quarta-feira, 27 de maio de 2015

Um estilhaço da Revolução





















Por ser um construtivista que desconstrói e desmonta as peças, não é levado muito a sério.
Jack Kerouac dizia que “as grandes conquistas não são feitas por aqueles que se rendem às tendências, aos modismos passageiros e à opinião popular. Porque as pessoas que são loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.”
Fernando Alvim é um radialista que, dos da sua geração, é capaz de ser "louco" o suficiente para poder mudar um pouco o mundo da Rádio que se faz por cá. Com todos os excessos e defeitos que o possam acompanhar, vejo nele essa capacidade. Há certamente mais radialistas que o podem acompanhar, mas por circunstâncias diversas umas das outras, não se revelam tão explicitamente.
Fernando Alvim descreve-se a si próprio como “um estilhaço da revolução”, por ter nascido poucos dias depois da revolução do dia 25 de Abril de 1974 em Portugal.
Aos 41 anos, completados neste Maio de 2015, talvez lhe deva ser dada maior atenção. Não só ao seu trabalho diário na Rádio, mas sobretudo àquilo que ele pensa e diz sobre a Rádio. Não vemos muita gente a ser publicamente tão desassombrada na altura de revelar o que realmente pensa em relação à Rádio que se pratica – ou devia praticar – entre nós.
É bem possível que não apareçam muitos mais com a mesma espontaneidade para dizer o que ele diz.

































Acho que tanto a rádio como a televisão têm que arriscar mais, mas já ninguém arrisca nada se o programa ou a música ou a série, não tiver devidamente testado e com resultados (leia-se audiências) comprovados a nível internacional. Cambada de meninos. 

A ideia de ter um programa ou um projecto que seja mais do mesmo, assusta-me. Não me parece que algum dia o vá fazer, não faz sentido na minha cabeça. E é uma tradição nacional, tanto na televisão, como na rádio, como nos livros até. 

Na rádio, continua a apostar-se na música que todos passam, não há um rasgo de coragem que aposte noutras, que com o passar das semanas abandone aquele tema do disco e passe a outro nele incluído. Um disco tem em média 12 canções e a rádio com frequência só passa uma. É frustrante para o artista, para a pessoa que faz rádio e acho eu, para o ouvinte.

Acho que ainda vou a meio daquilo que pretendo fazer. Não quero ser um mero animador de rádio nem de televisão, quero isso sim, ser alguém que possa fazer com que esta melhore, que seja mais criativa, mais autêntica, mais mordaz aos olhos de todos. E mais exigente. Não basta dar às pessoas aquilo que querem ver – isso é fácil – difícil é darmos ás pessoas coisas que eles vão gostar, mas ainda não sabem. Isso é que é difícil, apresentar novos sabores às pessoas que não são mais do mesmo, que fujam ao que estão habituadas e conseguir que elas gostem e nos percebam e nos premeiem com a sua confiança no que fazemos. 

Em qualquer meio de comunicação a palavra acontecer deve estar presente. Devem acontecer coisas. Uma rádio, uma televisão, um jornal não pode ser previsível. O público gosta de hábitos, mas podemos habituá-los a sermos imprevisíveis e dinâmicos. Quando passo em alguns corredores e vejo o desanimo e a resignação absoluta de alguns, penso sempre no tanto que eu gostaria de animar aquela gente e desafia-los a fazer algo que os motivasse em absoluto. Fazê-los acontecer também. As pessoas gostam de ser úteis, não gostam que as encostem a um canto. 

Não me lembro de ir fazer um programa de rádio ou televisão sem ter uma enorme vontade o fazer. E faço rádio deste os 13. 

Tenho um plano. O meu plano não é fácil. O meu plano é juntar numa rádio, num canal de televisão, numa revista, todas as pessoas de talento maior que eu conheço. Parece utópico, mas é isto que irei perseguir uma vida inteira até o conseguir. 


Fernando Alvim, radialista
In: Notícias TV (revista)
14 de Novembro de 2014 
[Juntamente com algumas notas publicadas em perfil aberto no Facebook, que designou como sendo uma parte dois da entrevista].



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