Mais um conjunto de temas da incontável série de songs they never play on the radio. A colectânea «Lonely Is An Eyesore» serviu para celebrar o sétimo aniversário da editora independente britânica 4AD. A etiqueta, que tinha no seu elenco artistas como os Cocteau Twins, Dead Can Dance e This Mortal Coil, estava no auge. «Lonely Is An Eyesore» foi para além da normal e costumeira colectânea de comemoração, prescindindo de eleger alguns dos temas mais relevantes do catálogo editado. Serviu para expor temas inéditos de alguns dos seus mais importantes artistas da época, somados ao supra citado trio mais representativo. Tem lugar na «Rádio Crítica» o alinhamento completo e original (com uma excepção) de «Lonely Is An Eysore», editado há vinte anos (ainda em 1987) porque foi a ouvir rádio que estes temas chegaram até mim. São pouco mais de quarenta minutos de um conceito puramente alternativo que, passadas duas décadas, já não existe. Qualquer um dos temas musicais que se seguem não cruzam os éteres nacionais e, quando o fazem, é sem o devido enquadramento. Mas encontrá-los ouvindo Rádio é como tentar encontrar uma agulha num palheiro. Mais do que certo é nem soarem em parte alguma. Alguns dos artistas aqui representados aparecem nas tais chamadas excepções do costume. Na RADAR, por exemplo, encontra-se um ou outro tema dos Cocteau Twins ou dos Wolfgang Press no espaço «Radar-20 anos» (segunda a sexta-feira / 20:00-22:00). Já agora saliento e saúdo o regresso à apresentação por um animador deste espaço, nomeadamente da animadora Catarina Pereira. «Radar-20 anos» esteve demasiado tempo sem locução. Um espaço de rádio – ainda por cima identificado e dirigido a um segmento de ouvintes – sem apresentação é sempre um lugar mais pobre. Contudo, o espaço «Radar-20 anos» tem pechas: inclui temas que nada têm a ver com o dito segmento e sofre, com isso, desvios desnecessários. Belisca o espírito primordial do conceito sob o qual se designa. Por exemplo, ouvir uma canção dos The Doors nestas duas horas – por muito bons que sejam (e são!) e por muito que goste deles (e gosto!) não os quero ouvir aqui. Estão fora do habitat e soa-me a falso. Os Doors acabaram em 1971! O mesmo acontece com os The Beatles (acabaram em 1970!) e passam no «Radar-20 anos». É uma situação por demais ambígua. A “fauna” natural do espaço «Radar-20 anos» é aquilo que eu sempre chamei de os outros anos 80. Muitos desses “espécimes” não estão contemplados. Pegue-se nos nomes deste alinhamento e junte-se outros tantos e mais outros ainda. Alternativos sim; os comerciais estão fora do contexto. Para isso já existe a M80, que também tem as suas pechas, mas aí o horizonte é assumidamente mais alargado. Vai dos anos 70 aos 90, sempre e só com os grandes êxitos que toda a gente – com mais de trinta anos – conhece de trás para a frente. Ou ainda, também para isso, temos a programação musical da RNA-Rádio Nova Antena, maioritariamente com hit-singles da década de 80. Em suma, ao espaço radiofónico «Radar-20 anos» exige-se, com legitimidade e propriedade, que se ocupe dos anos 80 sim, mas com uma maior incidência no panorama alternativo. E material vasto em quantidade e qualidade para isso não falta. É só acertar a agulha.