sábado, 27 de janeiro de 2007

Rádio Nostalgia

Janeiro 2007
Na madrugada do dia 17 deste mês frio, apareceu-me diante dos olhos – no mero acaso navegante pelo ciberespaço – uma imagem, um som e uma explosão emocional. Esperei perto de 28 anos para voltar a ver isto e assim saber o nome desta canção e quem a cantava. Quase cheguei a pensar que era tudo mentira, que não passava de uma miragem ou de um sonho mal aguentado pelo sono. Mas não. Era mesmo verdade. E soube-o assim que os meus joelhos estremeceram como quem revê um amor há muito perdido mas não esquecido. Se naquele momento estivesse de pé, acho que teria caído. O mais curioso é que dias antes desta “explosão” eu tinha-me lembrado desta canção e tinha entoado de forma certamente muito tosca o seu refrão, já tão empoeirado pelo tempo. Há alguns anos, entoado a mesma ladainha a um amigo um pouco mais velho, ele reconheceu-a logo, mas não conseguia lembrar-se do nome. Caramba… fico atónito com os poderes do acaso. Devo este pequeno momento de felicidade a José Alexandre Pereira, um dos autores do blogue «Dias Atlânticos». Não sei como lhe ser grato. JAP não o fez por mim, não sabe desta minha pecha de quase três décadas nem por ventura sabe quem eu sou. Foi seguindo uma ligação casual que cheguei a estas imagens vindas dos tempos da minha infância. E logo na primeira visita a esse blogue deparo com uma coisa que nunca quis esquecer.
A primeira vez que vi este videoclip – na altura apenas a preto e branco – deve ter sido em finais de 1979, inícios de 1980. Adorava esta música, mas como só tive a primeira aula de Inglês em Outubro de 1981, ouvir os nomes da banda e tema através da Rádio (onde se ouvia esta música com frequência) era igual a 汉语/漢語华语/華語 e, quando já sabia alguma coisa da língua de Shakespeare, a moda já tinha passado e esta canção já era coisa do passado. Com isto fiquei estes anos todos sem a poder identificar. Entoando-a e dizendo que no vídeo havia uma vocalista com indumentária justa a sacudir as ancas era por demais insuficiente para que alguém me pudesse ajudar. E quem se lembrava, tal com já disse, também não sabia ou não se lembrava dos nomes. E eis que o portal YouTube nos proporciona uma (re)descoberta destas.
Podendo identificar “Quem” e o “Quê”, corri em busca do tempo perdido. Estive à beira de lançar aqui um grito de alerta, do género: “Socorro! Quem me arranja esta música?” Mas ainda não foi desta. Felizmente que há sempre alguém atento às minhas desenfreadas recuperações desses anos ou de momentos que por diversas razões – sendo a mais forte a tenra idade – me passaram entre os dedos de ambas as mãos. A memória fez o seu trabalho. Felizmente que existe a Internet, e o YouTube, e os CD’s regraváveis, e os variadíssimos formatos de áudio que possibilitam a ressurreição de pérolas sonoras que, de outra maneira, estariam irremediavelmente mortas e enterradas para um incontável número de interessados. Todas estas múltiplas possibilidades dão uma outra dimensão ao tempo e à noção de efemeridade que dele temos. Pelo menos, no vasto mundo da música, deixou de haver passado. O passado torna-se vivamente presente e atinge novos ouvidos pela primeira vez. Novo não é o que é recente. Novo é o que nunca foi visto ou ouvido.


Earth and Fire Weekend
Estas imagens datam do dia 29 de Outubro de 1979. É uma canção contemporânea de “Video Killed The Radio Star” dos Buggles e, talvez pelo sucesso dessa canção de Trevor Horn, este tema dos holandeses Earth and Fire tenha obtido menos impacto. Mas ainda assim esta canção “Weekend” foi um grande sucesso e chegou a nº1 em tops. Estoirou em Portugal nos primeiros meses de 1980, exactamente com esta actuação no programa «TopPop» da televisão holandesa [AVRO]. A actuação, num playback descarado e assumido (repare-se: nem um microfone para amostra) ficou como videoclip definitivo (já agora: quem é que toca o Xilofone?). “Weekend” (álbum «Reality Fills Fantasy») foi o maior sucesso de sempre dos Earth and Fire. Uma espécie de one Hit band, numa carreira que começou em 1969 e acabou em 1983.
No que se refere estritamente à música, os Earth and Fire (cujo nome não ajuda, sendo muitas vezes confundido com um outro agrupamento muito mais importante e famoso chamado Earth Wind and Fire) passaram por várias correntes sonoras. Foram tardo-psicadélicos; rock-progressivos; new-wave quanto baste; meio festivaleiros (e até foleiros, muitas das vezes a roçarem a piroseira) em estilo e poses que, se estivessem em Portugal, em nada ficariam a dever a uns ligeiríssimos «Broa de Mel». Nota-se ali ainda uns vagos laivos de Disco-Sound. Mas atingiram o Nirvana à custa deste tema. A letra é, pode-se dizer, banal. Fala de uma mulher que não quer ser amante de fim-de-semana mas que é feliz durante esses dias. Enfim, deve haver milhares de letras parecidas. O que destaca esta canção é o facto de – se calhar sem os Earth and Fire saberem e/ou quererem – estar um passo à frente do que aí vinha (e veio) nos anos 80, particularmente nos primeiros anos dessa década. Eles captaram com incrível precisão e eficácia o ambiente e conceitos The look and the Sound of the eighties.
Eu, que sou um autêntico pé de chumbo, só me apetece dançar (sem a sensual coreografia e sem o fato azul metalizado de Jerney Kaagman) o irresistível refrão pop-kitch de “Weekend”:

Love in a woman’s heart
I wanna have the whole
And not a part
It’s strange that this feeling
Grows more and more
‘Cause I’ve never loved
someone like you before

Pareço uma criança a quem deram um brinquedo. Não sei o que mais dizer sobre isto.

Da Série Melodias de Sempre

É difícil explicar a sensação que se tem ao tropeçarmos numa coisa destas. Especialmente quando a pensávamos irremediavelmente perdida na bruma do tempo. De repente somos transportados de volta ao baile de garagem, à matinée dançante, à pista de carrinhos de choques ou ao rinque de patinagem, no intervalo das partidas de futebol de salão. Lembramo-nos quando adormecíamos com o ouvido colado ao rádio a pilhas, ouvindo o Quando o Telefone Toca. Foi onde os conhecemos, já lá vão quase trinta anos.
Observem bem a moça, de sua graça Jerney Kaagman, e a sua dança meneante, o visual dos músicos e toda a atmosfera deste feliz momento, captado ao vivo no programa televisivo Toppop, em 29 de Outubro de 1979. E que dizer deste feliz cruzamento entre o reggae e o calypso, obtido pelos holandeses Earth and Fire?

(...)
José Alexandre Pereira
In: http://diasatlanticos.blogspot.com 08 Dezembro 2006

P.S: E agora observem bem a moça, em 2006, pouco mais de 27 anos depois da actuação acima exibida. Eu era uma criança e ela, uma jovem elegante. Agora já vejo a ternura dos quarenta ali ao virar do próximo quarteirão da Avenida da Vida e Jerney está com quase sessenta anos de idade. Ah, pois é…









O tempo não passa. Nós é que somos passageiros do tempo




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