terça-feira, 18 de março de 2014
Hotel Babilónia
O programa da dupla Pedro Rolo Duarte e João Gobern completou este mês cinco anos de existência na Antena1.
O programa comemorativo foi transmitido em directo do renovado mercado do bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. Boa iniciativa! Na história do «Hotel Babilónia» já antes houve outros exteriores.
Trata-se de uma espécie de tertúlia semanal entre dois bons amigos, que se conhecem há muito. Curiosamente, a maior parte das emissões são feitas com uma distância de trezentos quilómetros entre os protagonistas. Rolo Duarte nos estúdios em Lisboa, Gobern em Vila Nova de Gaia.
Paralelamente à boa relação pessoal que transparece na emissão que realizam em conjunto, ambos percorreram no passado estrada juntos na Rádio Comercial e no extinto CMR-Correio da Manhã Rádio.
Nunca pude ser o melhor dos ouvintes do «Hotel Babilónia», mas das vezes que fui escutando ao longo destes últimos cinco anos, tive sensações contraditórias. Desde irritabilidade nos momentos mais excessivamente descontraídos, que roçaram a boçalidade, aos momentos de riso aberto por tiradas engraçadas muito bem aplicadas.
Há aqui um aparente paradoxo entre o correcto e o incorrecto por se estar em ambiente de serviço público.
Tratando-se de uma estação pública, os excessos de informalidade nem sempre caem bem. Expressões como “arrotar postas de pescada” não são bem-vindas ao principal canal da rádio pública, especialmente num horário de final da manhã de Sábado. Por ventura, soariam menos mal num programa descomplexado por natureza, como é a «Prova Oral» na Antena3, por exemplo, ou noutra tertúlia ou debate conjunto no canal mais jovem da RDP. Mas na Antena1 parece-me sempre excessivo. Numa estação privada tudo bem (ou não), consoante os casos.
A Antena1 possui aquele pesado ónus de ter que dar o melhor dos exemplos, porque é paga pelos contribuintes e também porque não tem como desígnio (não devia ter) concorrer com operadores privados.
Mas o que seria uma saudável tertúlia sem alguns excessos?
Há, no entanto, uma pratica no «Hotel Babilónia» que sempre achei mal. Não é exclusiva deste programa. Acontece em vários outros, como se fosse uma inevitável tradição radiofónica. Um mau vício.
O programa tem duas horas. Na primeira, Pedro Rolo Duarte e João Gobern vão falando sobre os principais acontecimentos da semana, entre-cruzando as palavras com música. Ora apresenta um, ora apresenta outro. São escolhas assumidamente pessoais e livres. E é assim que deve ser.
A segunda hora conta com a presença de um convidado(a). A conversa a três é sempre muito interessante. O único senão, o tal “vício”, é a saborosa conversa ser interrompida, pelo menos uma ou duas vezes, para os realizadores meterem no ar mais música que escolheram. Para quê? Com que necessidade? A primeira hora já tinha tido espaço para isso. Assim se corta um bom raciocínio, uma boa frase, uma boa ideia que estava a ser exposta pela pessoa convidada. Retira-se tempo ao convidado(a) para ser introduzida mais música. Sinceramente, acho mal. São minutos preciosos de conversa a troco de música, por muito boa que ela seja (normalmente é).
Seria muito mais agradável a segunda hora ficar totalmente dedicada à conversa a três. Debelava-se a “tradição”, davam-se mais uns minutos à conversa que, de tão boa, parece nunca conseguir caber no tempo a que lhe está destinada e acabar-se-ia com um malfadado vício de “cortar a boa onda” da palavra.
Este é, notoriamente, mais um exemplo dos muitos casos em que, na Rádio, a música está a mais.
Hotel Babilónia
Antena1, Sábado das 10:00 às 12:00.
Repete na madrugada de Domingo para Segunda-feira, das 03:00 às 05:00.