terça-feira, 1 de outubro de 2024
O último dia da SBSR
A emissão especial do último dia da SBSR começou às sete da
manhã e terminou quase à meia-noite.
Ao longo de quinze horas consecutivas de emissão em directo passaram pela antena da SBSR actuais e anteriores profissionais da estação, ouvintes, músicos, convidados e pessoas que iam aparecendo para um último adeus. Uma espécie de "funeral à Nova Orleães", por vezes cantando e rindo numa celebração da vida tentando disfarçar a tristeza da morte.
Ao longo de quinze horas consecutivas de emissão em directo passaram pela antena da SBSR actuais e anteriores profissionais da estação, ouvintes, músicos, convidados e pessoas que iam aparecendo para um último adeus. Uma espécie de "funeral à Nova Orleães", por vezes cantando e rindo numa celebração da vida tentando disfarçar a tristeza da morte.
A notícia da venda da Rádio SBSR surgiu de surpresa, em Março deste ano, sem que nada o fizesse pensar. Obviamente temeu-se desde logo o pior que viria a acontecer. Seguiu-se um enorme vazio provocado pela incerteza sobre o que de facto iria a acontecer, se a SBSR continuaria a ser o que sempre foi ou se aparecesse em seu lugar uma outra Rádio.
A manutenção do projecto da SBSR ficou desde cedo posto de lado uma vez que a empresa adquirente apressou-se a anunciar que entrava no mercado radiofónico para completar a sua oferta de média a par de outros títulos de que é detentora, nomeadamente o jornal diário Correio da Manhã, a revista semanal Sábado, a CMTV e o canal televisivo Now, entre outros.
O negócio trocou as voltas aos profissionais da estação, aos
seus ouvintes, uma legião de fãs e a novos músicos portugueses, que tinham na SBSR um palco
de lançamento e divulgação que não encontram em mais nenhuma Rádio de forma tão livre e expansiva. Ana Lua Caiano, por exemplo, que no Domingo à noite foi premiada com um Globo de Ouro na SIC, teve no palco da SBSR a sua estreia ao vivo. Isto só para dar um de muitos exemplos.
Ao longo dos últimos mais de trinta anos vimos partir estações de Rádio marcantes que realmente deixaram saudades e que nunca mais tiveram substituição. RDP-Rádio Comercial, Rádio Comercial Norte, CMR-Correio da Manhã Rádio, RGT-Rádio Geste, XFM, NRJ-Rádio Energia, Super FM, Rádio Press, RJC-Rádio Jornal do Centro, Memória FM, VOXX, Rádio Nostalgia, etc, etc.
É já longo o calvário de funerais de projectos de Rádio em Portugal. Todos os anos há estações a encerrar para dar lugar a outras que já existiam, utilizando essas aquisições para expandirem as suas emissões a outras localidades e regiões do país onde ainda não chegavam. Ou, mais perverso ainda, ocuparem o sinal simplesmente para impedirem que outras operem. Não foi para isto que se criaram e legalizaram as anteriormente chamadas rádios piratas.
Na emissão especial final da SBSR foi lançado um repto aos ouvintes para que pedissem uma canção, provocando uma avalancha de últimos discos pedidos que não puderam, naturalmente, ser atendidos na totalidade, ficando a última hora da Rádio destinada a corresponder ao máximo de número desses pedidos enviados por e-mail.
A última canção a ser emitida foi "Dream Baby
Dream", original dos Suicide (1977), na versão de Bruce Springsteen com a
E Street Band (2013). O mesmo tema com que era finalizado o programa diário
«Radio Call» da SBSR, nas imensas tardes do período de confinamento causado
pela pandemia da doença Covid 19. Em rigor, a ponta final do tema foi cortada já na fase instrumental
em fade out antes de um breve momento de total silêncio às 24:00.
À meia-noite em ponto no éter surge uma voz gravada a seco
com a frase "90.0 aqui vai nascer uma nova rádio".
Último dia de emissão da SBSR ouvir aqui