quarta-feira, 13 de junho de 2007

Conflito Cerebral




















Ser ouvinte fiel de Rádio às vezes não é nada fácil. Que o digam todos os que se vêm em palpos de aranha para se decidirem sobre o que ouvir quando as propostas interessantes acontecem à mesma hora, mas em estações diferentes (e concorrentes). Nestes períodos, não se pode falar em crise da rádio.
O que fazer por exemplo nas manhãs/início de tardes de fim-de-semana, em que as rádios apostam fortemente na programação temática de palavra? Comecemos por sábado, das 9 às 10: ouvir «Lugar ao Sul» de Rafael Correia na Antena1, ou «Terra-a-Terra» na TSF? Das 10 às 11: ouvir «1001 Escolhas» de Madalena Balça na Antena1, «Quinta-essência» de João Almeida na Antena2, ou a segunda parte de «Terra-a-Terra» na TSF? Das 11 ao meio-dia: ouvir «Palavra de Honra» na TSF ou «Alma Nostra» de Carlos Magno e Carlos Amaral Dias na Antena1? Do meio-dia às 13: ouvir a «Grande Entrevista» de Maria Flor Pedroso na Antena1, ou «Fala com Ela» de Inês Meneses na Radar? Das 13 às 14: ouvir «Em nome do Ouvinte» do provedor José Nuno Martins e «Cinemax» de Tiago Alves na Antena1, «Área Vip» de Gonçalo Castro na Antena3, ou «Eureka» na TSF? [«Sal & Pimenta» na Renascença acabou para mim com a saída de João Bénard da Costa].
As tardes de sábado são menos “conflituais” mas, ainda assim o que ouvir das 17 às 18? «Ondas Luisianas» [até às 19] de Luís Filipe Barros na Antena1, a «Hora do Bolo» por ouvintes na Radar ou «A Playlist de…» na TSF? Das 18 às 20: «Discos Voadores» de Nuno Galopim na Radar ou «MQ3» de Miguel Quintão na Antena3? Sábado, da meia-noite em frente: ouvir «Fuga da Arte» de Ricardo Saló na Antena2 [até à uma] ou «Quase Famosos» [até às duas] pela dupla de autores Nuno Costa Santos e Pedro Adão e Silva no RCP?
Domingo, no período manhã/tarde regressa o “conflito cerebral”, das 10 às 11 da manhã: ouvir «Grande Reportagem» na TSF; «O Amor É» de Júlio Machado Vaz e Ana Mesquita na Antena1 ou «Um Certo Olhar» de Luís Caetano (com Maria João Seixas, Vicente Jorge Silva e Inês Pedrosa) na Antena2? Das 11 ao meio-dia: «Pedro Rolo Duarte» [à conversa com bloggers] na Antena1 ou «Em Sintonia» com António Cartaxo na Antena2?
Do meio-dia às 13: «Álbum de Família» com Tiago Castro na Radar, «Visão Global» de Ricardo Alexandre na Antena1, «Coreto» de Jorge Costa Pinto na Antena2, ou «Rádio Fazuma» [até às 14] na Antena3?
Das 13 às 14: «Dias Levantados» de Ana Sousa Dias na Antena2 ou «Gente Como Nós» na TSF? Domingo à tarde, das 19 às 20: ouvir (em reposição ou pela única vez para quem não ouviu no sábado) «Fala com Ela» na Radar ou «M» de Mónica Mendes [até às 21] na Antena3?

Domingo à noite, das 22 às 23: ouvir «Discos Voadores» [em reposição até à meia-noite] na Radar, «Argonauta» de Jorge Carnaxide na Antena2 ou «Planeta3» de Raquel Bulha na Antena3? Das 23 à meia-noite: novo horário para o indispensável programa «A Menina Dança?» de José Duarte. É um horário novo, antecipado em uma hora [até há pouco tempo era depois da meia-noite, de sábado para domingo], mas é um horário perigoso. Vai ser muitas vezes “engolido” pelo futebol. Ouvir a segunda hora de «Discos Voadores» na Radar, a segunda edição [a primeira é sábado à mesma hora] de «Um Toque de Jazz» de Manuel Jorge Veloso na Antena2 ou «Bons Rapazes» [até à uma da manhã] de Miguel Quintão e Álvaro Costa na Antena3?

De domingo para segunda-feira é que não há dúvidas nem conflitos: «Íntima Fracção» de Francisco Amaral no RCP (00:00/02:00).

Depois de tudo isto, vem o pior, ou seja, o maior e mais prolongado [cinco dias, de 2ª a 6ª] “conflito cerebral” de um ouvinte compulsivo de rádio: as manhãs. As manhãs são o terreno forte da rádio, o mais poderoso argumento existencial das estações. O segundo é os finais de tarde, embora de uma forma mais diluída. Nas manhãs, as estações de rádio costumam apostar tudo. É aqui que se instala de forma mais decisiva o “conflito cerebral” por parte do ouvinte. Então o que fazer? Ouvir o novo formato claramente informativo do RCP com o pivot (ex-SIC-Notícias) João Adelino Faria em «Minuto a Minuto»? Ouvir o estilo inigualável – desde há quase duas décadas – da TSF, sempre com conteúdos interessantes e informação detalhada, incluindo o clássico e pertinente «Fórum»? Optar pela também muito forte e variada programação de cariz informativo na Antena1, com animação de António Macedo e depois Eduarda Maio no espaço interactivo «Antena Aberta»? Ou as hilariantes prestações de Nuno Markl na Antena3, com animação de José Mariño? Ou as dinâmicas manhãs «Toca a Animar» com Pedro Ribeiro na Rádio Comercial? Ou as conversas, sugestões, informações e música erudita na Antena2? Ou as três horas [7/10] da alternativa Radar com animação da sempre competente e segura Inês Meneses? Ou o mesmo horário na não menos interessante Oxigénio, com animação de Rui Portulêz? Ou as manhãs serenas smooth Jazz e despoluídas da Rádio Marginal? Ou não ouvir nada?

Chega-se, inevitavelmente, a uma conclusão óbvia: é-se obrigado a optar, e nem as soluções do podcast são um remédio sem contra indicações. Uma delas é pensarmos que, aliviando a consciência, podemos ouvir mais tarde quando pudermos, mas nem esse falso antídoto evita a posterior má consciência porque, afinal, não chegámos a ouvir o que nos tínhamos prometido “ouvir depois”. Há público para toda a oferta e para outras que não existem actualmente, mas a concorrência (em alguns casos, pura contra-programação) entre estações geram nos ouvintes alguns destes “conflitos cerebrais”. Fazer zapping de posto para posto equivale a não ouvir nada. Digo muitas vezes a pessoas que me conhecem que há pelo menos duas coisas que faço com grande eficácia de manhã: ou durmo ou… deito-me! Dizem que o sono é bom conselheiro e que um travesseiro adequado e um leito proveitoso evitam a tortura de tanta vozeirada matinal e multiplicidade de opções, para outros tantos gostos. Felizmente está a chegar o verão e as férias para desanuviar. Talvez o melhor mesmo seja dormir sobre o assunto.


P.S: A enumeração de possíveis “conflitos cerebrais” para ouvintes de rádio não se esgotou aqui. Há mais exemplos, mas estes são para mim os mais prementes.



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