segunda-feira, 9 de maio de 2005
lado B (b)
No passado sábado à noite estive como convidado no programa "lado B", de Pedro Esteves, na Rádio Ocidente. Tal como tinha prometido, aqui está um breve resumo de alguns dos momentos mais importantes da conversa, úteis para quem não pôde ouvir. Como previsto, falou-se de rádio e de música, mas muito ficou por dizer. O tempo passou a correr. Mais abaixo, encontram-se os temas que escolhi como "o meu lado B" que também podem ser consultados aqui.
«...uma coisa que nós precisávamos... música nova para uma sociedade nova e a rádio seria o caminho certo para isso.»
(...)
«A rádio é o território pátria até mesmo para os gostos que se cultivam em Portugal, que estão nivelados muito por baixo.»
(...)
«...em relação à rádio feita hoje em dia... a importação que se fez sem tratamento nenhum, sem filtragem dos modelos que se praticam na América, nos "states"... foram importados e não foram tratados... não encaixam...»
(...)
«As "playlists" vieram nivelar por um nível que não é o mais alto.»
(...)
«Há uma série de trapalhadas que as "playlists" vieram provocar. Há o divórcio da comunicação, e eu acho que rádio é casamento, não o divórcio que há entre o ouvinte e o animador, o apresentador.
...em qualquer rádio, seja ela uma rádio de informação ou de música 24 horas sobre 24 horas, tem que haver uma ligação entre a pessoa que vai para o ar e apresenta – e dá a cara, neste caso, a voz – um produto, tem de identificar-se com aquilo que vai para o ar. Hoje em dia temos gente a apresentar coisas que não sabem o que são, de onde vêm. Porque é um fulano que nós nem sequer conhecemos de lado nenhum que escolhe as músicas "e agora toma lá disto e despeja aí uma série de horas de música". Quando eu defendo isto é para todas as rádios, não só para a minha rádio ou para esta (Ocidente). É para todas.»
(...)
«...e castra o nascimento de novos talentos. Como é que eu posso falar de um assunto que não domino, quando alguém o impõe? É uma forma de fazer tábua rasa de tudo quanto é gente que possa fazer coisas diferentes. É um fenómeno social, é cultural, é um dos lados negros da globalização. Porque o que nós deveríamos ter era a percepção de extrair o que de melhor a globalização traz... mas não, fazemos precisamente o contrário.»
(...)
«Deverá, sem dúvida, haver uma orientação musical numa rádio que seja de música... de haver uma "playlist", mas uma "playlist" feita pelos profissionais dessa rádio, que é para não haver o tal divórcio entre quem faz e quem apresenta. Tem de haver o tal casamento de comunicação e isso é transmitido para o ar. O ouvinte sente isso.
(...)
«A rádio é um processo de criação. Sem dúvida, é uma forma de arte... uma forma de arte quando é feita com arte. Não é desta maneira... que isto que nós temos hoje é uma soma de partes...é uma manta de retalhos em que é música mais informação, que por sua vez tem mais publicidade, e a seguir vem um relato, e a seguir vem uma entrevista...portanto, não há nada que una isto. Eu entendo a rádio como um todo e tudo tem de ter a ver com tudo. O apresentador tem que ter a ver com aquilo que apresenta e o que vem a seguir tem de ter a ver com o que esteve antes e o que vem depois...»
(...)
«Tudo tem uma razão, e o que se ouve hoje é a soma de partes. Tijolos em cima de tijolos.»
(...)
«Eu acho que estamos a caminhar para o marasmo, se é que já lá não chegámos.»
(...)
«Hoje em dia temos uma "playlist" que dura meses que não se altera quase nunca, com cinquenta ou quarenta e cinco ou oitenta temas. Só podendo passar esses, ficam milhares de fora.»
(...)
«Nós hoje vivemos numa censura à música de qualidade, à variedade. Isto de qualidade é muito subjectivo. Cada um entende a qualidade à sua maneira, mas eu acho que hoje existe uma censura, um castramento, um linchamento, um estalinismo na música que passa nas nossas rádios. O panorama que vai desde o início até ao fim do FM do nosso espectro... nós estamos a ouvir o mesmo disco. Às vezes há rádios – e falo das maiores rádios, das rádios de dimensão nacional – que estão a passar o mesmo disco à mesma hora. E isto é aflitivo, numa altura em que há acesso a muito mais música do que nós tínhamos acesso há cinco ou há dez anos.»
(...)
«É a velha história sobre o que é que nasceu primeiro... se o ovo se a galinha.
Se não houver divulgação, não há produção, se não há produção não há distribuição, se não há distribuição não há vendas, se não há vendas o mercado está como vemos hoje.»
(...)
«Nós não podemos cair nunca na falácia de "dar ao ouvinte aquilo que ele quer ouvir". Temos que dar ao ouvinte aquilo que ele não sabe que existe. Dar a conhecer. Diversidade, diversidade. Não é o que temos hoje.»
(...)
«A Internet é muito bem vinda para conhecermos coisas novas. Para conseguirmos coisas (música) que já não conseguimos em nenhuma loja, raridades, discos que já saíram de mercado, etc...»
(...)
«As editoras é que têm que se adaptar ao novos tempos. Não é possível que um disco com mais de vinte anos custe quase quatro contos/vinte euros. Isto é um absurdo. Como é os 19% de IVA. Um disco tem que ter 5% de IVA que é o que tem um livro. É um produto cultural. Não me venham cá dizer que é entretenimento, que não é.
Eu não vivia sem a música. Acho que a minha vida era uma lástima sem a música. Há uma velha frase de um programa belíssimo que existiu nos primeiros anos da TSF, que era um programa chamado "UNO", que tinha uma frase chave, que era a frase mestra da emissão, que é: "Sem música não há vida, não há vida sem música"... e isto diz tudo. Não é preciso dizer mais nada.
(...)
«A Internet não veio tirar lugar às editoras... as editoras é que se estão a anular a elas próprias não se adaptando.»
(...)
«Os mercados (musicais) têm que se abrir.»
(..)
«Há espaço para as editoras e para os downloads legais na Internet.»
(...)
Eu necessito muito de ter música "visual", isto é, ter o inlay, o livrinho, as informações, as fotografias, os alinhamentos e a caixa... a caixa do CD.»
(...)
«O blogue (Rádio Crítica) é para, essencialmente, aquilo que ainda vale a pena ouvir em rádio... programas de autor. É um blogue construtivo. É positivo. Não é para dizer mal, porque se fosse para dizer mal tinha que ter dez blogues, ou coisa assim. Basta um para dizer o que ainda vale a pena ouvir.»
(...)
«É um blogue em que não haverá espaço para o insulto nem para o golpe baixo.
É coisa rara, porque no meio rádio há muito submundo, e este blogue é para partilhar, dentro da minha perspectiva pessoal de ouvinte. Eu (aqui) assumo o meu papel de ouvinte, que tem o privilégio de fazer rádio e de estar na rádio. É a perspectiva de quem ouve. Eu falo (escrevo) sobre programas que não conheço (na esmagadora maioria dos casos) o autor... não conheço a rádio, sequer.»
(...)
«Crítica positiva! Eu quero fazer a crítica construtiva. Dar relevo ao que é bom em rádio ainda hoje, apesar do panorama ser dantesco, ser estalinista, ser muito mau e cada vez pior. Mas ainda existem ilhas de bom gosto, de resistência.»
A minha selecção "ladoB":
«...uma coisa que nós precisávamos... música nova para uma sociedade nova e a rádio seria o caminho certo para isso.»
(...)
«A rádio é o território pátria até mesmo para os gostos que se cultivam em Portugal, que estão nivelados muito por baixo.»
(...)
«...em relação à rádio feita hoje em dia... a importação que se fez sem tratamento nenhum, sem filtragem dos modelos que se praticam na América, nos "states"... foram importados e não foram tratados... não encaixam...»
(...)
«As "playlists" vieram nivelar por um nível que não é o mais alto.»
(...)
«Há uma série de trapalhadas que as "playlists" vieram provocar. Há o divórcio da comunicação, e eu acho que rádio é casamento, não o divórcio que há entre o ouvinte e o animador, o apresentador.
...em qualquer rádio, seja ela uma rádio de informação ou de música 24 horas sobre 24 horas, tem que haver uma ligação entre a pessoa que vai para o ar e apresenta – e dá a cara, neste caso, a voz – um produto, tem de identificar-se com aquilo que vai para o ar. Hoje em dia temos gente a apresentar coisas que não sabem o que são, de onde vêm. Porque é um fulano que nós nem sequer conhecemos de lado nenhum que escolhe as músicas "e agora toma lá disto e despeja aí uma série de horas de música". Quando eu defendo isto é para todas as rádios, não só para a minha rádio ou para esta (Ocidente). É para todas.»
(...)
«...e castra o nascimento de novos talentos. Como é que eu posso falar de um assunto que não domino, quando alguém o impõe? É uma forma de fazer tábua rasa de tudo quanto é gente que possa fazer coisas diferentes. É um fenómeno social, é cultural, é um dos lados negros da globalização. Porque o que nós deveríamos ter era a percepção de extrair o que de melhor a globalização traz... mas não, fazemos precisamente o contrário.»
(...)
«Deverá, sem dúvida, haver uma orientação musical numa rádio que seja de música... de haver uma "playlist", mas uma "playlist" feita pelos profissionais dessa rádio, que é para não haver o tal divórcio entre quem faz e quem apresenta. Tem de haver o tal casamento de comunicação e isso é transmitido para o ar. O ouvinte sente isso.
(...)
«A rádio é um processo de criação. Sem dúvida, é uma forma de arte... uma forma de arte quando é feita com arte. Não é desta maneira... que isto que nós temos hoje é uma soma de partes...é uma manta de retalhos em que é música mais informação, que por sua vez tem mais publicidade, e a seguir vem um relato, e a seguir vem uma entrevista...portanto, não há nada que una isto. Eu entendo a rádio como um todo e tudo tem de ter a ver com tudo. O apresentador tem que ter a ver com aquilo que apresenta e o que vem a seguir tem de ter a ver com o que esteve antes e o que vem depois...»
(...)
«Tudo tem uma razão, e o que se ouve hoje é a soma de partes. Tijolos em cima de tijolos.»
(...)
«Eu acho que estamos a caminhar para o marasmo, se é que já lá não chegámos.»
(...)
«Hoje em dia temos uma "playlist" que dura meses que não se altera quase nunca, com cinquenta ou quarenta e cinco ou oitenta temas. Só podendo passar esses, ficam milhares de fora.»
(...)
«Nós hoje vivemos numa censura à música de qualidade, à variedade. Isto de qualidade é muito subjectivo. Cada um entende a qualidade à sua maneira, mas eu acho que hoje existe uma censura, um castramento, um linchamento, um estalinismo na música que passa nas nossas rádios. O panorama que vai desde o início até ao fim do FM do nosso espectro... nós estamos a ouvir o mesmo disco. Às vezes há rádios – e falo das maiores rádios, das rádios de dimensão nacional – que estão a passar o mesmo disco à mesma hora. E isto é aflitivo, numa altura em que há acesso a muito mais música do que nós tínhamos acesso há cinco ou há dez anos.»
(...)
«É a velha história sobre o que é que nasceu primeiro... se o ovo se a galinha.
Se não houver divulgação, não há produção, se não há produção não há distribuição, se não há distribuição não há vendas, se não há vendas o mercado está como vemos hoje.»
(...)
«Nós não podemos cair nunca na falácia de "dar ao ouvinte aquilo que ele quer ouvir". Temos que dar ao ouvinte aquilo que ele não sabe que existe. Dar a conhecer. Diversidade, diversidade. Não é o que temos hoje.»
(...)
«A Internet é muito bem vinda para conhecermos coisas novas. Para conseguirmos coisas (música) que já não conseguimos em nenhuma loja, raridades, discos que já saíram de mercado, etc...»
(...)
«As editoras é que têm que se adaptar ao novos tempos. Não é possível que um disco com mais de vinte anos custe quase quatro contos/vinte euros. Isto é um absurdo. Como é os 19% de IVA. Um disco tem que ter 5% de IVA que é o que tem um livro. É um produto cultural. Não me venham cá dizer que é entretenimento, que não é.
Eu não vivia sem a música. Acho que a minha vida era uma lástima sem a música. Há uma velha frase de um programa belíssimo que existiu nos primeiros anos da TSF, que era um programa chamado "UNO", que tinha uma frase chave, que era a frase mestra da emissão, que é: "Sem música não há vida, não há vida sem música"... e isto diz tudo. Não é preciso dizer mais nada.
(...)
«A Internet não veio tirar lugar às editoras... as editoras é que se estão a anular a elas próprias não se adaptando.»
(...)
«Os mercados (musicais) têm que se abrir.»
(..)
«Há espaço para as editoras e para os downloads legais na Internet.»
(...)
Eu necessito muito de ter música "visual", isto é, ter o inlay, o livrinho, as informações, as fotografias, os alinhamentos e a caixa... a caixa do CD.»
(...)
«O blogue (Rádio Crítica) é para, essencialmente, aquilo que ainda vale a pena ouvir em rádio... programas de autor. É um blogue construtivo. É positivo. Não é para dizer mal, porque se fosse para dizer mal tinha que ter dez blogues, ou coisa assim. Basta um para dizer o que ainda vale a pena ouvir.»
(...)
«É um blogue em que não haverá espaço para o insulto nem para o golpe baixo.
É coisa rara, porque no meio rádio há muito submundo, e este blogue é para partilhar, dentro da minha perspectiva pessoal de ouvinte. Eu (aqui) assumo o meu papel de ouvinte, que tem o privilégio de fazer rádio e de estar na rádio. É a perspectiva de quem ouve. Eu falo (escrevo) sobre programas que não conheço (na esmagadora maioria dos casos) o autor... não conheço a rádio, sequer.»
(...)
«Crítica positiva! Eu quero fazer a crítica construtiva. Dar relevo ao que é bom em rádio ainda hoje, apesar do panorama ser dantesco, ser estalinista, ser muito mau e cada vez pior. Mas ainda existem ilhas de bom gosto, de resistência.»
A minha selecção "ladoB":
José Afonso - Maio maduro Maio
Kraftwerk - radioactivity
John Cale - (I keep a) close watch
Robert Wyatt - memories of you
Dead Can Dance - dawn of the iconoclast
Hugo Largo - grow wild
Wunder - how we are
Francisco Mateus