quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

DL em minha casa

















A sala do A.M.A.C. tinha mais de metade dos lugares preenchidos no início da sessão (única) do filme «Inland Empire» de David Lynch. A plateia estava composta por indefectíveis, curiosos e alguns enganados. A longa película obrigou a dois intervalos. No regresso do primeiro, só compareceram os indefectíveis e alguns curiosos. No regresso do segundo intervalo, só voltaram os indefectíveis. Sendo eu um indefectível, achei o mais recente filme de Lynch uma fantástica longa-metragem que, embora desconcertante, delineia variadíssimos caminhos de possibilidades narrativas. O proveito ou mau proveito está em quem vê. Fascina-me esta liberdade interpretativa que o autor nos dá. Laura Dern, actriz principal em Inland Empire (e interveniente em vários filmes outros filmes de Lynch: «Blue Velvet»; «Wild At Heart») realça essa grande característica – rara – de David Lynch, em entregar ao espectador os significados do fio narrativo da acção:
"He's not waiting for us to get the movie because he doesn't think the cinema is about 'getting it'. I think he believes - which I've found very rare in filmmakers - in the intelligence of the audience, that they're intelligent enough to discover the film and what it means within themselves."










Aplica-se nos filmes de Lynch uma espécie de teoria dos universos paralelos, onde não há uma só verdade, uma só dimensão das coisas, sejam elas reais ou não.
O trabalho cinematográfico de David Lynch inspirou momentos de realização de rádio. Lembro-me de ser a paisagem sonora de uma série de emissões da «Íntima Fracção» no arranque da década de noventa, ao som de composições de Angelo Badalamenti e de canções na voz de Julee Cruise. Anos mais tarde, algumas bandas sonoras compostas por Badalamenti para filmes de Lynch foram o suporte para alguns programas «Como no Cinema» que tive a oportunidade de realizar na rádio. Em suma, David Lynch foi – e por ventura continua e continuará a ser – uma notável fonte de inspiração para o mundo da rádio. Pelo menos, era bom que assim fosse.











No Céu Tudo É Perfeito
A rádio pública (Antena1; Antena3) esteve a par da estreia de «Inland Empire» na última primavera. Ouvi o crítico João Lopes falar com verdade e conhecimento sobre a mais recente longa-metragem de Lynch e, meses mais tarde, o mesmo crítico com o mesmo saber, debruçar-se sobre a reposição de «Eraserhead» [em Portugal sob o nome de «No Céu Tudo É Perfeito»] aquando do trigésimo aniversário da primeira obra de fundo do realizador norte-americano.
Acompanho a obra de Lynch desde «Blue Velvet» (1986) percorrendo depois o tempo anterior a esse filme, chegando à primeira longa-metragem: «Eraserhead».
«No Céu Tudo é Perfeito» está há algumas semanas em reposição no cinema Nimas, em Lisboa. Desta vez não houve curiosos ou gente ao engano. As cadeiras não rangeram. Eram só indefectíveis e apreciadores genuínos de Lynch, ele próprio um estilo de Cinema. Oxalá a exibição desta obra-prima se mantenha um pouco mais. Quero poder lá voltar em breve… para a terceira incursão no estranho universo paternal de Henry Spencer.



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