domingo, 30 de junho de 2013
O deve e o haver no fim da temporada
Com as férias de Verão surgem as programações de gestão do período sazonal mais desinteressante das estações de Rádio. É o habitual e é sempre assim. Tempo de Verão e tempo de pausa. Útil, talvez, para se fazerem alguns balanços da temporada Setembro/2012 – Junho/2013.
A imagem acima publicada tem quase um ano. Começou a ser difundida em cartazes exteriores, de grande dimensão, a partir de Julho do ano passado, quando as sondagens colocaram a Rádio Comercial como a estação mais ouvida em Portugal, destronando uma liderança de muitos anos consecutivos da RFM.
Alguém consegue acreditar neste tipo de sondagens?
A Rádio mais ouvida é uma coisa que não existe. É impossível saber qual a estação de Rádio mais ouvida em Portugal. Não com os actuais métodos. Chega-se a estes números e a estas conclusões através de métodos obsoletos e desfasados da realidade. E quando se diz que a estação tal é a mais ouvida, está a falar-se realmente de quê? É a mais ouvida? Mas em que horário? E em que dias da semana ou do fim-de-semana? Em que momentos da vida do ouvinte? No carro? Na cama? Na casa de banho? No duche? Em casa? No trabalho? A caminhar a pé? A correr? Através da captação hertziana ou via Internet? No telemóvel?
Tudo questões às quais os actuais e ultrapassados métodos de sondagem não respondem.
Desde Julho de 2012 que os métodos existentes de sondagem radiofónica indicam que a Rádio Comercial é a líder de audiências em Portugal. Ignorando a falta de sustentação científica (real) que o prove, a nova liderança fez mexer as antenas da anterior líder.
Fevereiro foi um mês negro para a RFM. A equipa da manhã foi subitamente desalojada do horário (07:00/10:00) onde esteve durante dez anos. Depois de um período (uma semana) com uma equipa transitória, foi formada nova equipa para o «Café da Manhã». Até agora sem resultados práticos nas audiências, que foi para isso que foi mudada.
O mítico e há muito gasto formato nocturno do «Oceano Pacífico» deixa sair o seu mais conhecido apresentador, João Chaves. Em substituição surge, curiosamente, o primeiro apresentador do «Oceano Pacífico» (1984), Marcos André. O espaço de só músicas calmas perde uma hora de emissão, iniciando às 23:00.
Nos últimos tempos o Grupo Renascença tem feito migrar os seus públicos tradicionais de uns canais para os outros. O antigo Canal1 da Renascença está actualmente a operar com o antigo formato da RFM, como provam as apostas musicais e também as manhãs de segunda a sexta-feira, com Pedro Tojal (novamente) a acordar Portugal. O antigo auditório da Renascença foi acantonado na Rádio Sim. A RFM abandonou o perfil adulto/contemporâneo que sempre a caracterizou para se tornar numa rádio jovem, onde trata os ouvintes por “tu” (o maior erro da sua história). A Mega Hits é dirigida a um público juvenil, cada vez mais infantil.
O grupo da Rádio Renascença, que era conhecido por dar passos certos e firmes, parece ter perdido o pé com tantas alterações. Quem beneficiou com essa estratégia foi a Rádio Comercial, que chega a líder (com os métodos de sondagem atrás referidos) não tanto pelo que fez, mas mais pelo que o Grupo RR não devia ter feito e fez.
A humilhação suprema ocorreu no próprio dia da Rádio, celebrado este ano pela segunda vez, após decreto da Unesco.
Nesse dia Mundial da Rádio, a 13 de Fevereiro deste ano, o programa «Cinco para a Meia-noite» na RTP1 teve a equipa da manhã da Rádio Comercial como convidada, sendo que o anfitrião do programa de TV também faz parte dessa equipa radiofónica. A opção editorial mereceu queixa junto do Provedor da Televisão Pública, mas o apresentador no programa do Provedor teve uma justificação que vale por si própria (só vendo ambos os programas é que se pode avaliar com a devida justiça).
Ironicamente, também no Dia Mundial da Rádio, mas do ano anterior, aquando das actividades de celebração da data em Portugal (13 de Fevereiro de 2012), o Director da Rádio Comercial afirmou de forma inequívoca que o seu objectivo era ultrapassar a RFM nas audiências e deixou entendido que estava já muito próximo de o conseguir.
Não estou com esta conversa porque agora as sondagens de radiodifusão apontam uma nova líder. Nunca consegui acreditar neste tipo de sondagem e já o dizia antes. Mesmo quando a RFM estava no topo. Mesmo quando a líder era a Renascença/Canal1, quando sentia que a mais ouvida nessa altura (primeira metade dos anos 80) era a Rádio Comercial.
Vem aí um período de paragem e de reflexão (com muito pouco tempo para pensar) e a partir de meados ou fins de Setembro haverá algumas – cada vez mais escassas (e menos inovadoras) – novidades no mundo da Rádio em Portugal.
Antes disso, haverá boas emissões a partir dos vários festivais de Verão que ocorrem nos meses de Julho e Agosto em Portugal [Alive; Super Rock; Paredes de Coura; Sudoeste]. De todas as estações que o fazem, destaca-se a Antena3. Seja pela experiência nesse tipo de cobertura de eventos, seja pelas pessoas que formam essas equipas, seja pelos formatos adoptados nessas transmissões, a Antena3 apresenta, a meu ouvir, o melhor e mais completo produto final. Ou pelo menos, o mais sedutor. E isso é tudo o que os ouvintes desejam quando ligam a escuta de Rádio.