quarta-feira, 16 de outubro de 2019
O capitão saiu para almoçar e os marinheiros tomaram conta do navio
Porque há tão poucas pessoas interessantes? Com tantos milhões, porque são tão poucas? Devemos continuar a viver com essas espécies enfadonhas e pesadas? Parece que o seu único gesto é a Violência. São tão boas nisso. Realmente florescem. Merda de flores, estragando-nos qualquer possibilidade. O problema é que tenho de continuar a interagir com elas. Ou seja, se eu quiser que as luzes se acendam, se eu quiser que o computador seja consertado, se eu quiser puxar ao autoclismo, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir os intestinos, tenho de continuar a interagir. Preciso dos filhos da puta para as necessidades mínimas, mesmo que eles me apavorem. E apavorar é uma palavra gentil. Mas martelam a minha consciência com o seu fracasso em áreas vitais. Por exemplo, todos os dias, quando conduzo, continuo a procurar na rádio, em estações diferentes, música, música decente. Tudo é mau, banal, sem vida, desafinado, indolente. No entanto, algumas dessas composições vendem-se aos milhões e os seus criadores consideram-se Artistas verdadeiros. É porcaria horrível, horrível, entrando nas mentes das cabeças jovens. Eles gostam. Cristo, dá-lhes merda, que eles comem. Não são capazes de discernir? Não são capazes de ouvir? Não sentem a mistela, o ranço?
Charles Bukowski
In: “The Captain is Out to Lunch and the
Sailors Have Taken Over the Ship”.