terça-feira, 5 de junho de 2012

Foi ÉPICO!





















Algumas horas antes no Palco Mundo, no decorrer da actuação dos britânicos James no Festival Rock in Rio, o líder da banda Tim Booth (nascido em 1960) contava um episódio ocorrido na sua adolescência, aos 17 anos de idade. Um amigo tentava convence-lo a assistir a um concerto que realizar-se-ia dali a uns dias na cidade de Birmingham. Por essa altura Tim Booth era adepto do movimento Punk. Ouvia Sex Pistols e Iggy Pop. Muito a custo, lá se convenceu a acompanhar o amigo ao dito concerto de um tipo cuja música não apreciava. À terceira música já esboçava o maior sorriso que alguma vez tivera na cara e esse concerto era de Bruce Springsteen com a E-Street Band. O jovem Tim ficou, desde esse dia, para sempre fã do Boss. E também fixando-o como uma referência para a sua futura vida artística.
Seria um privilégio para ele – e para todos os demais presentes – encontrarem-se no mesmo palco, para dali a pouco tempo ter lugar a actuação da lendária banda norte-americana com o seu patrão.

O rufar dos tambores de Max Weinberg faz anunciar, escassos minutos depois da meia-noite, “We Take Care of Our Own”, o tema de avanço do álbum «Wrecking Ball», editado em Março deste ano.
Springsteen entra discreto com todos os elementos que o acompanham em palco (empunhando a sua velha guitarra Fender Telecaster amarela e preta, que ostenta evidentes sinais exteriores de desgaste). O núcleo duro da E-Street Band: Max Weinberg (bateria), professor Roy Bittan (piano), Garry W. Tallent (viola baixo), Little Steve Van Zandt (guitarra), Nils Lofgren (guitarra).
Secção de metais com cinco elementos, incluindo Jake Clemons (saxofonista a fazer a vez do tio Clarence Clamons desde há quase um ano), Soozie Tyrell (violino e guitarra acústica na vez de Patti Scialfa [sua amiga de longa data], mas que já conta muitas presenças nas actuações ao vivo da E-Street Band desde 1988); Charles Giordano (teclista que substitui Daniel Federici desde 2008) + quarteto de coristas (com percussão). Ao todo 17 pessoas em palco, contando com o líder.















São duas horas e três minutos da manhã já de segunda-feira dia 4 quando rebenta o trovão “Born to Run” nos céus de Lisboa. O hino da fuga para a frente na Vida é a única canção que Springsteen nunca falha num concerto desde a sua edição, em 1975.
Tema cativo de todos os alinhamentos do Boss com a E-Street Band. Uma empolgante celebração da Vida. O pico emocional que todos esperam algures no desfilar de muitos outros êxitos de uma carreira de quatro décadas consecutivas.
Sem perder a oportunidade de apresentar temas novos, Springsteen não perdeu o fio do tempo e incluiu temas dos álbuns primordiais, desde «Greetings From Asbury Park New Jersey» (1973), passando por «Born To Run» (1975), «Darkness of the Edge of Town» (1978) e «The River» (1980), até aos mundialmente aclamados «Born in the USA» (1984) e «The Rising» (2002).
Outro dos momentos altos do concerto (houve momentos que não tivessem sido altos?) foi no final do entusiasmante “Dancing in The Dark”, com a chamada ao palco de uma mulher para dançar com o Boss, à semelhança do videoclip do celebérrimo tema conhecido desde 1984, aquando a edição do álbum «Born in USA». Até esse tempo, Bruce Springsteen era apenas um rocker norte-americano para logo depois se tornar numa celebridade planetária, ombreando em igualdade de estrelato com Michael Jackson e Madonna.
Desde então, sempre ao vivo, a façanha repete-se. Desta vez não com uma, mas duas mulheres para dançar em palco com Bruce (portuguese do it better!).















Perto do fim, a homenagem a Clarence Clemons no tema “Tenth Avenue Freeze-Out”, quando tudo pára no momento em que a letra da canção chega à frase “When the change was made uptown and the big man joined the band”. Na mesma canção “Tenth Avenue Freeze-Out” é dele (seria) a frase “And kid you better get the picture”.
Segue-se um momento de silêncio e apagam-se as luzes. No ecrã gigante de fundo no palco surgem imagens de arquivo do falecido saxofonista, o parceiro dos parceiros de Springsteen e a mascote da E-Street Band. Foi o momento de maior comoção da noite. De facto, foi dele ("The Big Man") a maior ausência no espectáculo. Maior que a mulher de Springsteen – Patti Scialfa (“Ficou em casa a tomar conta dos pequeninos”, disse o marido com graça e em português) – e do teclista Danny Federici, também já falecido e que, tal como Clemons, foi membro fundador da E-Street Band em 1972.
Já com as luzes todas acesas, as do palco e as da imensa assistência, estoira uma interpretação surpreendente do clássico “Twist and Shout”, brindado ao mesmo tempo do fogo de artifício de final de festa e sob a omnipresença de uma Lua completamente cheia.
Ao contrário do que se disse (e ainda se diz, inclusive na Rádio), o tema “Twist and Shout” não é dos Beatles. “Twist and Shout” foi composto pela dupla Phil Medley/Bert Russell, e não pela dupla Lennon/McCartney. Foi primeiramente intitulada de "Shake It Up Baby". A primeira gravação de “Twist and Shout” foi feita em 1961 pelo grupo The Top Notes, com produção de Phil Spector. A primeira versão após o original foi gravada pelos The Isley Brothers.
A versão dos Beatles (a mais conhecida) foi gravada nas sessões do álbum de estreia «Please, Please Me» (1963).














Boss's on the house

Bruce Springsteen está a pouco mais de três meses de completar 63 anos de idade.
Mostrou estar com uma vitalidade física invejável para um sexagenário. Pleno de capacidades, corre, salta, abraça e deixa-se abraçar pelo público, salta para os braços dos fãs, deita-se, levanta-se, volta a correr, volta a saltar, com e sem guitarra. Uma e outra vez. A sua prestação em palco (e fora dele) não tem quebras. As músicas seguem-se umas às outras quase sem pausas.
A voz continua poderosa, com oscilações perfeitamente ajustadas a cada momento. Por vezes a arfar, devido ao ritmo diabólico.

Na parte final da interpretação da canção “The River”, Bruce Springsteen soltou um cântico gospel mágico e celestial, superior ao registado em disco, bem demonstrativo de uma qualidade vocal enorme. O mesmo aquando da parte final de “I’m on Fire”. E quando foi preciso explorar o lado mais duro do seu Rock, a garganta nunca o traiu, apesar de, em quase todos os temas que cantou, ter atingido o extremo da sua latitude.
Na véspera estivera em palco no País Basco, em San Sebastian, a tocar e a cantar para outra multidão numa noite de chuva. Um dia e muitos quilómetros depois realiza um concerto desta envergadura, com quase três horas de duração, como se não houvesse amanhã. Como se fosse o último da sua vida, com uma entrega total!
Falou em português (o possível, mas compreensível). Maximizou a massa humana presente como nunca se vira antes (cerca de 81 mil pessoas).
Quem lá esteve nunca esquecerá toda aquela dimensão, todas aquelas boas vibrações, toda aquela dinâmica, energia e poder. O Boss é mesmo o Rei e não se vê sucessor. Ele que, muito naturalmente
– e com as devidas diferenças – rendeu Elvis no trono.
Tudo o resto, e o muito que fica por contar, permanecerá para sempre na memória e nos corações que quem presenciou tamanho acontecimento nestes tempos difíceis que Springsteen não descuidou de lembrar, referindo-se a todas as pessoas que perdem os seus trabalhos e as suas casas na América e também aqui.

Imagens do concerto via TV, desde o tema “Spirit in the Night” até “Shackled and Drawn” do alinhamento:


Alinhamento completo do concerto de Lisboa no passado dia 3 de Junho de Bruce Springsteen & The E-Street Band:

01. We Take Care Of Our Own
02. Wrecking Ball
03. Badlands
04. Death to My Hometown
05. My City of Ruins
06. Spirit in the Night
07. Because the Night
08. No Surrender
09. She's the One
10. I'm on Fire
11. Shackled and Drawn
12. Waitin' on a Sunny Day
13. The River
14. The Rising
15. Lonesome Day
16. We Are Alive
17. Thunder Road
18. Born in the U.S.A.
19. Born to Run
20. Glory Days
21. Hungry Heart
22. Dancing in the Dark
23. Tenth Avenue Freeze-Out
24. Twist and Shout




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