sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Dez coisas do Verão 2010 (V)
Leonard Cohen
One of Us Cannot be Wrong
O serão de dia 10 de Setembro foi um soporífero fatal para uma noite de sexta-feira. O concerto do canadiano Leonard Cohen em Lisboa. O terceiro em três anos consecutivos. O escritor de canções intemporais como “Suzanne” ou “So Long, Marianne” encontra-se a anos-luz do seu passado primordial. O Cohen que mais aprecio e verdadeiramente me enche as medidas é o Cohen de 1967 a 1971, dos álbuns «Songs of Leonard Cohen», «Songs From a Room» e «Songs of Love and Hate» (especialmente este último). Um Cohen trovador, filho da neve, rasante e solitário no grito da dor e da condição humana. Um Cohen de uma escrita riquíssima. Nesse aspecto, uns passos à frente de Bob Dylan. Até mesmo a nível melódico. Desde então para cá foi sempre a descer [excepção feita à colaboração com Philip Glass em 2007]. Este Verão, nas duas semanas antecedentes ao concerto de Cohen em Lisboa, fui divulgando na Rádio o regresso do autor de canções como “Bird on The Wire”; “Chelsea Hotel”; “Suzanne” e “So Long, Marianne”. Passei-as a par de outras como “The Stranger Song”, “Sisters of Mercy” e “Hey, That’s No Way To Say Goodbye”. Mas não era exactamente esse o artista a que o público ia afluir.
O compositor, cantor e intérprete que esteve no Pavilhão atlântico é uma personificação do seu próprio fantasma. Um espelho irreal do seu irrepetível passado de trovador de guitarra acústica em punho. E até mesmo as canções mais antigas perderam todo o sal, apresentadas que foram sempre sob o mesmo manto demasiado warm and friendly.
Let's Sing Another Song, Boys
O Cohen do actual jubileu/celebração surgiu em 1985, com o álbum «Various Positions» (já não editava desde «Recent Songs» de 1979) e muito à custa de uma hit-song chamada "Dance me to the End of Love". Desde então, Leonard Cohen tornou-se irremediavelmente num baladeiro burguês e acomodado, sem uma nesga da acutilância poética e performativa de finais de 60, inícios de 70.
Este processo "transformista" não é caso único. A história da música popular está cheia de exemplos destes. O mais sonante a nível mundial foi o caso de Elvis Presley. De roqueiro irreverente e inovador passou a baladeiro romanesco, num arrastar de decadência até ao último concerto semanas antes de morrer. Outro caso que estava a começar a seguir o mesmo caminho foi o de John Lennon. Não sabemos o que se seguiria a «Double Fantasy» (último álbum editado em vida, em 1980), mas o outrora inconformado Beatle já começava a "encostar-se" à toada baladeira. Por cá, temos o exemplo de Rui Veloso. De (quanto a mim falsamente) denominado "pai do rock português" (com muito caldo de blues) passou a lamentável cantor romântico. Desde o disco homónimo de 1986 - que apesar de traçar já algum do caminho que se verifica agora, foi um bom trabalho - nunca mais fez nada de melhor e, desde essa, altura foi sempre a cair. Comparem o primeiro álbum de Rui Veloso [«Ar de Rock»; está agora a completar 30 anos] com o mesmo homem hoje e vejam as diferenças.
Teachers
A questão da idade não é desculpa. Há quem tenha a idade de Cohen e mais ainda e continua a ser o que sempre foi. Compay Segundo, já com mais de 90 anos de idade, continuava a ser uma força da natureza em palco. Até morrer foi o que sempre foi. Quer em palco, quer em disco. O mesmo se pode dizer do também cubano Ibrahim Ferrer, ou do norte-americano B.B. King, que ainda este ano arrasou numa actuação no norte de Portugal (B.B. King tem mais nove anos que Cohen!). Assim foi também o padrinho da Soul, James Brown. O brasileiro João Gilberto, pai da «Bossa Nova», aos 79 anos de idade continua a actuar sozinho em palco e assim é desde 1958 (já o mesmo não se pode dizer do seu discípulo Caetano Veloso, que há anos escorrega vertiginosamente para a baladice). E o que dizer de Bob Dylan ou de Mick Jagger dos Rolling Stones se não a mesma coisa? A idade não é desculpa e Cohen está em boa forma física e intelectual, e a voz - embora mais farfalhenta e grave - continua em bom estado.
Os artistas têm todo o direito de mudar de rumo na carreira. De fazerem opções e mudarem de objectivos musicais. Esses direitos estão fora de questão e não se discutem. Mas há um preço a pagar. Mudam os rumos musicais e com isso mudam os seus públicos. Mas eles - os artistas musicais - sabem muito bem que a mudança lhes engrossa os rendimentos financeiros. Perdem os selectos da origem, mas alcançam novas multidões menos conhecedoras e exigentes, que vão na música. Business is business!
Hey, That´s no Way to Say Goodbye
...................................................................................................................................
Love Calls You By Your Name
A canção "Love Calls You By Your Name" [do álbum «Songs of Love and Hate»] estava no alinhamento, mas por falta de tempo já não pôde ser incluída. Seria a última desse programa.
Na última noite em que a IF foi transmitida pela TSF, eu estava em emissão e quis dedicar os quinze minutos que lhe antecederam incluindo esta canção de Leonard Cohen. Foi a última vez que a pude passar na rádio. Agora, nestes tempos de songs they never play on the radio, ela ainda pode ser escutada na emissão do 23º aniversário da IF. As melhores canções são como as pessoas: é nos momentos maus que se revelam. E a rádio já não passa as melhores canções.
As canções que gostaria que Leonard Cohen tivesse cantado:
Avalanche; Master Song; The Stranger Song; Hey That’s no Way to Say Goodbye; Dress Rehearsal Rag; Diamonds In The Mine; Last Yar’s Man; Joan Of Arc; Love Calls You By Your Name; Sing Another Song Boys; You Know Who I Am; Tonight Will Be Fine; The Partisan; The Old Revolution; The Bucher; Story of Isaac; Seem So Long Ago Nancy; Lady Midnight; A Bunch of Lonesome Heroes; The Guests.
(+ estas que Cohen cantou, mas que fossem no estilo original despido de orquestrações e singers):
Bird on a Wire; Who by Fire; Chelsea Hotel #2; The Partisan; ; Suzanne ; Sisters of Mercy ; So Long, Marianne.
One of Us Cannot be Wrong
O compositor, cantor e intérprete que esteve no Pavilhão atlântico é uma personificação do seu próprio fantasma. Um espelho irreal do seu irrepetível passado de trovador de guitarra acústica em punho. E até mesmo as canções mais antigas perderam todo o sal, apresentadas que foram sempre sob o mesmo manto demasiado warm and friendly.
O Cohen do actual jubileu/celebração surgiu em 1985, com o álbum «Various Positions» (já não editava desde «Recent Songs» de 1979) e muito à custa de uma hit-song chamada "Dance me to the End of Love". Desde então, Leonard Cohen tornou-se irremediavelmente num baladeiro burguês e acomodado, sem uma nesga da acutilância poética e performativa de finais de 60, inícios de 70.
Este processo "transformista" não é caso único. A história da música popular está cheia de exemplos destes. O mais sonante a nível mundial foi o caso de Elvis Presley. De roqueiro irreverente e inovador passou a baladeiro romanesco, num arrastar de decadência até ao último concerto semanas antes de morrer. Outro caso que estava a começar a seguir o mesmo caminho foi o de John Lennon. Não sabemos o que se seguiria a «Double Fantasy» (último álbum editado em vida, em 1980), mas o outrora inconformado Beatle já começava a "encostar-se" à toada baladeira. Por cá, temos o exemplo de Rui Veloso. De (quanto a mim falsamente) denominado "pai do rock português" (com muito caldo de blues) passou a lamentável cantor romântico. Desde o disco homónimo de 1986 - que apesar de traçar já algum do caminho que se verifica agora, foi um bom trabalho - nunca mais fez nada de melhor e, desde essa, altura foi sempre a cair. Comparem o primeiro álbum de Rui Veloso [«Ar de Rock»; está agora a completar 30 anos] com o mesmo homem hoje e vejam as diferenças.
Teachers
A questão da idade não é desculpa. Há quem tenha a idade de Cohen e mais ainda e continua a ser o que sempre foi. Compay Segundo, já com mais de 90 anos de idade, continuava a ser uma força da natureza em palco. Até morrer foi o que sempre foi. Quer em palco, quer em disco. O mesmo se pode dizer do também cubano Ibrahim Ferrer, ou do norte-americano B.B. King, que ainda este ano arrasou numa actuação no norte de Portugal (B.B. King tem mais nove anos que Cohen!). Assim foi também o padrinho da Soul, James Brown. O brasileiro João Gilberto, pai da «Bossa Nova», aos 79 anos de idade continua a actuar sozinho em palco e assim é desde 1958 (já o mesmo não se pode dizer do seu discípulo Caetano Veloso, que há anos escorrega vertiginosamente para a baladice). E o que dizer de Bob Dylan ou de Mick Jagger dos Rolling Stones se não a mesma coisa? A idade não é desculpa e Cohen está em boa forma física e intelectual, e a voz - embora mais farfalhenta e grave - continua em bom estado.
Os artistas têm todo o direito de mudar de rumo na carreira. De fazerem opções e mudarem de objectivos musicais. Esses direitos estão fora de questão e não se discutem. Mas há um preço a pagar. Mudam os rumos musicais e com isso mudam os seus públicos. Mas eles - os artistas musicais - sabem muito bem que a mudança lhes engrossa os rendimentos financeiros. Perdem os selectos da origem, mas alcançam novas multidões menos conhecedoras e exigentes, que vão na música. Business is business!
Hey, That´s no Way to Say Goodbye
Diz, quem lá ficou as quase três horas e meia de espectáculo, que a segunda e terceira partes foram melhores, sendo a última uma série de encores. Foi, talvez, a última vez que Leonard Cohen actuou em Portugal. Admiro o estoicismo de quem aguentou a noite no Pavilhão Atlântico. Eu saí no primeiro intervalo.
Alinhamento do concerto:
Primeira parte
01. Dance Me to the End of Love
01. Dance Me to the End of Love
02. The Future
03. Ain't No Cure for Love
04. Bird on a Wire
05. Everybody Knows
06. In My Secret Life
07. Who by Fire
08. The Darkness
09. Born in Chains
10. Chelsea Hotel #2
11. Waiting for the Miracle
12. Anthem
Segunda parte
13. Tower of Song
14. Suzanne
15. Sisters of Mercy
16. The Gypsy Wife
17. Feels So Good
18. The Partisan
19. Boogie Street
20. Hallelujah
21. I'm Your Man
22. Take This Waltz
Encores
23. So Long, Marianne
24. First We Take Manhattan
25. Famous Blue Raincoat
26. If It Be Your Will
27. Closing Time
28. I Tried to Leave You
29. Heart With No Companion
29. Heart With No Companion
...................................................................................................................................
O que ele diz (ou já disse):
Não percebo o fascínio que as pessoas têm com o número de mulheres que tive. A grande maioria das minhas noites passei-as sozinho. E não foi por opção.
É sempre uma surpresa agradável quando uma mulher nos dá acesso ao seu coração e ao seu ventre. É a mulher que escolhe. Todas as técnicas da sedução são irrelevantes.
Não falamos sobre a vida e a morte. O que é provavelmente a coisa mais importante que nos une: eu falo com o Dylan como um amigo verdadeiro, como um ser humano normal. Não espero dele lições de moral, conselhos ou palavras profundas e sábias.
Love Calls You By Your Name
Há uma forte ligação desta canção a certos momentos da Rádio. Conheci-a através da «Íntima Fracção», passei-a em muitas noites da rádio durante mais de uma década. É uma canção que salva – pode salvar – a alma e o coração. É purgatória e reflexiva. "Love Calls You By Your Name" não faz parte do grande lote das canções mais conhecidas deste canadiano, filho da neve, mas também podia - e pode - estar entre as melhores do século XX. É a descida àquilo que o pensador George Steiner chama de “tribunal das memórias”, uma espécie de auto-exame em que, segundo Steiner, se formos verdadeiramente sinceros, chumbamos. Sem excepções. Descobrimos “o estranho” que há em nós ("I Was The Stranger", como cantou Cohen).
Na série de programas «Como no Cinema», houve uma edição intitulada "Canções de Amor e Ódio". O programa foi para transmitido em directo na TSF em Junho de 2001 e publicado na Internet em Fevereiro de 2007. É, até hoje, a emissão da série com mais procura e com mais downloads efectuados.A canção "Love Calls You By Your Name" [do álbum «Songs of Love and Hate»] estava no alinhamento, mas por falta de tempo já não pôde ser incluída. Seria a última desse programa.
Na última noite em que a IF foi transmitida pela TSF, eu estava em emissão e quis dedicar os quinze minutos que lhe antecederam incluindo esta canção de Leonard Cohen. Foi a última vez que a pude passar na rádio. Agora, nestes tempos de songs they never play on the radio, ela ainda pode ser escutada na emissão do 23º aniversário da IF. As melhores canções são como as pessoas: é nos momentos maus que se revelam. E a rádio já não passa as melhores canções.
Interessante entrevista, para um programa de TV, a Leonard Cohen em 2009, a meio da digressão que o trouxe três vezes a Portugal em três anos consecutivos (2008, 2009, 2010). Em sua própria casa, na cidade canadiana de Montreal:
As canções que gostaria que Leonard Cohen tivesse cantado:
Avalanche; Master Song; The Stranger Song; Hey That’s no Way to Say Goodbye; Dress Rehearsal Rag; Diamonds In The Mine; Last Yar’s Man; Joan Of Arc; Love Calls You By Your Name; Sing Another Song Boys; You Know Who I Am; Tonight Will Be Fine; The Partisan; The Old Revolution; The Bucher; Story of Isaac; Seem So Long Ago Nancy; Lady Midnight; A Bunch of Lonesome Heroes; The Guests.
(+ estas que Cohen cantou, mas que fossem no estilo original despido de orquestrações e singers):
Bird on a Wire; Who by Fire; Chelsea Hotel #2; The Partisan; ; Suzanne ; Sisters of Mercy ; So Long, Marianne.