segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Um dia estranho para a Rádio













Esta segunda-feira foi mais um dia estranho para a Rádio portuguesa 
Pela primeira vez desde 1989 (o ano do qual me lembro) que não houve uma transmissão radiofónica da Noite dos Óscares de Hollywood.
De 1990 a 2004 a TSF assegurou a transmissão integral em directo. Depois, com a transferência de parte da equipa realizadora para a RDP, a transmissão da cerimónia da Academia passou a ser transmitida pela Antena3. Erradamente, diga-se. Sendo serviço público de radiodifusão, fazia mais sentido ser na Antena1. Mas ao menos era transmitida. Desta vez não, pela primeira vez nos últimos 23 anos.
A transmissão integral e em directo do evento é uma emissão de prestígio que a Rádio descurou, quiçá para sempre. A oportunidade de uma noite diferente na Rádio, para quem ouve Rádio à noite e para quem quer ficar melhor informado a par e passo sobre o que acontece na entrega dos prémios mais importantes do Cinema.
As incidências, as expectativas, os palpites, as apostas, o durante e o depois da cerimónia é território fértil para grande demonstração do imenso potencial da Rádio.
Assim, em vez disso, quem quis acompanhar em directo a noite dos Óscares teve que o fazer a ver TV – sem o som da Rádio (que era o que toda a gente fazia), – numa transmissão muito sofrível por parte do canal português que assegurou as imagens.
A noite mais importante da Sétima Arte perdeu o ecrã da Rádio.






Muitas horas depois, mas ainda neste mesmo dia, decorreu a IV Gala da Sociedade Portuguesa de Autores. Uma espécie de Óscares dos pobrezinhos na RTP, a par dos «Globos de Ouro» da SIC.
Na categoria de Rádio venceu um programa horrivelmente confuso que, se na «Rádio Crítica» me desse ao trabalho de listar alguns dos piores programas de autor do ano passado (e actualmente em antena), certamente que este figuraria lá.
«Da Cena do Ódio» é um programa desconexo com pedaços de músicas cortadas e sobrepostas por textos e falas a despropósito. Um produto final medíocre. São necessárias quatro ou cinco pessoas para o realizarem. É um exemplo evidente do desperdício de meios, recursos financeiros e outros, que não devia poder acontecer na Rádio Pública.
Em quatro edições deste prémio da SPA (*) para melhor programa de Rádio ainda não houve um vencedor com o qual conseguisse concordar, mas já há dois nomeados que seriam para mim os mais justos vencedores. Na anterior edição, o programa «No Fim da Rua» de Nuno Amaral (TSF), na deste ano «Em Sintonia» de António Cartaxo (Antena2).
No ano passado venceu a paródia, este ano a idiotice.
O programa de António Cartaxo «Em Sintonia» na Antena2 é, em minha opinião, o melhor programa de Rádio actualmente em Portugal. Digo-o publicamente desde que comecei a ouvi-lo em 2004. E só se encontra nomeado porque no Júri da categoria de Rádio da SPA está João David Nunes, um senhor da Rádio que percebe muito, mas mesmo muito do assunto.


(*) Em 2010 deveria ter vencido o programa «Em Nome do Ouvinte» de Adelino Gomes (Antena1/2/3) e em 2011 deveria ter ganho o programa «Heróis Como Nós» de Madalena Balça (Antena1).
Devo também dizer que a edição do ano 2011 (a segunda dos prémios Autores SPA) foi a mais caricata de todas até agora. Um dos outros dois nomeados era um programa que já não existia, nem tão pouco a estação que o transmitia. Aliás, nem era um programa. Tratava-se sim de um painel de informação de continuidade. E o outro nomeado – o que levou o prémio – era um programa de entrevistas que quase já não existia, vivendo sobretudo de repetições antigas. O autor do mesmo, aquando do momento de subir ao palco para receber o galardão da SPA, nem por uma única vez referiu o nome da estação que lhe tinha proporcionado aquela oportunidade. Por seu lado, a vencedora do prémio de melhor programa de TV, enalteceu a sua equipa e frisou por diversas vezes, com agradecimentos agregados, a estação para a qual trabalha. É a diferença entre quem serve os media para cumprir uma missão e de quem se serve deles para alargar o próprio ego. 



<< Home