sábado, 14 de abril de 2007

Songs they never play on the Radio

Qual é a melhor canção do século XX? É uma pergunta de infinitas respostas. Mas José Duarte, radialista de longa data, autor dos mais famosos «Cinco Minutos de Jazz» da rádio portuguesa avança, através da Rádio, uma hipótese. Segura, diga-se. Contestável, como qualquer outra, mas que não foge muito a muitas outras concordâncias.

Muitos Jazz lovers – a maioria – consideram Billie Holiday a melhor voz feminina. A maior cantora de Jazz. Escolhi a melhor canção escrita no século vinte: “Strange Fruit”, um manifesto anti-racista.
José Duarte


De “Strange Fruit” existem numerosas versões instrumentais e cantadas. Das cantadas, destaco as magníficas versões – e todas elas muito distintas – de Robert Wyatt, Jimmy Scott, Nina Simone, Siouxie And The Banshees e Cocteau Twins. Destas, para mim, a mais tocante é a de Robert Wyatt, mas insuperavelmente mesmo é o original cantado por Lady Day. A letra é de Lewis Allen.
Eu sou um Jazz lover.



Southern trees bear strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop

1937


P.S.1: Na rádio em Portugal, que acontecerá a estas pérolas quando já não houver o Jazé?

P.S.2: Uma história verdadeira: Final dos anos 80, à saída de mais uma longa jornada de aulas na Escola de Artes António Arroio, em Lisboa, já na Alameda Afonso Henriques, perto da Fonte Luminosa, eu e mais uns quantos alunos fomos abordados – cercados – por um bando de dreads marginais, que eram mais ou menos da nossa idade. Entre eles estavam brancos e negros, entre nós só um era negro. Apontaram-nos facas de ponta e mola. Era um assalto. Adivinhem quem é que eles assaltaram… apenas o meu colega negro. Foi o maior acto de racismo a que assisti até hoje. Levaram-lhe tudo o que quiseram. A nós, os outros, nem uma palavra, nem um gesto. Depois daquilo, e assolados por uma frustração indescritível, sentimos todos - à parte do nosso colega vítima - a mesma indignação e desejo: queríamos ter sido assaltados!



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