terça-feira, 30 de janeiro de 2007

RCP

Diferente por si

Primeiras impressões (a quente)

«Minuto a Minuto» (07:00/10:00): Manhã forte na palavra, muitas pessoas e muitas vozes. Bons convidados (mas não os 25 convidados anunciados há meses) e comentadores (Maria João Avillez e Carlos Magno) com tempo para conversar. João Adelino Faria naturalmente nervoso no arranque. O pivô esteve bem nas perguntas, na informalidade e na resistência à longa emissão em directo durante cinco horas. Bom acompanhamento e desempenho do jornalista Nuno Domingues. Pouca publicidade em antena, coisa que não chateou nada os ouvintes.
A máquina não está oleada. Falta ganhar rotina.

Do meio-dia às cinco da tarde: «Escolhidos a Dedo» é a dupla de animadores Aurélio Gomes (sempre excelente!) e Teresa Gonçalves. Boa dupla, já entrosada, vinda do anterior formato do RCP (faziam as manhãs desde o ano passado). A cada hora um convidado, sendo o destaque dado a Fernando Correia, que assim regressa ao RCP. Uma boa conversa com esta figura histórica da rádio portuguesa. Uma conversa que passou sobretudo sobre a Rádio e os novos desafios do novo RCP. Nesta hora com Fernado Correia, o narrador desportivo explicou o figurino do seu novo espaço no RCP e anunciou publicamente em primeira-mão a realização de uma emissão especial no próximo dia 6 de Fevereiro (das 19:00 às 00:00) aquando do jogo particular de futebol entre Portugal e o Brasil em Londres, com direito a relato em directo. Na hora seguinte, Rui Zink numa outra interessante conversa, em atmosfera “non-sense”.

«Janela Aberta» A vida tal como ela é: Das 17:00 às 20:00 com Célia Bernardo. Bons temas em discussão. Óptima prestação de José Luís Saldanha Sanches como convidado principal.
O humorista Luís Filipe Borges em «O Melhor da Vida» conversa informal/entrevista das 19:00 às 20:00, tendo Luísa Castel-Branco como primeira convidada. Também com participação de ouvintes.

«Banda Sonora» é um espaço preenchido por escolhas musicais de pessoas convidadas. Este espaço é conduzido pelo radialista Nuno Infante do Carmo. NIC traz-me sempre à memória os bons velhos tempos de «O Último Metro» no FM da Renascença/RFM. É isso – ou um pouco disso – que sempre procuro quando o ouço. Ainda não foi desta vez que encontrei. «Banda sonora» (música e conversa) preenche um espaço em que o jantar e os telejornais ganham aos pontos. É aquilo a que sempre ouvi chamar de horário “buraco negro” da Rádio. Um bom convidado pode disfarçar essa fatalidade. Nesta primeira emissão foi uma convidada, a cantora Maria João (a partir das 20:30).

«Lugar Cativo» (22:00/00:00) é a Bancada Central no RCP. Moderação de Fernando Correia, convidados em estúdio e participação dos ouvintes. A fórmula de sucesso já era conhecida, e os ouvintes do costume não faltaram. Na noite da Rádio – que tão desolada tem estado no panorama nacional – é um êxito de bilheteira. Inclui um jornal de desporto com edição de Artur Teixeira. Foi um regresso emocionado e evocativo do passado, presente e futuro. Em emissão inaugural, muitos convidados especiais, entre eles, o director do RCP, Luís Osório, neste regresso de Fernando Correia aos estúdios da Rua Sampaio e Pina. Foi pena não podermos ter escutado a introdução de Fernando Correia desde o início devido a uma falha técnica.

«Posto de Escuta» (00:00/02:00): Espaço interactivo – mais um – este de tema livre. A apresentadora pareceu-me algo mal preparada para este tipo de (e)missão, totalmente aberta e sujeita a muitos perigos. O espírito confessional não ainda ganhou corpo na primeira (atribulada) emissão, mas não tardará a surgir em força. A lembrar vagamente o «Passageiro da Noite», este novo «Posto de Escuta» oferece espaço de intervenção directa aos órfãos da rádio na imensa noite.

Das duas às cinco da manhã: música a metro sem animação, utilizando a playlist do anterior formato do RCP e com noticiários de hora a hora.


Uma primeira conclusão incompleta ao fim das primeiras 19 horas do renovado RCP:
É uma estação nitidamente de palavra, procura intensamente a interactividade com o auditório (resta saber se exageradamente ou não). Não aposta na música como informação. A música no RCP tem o papel de último reduto, isto é, aparece quando não há mais nada e serve para ganhar tempo e/ou para alinhavar o que se vai seguir (ATENÇÃO: esta prática não é exclusiva do RCP). Este renovado Rádio Clube Português ainda vai encontrar a melhor forma nos tons e nos modos, mas o caminho está lançado. Já existe uma quarta estação a disputar o mesmo público e mercado.


Noticiários: Na maior parte são de curta duração e com escassos directos. Em geral são fracos. Em determinados painéis também acontecem às meias horas.
Música: Muito pouca, mas ainda não completamente dissociada dos tempos da extinta Rádio Nostalgia.
Informação de Trânsito: Mantém o mesmo esquema de funcionamento do anterior formato. Paulo Ferreira de Melo em directo do helicóptero (manhã) e Paulo Miranda em directo da rua (tarde).
Vozes: Boas, na esmagadora maioria.
Falhas técnicas: As falhas técnicas que aconteceram foram extensíveis a todo o dia de emissão, o que é compreensível num primeiro dia. Cortes repentinos, sobreposições; desníveis sonoros; etc. Nada mais natural quando é tudo novo, desde a linguagem aos materiais técnicos e aos estúdios. É um dado importante que se ultrapassa com a mecanização diária.
Estética: Falta anunciar os noticiaristas; é desnecessário ouvir-se os sinais horários às meias horas quando não vai haver noticiário e dois sinais horários diferentes às horas certas.
Projecto: É ambicioso e tem profissionais à altura, mas também tem muito para trabalhar. Assim como nunca devemos julgar uma pessoa na primeira vez que a vemos, também não é ao primeiro dia que se julga uma estação de Rádio.
Designação: É «Rádio Clube»?; é «Rádio Clube Português»? «É RCP»? Convinha uniformizar totalmente a designação da estação.


O que eles dizem (23)

(...)
O RCP é uma rádio que as pessoas escutam pela música. Vai dar-lhes informação – o público pode estranhar.
Esse é o meu grande problema! Até os meus amigos dizem que tem música espectacular – mas vai acabar. É um risco muito grande porque as pessoas que agora ouvem o RCP podem querer ouvir outra rádio com música. Mas também sei que se lhes der uma informação diferente pode resultar. Eu e o Luís Osório [o director] queremos fazer esta rádio à semelhança da Cadena Ser, que tem muito sucesso em Espanha e que fui conhecer. Vamos para o ar no dia 29. As nossas manhãs vão ser mais parecidas com o modelo que tinha na Edição da Noite da SIC Notícias: das 8h às 10h temos hard news, ou seja, as notícias que marcaram a manhã com uma manchete, concorrer com os jornais, porque não? Quero ter notícias diferentes e não ler notícias – ter uma notícia que marque a manhã. Vou ter vários colaboradores em estúdio, a falar do tema da manhã, como o Pacheco Pereira, o Dias Loureiro, a Filomena Mónica, que já deram o ok. Depois, vou ter, como tive na SIC Notícias, os comentadores de vários jornais, os chamados opinion makers, que vão analisar o que aconteceu nessa manhã. Estou a tentar recuperar a reportagem de rádio, com um tema que não tem de ser o do dia, e um debate em estúdio sobre o mesmo. E também vamos ter cultura, com um actor, um cantor… À Noite teremos o Fernando Correia, que tive o prazer de convencer quando saiu da TSF.
(...)

Entrevista de: Ana Cristina Câmara e Vítor Rainho
In: revista TABU do semanário SOL
Sábado, 27 de Janeiro 2007


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Rádio Clube Português relança batalha da informação na rádio
(...)
"Mais do que uma rádio generalista, o novo Rádio Clube é uma estação de actualidade; não uma rádio de notícias, mas uma estação com notícias", define o director, Luís Osório. Acrescenta que a grelha é pensada para todas as classes, para todos os tipos de público e apressa-se a especificar que é esse leque de programas diferentes que fazem "a coerência do projecto".
"Tudo o que acontece não vai acontecer no Rádio Clube", diz Luís Osório, brincando com o slogan da TSF para dizer que a sua estação vai privilegiar as notícias próprias - a redacção tem 50 pessoas, entre jornalistas e produtores - em detrimento da agenda geral. "Não estou à espera de grandes scoops, mas não quero passar as manhãs a falar das notícias dos outros", acrescenta João Adelino Faria A comparação com a concorrência é incontornável: nas audiências, o Rádio Clube (3,7 por cento de share) está atrás da TSF (5,4), Antena 1 (6,6) e Renascença (14,7). Mas Luís Osório acredita que em dois anos ultrapassa as primeiras duas. Como? "Com uma abordagem diferente da actualidade. Hoje oiço a mesma abordagem na TSF e na A1, com os mesmos temas, hierarquias e protagonistas."
Na procura da diferença, o Rádio Clube tem a vantagem de o grupo ser agora participado pela espanhola Prisa, que detém a Cadena Ser, uma das principais estações do país vizinho. "Na nossa grelha há alguma inspiração do que aprendemos com a Cadena Ser, embora sejam realidades diferentes. Os espanhóis têm grande propensão para as tertúlias, por exemplo, e nós vamos ter um cunho muito acentuado de participações em directo, com pessoas no estúdio.".
(...)

Texto de Maria Lopes
In: PÚBLICO
Domingo, 28 de Janeiro 2007



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