segunda-feira, 22 de junho de 2015

Morrison Hotel



















Quando se recordam os tempos da Rádio de autor total, chamando-lhes os anos dourados, ou atribuindo-lhes outros adjectivos como Rádio com personalidade, Rádio com criatividade, Rádio com liberdade, lembramos imediatamente a década de oitenta e a Rádio Comercial, a par de alguns (muito poucos) programas do antigo Rádio Clube Português, da Antena1, Antena2 e Rádio Renascença. Especialmente o FM-Estéreo da Rádio Comercial, com uma programação moderna, arrojada e personalizada.
E quando se recordam nomes de programas, «Morrison Hotel» é um dos mais citados, juntamente com «Som da Frente», «Rock em Stock», «Discoteca», «TNT», «24ª Hora», etc.
O espaço nocturno, ocupado pelo programa «Morrison Hotel» ganhou de imediato o estatuto de culto, a que o seu único autor e apresentador está indelevelmente ligado.
Morrison Hotel é o nome de um álbum dos The Doors, Rui Morrison foi o autor do programa de Rádio com o mesmo nome. É daí, ou seja, de ambos, que nasceu o feliz nome do programa do FM-Estéreo da Rádio Comercial, transmitido de segunda a sexta-feira, da meia-noite à uma. Houve um período em que o programa teve duas horas de duração.
«Morrison Hotel» é um clássico da Rádio. Poucas palavras, numa voz troante, apresentando os nomes dos artistas e das obras. Um tom de mármore, pontuando uma selecção musical que abarcava vários géneros e eras. Música intemporal, numa toada reflexiva avessa a ritmos mais acelerados. O ambiente transmitido não era de proximidade, havendo mesmo uma certa austeridade ‘no Ar’. Característica enigmática do autor, causadora de uma vivência emocional contida de estimável distância. Havia, em pano de fundo, uma patine de desencanto intelectual e uma certa decadência marginal, própria das histórias romanescas de loosers, de trovadores das almas perdidas, habitantes em paisagens desérticas e dos amantes das horas mortas, vagueando à porta de bares fechados.
Rui Morrison abandonou a Rádio na primeira metade dos anos 90. Antes de sair da Comercial, assinou ainda um programa inócuo e fraco por comparação com o “Hotel”, chamado «Caixa de Música», que tinha como indicativo um tema instrumental também de Tom Waits (e Crystal Gayle) na Banda Sonora do filme “One From The Heart”.
Depois teve uma breve passagem pela noite da efémera Rádio Central, estação local de Lisboa herdeira da antiga Rádio Mais da Amadora, em 1996, e na TSF, como voz dos jingles de estação em 2003. Depois disso, nunca mais voltou.
Em entrevistas posteriores ao abandono da Rádio, Rui Morrison mostrou-se sempre determinado em não regressar. Declarou ser um período arrumado e encerrado na sua vida, acrescentando estar desiludido e descontente com o rumo que a Rádio tomou em Portugal, não conseguindo rever-se no actual panorama radiofónico.
Dedicou-se à representação no Teatro, Cinema e TV. É, também há anos, a voz comercial de uma cadeia de supermercados. É aí que ainda o podemos ouvir, em spots publicitários que passam na Rádio e na Televisão.
O conjunto de pedaços de emissão de «Morrison Hotel» agora publicado na «Rádio Crítica» pertence já à fase final da vida do programa.
Fica aqui um somatório cronológico de registos do programa, com várias aberturas e fechos, em extractos captados do ‘Ar’, nos meses de Maio, Junho e Julho de 1990. O som foi gravado em cassete. Digitalizado um quarto de século depois, possui a qualidade possível.
Ouvir aqui

O tema instrumental “Just Another Sucker on the Vine”, de Tom Waits, que serviu de emblemático indicativo ao programa «Morrison Hotel»:



O que eles dizem:

Quando aquilo que somos não é desejado, procuramos uma identidade que seja aceitável.
Marlon Brando



<< Home