quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Nostalgia da Rádio
Chicago – Colour My World (1969)
Por diversas vezes (e vou continuar a fazê-lo) tenho apresentado aqui temas musicais outrora conhecidos através da escuta de Rádio, mas que já não riscam, há muito, os éteres nacionais. Pagamento de dívidas de má memória ou notas de culpa alheia, são parte da interminável lista de songs they never play on the radio. Mas agora, a excepção: a canção “Colour My World” dos Chicago. Estive sem a "apanhar" na Rádio cerca de vinte anos. O mais incrível é que nunca, até há poucos dias, tinha descoberto quem a cantava, quais os autores, o nome da canção, etc. Em todo esse tempo, a melodia nunca me tinha escapado da memória. Um caso em tudo semelhante ao que aqui relatei em Janeiro do ano passado, sobre uma certa canção dos holandeses Earth & Fire. Agora, por mero acaso, ouço na rádio a identificação da canção dos Chicago, apresentada pelo convidado Mário Dorminski, no compacto «A Playlist de…», sábado à tarde na TSF. Por norma, este tipo de convidados – figuras públicas – não surpreendem muito nas escolhas musicais que fazem. São já numerosos os casos em que se repetem – sem o saberem – no critério que adoptam. Há, claro está, excepções. E no caso vertente de Mário Dorminski, nem é o facto de ter escolhido os Chicago que mais surpreendeu. Trata-se afinal de uma banda sobejamente conhecida e consagrada há décadas. A surpresa, o brio da escolha, está em ser aquela canção em particular, aquele tema específico. Dos Chicago que toda a gente conhece, sobressaem temas cantados por Peter Cetera, numa já vetusta e segunda vida (de que não gosto) deste grupo norte-americano, após a súbita morte do seu primeiro frontman em 1978.
“Colour My World” é ainda dessa primeira fase, com a formação original e a voz de Terry Kath.
Neste videoclip (Fevereiro de 1977, ao vivo em Amesterdão) vemos, para além do vocalista/guitarrista Terry Kath, o pianista Robert Lamm e o flautista Walt Parazaider. “Colour My World” é uma composição do trombonista James Pankow. Foi gravada em 1969 e encontra-se primeiramente editada no segundo disco dos Chicago em 1970. Em single, esta canção foi sempre editada como lado-B, atingindo o nº 7 na tabela de vendas. Os Chicago são, depois dos Beach Boys, a formação americana mais famosa de sempre em termos de sucesso comercial.
As time goes on
I realize
Just what you mean
To me, And now
Now that you're near
Promise your love
That I've waited to share
And dreams
Of our moments together
Colour my world with hope of loving you
Ouvir a gravação original aqui (não recomendada a visualização: imagens desinteressantes e de má qualidade).
The Beatles – Long, Long, Long (1968)
Depois de ter escutado “Colour My World”, apetecia-me escutar “Long, Long, Long” dos Beatles. Outra grande canção da música popular anglo-saxónica da segunda metade do século XX, que conheci graças à rádio. É inexplicável, mas se tivesse sido eu a escolher aquela canção dos Chicago, seria esta dos Beatles a fazer sentido na minha cabeça para uma sequência de temas e, ainda por cima e coincidentemente, contemporâneos. Colam maravilhosamente bem. Emerge assim uma outra perplexidade: o que é feito dos Beatles nas nossas rádios? Onde os ouvir? Os fab four (correntemente apontados como sendo os melhores de sempre) também não conseguem escapar ao estigmatizante drama de songs they never play on the radio. E, quando raramente aparecem a riscar os ares, nunca é com uma canção do calibre desta “Long, Long, Long”. Quando os Beatles tocam na nossa Rádio, é sempre através de um dos maiores e mais conhecidos hits yeah-yeah’s dos primeiros tempos de sucesso. “Long, Long, Long” foi escrito e interpretado por George Harrison (o beatle tranquilo) e apareceu no duplo álbum «The Beatles» (1968), mais conhecido pelo epíteto Álbum Branco (eclético, contrastante, esteticamente diverso e fracturante). Era a fase final dos quatro de Liverpool. Foi também uma das fases mais interessantes (não houve fases desinteressantes!) do grupo, então já em grandes transformações. Gostava de voltar a ouvir “Long, Long, Long” na Rádio... ah, se gostava!
It's been a long long long time
How could I ever have lost you
When I loved you
It took a long long long time
Now I'm so happy I found you
How I love you
So many tears I was searching
So many tears I was wasting, oh-oh
Now I can see you, be you
How can I ever misplace you
How I want you
Oh I love you
You know that I need you
Oh I love you
E continuam as canções de Amor… É inevitável? Esta semana, numa conversa com uma querida amiga, ela dizia-me que a vida resume-se a dois grandes e únicos momentos: Amor e Morte. É evitável?
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O que eles dizem (36)
Há 16 ou 17 anos, quando a TSF criou a “cadeia nacional de rádios”, só para transmissão dos noticiários à hora certa, eis que os fiscais saíram todos à rua, pelo País fora, para impedirem essas rádios de aproveitar esse serviço gratuito. A lei, pelos vistos, só não funciona para a Renascença, que passou a imitar a TSF, sem qualquer perseguição dos polícias das rádios. As entidades que pelo País fora receberam frequências sabiam e sabem que a licença é temporária, cedida pelo Estado para uso nas condições em que apresentaram a sua candidatura. Não para emitirem a programação da estação A ou B. Para fazerem programação local. Outra ultrapassagem da lei reside no facto de as frequências sem uso voltarem ao domínio público para novo concurso.
Emídio Rangel, Jornalista
In: «Correio da Manhã»
Sábado, 09 de Fevereiro 2008