quinta-feira, 28 de junho de 2007

TV-mentira / Rádio-verdade

Numa 2ª feira à noite: na TV, RTP-1, «Prós & Contras» sobre a Europa, com a presença do presidente da Comissão Europeia, entre outros, falando de coisas inconjecturáveis, de realizações políticas impossíveis na União Europeia a curto e médio prazo. Inverdades (para ser politicamente correcto), lançando poeira aos olhos de povos muito distintos uns dos outros e com uma ideia muito vaga sobre o"europeísmo". Salvou-se a participação do ex-presidente da república Jorge Sampaio. Talvez o único a poder estar mais próximo das verdades que se devem dizer sobre toda esta complexidade de uma Europa a 27, uma vez que já não é um interveniente directo e activo nas possíveis decisões políticas. Sampaio tirou, com elegância, partido dessa "vantagem". Ou ainda, noutra noite de início de semana, um debate minimizador sobre a cidade do Porto. “Um prestígio à procura de poder”, como alguém disse.
Na Rádio, das 23 à meia-noite na Antena2: «Questões de Moral» escrito, realizado e apresentado por Joel Costa: "Democracias Imperiais"; "Liberdade, Liberalismo e Indivíduo"; "O Estado da Razão"; "Uma Teologia Democrática"; "Os Cínicos da Sociedade Fria"; "Uma Democracia da Indiferença"; "As Metamorfoses da Sociedade Fria"; "O Silêncio e as Elites". «Questões de Moral» tem muito menos visibilidade/audiência que «Prós &Contras», mas é muitíssimo mais profundo, acutilante, directo e claro no que tem a dizer e a (in)formar. Joel Costa escarrapacha o que é a nossa vida de hoje e como estamos a passar ao lado da tela. Por completo.
Mas o contrário também se aplica nesta aparente desigualdade de forças entre TV e Rádio, quando acontecem no mesmo dia e à mesma hora.


TV-verdade / Rádio-mentira

Numa 5ª feira à noite: na SIC-Notícias, «Negócios da Semana» com um entrevistado inimputável: Henrique Medina Carreira. Cada frase, uma ideia ("Acha que isto é um país de gente com juízo?"; "Não acha que esta é uma sociedade tonta?"), cada ideia uma verdade, cada verdade, uma solução e a cada solução por ele apontada, ouvidos moucos por parte dos decisores políticos e dos decisores económicos. "Portugal não pode estar aqui encolhidinho e esquecer-se do mundo"; "Se mundo não muda, temos que mudar nós". Bastaria um governo com dez homens assim e mudava-se a face deste país… e não era para pior! Juntava-lhes Luís Saldanha Sanches e o elenco do «Eixo do Mal» [SIC-Notícias]. Nas rádios em geral, fraudes musicais (música dos "nossos grandes anos"), com algumas cançonetas de gosto mais que duvidoso, saídas em pacotilha single há dias ou semanas. A memória ou é muito má ou é muito curta. Ou é ambas as coisas, o que vai dar no mesmo. Horas e horas a fio com melodias light gastas e bolorentas. Tudo a anos-luz do conceito Music For a New Society. Ainda assim, coisas boas a decorrerem em simultâneo nalguns ares: «Terra do Zeca» concerto de homenagem a José Afonso, transmitido em directo na Antena1; «Banda Sonora» no RCP; «Jornal das 23» na Renascença. E outros pontos de interesse ainda, dependendo dos gostos, preferências e apetências dos ouvintes de Rádio em Portugal. Apesar de tudo, não é à toa que vários estudos apontam a Rádio como sendo um órgão de comunicação social mais credível que a Televisão.


A televisão é como as torradeiras: carrega-se no botão e sai sempre a mesma coisa.
Alfred Hitchcock

Toda a gente tem um objectivo na vida. Talvez o vosso seja ver televisão.
David Letterman

Pensar incomoda como andar à chuva.
Fernando Pessoa



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