segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
20 PERGUNTAS/20 RESPOSTAS (I)
O desafio foi aqui lançado há duas semanas e as respostas foram chegando.
Leitores/"ouvintes" da «Rádio Crítica» quiseram expressar por escrito o seu contributo e ele aqui está publicado. Seguem abaixo as primeiras respostas, da autoria de Carlos Faria.
As respostas estão a azul, mas por elas não passou nenhum lápis da mesma cor.
01. Por que é que não acabam as “rádios” gira-discos vazias de vozes e de conteúdos?
R.: Porque a propriedade das frequências de radiodifusão na nossa terra foi ‘ofertada a medíocres ambiciosos (pedantes). Os melhores do meio (aristocratas) estão de fora. Isto é assim porque a literatura e o jornalismo são as duas forças educativas mais importantes. Ora, os detentores do poder sabem que as pessoas tendem a ver somente a aparência das coisas. Sabem também que para tomar conta da opinião pública, é preciso torná-la perplexa. Isso tem sido feito, usando técnicas de propaganda que exprimem, de diversos lados e pelo tempo que se torne necessário, o maior número possível de opiniões contraditórias. Resultado, o público acaba perdido no seu labirinto e convencido de que, em política, o melhor é não ter opinião. Por outro lado, é sabido que um homem muito agitado perde a faculdade de raciocinar. Facilmente se abandona à sugestão. Então, a fim de que nada consiga pela reflexão, o poder trata de desviar a atenção do público pelos jogos, pelas diversões, pelas paixões, pelas casas da ‘celebrocracia’, criando uma literatura louca, suja, abominável, entre torpezas que tais. Uma vez aniquilado o hábito de pensar, (a reflexão cria a oposição), passa-se à distracção das forças do espírito em vãs escaramuças de eloquência, tocando as cordas mais sensíveis da alma humana: o cálculo, a avidez, a insaciabilidade dos bens materiais, todas essas fraquezas humanas, cada qual, capaz de abafar o espírito de iniciativa, pondo a vontade dos homens à disposição de quem compra a sua actividade. E com esse tipo de propaganda se molda um povo entregue a si próprio, isto é, aos ambiciosos do seu meio, sujeito ao jugo dos açambarcadores, dos velhacos enriquecidos, que o oprimem de modo impiedoso. A influência ‘perniciosa da imprensa particular - que poderia alertar o público para a covardia, a instabilidade, a inconstância da multidão, a sua incapacidade para compreender e discernir as condições da sua própria vida e da sua prosperidade – é assim magistralmente neutralizada. Para os mentores desta estratégia de poder pelo poder, os fins justificam os meios. Eles consideram-se providenciais. É curioso notar que o homem que promoveu a liberalização da Rádio na nossa terra ocupa hoje o topo da hierarquia do Estado. Eleito apenas por 35% da população é a consagração clara do reino da mediocridade - que é o próprio de quem ‘nunca se engana, nem comete erros. No entanto, a democracia significa votarmos na pessoa que consideramos melhor para o trabalho...
02. Por que é que o programa «Rittornello», da Antena2, deixou de ter duas horas de emissão?
R.: Se calhar a Cultura, assim de um trago, pode tornar-se ‘indigesta...
03. Por que é que o programa do Provedor da RDP não tem um horário mais favorável?
R.: Podia alguém ouvir e, ao que parece, as pessoas «não gostam de muita realidade»...
04. Por que é que o RCP não se assume claramente como sendo uma rádio informativa em vez de generalista? R.: Desculpa a pergunta, o RCP, é uma rádio informativa?...
[A razão de ser desta questão prende-se com notícias vindas a público sobre o novo modelo do RCP, que tem o perfil de uma Rádio Informativa, mas o novo modelo – que era para ser posto em prática a partir do dia 15 deste mês – foi adiado para o dia 29. Nessas notícias vindas a público, o director Luís Osório afirmou que o RCP seria, todavia, uma rádio generalista].
05. E o que é uma rádio generalista?
R.: Deve ser o que a ‘generalidade dos pedantes entende por tudo o que não seja Antena2.
06. Por que é que a TSF não fez o programa especial da revista do ano 2006 – com edição em CD – como fez, excelentemente, nos dois anos antecedentes?
R.: Porque, afinal, a TSF serviu apenas para acabar com o monopólio da Rádio detido pelo Estado e pela Igreja Católica, dando lugar ao exemplo mais caótico de exploração comercial da Rádio que até hoje me foi dado conhecer.
07. Por que é que a RFM usa o slogan “Só grandes músicas” se a melhor música de todos os tempos é emitida pela Antena2?
R.: «Se Deus não fosse um absurdo, quem lhe ligaria importância ou acreditaria nele?» (Teixeira de Pascoaes)
08. Por que é que as redacções dos media continuam a “dar” impunemente estágios fantasma (não remunerados) a jovens licenciados só para obterem mão-de-obra de borla?
R.: A pergunta já dá a resposta: TRABALHO ESCRAVO!
09. Por que é que continuam a existir tantos – demasiados – cursos superiores de Comunicação Social se o mercado está mais que saturado e não há empregos?
R.: Assim se controla a Informação. Com uma oferta maior que a procura se garantem redacções ‘domesticadas e funcionais, ao mesmo tempo que se cria um ‘exército de jornalistas famélicos dispostos a tudo – até a alugar a pluma.
10. Por que é que os accionistas/administrações/proprietários dos órgãos de comunicação social não distribuem dividendos aos seus funcionários (chamam-lhes “colaboradores”) se estes contribuíram decisivamente para os lucros obtidos por essas empresas?
R.: Deixa-me rir... Já ouviste falar em ‘mais valia, por certo. Bem, isso é assunto de capitalista. Jornalista não entra! (Para nos consolarmos, sempre podemos ir trauteando o “Imagine” do Lennon.)
11. Por que é que não se redefine e clarifica de uma vez por todas a totalidade da chamada Lei da Rádio?
R.: Nada há que clarificar. Há apenas que aplicar. Clarificá-la só serviria para a tornar ainda mais ‘embrulhada. Devemos evitar ‘enredarmo-nos’ nesse argumento. É um falso argumento criado por aqueles que controlam os media e, pasme-se, disseminado pelos próprios jornalistas. Os jornalistas dignos desse nome deveriam, antes, averiguar a origem dessa ideia. Ao descobrirem a sua fonte, perceberão a manipulação, pois o Poder é exercido por aqueles que possuem e controlam os media. Quando ouço falar das «dificuldades das rádios locais» em Portugal, eu que comecei a fazer rádio numa estação local de Luanda, interrogo-me sempre por que carga de água é que as rádios aqui em Portugal, - que são também empresas comerciais -, não rendibilizam os seus tempos de antena, alugando-os a produtores independentes que os queiram explorar... A Lei da Rádio impede os proprietários de o fazerem? Bem, então, não se pode falar em rádios locais. Nem regionais, nem o que quer que seja. Apenas numa caricatura disso.
12. Alguém acredita no cumprimento das quotas de música portuguesa nas rádios?
R.: Eu acredito. Tal como acontece com a Rádio italiana, espanhola, francesa, etc., é possível passar só música portuguesa ou cantada em Português. Na verdade, existe produção discográfica em língua portuguesa bastante para preencher milhares de horas de emissão de qualquer estação ‘generalista. Agora, é preciso que se entenda que a música portuguesa não começa no “Chico Fininho” do Rui Veloso. E que brasileiros, angolanos, moçambicanos, guineenses, santo-menses e até cabo-verdianos (não obstante, estes, cantarem sobretudo em crioulo) também cantam em Português. A menos que, por música portuguesa, se entenda apenas fado e folclore... Se a Antena1 se lembrasse disto, lá se volatilizaria a liderança da RFM éter afora, mais as suas ‘grandes músicas que eu ouço aqui em Londres na BBC2 em primeira mão e lá se acabava a ’colonização anglo-saxónica tão do agrado dos preguiçosos portugueses a soldo das multinacionais da indústria fonográfica.
13. Por que é que o jornalista Francisco Sena Santos não regressa à Rádio?
R.: Porque o modelo de Rádio (Informação) sensacionalista, tartamudeante, histérica, ansiosa e trapalhona que o Sena Santos protagonizou até finais do século passado se esgotou com ele próprio. Sena Santos não é o único equívoco de ‘grande jornalista (não há grandes jornalistas mas, ‘jornalistas dignos desse nome simplesmente) em Portugal. Tal como todos os outros, ele é a prova de como aqueles que controlam os media na nossa terra têm sido bem sucedidos em tornar as massas perfeitamente amorfas em relação à Rádio. O desgaste sistemático da estética radiofónica em Portugal afastou os ouvintes deste medium, migrando para a televisão no que respeita às suas necessidades de informação, formação e recreação. Ora, isto é uma ficção. A Rádio continua a ser o mais poderoso meio de comunicação em todo o mundo dadas as suas características. É transversal: atinge indistintamente intelectuais e analfabetos, velhos e jovens, mulheres e crianças; é instantânea: transmite a informação imediatamente, sem demoras, quando e onde quer que se esteja - ao contrário da televisão cuja característica principal (imagem) é redutora, obrigando a que se lhe preste exclusiva atenção. Mesmo essa frase feita de ‘uma imagem vale mil palavras é uma corruptela do Tao. A ‘imagem aí referida não é física (pictórica), mas a que se obtém por analogia. Tal como quando o Cristo fala em dar a outra face (da moeda, é claro!) e não a do rosto.
14. Por que é que o narrador desportivo Fernando Emílio não regressa à Rádio?
R.: Não sei quem é esse camarada. Provavelmente, porque deixou de ter valor comercial na lógica dominante das cifras: ‘máximo rendimento com o mínimo investimento.
15. Alguém consegue dar credibilidade aos noticiários da Rádio Renascença, nomeadamente quando informa sobre o referendo ao aborto, sabendo-se que a estação católica é assumidamente contra o aborto?
R.: A credibilidade da RR é igual ao postulado da Igreja que anda há mais de 2000 anos a dizer que está aqui para acabar com a pobreza. Uma missão suicidária, de resto, pois se o conseguisse acabaria também a sua razão de ser. A verdade, é que todas as formas de religião organizada visam apenas a luta pelo PODER. Nada têm a ver com religio (aquilo que nos ‘re-liga’) enquanto seres humanos.
16. Como é possível que uma rádio como a RFM – segundo as sondagens trimestrais da Marktest – seja a mais ouvida em Portugal?
R.: Já respondi na n.º13.
17. E como é possível que a Rádio Renascença – segundo as sondagens trimestrais da Marktest – seja a segunda mais ouvida neste país?
R.: «A religião é o ópio do povo»...
18. Por que é que nos órgãos de comunicação social (incluindo a Rádio) se vive com um sistema interno, uma espécie de Apartheid, em que alguns dos que lá trabalham – façam o mal que fizerem – são sempre tratados com as mãos, e outros – façam o bem que fizerem – são sempre tratados com os pés?
R.: É a lei da selva. A natureza do mais forte. O princípio de que ‘quem não está connosco, é contra nós.
19. Por que é que na rádio (não só na rádio) se ouve muitas vezes, por exemplo, isto: “Amanhã, previsão de nuvens a norte (…) e céu limpo a sul”. É linguagem habitual nas previsões meteorológicas para Portugal continental. Ora, a norte de Portugal continental está Espanha (Galiza); Golfo da Biscaia; Irlanda; parte da Escócia; Ilhas Faroé; Mar do Norte; Oceano Glaciar Árctico e o Pólo Norte. A previsão refere-se a qual destas regiões do planeta a norte de Portugal? A sul fica Marrocos e restante costa ocidental africana (hemisfério norte); Ilhas Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha; Oceano Glaciar Antárctico e o Pólo Sul. A previsão do estado do tempo que se ouve na rádio refere-se a qual destas regiões do planeta a sul de Portugal?
R.: Desgaste da rotina, quiçá. Chega-se a um ponto em que o significado já não tem significância; deixa-se de crer na bondade do que se está a fazer.
20. Alguém responde? Porque é que ninguém responde?
R.: Aqui tens. E podes publicar. Porque gosto de gente com inquietações – uma das características dos jornalistas dignos desse nome.
Quem quiser continuar a dar respostas, pode fazê-lo para o correio electrónico: radiocritico@sapo.pt.
Não serão publicadas mensagens anónimas.
Leitores/"ouvintes" da «Rádio Crítica» quiseram expressar por escrito o seu contributo e ele aqui está publicado. Seguem abaixo as primeiras respostas, da autoria de Carlos Faria.
As respostas estão a azul, mas por elas não passou nenhum lápis da mesma cor.
01. Por que é que não acabam as “rádios” gira-discos vazias de vozes e de conteúdos?
R.: Porque a propriedade das frequências de radiodifusão na nossa terra foi ‘ofertada a medíocres ambiciosos (pedantes). Os melhores do meio (aristocratas) estão de fora. Isto é assim porque a literatura e o jornalismo são as duas forças educativas mais importantes. Ora, os detentores do poder sabem que as pessoas tendem a ver somente a aparência das coisas. Sabem também que para tomar conta da opinião pública, é preciso torná-la perplexa. Isso tem sido feito, usando técnicas de propaganda que exprimem, de diversos lados e pelo tempo que se torne necessário, o maior número possível de opiniões contraditórias. Resultado, o público acaba perdido no seu labirinto e convencido de que, em política, o melhor é não ter opinião. Por outro lado, é sabido que um homem muito agitado perde a faculdade de raciocinar. Facilmente se abandona à sugestão. Então, a fim de que nada consiga pela reflexão, o poder trata de desviar a atenção do público pelos jogos, pelas diversões, pelas paixões, pelas casas da ‘celebrocracia’, criando uma literatura louca, suja, abominável, entre torpezas que tais. Uma vez aniquilado o hábito de pensar, (a reflexão cria a oposição), passa-se à distracção das forças do espírito em vãs escaramuças de eloquência, tocando as cordas mais sensíveis da alma humana: o cálculo, a avidez, a insaciabilidade dos bens materiais, todas essas fraquezas humanas, cada qual, capaz de abafar o espírito de iniciativa, pondo a vontade dos homens à disposição de quem compra a sua actividade. E com esse tipo de propaganda se molda um povo entregue a si próprio, isto é, aos ambiciosos do seu meio, sujeito ao jugo dos açambarcadores, dos velhacos enriquecidos, que o oprimem de modo impiedoso. A influência ‘perniciosa da imprensa particular - que poderia alertar o público para a covardia, a instabilidade, a inconstância da multidão, a sua incapacidade para compreender e discernir as condições da sua própria vida e da sua prosperidade – é assim magistralmente neutralizada. Para os mentores desta estratégia de poder pelo poder, os fins justificam os meios. Eles consideram-se providenciais. É curioso notar que o homem que promoveu a liberalização da Rádio na nossa terra ocupa hoje o topo da hierarquia do Estado. Eleito apenas por 35% da população é a consagração clara do reino da mediocridade - que é o próprio de quem ‘nunca se engana, nem comete erros. No entanto, a democracia significa votarmos na pessoa que consideramos melhor para o trabalho...
02. Por que é que o programa «Rittornello», da Antena2, deixou de ter duas horas de emissão?
R.: Se calhar a Cultura, assim de um trago, pode tornar-se ‘indigesta...
03. Por que é que o programa do Provedor da RDP não tem um horário mais favorável?
R.: Podia alguém ouvir e, ao que parece, as pessoas «não gostam de muita realidade»...
04. Por que é que o RCP não se assume claramente como sendo uma rádio informativa em vez de generalista? R.: Desculpa a pergunta, o RCP, é uma rádio informativa?...
[A razão de ser desta questão prende-se com notícias vindas a público sobre o novo modelo do RCP, que tem o perfil de uma Rádio Informativa, mas o novo modelo – que era para ser posto em prática a partir do dia 15 deste mês – foi adiado para o dia 29. Nessas notícias vindas a público, o director Luís Osório afirmou que o RCP seria, todavia, uma rádio generalista].
05. E o que é uma rádio generalista?
R.: Deve ser o que a ‘generalidade dos pedantes entende por tudo o que não seja Antena2.
06. Por que é que a TSF não fez o programa especial da revista do ano 2006 – com edição em CD – como fez, excelentemente, nos dois anos antecedentes?
R.: Porque, afinal, a TSF serviu apenas para acabar com o monopólio da Rádio detido pelo Estado e pela Igreja Católica, dando lugar ao exemplo mais caótico de exploração comercial da Rádio que até hoje me foi dado conhecer.
07. Por que é que a RFM usa o slogan “Só grandes músicas” se a melhor música de todos os tempos é emitida pela Antena2?
R.: «Se Deus não fosse um absurdo, quem lhe ligaria importância ou acreditaria nele?» (Teixeira de Pascoaes)
08. Por que é que as redacções dos media continuam a “dar” impunemente estágios fantasma (não remunerados) a jovens licenciados só para obterem mão-de-obra de borla?
R.: A pergunta já dá a resposta: TRABALHO ESCRAVO!
09. Por que é que continuam a existir tantos – demasiados – cursos superiores de Comunicação Social se o mercado está mais que saturado e não há empregos?
R.: Assim se controla a Informação. Com uma oferta maior que a procura se garantem redacções ‘domesticadas e funcionais, ao mesmo tempo que se cria um ‘exército de jornalistas famélicos dispostos a tudo – até a alugar a pluma.
10. Por que é que os accionistas/administrações/proprietários dos órgãos de comunicação social não distribuem dividendos aos seus funcionários (chamam-lhes “colaboradores”) se estes contribuíram decisivamente para os lucros obtidos por essas empresas?
R.: Deixa-me rir... Já ouviste falar em ‘mais valia, por certo. Bem, isso é assunto de capitalista. Jornalista não entra! (Para nos consolarmos, sempre podemos ir trauteando o “Imagine” do Lennon.)
11. Por que é que não se redefine e clarifica de uma vez por todas a totalidade da chamada Lei da Rádio?
R.: Nada há que clarificar. Há apenas que aplicar. Clarificá-la só serviria para a tornar ainda mais ‘embrulhada. Devemos evitar ‘enredarmo-nos’ nesse argumento. É um falso argumento criado por aqueles que controlam os media e, pasme-se, disseminado pelos próprios jornalistas. Os jornalistas dignos desse nome deveriam, antes, averiguar a origem dessa ideia. Ao descobrirem a sua fonte, perceberão a manipulação, pois o Poder é exercido por aqueles que possuem e controlam os media. Quando ouço falar das «dificuldades das rádios locais» em Portugal, eu que comecei a fazer rádio numa estação local de Luanda, interrogo-me sempre por que carga de água é que as rádios aqui em Portugal, - que são também empresas comerciais -, não rendibilizam os seus tempos de antena, alugando-os a produtores independentes que os queiram explorar... A Lei da Rádio impede os proprietários de o fazerem? Bem, então, não se pode falar em rádios locais. Nem regionais, nem o que quer que seja. Apenas numa caricatura disso.
12. Alguém acredita no cumprimento das quotas de música portuguesa nas rádios?
R.: Eu acredito. Tal como acontece com a Rádio italiana, espanhola, francesa, etc., é possível passar só música portuguesa ou cantada em Português. Na verdade, existe produção discográfica em língua portuguesa bastante para preencher milhares de horas de emissão de qualquer estação ‘generalista. Agora, é preciso que se entenda que a música portuguesa não começa no “Chico Fininho” do Rui Veloso. E que brasileiros, angolanos, moçambicanos, guineenses, santo-menses e até cabo-verdianos (não obstante, estes, cantarem sobretudo em crioulo) também cantam em Português. A menos que, por música portuguesa, se entenda apenas fado e folclore... Se a Antena1 se lembrasse disto, lá se volatilizaria a liderança da RFM éter afora, mais as suas ‘grandes músicas que eu ouço aqui em Londres na BBC2 em primeira mão e lá se acabava a ’colonização anglo-saxónica tão do agrado dos preguiçosos portugueses a soldo das multinacionais da indústria fonográfica.
13. Por que é que o jornalista Francisco Sena Santos não regressa à Rádio?
R.: Porque o modelo de Rádio (Informação) sensacionalista, tartamudeante, histérica, ansiosa e trapalhona que o Sena Santos protagonizou até finais do século passado se esgotou com ele próprio. Sena Santos não é o único equívoco de ‘grande jornalista (não há grandes jornalistas mas, ‘jornalistas dignos desse nome simplesmente) em Portugal. Tal como todos os outros, ele é a prova de como aqueles que controlam os media na nossa terra têm sido bem sucedidos em tornar as massas perfeitamente amorfas em relação à Rádio. O desgaste sistemático da estética radiofónica em Portugal afastou os ouvintes deste medium, migrando para a televisão no que respeita às suas necessidades de informação, formação e recreação. Ora, isto é uma ficção. A Rádio continua a ser o mais poderoso meio de comunicação em todo o mundo dadas as suas características. É transversal: atinge indistintamente intelectuais e analfabetos, velhos e jovens, mulheres e crianças; é instantânea: transmite a informação imediatamente, sem demoras, quando e onde quer que se esteja - ao contrário da televisão cuja característica principal (imagem) é redutora, obrigando a que se lhe preste exclusiva atenção. Mesmo essa frase feita de ‘uma imagem vale mil palavras é uma corruptela do Tao. A ‘imagem aí referida não é física (pictórica), mas a que se obtém por analogia. Tal como quando o Cristo fala em dar a outra face (da moeda, é claro!) e não a do rosto.
14. Por que é que o narrador desportivo Fernando Emílio não regressa à Rádio?
R.: Não sei quem é esse camarada. Provavelmente, porque deixou de ter valor comercial na lógica dominante das cifras: ‘máximo rendimento com o mínimo investimento.
15. Alguém consegue dar credibilidade aos noticiários da Rádio Renascença, nomeadamente quando informa sobre o referendo ao aborto, sabendo-se que a estação católica é assumidamente contra o aborto?
R.: A credibilidade da RR é igual ao postulado da Igreja que anda há mais de 2000 anos a dizer que está aqui para acabar com a pobreza. Uma missão suicidária, de resto, pois se o conseguisse acabaria também a sua razão de ser. A verdade, é que todas as formas de religião organizada visam apenas a luta pelo PODER. Nada têm a ver com religio (aquilo que nos ‘re-liga’) enquanto seres humanos.
16. Como é possível que uma rádio como a RFM – segundo as sondagens trimestrais da Marktest – seja a mais ouvida em Portugal?
R.: Já respondi na n.º13.
17. E como é possível que a Rádio Renascença – segundo as sondagens trimestrais da Marktest – seja a segunda mais ouvida neste país?
R.: «A religião é o ópio do povo»...
18. Por que é que nos órgãos de comunicação social (incluindo a Rádio) se vive com um sistema interno, uma espécie de Apartheid, em que alguns dos que lá trabalham – façam o mal que fizerem – são sempre tratados com as mãos, e outros – façam o bem que fizerem – são sempre tratados com os pés?
R.: É a lei da selva. A natureza do mais forte. O princípio de que ‘quem não está connosco, é contra nós.
19. Por que é que na rádio (não só na rádio) se ouve muitas vezes, por exemplo, isto: “Amanhã, previsão de nuvens a norte (…) e céu limpo a sul”. É linguagem habitual nas previsões meteorológicas para Portugal continental. Ora, a norte de Portugal continental está Espanha (Galiza); Golfo da Biscaia; Irlanda; parte da Escócia; Ilhas Faroé; Mar do Norte; Oceano Glaciar Árctico e o Pólo Norte. A previsão refere-se a qual destas regiões do planeta a norte de Portugal? A sul fica Marrocos e restante costa ocidental africana (hemisfério norte); Ilhas Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha; Oceano Glaciar Antárctico e o Pólo Sul. A previsão do estado do tempo que se ouve na rádio refere-se a qual destas regiões do planeta a sul de Portugal?
R.: Desgaste da rotina, quiçá. Chega-se a um ponto em que o significado já não tem significância; deixa-se de crer na bondade do que se está a fazer.
20. Alguém responde? Porque é que ninguém responde?
R.: Aqui tens. E podes publicar. Porque gosto de gente com inquietações – uma das características dos jornalistas dignos desse nome.
Quem quiser continuar a dar respostas, pode fazê-lo para o correio electrónico: radiocritico@sapo.pt.
Não serão publicadas mensagens anónimas.