, brilhantemente, o que foi um dos mais importantes e fundamentais programas da história da rádio em Portugal.

in «Telefonia» de Matos Maia
Círculo de Leitores 1994

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ENTREVISTAS

O ciclo de entrevistas a pocasters nacionais vai continuar aqui em Março. O próximo convidado é Nídio Amado, autor do programa "Percepções" (RUM).