segunda-feira, 17 de outubro de 2011

[intervalo TV]













Estreou no passado Sábado à noite na RTP1 o programa «Planeta Música».
Para além de um horário pouco "amigo da música" (a maior parte do público alvo deste tipo de emissão está fora de casa a essa hora), o novo espaço de divulgação sobre o que se vai compondo, tocando e cantando por cá tem uma dupla de apresentadores no mínimo sofrível.
Mónica Ferraz (cantora) e João Vieira (dos Ex-Wife) demonstraram na emissão inaugural toda a impreparação de que são portadores. Performance amadora e nervosa, com intervenções fora de tempo e entradas a despropósito.
O convidado Samuel Úria, por exemplo, mal começava a responder a uma pergunta, já estava a ser interrompido com um comentário em nome próprio da apresentadora.
O serviço público de Televisão continua a tratar com os pés uma área cultural nacional que não vive o melhor dos dias desde há muito tempo.
Que me lembre, nos últimos 30 anos só houve três momentos em que justamente a RTP tratou bem a música, isto é, com a delicadeza das mãos. E pelas mãos de pessoas habilitadas para isso. Três momentos que tiveram lugar num tempo em que não havia estações privadas de TV, nem canais por cabo. Todos ocorridos na década de 80.
Os programas semanais «Viva a Música», com Jaime Fernandes e Jorge Pego (entre outros), o «Passeio dos Alegres» de Júlio Isidro, onde aparecia um pouco de tudo misturado com muitas novidades. Foi lá que apareceu pela primeira vez em público, em Fevereiro de 1981, uma personalidade única chamada António Variações. Diga-se o que e disser, pense-se o que se pensar, Júlio Isidro era na altura o grande senhor da Televisão mais inovadora que se fazia em Portugal, a seguir de Carlos Cruz e a par de Carlos Pinto Coelho, Mário Zambujal e Herman José.
O terceiro e último exemplo, também nos anos 80, já no fim dessa década: o programa «Outras Músicas» de José Duarte na RTP2. Mestria, classe, conhecimento e distinção. Adjectivos comuns aos três exemplos.
No agora estreado «Planeta Música», só a crónica de Álvaro Costa é digna de admiração. Um comunicador nato, especialmente na Rádio, que apresenta um apontamento musical sobre momentos marcantes da história do universo Pop/Rock via YouTube. O resto é deplorável e nem os apresentadores - e muito menos os convidados - são os principais culpados.
O programa é gravado, mas tem ao menos o mérito de os artistas convidados não interpretarem em playback.
Um conteúdo deste fraco calibre só é admissível em canais privados, seja por cabo, seja em sinal aberto. A aberração é ser transmitido no serviço público de Televisão, onde o grau de exigência qualitativa deveria ser muito mais elevado.
Se é para fazer-se mal, ou fazer para dizer-se que se faz, melhor será não fazer.
Vinha aí um projecto chamado RTP-Música, com Jaime Fernandes aos comandos, mas foi abortado.
É "só" a crise?

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O que eles dizem (74):

Portugal não tem hipótese de sobrevivência. Portugal era o principal produtor de café, urânio, de ferro, e deixámos de ser tudo isso. Não temos nada. Somos um país mendigo, vivemos de dinheiro emprestado.

José Hermano Saraiva
In: «Notícias TV», 14 de Outubro 2011



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