quinta-feira, 31 de maio de 2007

Um dia sem Rádio

Num destes dias, logo pela manhã (final da mesma, melhor dito), não ligo a rádio em casa. Até aqui, tudo como planeado. Tinha prometido a mim mesmo não ouvir rádio naquele dia. No caminho para o transporte público, algumas pessoas com auriculares, mas nada que eu pudesse captar. Travessia do Tejo e eis o RCP nos altifalantes num dos Catamarãs que ligam as duas margens. Aí está ela, mesmo sem querer. Rádio nos meus ouvidos. Olho em volta e vejo muita gente com auriculares brancos (tudo iPods?). O que será que escutam? Rádio ou música em mp3? Qual estação e qual música?
A pé, na baixa pombalina, uma esplanada difunde a RFM. Estações do metropolitano de Lisboa: não se ouve rádio mas, no meio do ruído nos carris e do cisco do comboio, música “ambiente”, aumentando ainda mais o barulho. Já na tarde, em plena feira do livro, este ano encurtada na representação (e com mais livros do que pessoas), uma voz aos altifalantes, divulgando os destaques do dia, quem está a autografar, quais os livros do dia, etc. Não é rádio, mas é parecido. Aliás, até é uma voz da rádio. Mas adiante.
Todos os livros sobre Rádio que encontro, ou já os tenho, ou já os li e, a maior parte deles – se não mesmo todos – estão parcial ou totalmente ultrapassados pelo tipo de rádio que se pratica hoje em Portugal. A oferta livreira também não era muita, há que dizê-lo. Sobre música (um grande investimento na minha vida desde 1977) não encontro o que procuro, mas reencontro dois livros que considero bastante bons:

«Escrítica Pop» de Miguel Esteves Cardoso e «Provas de Contacto» de João Lisboa. Ambos resultam de colectar textos primeiramente editados em jornais. Já os tenho há anos, mas saltaram-me à vista no meio de tantos outros que também já tenho, na ausência dos que queria ter e não encontrei.















De regresso ao sul, outra rádio na travessia no poluído Tejo. Desta vez, uma coisa chamada Cidade FM. Para quem é aquilo?
Mais ao fim da tarde, uma rápida visita à Feira Pedagógica. Nos altifalantes, música afro-brasileira com batida tecnho. Para quem era aquilo? Para as crianças e os encarregados de educação? Para os visitantes? Onde está a dialéctica? Não era nem o RCP, nem a Cidade FM. Era ruído espanta clientes!












À noite, longa sessão de cinema com um filme que se pode considerar sério, bom no enredo, irrepreensível na montagem e nos décors. ZODIAC. Uma boa história (verídica e que permanece inconclusiva até aos dias de hoje). No entanto, não lhe faltam tiros, mortes, violência física e psicológica. Pergunto às pessoas que estavam comigo: “conhecem algum filme recente que não contenha estes “requisitos”? Não obtive resposta. E o pior nem é isso! Puxo o filme atrás na minha vida de consumidor da sétima arte e constato que os dois filmes que mais me têm alcandorado como sendo os (mais) da minha vida, também eles não conseguiram fugir das balas e do derramamento de sangue. Nem os da minha segunda linha. Tirando musicais e algumas comédias, alguém tem resposta para isto? E pasmem-se… a Rádio aparece neste filme, num zapping nocturno por várias estações de talk-show. E eu que passei o dia a tentar não ouvir rádio! No regresso a casa, o corolário por via da boleia automóvel, em cujo auto rádio estava sintonizada a Mega FM.











Já na cama, reciclando mentalmente ZODIAC, ligo o rádio para ouvir as notícias da noite, mas já estava num outro dia, portanto não conta para a minha frustrada tentativa.
Pelo menos no maior centro urbano deste país, não é possível fugir-lhe, por mais que se quisesse. Um dia sem rádio? Para o bem (ou para o mal, se assim quiserem) experimentem, a ver se conseguem.



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