quarta-feira, 30 de abril de 2008
(J)arre! até que enfim!
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Quantos anos (décadas) os fãs portugueses esperaram por este acontecimento? Finalmente um concerto de Jean Michel Jarre (JMJ) em Portugal. Não sou fã de JMJ; fui admirador e consumidor do duplo álbum «Les Concerts en Chine» (1982) e em tempos – muito idos – passei-o na Rádio. Actualmente não é possível “apanhá-lo” de ouvido através da Rádio. Só uma ou outra entrevista (mesmo que datada), porque a música… nem pensar. Então, recuemos até aos anos oitenta do século passado, período de em que JMJ tinha tempo e espaço no éter nacional. «Les Concerts en Chine» foi mais notícia pelo lado político do que musical. Os concertos que o músico francês realizou na China, nas cidades de Pequim e Xangai durante o mês de Outubro de 1981, foram uma demonstração por parte do regime comunista vigente de uma certa abertura à cultura (e economia) ocidental, no paradigmático binómio “um país, dois sistemas”. JMJ foi o primeiro músico ocidental a poder actuar na China comunista ultra-conservadora depois da Revolução Cultural (1966). Um acontecimento de grande importância, sem dúvida, mas atrelado a uma forte componente política censória que – pasmemo-nos – ainda hoje persiste em múltiplos aspectos naquela República Popular (É preciso realçar que se trata de música instrumental!).
Em 1997, JMJ esteve em Lisboa numa visita promocional a um ou mais dos três discos que editou nesse ano. Foi uma entrevista conjunta com outros órgãos de comunicação social presentes, estilo conferência de imprensa, no Hotel Tivoli. Depois das apresentações alusivas à presença do músico francês e de uma ou outra pergunta meramente editorial e previsível, chegou a minha vez de colocar questões. Perguntei a JMJ se conhecia alguma coisa da música portuguesa e, se sim, qual. Respondeu-me que gostava muito da arquitectura da cidade… da luz de Lisboa… das casas… das janelas… Os acompanhantes de Jarre (promotores da editora e tradutor) começaram a fitar-me de soslaio. Percebi que só teria oportunidade para mais uma e última pergunta. Além disso, não era minha intenção estragar o ambiente para que outros pudessem fazer mais perguntas [curiosamente mais ninguém fez perguntas]. Assim, questionei JMJ sobre a importância dos concertos na China e aí ele esteve bem mais à vontade nas palavras, dizendo o que toda a gente sabe esses concertos: Veja-se o comportamento do público, em curtas imagens criteriosamente autorizadas pelo regime chinês em 1981… as pessoas pareciam que estavam a respirar pela primeira vez na vida!
A vinda de JMJ a Portugal ocorre na celebração dos trinta anos do álbum «Oxygene» (1977), recentemente reeditado com melhoramentos sonoros e acrescentos vários, incluindo imagens. Rodeado por uma série de sintetizadores analógicos e outros três músicos, JMJ (a quatro meses de completar sessenta anos de idade) parecia um miúdo em palco a quem deram o primeiro brinquedo. Saltando, gesticulando, batendo palmas e muito atreito a entusiasmar o público. Pena que não tenha eu sentido o entusiasmo que certamente este concerto merecia, mas para mim, JMJ e este espectáculo de luz, cor e electrónica, chegaram tarde demais. “Escassos” vinte e seis anos antes e teria sido o delírio!
JMJ viria a reter por uma segunda vez a minha atenção, aquando o trágico desastre do Vai-Vem norte-americano Challanger (28 de Janeiro de 1986).
JMJ viria a reter por uma segunda vez a minha atenção, aquando o trágico desastre do Vai-Vem norte-americano Challanger (28 de Janeiro de 1986).
Estava prevista a intervenção de um dos astronautas em directo num concerto de JMJ em Houston, no 25º aniversário da NASA e no 150º aniversário daquela cidade texana. Ronald McNair, o astronauta, iria tocar um solo de saxofone a partir da nave. “Ron´s Piece” viria a fazer parte do álbum «Rendez-Vouz», editado nesse mesmo ano. Seria o primeiro concerto inter-espacial da história. Um acontecimento que ainda está por concretizar e que nunca mais voltou a ser tentado.
Aqui vemos Jean Michel Jarre numa das cinco actuações na China. As pessoas que estiveram nos concertos de Lisboa e Porto, ao verem estas imagens, vão notar poucas diferenças na parafernália disposta em palco. Apenas alguma da dimensão dos equipamentos, a ausência da bateria electrónica e uma actual maior sofisticação visual no cenário e no jogo de luzes. O (novo) mundo (velho) analógico tem pouco para diferençar. É talvez, mais ou menos consensual, concluir-se que o melhor período artístico de JMJ se situe entre «Oxygene» (1977) e «Les Concerts en Chine» (1981).
Pelo menos para mim, o resto é para esquecer.
Mundo (ana)lógico
Alguma da parafernália analógica dos anos 70 apresentada e explicada por JMJ. A mesma “tralha” trazida para os recentes concertos de Lisboa e Porto. Instrumentos (?) modelares de aparelhos/sintetizadores – nos dias de hoje, autênticas relíquias – que estão para a música electrónica como a Fender Strato Caster e a Gibbson estão para o Rock ou o Stradivarius para a música erudita.
Da família Jarre, prefiro a música do pai Maurice Jarre, especialmente nas bandas-sonoras originais que compôs para os últimos quatro filmes de Sir David Lean: «Laurence Of Arábia» (1962); «Doctor Zhivago» (1965); «Ryan’s Daughter» (1970) e «A Passage To India» (1984).