terça-feira, 5 de dezembro de 2006

[intervalo TV]














A SIC voltou a transmitir, há um mês, alguns dos programas da série «Of Beautiful and Consolation». Mais três ou quatro repetições dos 26 que nunca transmitiu na totalidade. Fê-lo nas condições que sempre fez, ou seja, da pior maneira: muito fora de horas, sem aviso ou com avisos trocados no site, teletexto, jornais, etc. O mesmo folhetim de sempre. Depois deixou de transmitir e agora não se sabe se e quando (e como!) os vai transmitir de novo ou não. O único programa cultural do canal de Carnaxide foi pura e simplesmente destruído pela própria SIC. Sobre isso já aqui se escreveu e não interessa agora voltar a esse drama. O que interessa agora é saber se o governo vai conseguir fazer Lei da proposta que avançou há dias sobre um maior respeito por parte dos operadores televisivos público e privados. A proposta é muito básica, elementar até. Quer obrigar as televisões nacionais a cumprirem escrupulosamente – com 48 horas de antecedência – a programação e horários que prometem e publicam nos diversos meios. Há opositores mais declarados que outros.
Há duas semanas, domingo à noite, na sua “homilia” na RTP1, o professor Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ser contra a proposta de lei. Alegou ingerência em matéria alheia e, pior do que isso, disse que se acontece alguma coisa de extraordinário no mundo não se podia mudar a programação por causa da lei, achando uma coisa sem sentido. Ou o Professor andou distraído, ou então não quis dizer que sabia que o projecto-lei contempla situações extraordinárias. Não é uma lei cega. Contempla excepções e essa foi uma ressalva desde logo clarificada pelo governo. Poucos dias depois, o ministro Augusto Santos Silva reafirmou isso mesmo no «Jornal da 9» (da noite, com Mário Crespo) da SIC-Notícias, dando o bom exemplo recentíssimo aquando da morte de Mário Cesariny, em que algumas televisões alteraram a programação no próprio dia para exibirem documentários sobre o artista.
Claro que os operadores televisivos saltaram logo à liça, acusando o executivo de intromissão na soberania interna das empresas de difusão televisiva, com as ladainhas do costume. Fazem o seu papel previsível. Não têm outros argumentos que ultrapassem o queixume bacoco? Pois eu concordo inteiramente com a proposta de lei e anseio para que venha a ser uma realidade. Os atropelos, os desrespeitos continuados, as fraudes desnecessárias ao espectador são inadmissíveis. Se vier a ser uma Lei com força de Lei e – mais importante que tudo – se vier a ser cumprida, apenas lamento que tenha chegado tarde de mais para salvar o programa «Of Beautiful and Consolation» da selva em que sempre esteve metido. Actualmente, no horário em que a SIC transmitia (… às vezes) um programa de enorme qualidade, transmite agora uma abjecta telenovela brasileira chamada «Bang-Bang». Uma bela de uma desconsolação!
Enquanto não há lei nem roque, a dança continua.
Pumba! Matei-te!

P.S.1: Alguns mails recebidos perguntam-me sobre as imagens do indicativo do programa e sobre a música. As imagens são do filme japonês «Shall we dansu?» de Masayuki Suo.
A música é de Bernard Hunnekink.

P.S.2: Ainda há duas semanas, o escritor Manuel António Pina elogiou estes programas sobre «O Belo e a Consolação» no programa «Câmara Clara» na 2.
O escritor gabava-se de ter o privilégio de poder assistir aos programas àquelas altas horas da noite, ao que a apresentadora Paula Moura Pinheiro retorquiu algo do género: “… pois, não tem que se levantar às sete da manhã no dia seguinte…”.
Manuel António Pina ainda teve tempo de colmatar: “Ah, mas eu gravo-os!”

Que todas as vossas
Orações e confissões

Toda a indiscrição
Das vossas vidas

Faça com que estejam
Face a face
Com uma determinada graça

O vosso maior desejo
De crescer e aspirar
Ateará o vosso fogo interior

Ó, que acabe este inferno

Que as vossas necessidades
Erros e paixão
Encontrem a paz


Letra: Roger Scruton; voz soprano: Catherine Bott

Mais sobre este assunto na «Rádio Crítica»: 19/Setembro/2006




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