quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dez coisas do Verão 2010 (X)














O fim do RCP-Rádio Clube Português

Projecto falhado
No dia 29 de Janeiro de 2007 arrancava o renovado RCP-Rádio Clube Português. As novas metas traçadas eram ambiciosas e isso nunca foi escondido, pelo contrário. Não faltaram frases eloquentes e até acutilantes aquando do lançamento do novo projecto de radiodifusão em Portugal. Roubar ouvintes às rádios TSF e Antena1, ultrapassando-as nas audiências, por exemplo.
Para além das ambições irrealistas num mercado exíguo que não perdoa desvarios e tiros na água, houve bons momentos no este Verão "descontinuado" RCP. Programas de interesse, gente interessante à qual vale sempre a pena dedicarmos o nosso tempo de escuta, e boas intervenções de convidados, colaboradores, colunistas, etc. Boas vozes e bons profissionais. O RCP tinha tudo para ser uma boa Rádio em Portugal. Tinha tudo e teve tudo, menos orientação forte e definida.

O maior lamento
Quando encerra uma estação de Rádio com as características do RCP [uma rádio de palavra] não é mesma coisa de quando encerra uma estação estritamente musical [mega-giradiscos, sem pessoas a comunicarem]. A palavra é a essência da Rádio, é a sua razão de existir. E nos dias actuais ainda mais essa sagrada premissa é válida. Ninguém, ou já muito pouca gente necessita da Rádio para ouvir apenas e só música. Sem palavra, a Rádio está destituída da sua razão primordial de existir.
Quando morre uma estação de Rádio não morre apenas um nome, uma sigla ou uma marca. Equivale a algo mais que a morte de um conhecido ou dum ente querido. É uma família inteira que desaparece.
O que mais se lamenta neste encerramento é o conjunto de profissionais que ficam afastados do mundo da Rádio. Poderá ter sido o fim da carreira de pessoas que quiseram fazer Rádio na vida e que podem não poder voltar a ter uma oportunidade de continuarem na profissão. Um verdadeiro horror para quem se dedicou anos e anos a uma causa e até a própria vida à Rádio.

11 de Julho 2010
Na noite em que Espanha se sagrou campeão do Mundo em Futebol, as duas últimas canções do RCP antes do encerramento à meia-noite de Domingo para segunda-feira: “Spanish Bombs” dos The Clash e o icónico “E Depois do Adeus” na voz de Paulo de Carvalho, o tema emblema de uma revolução nacional que teve história no Rádio Clube Português original, em 1974, e que também encerraria no ano seguinte. Enfim, encerrar está na história desta estação.
A última voz no RCP foi a de Nuno Infante do Carmo, na última «Banda Sonora» da estação: “Boa noite e até sempre”.

E depois da meia-noite
“It’s Now or Never” de Elvis Presley e “The Long And Widding Road” dos The Beatles. Foram as primeiras canções do defunto espaço hertziano até então ocupado pelo RCP. O regresso da Rádio Nostalgia, com as mesmas canções que ouvíramos durante anos a fio antes do fecho enquanto Rádio Nostalgia (na rede regional sul) e até à refundação do RCP pelas mãos do então administrador da Média Capital Pedro Tojal em 2003.
Mais tarde ficou a saber-se que vai chamar-se Star FM.

O último relato
Poderia ter sido o último relato de Fernando Correia na Rádio portuguesa. Foi na transmissão da final do campeonato do mundo.
Aos 74 anos de idade e com uma carreira com mais de cinquenta anos na Rádio, continua a ser o melhor narrador radiofónico de futebol ainda vivo. Ainda vivo, em actividade e em grande forma. A despedida foi com palavras de conforto dizendo que, para um narrador, nunca é o último relato, nunca é o último jogo. E o próximo é sempre o mais importante. Seja como for, e independentemente de não o podermos voltar a ouvir narrar (a nível nacional) como ninguém um jogo de futebol, não é ele que precisa da Rádio. É a Rádio que precisa dele.









O regresso
Fernando Correia regressou aos relatos logo no mês seguinte, no dia 28 de Agosto, no relato do encontro da primeira liga entre o Benfica e o Vitória de Guimarães. Com ele estavam o comentador de arbitragem Carlos Cardoso e o comentador técnico Octávio Machado.
Foi na rádio regional NFM. Desconheço o projecto NFM e não posso pronunciar-me sobre esta estação de Rádio. Sabe-se que não é uma das grandes no panorama nacional, mas soube avaliar a importância de ter um narrador de Futebol como Fernando Correia. É lá que o podemos continuar a ouvir.

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O que eles dizem (51)

O RCP não morreu. Foi morto. Foi assassinado por espanhóis.
José Nuno Martins
In: RTP-N
04 Agosto 2010 (23:37)



O mercado inverteu as regras.
Álvaro Costa
In: RTP-N
04 Agosto 2010 (23:49)



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