quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Rádio nostalgia 1987
Lonely Is An Eyesore
Colourbox
Na impossibilidade da obtenção do videoclip do tema “Hot Doggie” – o original na colectânea «Lonely Is An Eyesore» – fica aqui o célebre “Pump Up The Volume” elaborado também por elementos dos Colourbox (no colectivo M/A/R/R/S), sob a chancela 4AD e datado do mesmo ano de 1987. Um single que rodou imenso nas rádios e que também teve expansão na TV. Na altura “Pump Up The Volume” serviu para calar muitas bocas maldizentes que acusavam a editora 4AD de ser incapaz de produzir um mega hit comercial. Eis a resposta, que atingiu o nº1 do top de vendas no Reino Unido.
This Mortal Coil – Acid, Bitter and Sad
Um inédito do projecto pessoal de Ivo Watts-Russel, na altura o mentor e proprietário da editora 4AD. Os This Mortal Coil resultavam da colaboração interna entre músicos da editora e alguns convidados externos. A maioria do reportório assenta em versões de outros autores. À data, os T.M.C. tinham editado um EP homónimo (1983) que incluía a versão da canção “Song To The Siren” de Tim Buckley, na voz de Elizabeth Fraser e na guitarra de Robin Guthrie; o álbum «I’ll End In Tears” (1984) e o duplo «Filigree & Shadow» (1986). Editariam um derradeiro duplo álbum «Blood» (1991). Sob o mesmo mentor e conceitos, surgiria um outro projecto similar, sob o nome de «The Hope Blister» (1998). Ivo Watts-Russel há anos que deixou de fazer parte da editora.
The Wolfgang Press – Cut the Tree
A banda non sense da 4AD. Ironia, contraditório e perplexibilidade definem os Wolfgang Press. No ano anterior a este tema inédito tinham editado o álbum «Standing Up Straight» que contou com a participação de Elizabeth Fraser dos Cocteau Twins. Michael Allen, Andrew Gray e Mark Cox: um trio muito inventivo, por ventura o mais arty pós-punk em Inglaterra. Formaram-se em 1983 e nunca oficializaram o fim, embora o último trabalho editado seja de 1995.
Throwing Muses – Fish
A ala rock norte-americana da editora 4AD representada aqui pela banda de Kristin Hersh e Tanya Donelly. “Fish” foi gravado em 1986 (existe uma demo de 1985), mas não chegou a fazer parte de nenhum álbum dos Throwing Muses. É nesta canção que se encontra a frase Lonely Is An Eyesore que daria título a esta colectânea. Os Throwing Muses formaram-se em 1983 e desfizeram-se em 1997. Actualmente Kristin Hersh e Tanya Donelly seguem carreiras separadamente.
Dead Can Dance – Frontier
A banda mística da grande casa de talentos que foi a 4AD nos anos oitenta. Aqui no primeiro trabalho gravado por Brendan Perry e Lisa Gerrard, ainda em 1979. “Frontier” viria a fazer parte do álbum estreia dos Dead Can Dance em 1984. Formaram-se sob a designação Dead Can Dance em 1981 na Austrália, emigrando no ano seguinte para Londres. Os Dead Can Dance conheceram diversas formações, mas a dupla original apenas se separaria em 1999, após oito álbuns e um EP. Em 2005 reuniram-se para uma digressão na Europa e América. Bendan Perry editou um trabalho a solo em 1999 e Lisa Gerrard mantém uma proficiente carreira a solo, sendo figura de proa em numerosas bandas sonoras.
Cocteau Twins – Crushed
Na galeria 4AD de 80, os escoceses [de Grangemouth] Cocteau Twins eram a jóia da coroa. “Crushed” foi o tema inédito que fechou o período de ouro da banda. A partir de 1988 foi sempre a descer, até à saída da editora em 1993 à dissolução em 1997. Entre 1982 e 87, os Cocteau Twins ofereceram sonhos pop delicodoce através das múltiplas vozes de Liz Fraser, a guitarra espacial de Robin Gutrie, Will Heggie (o primeiro baixista, apenas no álbum estreia) e a multi-instrumentalidade de Simon Raymond. “Crushed” é o canto do cisne desses tempos coloridos dos Cocteau Twins e a única produção deles editada em 1987.
Dif Juz – No Motion
Um conjunto de músicos que apenas editou dois álbuns. Os Dif Juz eram uma banda de instrumentais, mas contaram com a voz de Elizabeth Fraser no álbum estreia «Extrations» em 1985. Formaram-se em 1980 e duraram meia dúzia de anos. Aquando da edição de «Lonely Is An Eyesore» os Dif Juz já não existiam enquanto grupo. Alguns dos elementos viriam a fazer parte de bandas como os The Jesus & Mary Chain, Butterfly Child e Wolfgang Press.
Clan Of Xymox – Muscoviet Musquito
Agrupamento holandês, que esteve na 4AD no início da carreira. Formaram-se em 1983 e ainda continuam a editar discos. “Muscoviet Musquito”, tema inédito e exclusivo para «Lonely Is An Eyesore», foi a última aparição dos Clan of Xymox na 4AD. O álbum «Medusa», em 1986, foi o ponto mais alto da carreira artística desta banda de Amesterdão.
Dead Can Dance – The Protagonist
Um longo instrumental aquando das sessões de gravação do álbum desse ano «Within The Realm Of a Dying Sun». Foi uma pena não ter ficado no alinhamento desse disco dos Dead Can Dance. No entanto, “The Protagonist” foi o tema escolhido por Ivo Watts-Russel para encerrar o alinhamento da colectânea «Lonely Is An Eyesore», na comemoração do sétimo aniversário da editora independente britânica 4AD.
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O que eles dizem (33)
O seu programa A Hora do Lobo acabou ao fim de dez anos no ar, na Rádio Comercial, porque, segundo a estação, não se encaixava na nova grelha. Foi realmente este o motivo?
O argumento foi esse. Que o meu programa não tocava a playlist da rádio. Mas os directores de programas mudaram e os administradores também. Enquanto me deixaram fazer a minha emissão, as coisas correram muito bem, a partir do momento em que me vêm dizer que A Hora do Lobo já não era adequada à nova grelha que vai entrar e que, em simultâneo, a minha voz já não faz parte do alvo etário a que se destina, então o fim era óbvio. Cheguei a ter o director de programas a dizer que era difícil imaginar-me à tarde a apresentar Shakira ou João Pedro Pais. Isso fica para quem o diz. Porque a seguir, se a SIC o quiser, estou a apresentar, em voz off, a Floribella, que não é para o meu grupo etário. É tudo uma questão de colocação de voz... Há um certo amargo na situação, principalmente na parte do " já não serve"!
Mas está de volta à rádio com o programa Viriato 25, na Radar. Como surgiu esta oportunidade?
Depois de resolver toda a questão logística com a Comercial, comecei a falar com pessoas. Houve uma hipótese na Antena 3, mas era para um horário madrugada dentro. Entretanto, falei com o Luís Montez da Radar, que acaba por ser o meu mentor porque nos encontrámos ao fim de dez anos, visto que foi ele que me levou para a Comercial em 97, para fazer A Hora do Lobo. E agora voltamos a encontrarmo-nos. Nesta altura, ele tinha uma proposta para mim, que eu considero de prime time [risos], que é fazer um programa das 23.00 à 01.00. Inicialmente, até era para ser das 22.00. E o mais curioso é que recebo imensas mensagens a dar-me os parabéns, por estar de volta.
(…)
O homem que marcou, musicalmente, várias gerações
António Sérgio, o homem da voz profunda e do anel com uma pedra de ónix preta (presente da mulher em 83), continua a fazer parte do universo de quem cresceu a ouvir a sua voz na rádio, desde a década de 70 na Rádio Renascença. Educou o ouvido de muitos, para géneros como o rock alternativo, o heavy metal ou o jazz, mas nunca pela música latino-americana, como o cha-cha-cha, ou o mambo. "Não gosto, nem nunca gostei", diz. Quando vem viver para Portugal, vindo de Angola, estranha o tipo de música que se ouve por esta bandas - francesa e italiana -, porque estava habituado a ouvir música anglo-saxónica, desde muito pequeno, que lhe traziam da África do Sul. Editou o primeiro álbum pirata de punk - Punk Rock 77 - que foi apreendido por ser considerado ilegal, mas acabou por ser absolvido do processo.
António Sérgio
In: «Diário de Notícias»
Segunda-feira, 24 Dezembro 2007
Entrevista de Catarina Vasques Rito