quinta-feira, 11 de abril de 2019
Palavras de há 30 anos na Íntima Fracção
Na comemoração dos 35 anos da «Íntima Fracção», alguns dos textos pertencentes à emissão do quinto aniversário – há trinta anos – no dia 10 de Abril de 1989. A emissão em que Francisco Amaral conta a história da «Íntima Fracção» desde a sua origem até aquela data de viragem para o programa que, depois de cinco anos na Antena1, iria ter uma feliz existência de quase década e meia na TSF.
Uma voz interior, íntima, que procura ser verdadeira. Talvez a quilha interior que permite o reequilíbrio. O gesto largo de futuro à janela na escuridão da noite. O traço azul no futuro incandescente. A ponte sobre a água tumultuosa. Cinco anos confessadamente tumultuosos. De crenças e descrenças, desilusões, ilusões, lágrimas, amargura, esperança, felicidade, efémero.
(…)
Um trabalho de encenação radiofónica de apelo ao imaginário do receptor utilizando sons, música, textos e silêncio.
Levar ao extremo o risco da manipulação destes elementos. Saber que, voluntariamente, me deslocava sobre a linha limite onde começa o abismo.
Uma voz interior, íntima, que procura ser verdadeira. Talvez a quilha interior que permite o reequilíbrio. O gesto largo de futuro à janela na escuridão da noite. O traço azul no futuro incandescente. A ponte sobre a água tumultuosa. Cinco anos confessadamente tumultuosos. De crenças e descrenças, desilusões, ilusões, lágrimas, amargura, esperança, felicidade, efémero.
(…)
Um trabalho de encenação radiofónica de apelo ao imaginário do receptor utilizando sons, música, textos e silêncio.
Levar ao extremo o risco da manipulação destes elementos. Saber que, voluntariamente, me deslocava sobre a linha limite onde começa o abismo.
A partir do início de 1985 e até hoje, o interesse pelo
programa tomou inesperadas facetas. As cartas – nunca solicitadas – chegaram.
Falam de paisagens, de amargura, de esperança, de ressonâncias. Muito poucas se
dirigem à pessoa que concebe e concretiza as emissões. Escrevem para quem lhes
está próximo. Não eu, mas a minha voz. Não eu, mas as palavras que digo. Não
eu, mas essa outra porção de sonho que é a realidade à distância de um gesto.
Sê de novo semelhante a essa árvore que amas, com a sua
larga ramagem, silenciosa, atenta, suspensa por sobre o mar. Onde cessa a
solidão, começa a praça pública. E onde esta começa, começa também o vozear dos
grandes comediantes e o zumbido das moscas venenosas. No mundo, as melhores
coisas, só são apreciadas quando surge alguém para as colocar em cena. Só a
esses chama a multidão de grandes homens. A multidão não tem sentido do grande,
do que seja criador, mas é sensível aos actores e aos que põem em cena as
grandes causas. O mundo gira em torno dos inventores de valores novos, em
invisível movimento, mas à volta dos comediantes é a multidão e a glória que
gravitam.
Falar, dizer-vos qualquer coisa, quebrar o fino gelo da
distância… agitar o morno ar da intimidade… Não!
Espreitar apenas por entre os sons, cuidadosamente, o suficiente para vos surpreender, revelando-me.
Parece que tudo se foi preparando meticulosamente, dia após dia, ano após ano, com um rigor e um determinismo só esperado para a imagem definida milímetro a milímetro quadrado. Esta nostalgia do inacessível… do que permanece oculto para além da existência.
Espreitar apenas por entre os sons, cuidadosamente, o suficiente para vos surpreender, revelando-me.
Parece que tudo se foi preparando meticulosamente, dia após dia, ano após ano, com um rigor e um determinismo só esperado para a imagem definida milímetro a milímetro quadrado. Esta nostalgia do inacessível… do que permanece oculto para além da existência.
A solidão opera como a sombra em certas raízes. Nelas afluem
tanto o calor dos ares constelados como o hábito das nascentes e o correr dos
ventos que, doutro modo, destruíam o que só subterrâneo e fundo se pode criar.
(…)
Afirmo o primeiro encontro na sua diferença. Quero o seu regresso, não a sua repetição. Digo ao outro, velho ou novo, recomecemos?
(…)
Seria muito cruel ficar por aqui? Será demasiado lembrar-vos o poder de suspender o som com um simples gesto?
O Silêncio… tão penoso e tão fascinante como a superfície branca para quem desenha.
Há sempre, porém, um novo traço.
(…)
Afirmo o primeiro encontro na sua diferença. Quero o seu regresso, não a sua repetição. Digo ao outro, velho ou novo, recomecemos?
(…)
Seria muito cruel ficar por aqui? Será demasiado lembrar-vos o poder de suspender o som com um simples gesto?
O Silêncio… tão penoso e tão fascinante como a superfície branca para quem desenha.
Há sempre, porém, um novo traço.
Quando a exaltação morreu, fiquei reduzido à mais simples
filosofia: a da resistência... dimensão natural das verdadeiras fadigas. Sofro
sem me acomodar, persisto sem me aguerrir. Sempre perdido, nunca desencorajado.
(…)
Assim é a vida… cair sete vezes, e levantar-se oito.
É quando menos se espera que nos vêm bater à porta, ou fazer a pergunta que nos deixa suspensos. Há uma tendência natural para arrumar no conhecido ou habitual tudo o que novamente vem agitar o tempo. Mas o novo é simultaneamente inevitável. Nunca será encerrável, não pode ser reduzido ou hipnotizado. É o novo que triunfa. Ele é o sentido, a razão, o motivo e a realidade. Há um traço no futuro incandescente.
(…)
O pedaço de azul por entre as nuvens espreita-me sempre. É por lá que respiro.
O gelo sempre me atraiu. A sua aparente transparência, o reflexo da luz, sempre me enganaram. Esquecido fico do frio e da dor que provoca.
(…)
É necessário que o traço azul risque o futuro, enquanto ele se mantém incandescente.
(…)
Assim é a vida… cair sete vezes, e levantar-se oito.
É quando menos se espera que nos vêm bater à porta, ou fazer a pergunta que nos deixa suspensos. Há uma tendência natural para arrumar no conhecido ou habitual tudo o que novamente vem agitar o tempo. Mas o novo é simultaneamente inevitável. Nunca será encerrável, não pode ser reduzido ou hipnotizado. É o novo que triunfa. Ele é o sentido, a razão, o motivo e a realidade. Há um traço no futuro incandescente.
(…)
O pedaço de azul por entre as nuvens espreita-me sempre. É por lá que respiro.
O gelo sempre me atraiu. A sua aparente transparência, o reflexo da luz, sempre me enganaram. Esquecido fico do frio e da dor que provoca.
(…)
É necessário que o traço azul risque o futuro, enquanto ele se mantém incandescente.