quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Hoje em LISBOA































"Morreste-me é uma declaração de amor para um pai, para uma família. Para todos os que são vítimas desta doença. O cancro.
É uma declaração de amor para os que nos deixam e para os que ainda estão connosco. Para aqueles que sabemos, que quando nos faltarem, o nosso coração ficará só a metade.
Em tempos como os de hoje, de um Portugal deprimido quase abandonado, onde muito pouco nos faz sentido: seja pela crise económica, de valores, seja pela ausência de fé e confiança – escolher este texto é ir ao encontro da nossa identidade. É reforçar a importância das pessoas que nos rodeiam, os valores transmitidos pela família. O amor. O amor é acima de tudo o que nos move. As pessoas que fazem parte de nós, são sobretudo, a nossa motivação de vida. Quando alguém nos morre temos de nos refazer. Quando vemos alguém de nós a morrer devagarinho, morremos também a cada dia. E ao lado deste sofrimento atroz vemos a coragem, a força, a entrega.
Poderemos então, seguir também este exemplo de força e coragem para nos reintegrarmos, assumirmos e lutarmos por quem somos.
Adaptar um texto poético e de carácter biográfico como é o do José Luís Peixoto, para um monólogo foi - é - um verdadeiro desafio.
A dificuldade de termos um texto literário para fazer dramaturgia, encenar, criou muito espaço para questões. Questões essas que nos fizeram procurar e nos levaram à acção, ao drama. As respostas porém, sempre estiveram no texto.
Pensámos no voltar a uma "terra agora cruel" com o objectivo de fazer o luto. De enterrar todos os pormenores terríveis para conseguir reorganizar e refazer a vida.
A falta de quem amamos deixa-nos vazios, com pouca vontade de caminharmos sem ela. As memórias ajudam-nos a continuar. Temos de reaprender a andar. Sabemos que a eternidade do outro é garantida no nosso corpo, no nosso sangue, nos nossos olhos. Sabemos que temos de encaixotar alguns momentos para prosseguir.
Dentro de um espaço fictício onde tudo se mistura, algures no Alentejo, encontramos o coração de uma menina, de uma mulher, a quem foi tirada uma das suas bases. O pai.
Encontramos assim num tempo confuso pós perda, pedaços ligados ou desfeitos ou refeitos de uma vida partilhada.
O objectivo desta travessia será o recolher lembranças para fechar a casa e seguir caminho. Mas como será construída tamanha viagem?"


Cátia Ribeiro | Sandra Barata Belo



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