quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ecos finais do ano






O alinhamento da última «Íntima Fracção» do ano que terminou, é antecedido por uma curtíssima frase que resume muita coisa: "…adeus cruel 2007…"
A sucinta frase pode provocar simultaneamente choros e risos, mas é capaz de ser difícil encontrar muita gente que consiga dizer o contrário. O ano findo não foi daqueles que mereçam ficar guardados num álbum cor-de-rosa. Razões para isso não faltam e, no universo da Rádio em Portugal, também não. Apesar de não ter acontecido nenhuma catástrofe no seio do éter, a verdade é que a Rádio não progrediu nada em 2007. Está ainda para se saber se é decadência ou apenas estagnação, sendo que a se for só esta última também não é positivo. O pior de tudo, e é uma factor pouco salientado, é que a cada ano que passa as audiências baixam sempre um pouco mais. A cada ano que passa, há sempre menos pessoas a escutar Rádio. Os factores são por diversas vezes bem apontados, mas isso não inverte a curva descendente da procura e dos investimentos publicitário, logístico e humano. A Rádio não está para acabar nem está próximo do fim, mas também está a demorar muito a redefinir-se, a expandir-se, e continua muito lenta a saber tirar partido das suas máximas valências. Um aliado novo da Rádio, o formato Podcast, não avançou nada em 2007. Apenas algumas estações tiram uma pequena parte do melhor proveito deste recente dispositivo, mas de forma incompleta e em alguns casos de forma negligente, dando-lhe pouca importância. É um erro estratégico, como já alguns conseguem ver. Está tudo nas mãos dos decisores, mas são esses que vêem menos…
As classes dirigentes mostram-se pouco ágeis a agir em conformidade com os tempos actuais. Por norma não agem, antes, reagem e muitas das vezes já tarde demais ou de maneira atabalhoada. Os dias que correm não contemplam encostos à sombra da bananeira. Correm velozes.

… e as perguntas…

Mais do que analisar, reflectir ou criticar, este espaço «Rádio Crítica» tem por vocação primeira levantar questões. Para já, são vinte perguntas que gostaria de ver respondidas, ao longo deste ano que agora dá os primeiros passos. Acho que algumas das respostas já as sei, mas acredito que haja alguém que as saiba melhor. Outras tantas nunca terão resposta, mas como perguntar não ofende…

2007 trouxe algumas respostas a algumas das questões aqui levantadas. Ei-las:

01. Porque é que não acabam as “rádios” gira-discos vazias de vozes e de conteúdos?
Não acabam porque são um negócio fácil, barato, que não dá milhões, mas vai dando algumas centenas, para além do poder que têm em impedir que outras existam.

(...)

03. Porque é que o programa do Provedor da RDP não tem um horário mais favorável?
Passou a ter outro horário e a ter repetições.

04. Porque é que o RCP não se assume claramente como sendo uma rádio informativa em vez de generalista?
As manhãs de segunda a sexta-feira são informativas, o resto da programação não assume essa vertente.

(…)

12. Alguém acredita no cumprimento das quotas de música portuguesa nas rádios?
Talvez nem quem fez a Lei acredite, mas já vigora.

13. Porque é que o jornalista Francisco Sena Santos não regressa à Rádio?
Continua a incógnita e o vazio, apesar do seu podcast diário em forma de Revista de Imprensa Internacional sob o nome «Assim Vai o Mundo».

14. Porque é que o narrador desportivo Fernando Emílio não regressa à Rádio?
Regressou, através de colaborações no renovado RCP.

(…)

19. Porque é que na rádio (não só na rádio) se ouve muitas vezes, por exemplo, isto: “Amanhã, previsão de nuvens a norte (…) e céu limpo a sul”. É linguagem habitual nas previsões meteorológicas para Portugal continental. Ora, a norte de Portugal continental está Espanha (Galiza); Golfo da Biscaia; Irlanda; parte da Escócia; Ilhas Faroé; Mar do Norte; Oceano Glaciar Árctico e o Pólo Norte. A previsão refere-se a qual destas regiões do planeta a norte de Portugal? A sul fica Marrocos e restante costa ocidental africana (hemisfério norte); Ilhas Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha; Oceano Glaciar Antárctico e o Pólo Sul. A previsão do estado do tempo que se ouve na rádio refere-se a qual destas regiões do planeta a sul de Portugal?
Em 2007 continuaram-se a ouvir coisas assim e muitas outras. É descuido no Português, tornado vício.

20. Alguém responde? Porque é que ninguém responde?
Houve quem respondesse. Obrigado a todos.


Ecos nostálgicos de 1987
Era a Rádio o melhor e maior divulgador de música e no período em questão, na área da grande Lisboa, a estação de referência foi o CMR-Correio da Manhã Rádio.
A música difundida na rádio de há vinte anos (e alguns meses) trouxe algumas estreias comerciais auspiciosas:
Terence Trent d’Arby «Introducing the Hardline According to Terence Trent d'Arby» e Curiosity Killed the Cat «Keep Your Distance». No mundo da então chamada música alternativa, apareceram discos incontornáveis: Dead Can Dance «Whitin The Real of a Dying Sun»; Pieter Nooten & Michael Brook «Sleeps With The Fishes» e a colectânea comemorativa do sétimo aniversário da editora independente britânica 4AD «Lonely is an Eyesore».
Na reentré mainstream de há vinte anos (Setembro/Outubro de 1987) chamaram-lhe na Rádio “O Regresso dos Dinossauros”. Pink Floyd « A Momentary Lapse of Reason»; Sting, com o álbum «Nothing Like The Sun» e Bruce Springsteen (pela primeira vez sem a E-Street Band) com o album «Tunnel Of Love».
Vinte anos depois, o mesmo Springsteen regressou com «Magic» e trouxe consigo a mítica E-Street Band. Toda esta malta jovem – a rondar os sessenta anos de idade – está desiludida com os actuais caminhos da Rádio. “Rádio Nowere” soou em poucas rádios em Portugal. Se a letra fosse cantada em português, ainda tocaria menos.

This is radio nowhere, is there anybody alive out there?

I was spinnin' 'round a dead dialJust another lost number in a file

Dancin' down a dark hole
Just searchin' for a world with some soul

I want a thousand guitars

I want pounding drums
I want a million different voices speaking in tongues

This is radio nowhere, is there anybody alive out there?



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