quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Cromo




















Desde que Herman José deixou de colaborar na TSF, que se sentia a falta de um apontamento de humor expressivo na Rádio Notícias. Não vou agora reflectir se uma rádio de perfil sério e informativo deva ou não incluir páginas de humor na sua emissão. Acho que o caso dos «Cromos TSF», nascidos da remodelação após o verão de 2003, é um inatacável caso de sucesso da estação. De segunda a sexta-feira, são eles, respectivamente: António Feio (Ugly Kid Tony); Maria Rueff (Zé manel taxista); José Pedro Gomes (ele próprio!); Joaquim Monchique (Bispo Tadeu) e Ana Bola (Tia Pureza). Todos eles actores/comediantes/humoristas conhecidos da nossa praça. Fazem humor distinto para vários gostos, mas José Pedro Gomes é o único dos cinco “cromos” que não representa nenhum papel, nenhuma personagem. É o mais acutilante de todos. José Pedro Gomes faz dele próprio. É ele, é assim e ponto final. Ponto final? Ainda não. Falta dizer que as intervenções deste humorista ultrapassam o simples humor. É sarcástico, irónico, mordaz, incisivo, verdadeiro, inteligente, autêntico, certeiro. É o homem da rua com uma nesga de voz pública. É a voz crítica do pacato cidadão – farto de ser engrupido – que não tem meio de se queixar sobre o que vai mal (e tanto que vai mal… ) neste país. Da cozinha às Finanças, do governo ao hospital. Os tiros ao alvo deste homem são sempre na mouche.
Um dia, José Pedro Gomes falou da Rádio na rádio que lhe estende o microfone. Não sei se ele quis cuspir na mão que lhe dá algum do pão, ou se nem sequer quis saber disso – que é o mais certo – mas sempre ouvi dizer que quem diz a verdade não merece castigo, portanto…
Eis o que disse este Cromo:

"Imagine que aquele programa de rádio que ouve tem a música que você gosta. Imagine que durante meses ouve as mesmas músicas que você gosta no programa que gosta. Já as sabe de cor de tanto as ouvir. Imagine agora que há um fulano -um ÚNICO fulano- que indica às rádios quais são as músicas que as rádios devem tocar. Umas que são êxitos confirmados para você gostar da rádio e outras novas que passam i-n-s-i-s-t-e-n-t-e-m-e-n-t-e até você gostar delas e comprar o CD desses artistas. Imagine que este fulano, que indica às rádios as músicas que as rádios devem tocar, recebia umas comissões das editoras para as rádios tocarem o que as editoras querem. Você, o seu gosto musical, aquilo que você cantarola no duche, nas bichas, no trabalho, ao seu filho, estaria nas mãos desse tipo e das editoras, não é? As rádios estariam nas mãos das editoras. Os locutores que lhe dizem «Agora vai ouvir este êxito do não sei quantos...» estariam nas mãos das editoras. Os artistas estariam nas mãos das editoras. Pronto! Já imaginou tudo isto? Seria um pesadelo só pensar que isto poderia acontecer à rádio que você tanto gosta, não é? Pois não vai precisar de esperar muito tempo para que isto seja uma realidade! Isto JÁ É O QUE SE PASSA numa boa parte das rádios que você ouve.
(...)
Antigamente os artistas, as editoras, tinham que andar de porta em porta dos divulgadores para o seu trabalho ser conhecido, ou então bastava que os locutores das rádios gostassem para passar a música que queriam. Agora não é assim. Uma boa parte das rádios não podem passar a música que querem, porque há UM fulano, ou UMA empresa, que decide o que a rádio vai passar. Já nem é o locutor que a anuncia quem decide. Isto não é futuro! Big-brother/Orson Wells... NÃO! JÁ EXISTE! Provavelmente na rádio que o senhor e a senhora e os seus filhos ouvem. Eu, cada vez vejo menos televisão e cada vez troco mais discos com os meus amigos. Rádio, é só para ouvir notícias... destas!"

José Pedro Gomes (Actor)

A rádio perfeita?! Imagine uma rádio feita à medida dos seus gostos musicais... seria espectacular ou um pesadelo. Afinal quem é que decide aquilo que você gosta de ouvir?!

In «CROMOS TSF»
4ªfeira/28.Abril.2004 (08:20 / 18:20)
Sábado/01.Maio.2004 (12:30)



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