terça-feira, 6 de maio de 2008

Uma Segunda Juventude










É uma regra de ouro, ou pelo menos deveria ser em quase tudo na vida, nunca confiar cegamente na apreciação alheia. Sejamos nós próprios a avaliar, a ajuizar. Tendo em conta algumas críticas que li sobre «Uma Segunda Juventude», tratava-se de uma porcaria.
Gostei do novo filme de Coppola. Depois de uma paragem de dez anos, «Youth Without Youth». Uma parábola hiperbólica sobre a inexorável acção do tempo. Um drama humano e filosófico recheado de analepses e prolepses. Para um fascinado – e intrigado – como eu sobre as questões do Espaço e do Tempo, fiquei encantado com «Youth Without Youth». O meu Coppola não bem este. Está nas obras-primas finais sobre o horror da alma humana manifestado num cenário de guerra («Apocalypse Now»); está no drama criminoso sócio-familiar («The Godfather» I;II;III); está na relação homem-mulher («One From The Heart») e na derradeira história de Amor secular («Bram Stoker's Dracula »). Depois há os outros, igualmente bons, mas de uma (e luxuosa) segunda linha: «The Conversation»; «The Cotton Club»; «Gardens Of Stone» e «Tucker: The Man And His Dream». A essa segunda linha, se junta agora o novo «Youth Without Youth». Um regresso de Coppola a um registo longe das super-produções, mais pessoal e com menores custos.

Em palavras ao programa «Cinemax» (RDP-Antena1; 13 de Abril), Francis Ford Coppola disse: Achei que este era um filme que eu podia fazer. Ir à Roménia, podia financiá-lo e podia realizá-lo como se fosse um estudante de Cinema com dezoito anos. E apercebi-me que esta minha história é a história do filme. Tornou-se mais pessoal. E é a parte pessoal que as pessoas gostam de ver. O filme não foi feito apenas como um mero trabalho.

O crítico João Lopes no mesmo programa: Em Cinema tudo é possível. Tudo continua a ser possível. E, realmente, olhando para «Uma Segunda Juventude», aquilo com que nos deparamos é com um cineasta que acredita que o Cinema pode, ser por exemplo, psicológico e introspectivo, mas não tem que se submeter às regras dramáticas que de forma mais ou menos académica – muitas vezes televisiva – continuam a sustentar um Cinema no fundo falsamente psicológico. «Uma Segunda Juventude» é um exemplo brilhante de como continua a ser possível fazer um Cinema sobre a alma humana ser estar submetido às regras dominantes da televisão.

Ver trailer: aqui

Na série de programas Cahiers du Cinema em «Questões de Moral» [Antena2], Joel Costa dedicou uma emissão a Francis Ford Coppola (24 de Março). É dessa emissão a seguinte citação utilizando mais uma vez, as próprias palavras do cineasta em 1979, após a estreia de «Apocalypse Now»:
Às vezes penso: porque não me contento em produzir o meu vinho, realizar um filmezito de dois em dois anos, viajar mais vezes à Europa com a patroa e os miúdos? Porque me satisfaço só quando pretendo atingir cumes incríveis e me arrisco a rebentar com a minha vida pessoal só para poder fazer um filme?



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