quarta-feira, 25 de abril de 2007
33
Rádio Nostalgia /Abril 1974 - 2007
Paulo de Carvalho - "E Depois do Adeus"
A mítica canção que acabaria por fazer parte da história do nosso país, aqui na sua primeira aparição nacional. Note-se a recepção apoteótica de que foi alvo.
Que o poema seja microfone e fale
De repente uma noite destas às três e tal
Para que a Lua estoire
E o sono estale
E a gente acorde
Finalmente em Portugal
Manuel Alegre
Há 33 anos, foi assim na Rádio:
«Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas: as Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos, sinceramente, que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom-senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário só poderia conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais a fim de prestar eventual colaboração que seja... aliás, que se deseja sinceramente desnecessária.»
33 anos depois, na Rádio: Ainda não tinha chegado a meia-noite, já um portentoso fogo de artifício estalava nas vidraças. Em fundo soavam as últimas escolhas musicais de Tozé Brito na «Banda Sonora» de Nuno Infante do Carmo no RCP.
Pouco tempo depois da pirotecnia, nas estações ditas de referência, mais do mesmo como noutros dias: repetições de programas; os habituais noticiários de hora a hora, ou de meia em meia hora; música em playlist nos intervalos; a "conversa" do costume; repetições de rubricas, etc. E no RCP? Uma emissão especial a partir da meia-noite – e que dura 24 horas – à conversa com jovens adultos e algumas figuras públicas, reconhecendo o passado e perspectivando o futuro da vida no nosso país. Noticiários de hora a hora e muito pouca música, toda ela em português. Na madrugada de hoje na Rádio em Portugal – onde tudo se anunciou publicamente no antigo Rádio Clube Português – só o novo RCP fez a diferença.
Melhor exemplo que a Rádio em geral, deu a TV, nomeadamente a RTP-1, com toda a madrugada a ser preenchida com documentários ligados a esta data.
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
Os poemas de Alegre e de Sophia já os ouvimos na Rádio ao longo dos últimos trinta e três anos, mas o que se segue (ainda) não:
abril está a chegar
vinte e cinco poemas
vinte e cinco navios
vinte e cinco palavras
ao cair lento da tarde
gente que vem e vai
que semeia a terra com sol
gente com flores nos dentes
com um farnel de pássaros ao ombro
e um cajado herdado de nossos pais
gente que canta e dança com as gaivotas
sempre a treinar sempre a dançar
no sonho de se transformar em mar
vinte e cinco navios
vinte e cinco poemas
nos teus olhos pretos
vinte e cinco lanças deitadas ao luar
de cada vez que vais de cada vez que vens
vinte e cinco folhas atiradas ao vento
vinte e cinco navios que apascentam o mar
vinte e cinco traços riscados na sombra
vinte e cinco gritos atirados à espuma
uma candeia acesa na mão das bruxas
com vinte e cinco pedras às costas
para cantar
vinte e cinco poemas
que caiem a pique nas ruas
vinte e cinco crianças à roda
de mãos dadas com as cidades do mundo
abril não volta abril está à porta
e eu digo: até breve
para que o sol subindo a liberdade
anseie beijar vinte e cinco bocas
cheias de fome
com vinte e cinco pedras dentro
com vinte e cinco poetas
com vinte e cinco navios
com vinte e cinco músicas no rio
meus olhos estão húmidos
a verdade não se amarra
nas escolas no país e em toda a parte do mundo
dizem e lembram
que abril está a chegar
abril são as tuas lágrimas que eu enxugo
abril é o mundo.
Maria Azenha