terça-feira, 16 de outubro de 2007
A manhã da rádio de hoje teve um tema central, ao qual apenas os mais distraídos ou contrariadores, passaram ao lado.
A Guerra. A guerra colonial/ultramar/libertação (dependendo das leituras). Este é um tema que volta e meia regressa à baila. Desta vez por causa do início de uma série de 18 capítulos, na RTP1 e com realização de Joaquim Furtado, sobre os treze anos de guerra que Portugal travou em África. Já na segunda-feira, no programa «Prós e Contras» na RTP1, o debate reacendeu-se.
Na RDP-Antena1, Joaquim Furtado esteve à conversa com António Macedo entre as dez e as onze da manhã. Na hora seguinte, o programa «Antena Aberta» não se dedicou ao assunto.
Na TSF, o programa de debate «Fórum» dedicou-se ao tema, também com a participação de Joaquim Furtado, para além dos (sempre presentes) ouvintes.
Ficou mais uma vez provado que este é um assunto ainda muito quente na sociedade portuguesa. É uma ferida aberta, com correntes de opinião muito diversas e contraditórias. A interpretação da história tem várias facetas de pensamento e discernimento. Não é uma matéria consensual. É a passagem do tempo que irá escrever o epílogo desta fase da história de Portugal do século XX. Daqui a outros quarenta anos talvez as coisas estejam mais nítidas e esclarecidas para a sociedade portuguesa. Por enquanto, as visões parcelares predominam, e talvez as reportagens de Joaquim Furtado em «A Guerra» ajudem a alargar horizontes. Visto o primeiro programa – que corajosamente não exclui imagens chocantes – o leque interpretativo de um país a preto e branco começou a alargar-se.
Hoje, terça-feira, ouvimos canções de Adriano Correia de Oliveira em várias rádios, a propósito dos 25 anos da morte do homem que cantou “Menina dos Olhos Tristes”. Não faltaram as elegias, os retratos psicológicos e artísticos justos e abonatórios, não só na Rádio, como também na TV e na imprensa escrita. Hoje usou-se e abusou-se do termo memórias de Adriano, num repetido parafrasear do título de uma obra literária de Marguerite Yourcenar.
Ontem, Adriano não se ouvia na Rádio e amanhã, Adriano voltará ao esquecimento. Certamente que Adriano Correia de Oliveira voltará a figurar nas rádios portuguesas daqui a cinco anos, quando se assinalarem os 30 anos da sua morte. É a próxima oportunidade. Até lá, continua banido, apesar da edição do álbum de homenagem que artistas nacionais lhe dedicaram agora. Adriano, banido das rádios de playlist (nem o serviço público de radiodifusão escapa), e os que agora o cantam, estarão por aí a soar por uma ou duas semanas. Depois, é mais um disco para a prateleira das boas intenções homéricas, cujas acções têm de se pautar pela fugaz brevidade para não se transformarem em profundo incómodo para as ditas leis do mercado que, com as memórias de Adriano só tem um e único pressuposto, que é o de postergar.
É o Portugal a preto e branco.