terça-feira, 20 de junho de 2017

Gomes Amaro















Fotografia de Filipe Balreia 

O primado da Rádio é o som, o primado do som é a palavra e o primado da palavra é a emoção.
Foi emocionante escutar a entrevista de João Ricardo Pateiro a Gomes Amaro, antigo relatador de Futebol na Rádio. Por motivos de idade e geografia, nunca o ouvi relatar em directo. Mas, depois desta deliciosa conversa na noite da Rádio de há uma semana, fui procurar mais sons antigos e pedaços de relatos de Gomes Amaro para conhecer melhor e fiquei rendido. Gosto de ouvir relatos de Futebol pela Rádio, nunca pela TV. Tinha, como muitos outros, um velho hábito, que era o de desligar o som da TV e ouvir o desenrolar do encontro pela Rádio. Sempre que possível ainda hoje o faço, embora com a certeza de que o som ou a imagem vão aparecer algures um primeiro que o outro, por causa da transmissão em directo via satélite ter desfeito o simultâneo sincronizado. Um preço incontornável mercê da tecnologia digital, mas é pena. Um facto técnico que provocou a perda de ouvintes. Esse maravilhoso efeito sonoro em tempo real também se perdeu em pleno estádio. Quando o lance é relatado já é coisa do passado. 
O esplendor do relato sobre o relvado por Gomes Amaro introduziu inovações à pratica radiofónica portuguesa nos anos 70 e 80, na altura ainda muito agarrada a estilos clássicos, um tanto ou quanto monótonos e previsíveis. Gomes Amaro esteve, como se ouve na entrevista, três décadas no Brasil e, embora seja português, trouxe consigo para sempre o sotaque das terras de Vera Cruz, característica que ainda hoje mantém aos oitenta anos de idade. 
Mas trouxe também, adicionado à musicalidade própria do sotaque do país irmão, efeitos sonoros, novas palavras e termos, brilho e luz, calor tropical à Rádio, ainda mal saída do estertor da ditadura. 
Depois de há pouco tempo ter entrevistado outro homem da Rádio, Manuel Costa Monteiro, agora João Ricardo Pateiro resgatou do passado o já aposentado, mas muito lúcido, Gomes Amaro, que eu desconhecia, lamentando não ser mais velho ou ter vivido no Porto para o ter conhecido no seu tempo de relatador. 
Comecei a escutar relatos de Futebol na Rádio a partir do início dos anos 80, nas únicas rádios nacionais que existiam na altura, que eram a Antena1, a Rádio Renascença e a Rádio Comercial. As duas primeiras ouvi pouco, a Comercial de então ouvi muito e os nomes que ficaram na memória desses tempos foram Fernando Correia, Jorge Perestrelo, Abel Figueiredo, José Augusto Marques, Fernando Emílio e Manuel Costa Monteiro (Rádio Comercial); David Borges (Antena1); Ribeiro Cristóvão (Renascença). Mais tarde apareceram outros grandes relatadores, entre eles Paulo Sérgio e Carlos Daniel (TSF). Talvez em futuras emissões do programa «Entrelinhas» alguns destes nomes possam ser também entrevistados e trazer aos ouvintes, amantes de Futebol, um pouco da história desse exercício extraordinário que é narrar um encontro do desporto-rei, no que é também sempre uma muito interessante conversa sobre Rádio. 

Entrelinhas 
De João Ricardo Pateiro 
3ª feira (23:00/00:00) 
Ouvir aqui

No dia 27 de Maio passaram trinta anos sobre a noite mágica de Viena, em que o F.C. Porto se sagrou, pela primeira vez, campeão europeu de Futebol. Eis um extracto do relato de Gomes Amaro nessa noite de 1987 no Estádio do Prater em Viena: 




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