domingo, 15 de abril de 2007

Canções que salvam


As imagens que abaixo se vêm não são da canção de que vos venho falar. Não existe no YouTube (ainda?), mas mostram o mesmo homem que a escreveu e a cantou.
O que dizer de uma canção que já diz tudo?
Love Calls You By Your Name” conheci através da «Íntima Fracção», passei-a em muitas noites da rádio durante mais de uma década. É uma canção que salva – pode salvar – a alma e o coração. É purgatória e reflexiva.
"Love Calls You By Your Name" não faz parte do grande lote das canções mais conhecidas deste canadiano, filho da neve, mas também podia - e pode - estar entre as melhores do século XX.
É a descida àquilo que o pensador George Steiner chama de “tribunal da memória”, uma espécie de auto-exame em que, segundo Steiner, se formos verdadeiramente sinceros, chumbamos. Sem excepções. Descobrimos “o estranho” que há em nós (I was the stranger).
Na última noite em que a IF foi transmitida pela TSF, eu estava em emissão e quis dedicar os quinze minutos que lhe antecederam incluindo esta canção de Leonard Cohen. Foi a última vez que a pude passar na rádio.
Agora, nestes tempos de songs they never play on the radio, ela ainda pode ser escutada na emissão do 23º aniversário da IF. As melhores canções são como as pessoas; é nos momentos maus que se revelam. E a Rádio já não passa as melhores canções.
Não temos as imagens nem o som da canção (o amor chama-te pelo teu nome), mas temos o texto completo, as palavras, que encerram todo e qualquer discurso que sobre as mesmas poderia ou conseguiria mais fazer. Palavras para quê? Para serem lidas com todas as letras, especialmente as que não estão lá!



You thought that it could never happen to all the people that you became, your body lost in legends, the beast so very tame.
But here, right here, between the birthmark and the stain, between the ocean and your open vein, between the snowman and the rain, once again, once again, love calls you by your name.
The women in your scrapbook whom you still praise and blame, you say they chained you to your fingernails and you climb the halls of fame.
Oh but here, right here, between the peanuts and the cage, between the darkness and the stage, between the hour and the age, once again, once again, love calls you by your name.
Shouldering your loneliness like a gun that you will not learn to aim, you stumble into this movie house, then you climb, you climb into the frame.
Yes, and here, right here between the moonlight and the lane, between the tunnel and the train, between the victim and his stain, once again, once again, love calls you by your name.
I leave the lady meditating on the very love which I, I do not wish to claim, I journey down the hundred steps, but the street is still the very same.
And here, right here, between the dancer and his cane, between the sailboat and the drain, between the newsreel and your tiny pain, once again, once again, love calls you by your name.
Where are you, Judy, where are you, Anne?
Where are the paths your heroes came?
Wondering out loud as the bandage pulls away, was I, was I only limping, was I really lame?
Oh here, come over here, between the windmill and the grain, between the sundial and the chain, between the traitor and her pain, once again, once again, love calls you by your name.

1971

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Difícil paradoxo
Posso ser ouvido por todos, mas só posso ser escutado, recebido profeticamente por sujeitos que têm exactamente – e presentemente – a mesma linguagem que eu.
Os apaixonados, diz Alcibíades, assemelham-se aos que foram mordidos por uma víbora. Não querem, diz-se, falar do seu acidente a ninguém, excepto àqueles que dele também já foram vítimas, por serem estes os únicos capazes de compreender e desculpar tudo o que ousaram dizer e fazer sob o efeito das dores.


In: «Íntima Fracção» 



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