sábado, 31 de dezembro de 2011
Há boa Rádio em Portugal
Muito se tem dito que a Rádio já não é o que era, que está em declínio, que não terá futuro, que perdeu qualidades, etc. Há muita especulação sobre o assunto, mas muito poucas certezas.
Um dos aspectos mais salientes de tudo isso que se tem dito é uma evidente diminuição dos programas de autor, um género em crescente extinção a cada ano que passa.
Já houve a Rádio de autor em Portugal. Actualmente o que ainda há são alguns programas de autor.
À medida que os programas de cunho pessoal se vão extinguindo, vão surgindo menos autores. Porque quando se é jovem e não se ouve programas de autor antes de se trabalhar na Rádio, dificilmente se terá a intenção de realizar um programa de autor na Rádio. Apesar de aparecerem sempre profissionais com talento, mas que depois esbarram em formatos limitativos da criatividade individual.
O melhor programa actual na Rádio em Portugal é, para mim, na minha mera qualidade de ouvinte, o de António Cartaxo.
«Em Sintonia» reúne todos os condimentos que aprecio num programa verdadeiramente de Autor. É dotado de profunda identidade, possui e transmite um ambiente envolvente, contém boa apresentação num tom de voz absolutamente inigualável, a música seleccionada é de primeiríssima água – não tem discussão sequer – e é devidamente apresentada, contextualizada e enquadrada. A fusão dos textos com a voz (que timbre!) e com a música resulta numa composição una, plena de solidez e harmonia. Melhor seria impossível, tendo em conta os elementos utilizados e os meios envolvidos nesta realização, a todos os níveis notável.
Desconheço quando «Em Sintonia» teve início. Comecei a escutá-lo na Primavera/Verão de 2004. Desde então que mantenho a sintonia. António Cartaxo é um talento ímpar na Rádio, premiado internacionalmente.
A RDP, a Rádio Pública, é o único local onde profissionais de longa data (ainda) podem envelhecer com dignidade. No activo e com liberdade criativa para fazerem o que melhor sabem.
Em estações comerciais há muito que teriam desaparecido. Salvo raríssimas excepções, não há lugar para eles nas rádios privadas.
Segue-se uma selecção de programas de autor na Rádio.
Com periodicidade diária ou semanal, ocupando uma ou mais horas de emissão, ou apenas alguns minutos, em forma de crónica.
Os melhores programas de Rádio em Portugal durante o ano 2011:
Antena1:
A Menina Dança – José Duarte
Cinco Minutos de Jazz – José Duarte
Em Nome do Ouvinte – Mário Figueiredo (Provedor da Rádio Pública)
Paixões Cruzadas – António Cartaxo e António Macedo
A Ilha dos Tesouros – Júlio Isidro
Antena2:
Em Sintonia – António Cartaxo
De Olhos Bem Abertos – António Cartaxo
Questões de Moral – Joel Costa
Música Aeterna – João Chambers
Matrízes – Rui Vieira Nery
Argonauta – Jorge Carnaxide
Jazz a 2 – João Almeida e Alexandra Corvela
A propósito da Música – Alexandre Delgado
Antena3:
Prova Oral – Fernando Alvim
Música Enrolada – Família Fazuma (colectivo de realizadores)
TSF:
Tubo de Ensaio – Bruno Nogueira e João Quadros
No Fim da Rua – Nuno Amaral
Reportagem (vários autores)
RADAR:
Álbum de Família – Tiago Castro
Vidro Azul – Ricardo Mariano
Em Transe – Ricardo Mariano e Ricardo Carvalho
Discos Voadores – Nuno Galopim
Certamente que existem mais programas de autor que poderiam fazer parte desta selecção, mas não posso pronunciar-me sobre o que não ouvi e não conheço.
Nenhuns dos programas referidos neste texto fizeram parte da gala anual da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, que desde 2010, atribui prémios de Rádio. Dificilmente virão a fazer parte dos candidatos e muito mais dificilmente algum dia ganharão o prémio que, consoante os casos, seria certamente merecido (mais uns que outros, é verdade).
A esmagadora maioria destes programas de autor não são novos. Alguns têm muitos anos. É de louvar. Mas quase todos já sofreram mudanças de horário de transmissão. O que se lamenta, porque essa pratica recorrente desfideliza os ouvintes. Em quase todos os casos verificados, as mudanças não beneficiaram os programas.
Os dirigentes das estações de Rádio descuram esta regra de ouro que é a fixação estável de um programa num horário. Mudam-se os horários como quem muda de camisa. A troco de nada. É uma falta de respeito para com os ouvintes. Depois queixam-se que as audiências baixam.
Ainda sobre os melhores da Rádio em 2011, há espaços de animação de continuidade que, não sendo programas de autor, são exemplarmente exercidos por profissionais que merecem também destaque:
A melhor manhã está na Oxigénio, com a condução de emissão de Rui Portulêz.
O melhor final de manhã pertence ao «Fórum TSF».
A melhor tarde da Rádio está a cargo de Pedro Ramos na RADAR.
O melhor final de tarde da Rádio em Portugal é desempenhado por Paulo Rocha na Antena1, de segunda a sexta-feira entre as 17:00 e as 20:00.
A melhor noite da Rádio está a cargo de Joana Bernardo na RADAR, de segunda a sexta-feira entre as 20:00 e as 23:00.
O melhor início de madrugada está nas mãos de Jorge Afonso na Antena1, de segunda a sexta-feira entre as 00:00 e as 02:00.
O melhor final de madrugada/início de manhã a cargo de José Candeias na Antena1 (05:00/07:00).
O ano que passou conheceu mudanças no mundo da Rádio em Portugal. Houve estações a fechar (há todos os anos), mas também apareceram novas. Extinguiram-se as rádios Capital e Europa Lisboa, mas surgiram em seu lugar a Rádio Sudoeste TMN e a ressurreição da Rádio Nostalgia.
Também houve um ‘flop’. A anunciada rádio informativa de Emídio Rangel não passou do papel. A frequência da Rádio Europa-Lisboa (antiga RPL-Rádio Paris-Lisboa) seria a casa da segunda estação fundada por Emídio Rangel, depois do caso de sucesso da TSF-Rádio Jornal em 1988. Está provado que não se consegue construir outra rádio noticiosa em Portugal. Todas as tentativas, até agora, falharam.
O regresso da Rádio Energia por três dias foi o maior acontecimento da Rádio em Portugal no ano 2011
A comemoração dos vinte anos da NRJ-Rádio Nostalgia foi o grande acontecimento do ano. A extinta rádio jovem do então grupo TSF celebrou a data por três vibrantes dias em frequência emprestada para o efeito. Duas décadas após a inauguração, foram muitas as memórias e o reaparecer de nomes conhecidos do meio. A maior parte deles ganharam notoriedade e projecção na Rádio a partir da Energia.
O acontecimento Energia2.0 provou que a morte da NRJ foi prematura. Podia muito bem ter continuado a existir e a persistir até aos dias de hoje. O slogan “Nunca existiu uma Rádio Assim”, da NRJ em 1991, diz tudo. Em Abril de 2011, a equipa fundadora da NRJ em 1991 reuniu-se para festejar os vinte anos da fundação da primeira estação jovem do país.
O ano findo viu partir pessoas que, de forma directa ou indirecta, se cruzaram no meu caminho na Rádio: Maria José Nogueira Pinto, José Freire, Jorge Pena, Nuno Miguel, António Jorge Branco e André Martin.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
LINHAS CRUZADAS #50
A Vida e a Arte do encontro na Música
The Art of Noise & Tom Jones
Um tema de Prince Rogers Nelson serviu para reactivar a carreira do cantor galês Tom Jones: crooner de longa data, que nos anos 60 e 70 alcançou grandiosos sucessos como intérprete a solo.
Nos anos 80 Tom Jones encontrava-se em declínio, quando por iniciativa do colectivo britânico Art of Noise, foi convidado para cantar "Kiss", um conhecido tema original de Prince.
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Os Art of Noise formaram-se em Londres no ano de 1982. Um conjunto de estetas da música electrónica liderados por Anne Dudley e afectos à editora ZTT, fundada por Trevor Horn, o criador dos Buggles.
Os Art of Noise faziam parte de um triunvirato de nomes sonantes da ZTT na década de 80, ao lado dos também ingleses Frankie Goes to Hollywood e dos alemães Propaganda.
Tom Jones iniciou carreira em 1965, na famosa banda sonora do filme «What's New Pussycat?».
Os Art of Noise editaram o primeiro disco em 1983 e logo com um tema que se tornou incontornável: o longo "Moments in Love", misturando uma série de influências e matrizes estilísticas.
Em 1988, o encontro dos Art of Noise com Tom Jones.
A electro-pop de mãos dadas com uma voz forte e segura.
The Art of Noise & Tom Jones – “Kiss” (1988):
LINHAS CRUZADAS #50
Tempo total: 05:20
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Hoje na RADAR
A sétima série do programa «Álbum de Família» na RADAR prossegue esta semana com um disco novo… mas de 1967.
O álbum «SMiLE» dos norte-americanos Beach Boys esteve para ser oficialmente editado em Fevereiro de 1967, mas uma rocambolesca série de lamentáveis episódios fizeram com que o disco mais aguardado da história da música popular anglo-saxónica – e sucessor do clássico «Pet Sounds» – só visse oficialmente a luz do dia no passado dia 1 de Novembro.
Para conhecer melhor a história de «SMiLE», ler aqui um artigo publicado no blogue da «Irmandade do Éter» (inclui vídeos).
Para ouvir o disco no alinhamento original e conhecer partes fulcrais da história de «SMiLE», ouvir o programa de Tiago Castro hoje na RADAR, às 14.00 e/ou no próximo Domingo ao meio-dia.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Os idos do passado fim-de-semana
Foi contagem que nunca quis fazer ao longo dos anos que levo de Rádio, mas este ano já foi cerca de meia-dúzia de artistas musicais que noticiei o desaparecimento (Mick Karn, Gerry Rafferty, Gary Moore, Clarence Clemons, Amy Winehouse…). Todos eles passei na Rádio. Antes e depois de morrerem.
Sábado passado, Cesária Évora.
A diva dos pés descalços ou Cise (como era muitas vezes conhecida) tem desde há quase vinte anos passagem mais ou menos regular na Rádio em Portugal (consoante as épocas e as estações) e, claro, nesse dia e nos que se seguiram com mais intensidade.
A primeira vez que vi Cesária Évora em palco foi no célebre concerto no Coliseu dos Recreios em Lisboa, no dia 15 de Março de 1997. Juntamente com Paulino Vieira – um músico imenso! – e Tito Paris. Voltei a vê-la depois em outras actuações.
Entrevistei uma única vez Cesária Évora para a TSF, em Setembro de 1997, no Instituto Camões em Lisboa. Foi em forma de conferência de imprensa, em que os jornalistas presentes fizeram tudo menos perguntas. Não faltavam elogios, declarações de admiração e atitudes laudatórias. Mais parecia uma celebração.
O então presidente do instituto, sentado ao lado da cantora cabo-verdiana, admirou-se imenso quando fiz de rajada duas ou três perguntas a Cesária, às quais respondeu com a espontaneidade e simplicidade que a caracterizavam.
Anos mais tarde, em 2001, no âmbito da série de programas «Como no Cinema», utilizei uma única vez a voz de Cesária Évora num programa dedicado às «Saudades do Mar».
Não existiu até hoje outra voz que assim cantasse, como Cesária, o Atlântico africano. O azul líquido.
Cesária Évora – “Mar Azul” (1994):
Por mera coincidência, o antigo vocalista do Conjunto Académico João Paulo, Sérgio Borges, também morreu no mesmo dia que Cesária Évora. Mas para o intérprete de “Hully Gully do Montanhês” não houve a mesma atenção por parte dos media e, em particular, por parte da Rádio, palco fundamental de popularidade oferecido a um dos grandes nomes de cartaz do chamado Yeah Yeah português.
Entre outros momentos de glória, Sérgio Borges venceu o Festival RTP da Canção em 1970. Já tinha participado (com o Conjunto Académico João Paulo) em 1966 e voltaria a participar, a solo, duas décadas depois.
Sérgio Borges – “Onde Vais Rio Que Eu Canto” (1970):
Conjunto Académico João Paulo – “Hully Gully do Montanhês” (1965):
Muito menos atenção se deu ainda a Carlos Meneses, desaparecido no dia seguinte (Domingo, 18 de Dezembro).
Carlos Meneses foi o primeiro músico de jazz português reconhecido internacionalmente, e pioneiro na introdução da guitarra eléctrica em Portugal.
Tanto no caso de Sérgio Borges, como no de Carlos Meneses, é de saudar a atenção dedicada do sempre atento e atempado jornalista (e ex-radialista) Luís Pinheiro de Almeida, autor do blogue «IÉ-IÉ».
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Irmandade do Éter #002: Salvação
Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou, senão para sair do Inferno.
Antonin Artaud
Encontra-se publicado na Internet o segundo podcast do conjunto de autores que compõem o grupo «Irmandade do Éter».
Sete amantes da Rádio, autores de podcasts e de blogues que – no âmbito das suas plenas capacidades, liberdades e garantias de cidadania – realizam o segundo trabalho conjunto livre de constrangimentos limitativos da Arte de fazer Rádio, sem fronteiras e sem limites formais, estéticos, ornamentais, político-económicos, filosóficos ou outros.
O usufruto da Liberdade é um acto que incomoda muita gente, mas que satisfaz muitas mais!
Sob o signo da Salvação, de Portugal à China, de norte a sul do país, todo o espaço é dado à expressão da criatividade de Ricardo Mariano, Firmino Pereira, Pedro Esteves, Nídio Amado, Hugo Pinto, Francisco Mateus e Francisco Amaral.
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Alinhamento:
Ricardo Mariano (Vidro Azul)
Musette - 24 Marj
King Creosote & Jon Hopniks - First Watch
Nils Frahm - Unter
Timbre – Prelude
Antonymes - Endlessly
Michael Cashmore - How God Moved At Twilight
Firmino Pereira (Bitsounds)
Takeshi Terauchi - This Little Bird
Monster Rally - Birds Pt.1
Run DMT - Romantic
Die Jungen - When I Awake
Pedro Esteves (lado B)
The Envy Corps - Fools (How I Survived You And Even Laughed)
Nídio Amado (O Cubo)
Fennesz - Onsra
Murcof - Louis XIVs Demons
Knife - From Off To On
Hugo Pinto (Miss Tapes)
People Like Us - Lost in the Dark (extracto)
Depeche Mode - Leave in Silence (Claro Intelecto ‘The Last Time’ Remix)
Harald Grosskopf - Synthesist (Snoretex Version)
Jamie Woon - Night Air (Ramadanman Refix)
Trans Am - Illegalize it
People Like Us - Lost in the Dark (extracto)
Francisco Mateus (Rádio Crítica)
Ryuichi Sakamoto & Jaques Morelenbaum & Everton Nelson – A Day a Gorilla Gives a Banana
John Lennon & Yoko Ono & Sean Lennon – Sean in the Sky
Ryuichi Sakamoto & David Sylvian – Salvation
John Maus – And Heaven Turned to Her Weeping
Francisco Amaral (Íntima Fracção)
Art of Noise - Out of this world (version 138) - (extracto)
Raz Ohara And The Odd Orchestra - Fragment II
The Blue Nile - From a late night train
Christopher Flores - Edits for piano (extracto)
Eels - Electro-shock blues (extracto)
Noah and the Whale - Carry that weight
Jacques Higelin - Entre deux gares
Alva Noto + Ryuichi Sakamoto - Trioon I (extracto)
IdE #002 - Salvação Download: [MP3 | ZIP] Tempo total: 01:22:18
Data de publicação: Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2011
http://irmandadedoeter.blogspot.com
IdE #001 - Liberdade Download: MP3 / ZIP
Tempo total: 01:10:42
Data de publicação: Sábado, 05 de Novembro de 2011
Também disponível no EXPRESSO online
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
LINHAS CRUZADAS #49
A Vida e a Arte do encontro na Música
John Cale & Suzanne Vega
John Cale, músico galês, de formação clássica, ficou mundialmente conhecido nos anos 60 por fazer parte da banda nova iorquina The Velvet Underground.
A solo desde 1970, tem construído uma carreira sólida repleta de temas clássicos e álbuns de grande relevância histórica.
Os encontros cruzados com outros artistas têm sido imensos. Um dos quais, com Suzanne Vega: autora norte-americana, que sempre em nome próprio, se tornou numa figura incontornável da música popular, desde logo a partir do primeiro álbum editado em 1985.
Na década de 90 do século XX dá-se o encontro de Cale & Vega, no âmbito do álbum «Chansons des Mers Froids» do músico Hector Zazou.
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Corria o ano de 1994. Para além desta dupla entre o ex-Velvet Underground e a autora de «Solitude Standing», «Chansons des Mers Froids» - ou «Songs From The Cold Seas» - inclui muitos outros nomes sonantes da música, como por exemplo Siouxie Sioux, Brendan Perry ou a islandesa Bjork.
Desse projecto do músico argelino Hector Zazou, destaca-se o tema "The Long Voyage", e é o encontro de John Cale com Suzanne Vega.
LINHAS CRUZADAS #49
Tempo total: 07:27
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