terça-feira, 12 de maio de 2020
Estado de Calamidade
Está em vigor o Estado de Calamidade em Portugal desde o dia 3 de Maio
Bastou um micro-organismo invisível, apenas detectável
através de potentes microscópios electrónicos, para desestruturar as sociedades
na maior parte do planeta.
Uma pandemia mortal à escala mundial a escrever a história dos
nossos dias, a abalar os sistemas económicos, sociais, políticos e outros e a
equacionar valores. Afinal, o que é importante?
De nada valeram as desenfreadas corridas ao armamento, a
industrialização em massa, a destruição dos ecossistemas naturais, a
especulação económica, financeira e imobiliária. O essencial a ser
permanentemente substituído pelo acessório. Afinal, o essencial era o
investimento na ciência médica onde, agora à pressa e atabalhoadamente, se
procura desesperadamente uma cura rápida, ou um antídoto eficaz enquanto não se
chega a uma vacina.
Expressões como "Isolamento social",
"confinamento", "layoff", "desconfinamento" ou
"distância física" tornaram-se também elas pandémicas.
Na Rádio, a actual urgência sanitária tornou-se quase
mono-temática. O caudal informativo passou a dar vazão a um volume raramente
visto, ouvido e lido. Quantidade e variedade dentro do mesmo tema. Tudo o resto
perdeu importância. Os outros acontecimentos eclipsaram-se. Parece já nada mais
existir a não ser esta urgência que nos confina e atormenta. Ainda não tínhamos
saído por completo da anterior crise económica e já estamos a levar com outra
em cima ainda mais grave. A vida dita "normal" preexistente a Março
parece ter sido há imenso tempo. Esta espera mata-nos, a economia afunda-se, o
deficit, outrora levado ao estatuto de desígnio nacional, afinal já
não conta para nada, podendo ser ignorado e até largamente ultrapassado. A
sociedade da informação deu lugar à sociedade da desconfiança. Já não é o
salve-se quem puder. É o fuja quem puder. Mas só se pode fugir quando se tem
para onde.
O Mundo já era um lugar estranho e perigoso, muitas vezes
hostil, mas agora tornou-se irreconhecível.
As cidades vazias de movimento e pessoas fez ressurgir os
sons naturais dos pássaros, do vento e do silêncio. Mas o cenário era de uma
civilização exterminada como se tivesse ocorrido uma guerra química que deixou
os edifícios todos de pé e intactos, mas sem qualquer lastro de vida.
Como em muitas outras ocasiões, a Rádio é um refúgio
reconfortante nestes inquietantes dias sombrios, estranhos e perigosos.
Olhar os dias no mais belo e interessante programa diário da actual Rádio
portuguesa, reunindo alguns extractos de obras literárias de vários autores.
Excertos que assentam que nem uma luva nos dias de hoje.A Ronda da Noite
Antena2
Realização de Luís Caetano
2ª feira, 11 de Maio 2020
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