quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Hoje em Aveiro
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
2ª metade da 3ª década do século XXI
O cinzento envolve
Antes fosse meu numa luva de criança
12 passas para este novo ano de Rádio
Difusão
A substituição da transmissão radiofónica através de emissores de Frequência Modulada por outra tecnologia tem vindo a ser sucessivamente adiada até à linha da inevitabilidade. A actual estrutura analógica é dispendiosa, carece de manutenção constante, é insuficiente para cobrir todo o território e não elimina as zonas de sombra. A questão é que ainda não existe uma solução digital mais eficiente e menos onerosa que consiga fazer melhor. Está também por provar que a tecnologia digital de difusão venha realmente a ser mais barata. Talvez seja bom alertar que para se aceder à transmissão digital o consumidor final vai ter de pagar o que hoje é gratuito.
Programação
Acentuou-se nos últimos anos, de forma bastante recorrente, o desrespeito pela disciplina de antena em relação aos ouvintes. Constantes mudanças de horários, demasiadas repetições de programas, crónicas, reportagens, entrevistas, apontamentos de índole variada, rubricas e demais conteúdos, afasta uma grande parte da fidelização. Honra seja feita às estações de Rádio nacionais, regionais e locais que respeitam os horários de programação. É uma regra de ouro para fidelizar audiências. E quanto mais tempo assim o fizerem mais audiência acumulam, mais respeito ganham, mas confiáveis se tornam. A previsibilidade dos horários é fundamental na Rádio. Se os ouvintes têm de se esforçar muito para saberem o horário do que gostam de ouvir é a Rádio que está a falhar e é assim que os ouvintes se perdem. Ou dito de outra forma, não se ganham.
Português
Os erros de português, principalmente na Rádio feita em directo, são constantes e naturais. Diariamente. No entanto, erros repetidos já não são erros. São vícios no erro, julgando-se que não são nem uma coisa nem outra. Manda o bom senso que alguém dentro da Rádio esteja atento e à escuta, de preferência os responsáveis na hierarquia, detectando esses erros e corrigindo-os. Mas este flagelo é insanável porque quem manda também não sabe. Os maus tratos à língua portuguesa grassam nas rádios portuguesas.
A depuração da linguagem é inexistente nas pessoas que falam ao microfone. Os radialistas estão absolutamente convencidos que se falarem muito estão a fazer um bom trabalho. Não estão. A Rádio em períodos de continuidade, quando é demasiado loquaz, cansa. É ruído, poluição sonora. Os espaços de aparente silêncio - sem o ser em concreto - produz uma abstracta sensação de libertação, um respirar essencial à fruição suave, sem atrito sensorial, alcançando conforto na escuta. Até na Rádio o silêncio é de ouro.
Difusão
A substituição da transmissão radiofónica através de emissores de Frequência Modulada por outra tecnologia tem vindo a ser sucessivamente adiada até à linha da inevitabilidade. A actual estrutura analógica é dispendiosa, carece de manutenção constante, é insuficiente para cobrir todo o território e não elimina as zonas de sombra. A questão é que ainda não existe uma solução digital mais eficiente e menos onerosa que consiga fazer melhor. Está também por provar que a tecnologia digital de difusão venha realmente a ser mais barata. Talvez seja bom alertar que para se aceder à transmissão digital o consumidor final vai ter de pagar o que hoje é gratuito.
Programação
Acentuou-se nos últimos anos, de forma bastante recorrente, o desrespeito pela disciplina de antena em relação aos ouvintes. Constantes mudanças de horários, demasiadas repetições de programas, crónicas, reportagens, entrevistas, apontamentos de índole variada, rubricas e demais conteúdos, afasta uma grande parte da fidelização. Honra seja feita às estações de Rádio nacionais, regionais e locais que respeitam os horários de programação. É uma regra de ouro para fidelizar audiências. E quanto mais tempo assim o fizerem mais audiência acumulam, mais respeito ganham, mas confiáveis se tornam. A previsibilidade dos horários é fundamental na Rádio. Se os ouvintes têm de se esforçar muito para saberem o horário do que gostam de ouvir é a Rádio que está a falhar e é assim que os ouvintes se perdem. Ou dito de outra forma, não se ganham.
Português
Os erros de português, principalmente na Rádio feita em directo, são constantes e naturais. Diariamente. No entanto, erros repetidos já não são erros. São vícios no erro, julgando-se que não são nem uma coisa nem outra. Manda o bom senso que alguém dentro da Rádio esteja atento e à escuta, de preferência os responsáveis na hierarquia, detectando esses erros e corrigindo-os. Mas este flagelo é insanável porque quem manda também não sabe. Os maus tratos à língua portuguesa grassam nas rádios portuguesas.
A depuração da linguagem é inexistente nas pessoas que falam ao microfone. Os radialistas estão absolutamente convencidos que se falarem muito estão a fazer um bom trabalho. Não estão. A Rádio em períodos de continuidade, quando é demasiado loquaz, cansa. É ruído, poluição sonora. Os espaços de aparente silêncio - sem o ser em concreto - produz uma abstracta sensação de libertação, um respirar essencial à fruição suave, sem atrito sensorial, alcançando conforto na escuta. Até na Rádio o silêncio é de ouro.
Autoria
Basta olhar para as grelhas de programação, no que de melhor se faz na Rádio em Portugal, para facilmente verificar como seria o panorama radiofónico nacional se não existisse serviço público. É no conjunto dos vários canais públicos de Rádio que se encontra a maior quantidade de programação de autor e, inegavelmente, a maioria dos melhores programas. Felizmente há honrosas excepções no sector privado e nem são assim tão poucas, mas sem Rádio pública o cenário seria muitíssimo menos interessante. Desapareceria a possibilidade ainda hoje existente de ouvir Rádio, de posto em posto, sem ter de a desligar por falta de alternativas.
Música
A mais antiga aliada da História da Rádio, depois da palavra. Som é emoção, músicas são emoções. É por esta e outras razões que devemos ser irrevogavelmente contra as 'playlists', que não transmitem emoção, sensações agradáveis, sequências musicais felizes, lógica interpretativa, harmonia sensorial, equilíbrio emocional, ambientes propícios e adequados aos vários tempos e momentos da transmissão radiofónica. Uma máquina composta por frieza amoral nunca terá a sensibilidade humana que é estritamente necessária em matérias sentimentais. É daqueles casos fundamentais e paradigmáticos da Rádio em que, sem a exclusiva mão humana, não se consegue fazer nada que faça sentido.
Trabalho
Os sectores produtivos no mundo da Rádio encontram-se em evidente compressão e não é de agora. Com cada vez menos estações de Rádio há também menos mão-de-obra necessária. No entanto, a Rádio está viva e precisa de gente para a fazer. E quem trabalha nela cada vez trabalha mais.
Numa possível entrevista de emprego, a primeira pergunta que um jovem candidato a entrar na Rádio devia fazer à entidade patronal é saber quanto vai ter de pagar para trabalhar. O mundo do trabalho em Portugal, não só na Rádio, tornou-se numa espécie de leilão em que fica com o emprego quem aceitar trabalhar mais por menos. Este cálculo sinistro é 100% igual ao mais básico cálculo matemático: mais por menos dá menos.
Publicidade
Vagas de sucessivas crises financeiras, insolvências de patrocinadores regulares, deslocação para meios diferentes - principalmente para as redes sociais -, entre vários outros motivos, provocaram uma tremenda erosão do investimento publicitário na Rádio que, de forma funesta, apregoou durante muito tempo que era um meio barato em que se podia fazer publicidade a baixo custo. E o custo está aí: cerca de algumas dezenas acima de 50% do bolo publicitário desapareceu da Rádio. A fatia, que em tempos era larga, ficou finíssima. No topo da lista de bocas famintas estão, com base nos estudos que existem de audiências - que é para o mercado publicitário que são feitos - duas estações nacionais de música a digladiarem-se por umas décimas do barame trimestral. Na prática, encontram-se numa luta miserável para ver quem faz pior rádio a fim obter mais uma migalha de publicidade.
Mercado
Vários mercados. O publicitário, anteriormente referido noutro parágrafo, o da compra e venda de estações, que sempre aconteceu com altos e baixos desde a legalização das rádios privadas em Março de 1989 e o mercado de transferências de profissionais que, também com oscilações, esteve sempre em movimento. Este último com uma particular incidência sobre profissionais de Rádio que transitaram muito mais para a Televisão do que no sentido inverso. Todas estas movimentações têm maior ênfase na classe dos jornalistas. Em relação às estações privadas, a sua propriedade foi transformada num mercado de transação, em que quem compra fá-lo para a seguir - ou assim que possa - vender por um valor superior ao da aquisição. E assim sucessivamente, até ao dia em que mais ninguém compra e aí fecha-se.
Internet
A Rádio adaptou-se lindamente ao aparecimento massificado da World Wide Web, adoptando-a como aliada e não como inimiga a temer, sabendo tirar o melhor partido dela. Ultrapassada a potencial ameaça inicial, que na verdade nunca o foi, começaram a surgir as contradições. Um dos maiores paradoxos é as rádios privadas queixarem-se que as redes sociais e as grandes multinacionais tecnológicas lhes retiram publicidade e depois utilizam essas mesmas redes sociais para difundirem o seu trabalho, alimentando boca e barriga dos lobos que as condenam à fome. Presa nas redes de mar-alto, a Rádio ainda não sabe bem o que fazer, que opções decisivas tomar, agora que vive mergulhada na imensidão da comunicação digital em rede. No mundo incontornável da Internet, a Rádio navega em águas desconhecidas. Investe, desinveste, volta a investir, volta a desinvestir. Encontra-se à deriva, perdida num mar intenso, num mar imenso.
Outro dos maiores paradoxos é a Rádio utilizar a Internet para se desvalorizar. Programas que têm uma versão maior na Internet é excluir os ouvintes comuns da escuta normal. É dizer ao ouvinte algo como "vá para a net, deixe a Rádio. Na Internet é melhor que na Rádio, na net é que é bom."
Podcast
Estamos a assistir a uma proliferação galopante nunca antes vista na oferta deste formato. Aparentemente mostra-se como uma deslumbrante alternativa à Rádio, mas não é Rádio. Traz vantagens e desvantagens. Por exemplo, quantos mais podcasts existirem menos audiência terá cada um deles. A pulverização produz fragmentação. Há duas décadas, quando apareceram, os podcasts provinham do exterior da Rádio, realizados por pessoas fora desse universo. Muito depressa a Rádio entrou na nova plataforma - e bem!, reproduzindo e multiplicando a sua oferta. Nos dias que correm o Podcast profissionalizou-se, vive de forma autónoma fora da Rádio e há para todos os gostos e feitios. Rádios, jornais, televisões, profissionais e amadores. Toda a gente pode fazer um Podcast se quiser.
As estações de Rádio que persistem sem Podcast estão fatalmente desactualizadas no caldeirão das plataformas. Rádios que produzam podcasts que não emitem nas emissões em FM estão a trair a Rádio e os ouvintes. Um claríssimo tiro no pé.
É de lamentar que ao fim de duas décadas de Podcast não se tenha encontrado uma designação em português para este formato digital sonoro. Vingou o termo original em Inglês, quando temos uma língua riquíssima. Dizemos Radiodifusão, não dizemos Broadcast.
É de lamentar que ao fim de duas décadas de Podcast não se tenha encontrado uma designação em português para este formato digital sonoro. Vingou o termo original em Inglês, quando temos uma língua riquíssima. Dizemos Radiodifusão, não dizemos Broadcast.
Extinção
As ameaças à existência da Rádio, presentes desde o seu aparecimento, não cessam. Pelo contrário, aumentam de ano para ano, principalmente no sector privado, sempre com a cabeça no cepo, numa dança harakíri em bicos de pés sobre uma corda bamba, permanentemente sob o velho ditame de "ou as receitas são maiores que os custos ou então encerra-se". A guilhotina também desce, volta e meia, sobre o pescoço do sector público, com a tutela alternadamente a prometer investimento e reforço ou a promover a redução e a privatização. Reduzir o serviço público de radiodifusão significa empobrecer a oferta, tornando-a débil, condenando-a à irrelevância e privatizar significa fazer desaparecer.
A ameaça é maior quando provém de governos de ideologia ultraliberalista. Convém lembrar que as ameaças à continuidade da existência do serviço público de Rádio agudiza-se de cada vez que um governo com essas características está no poder. Em meio-século de Democracia em Portugal aconteceu vezes suficientes para que o facto seja encarado como se se tratasse de uma mera coincidência.
Futuro
A Rádio, tal como muitas outras áreas de actividade laboral, assemelha-se a um imenso Titanic que vai afundando lentamente sem que ninguém queira muito dar por isso. A descida é irreversível, o embate no icebergue já aconteceu, estando neste momento a massa de gelo ainda a cortar o casco. Desenganem-se os que julgam que a Inteligência Artificial está aí para ajudar. A IA, ao invés do que se diz sobre aliviar a vida profissional e facilitar a vida pessoal e familiar dos trabalhadores, veio para eliminar postos de trabalho, extinguir rendimento, eliminar salários, outros custos e benefícios, em prol do engrossamento dos lucros dos proprietários e accionistas das grandes empresas. Com a IA só essas vão poder continuar a prosperar.
domingo, 26 de janeiro de 2025
O que as redes sociais nos fazem (II)
Fotografia de Jorge Carmona
De volta ao Ódio no Festival Internacional de Literatura Fólio, em Outubro do ano passado, que teve como tema a Inquietação
O ódio marca a humanidade desde sempre, mas o caminho da civilização devia atenuá-lo, racionalizá-lo, removê-lo. Não é isso que o mundo de hoje nos mostra.
O ódio foi tema para uma conversa na recente edição do festival Fólio com os escritores Hugo Gonçalves (português) e Carina Sainz Borgo (venezuelana), uma conversa levada ao que de melhor se faz na Rádio portuguesa.
O ódio foi tema para uma conversa na recente edição do festival Fólio com os escritores Hugo Gonçalves (português) e Carina Sainz Borgo (venezuelana), uma conversa levada ao que de melhor se faz na Rádio portuguesa.
"A Internet é um acelerador de partículas. É uma máquina de hiperbolização tremenda e que pega nos nossos agravos pessoais, nas pequenas coisas e lhes dá uma dimensão porque as pessoas acham que têm uma audiência. Antigamente a audiência estava circunscrita às pessoas que falavam na Televisão, às pessoas que escreviam nos jornais. E há uma falsa ilusão de que cada um de nós, com o seu telefone e com o seu perfil na rede social está a dar um espectáculo constante de "olha o que é que eu acho sobre o conflito israelo-palestiniano", sobre a polémica da semana. Essa alimentação do ego com coraçõezinhos e com likes ou com pessoas que vão lá e entram em discussão, mais o facto do algoritmo privilegiar o ultraje e o ódio - muito mais do que uma foto de um gato fofinho - isso realmente é uma tempestade perfeita para que estes sentimentos possam tornar-se um produto que depois é muito apetitoso por líderes demagógicos, por canais de Televisão sensacionalistas."
(...)
"Desde o início as redes sociais triunfaram porque o modelo de negócio exigia que não fossem responsáveis - ao contrário do que acontece nos jornais e na Comunicação Social - por aquilo que publicavam, porque senão iam ter processos que nunca mais acabava. Isso era no início que as redes sociais eram utilizadas com uma certa ingenuidade, com fotografias das férias, antes do ódio. Nós às vezes esquecemo-nos disso, mas na curta vida das redes sociais elas têm um perfil que mudou radicalmente e hoje em dia elas são usadas - não é por acaso - são usadas para manipular eleições, são utilizadas por governos exactamente para poder interferir noutros países. Então ganharam uma dimensão que não tem nada a ver com essa nossa ingenuidade inicial de quando ainda estávamos no paraíso, antes de sermos expulsos do paraíso inicial das redes sociais."
(...)
"Eu queria fazer esta diferença: não há "cá fora". Muitas vezes as pessoas diziam "ah não, mas isso são coisas das redes sociais". As redes sociais são a nossa vida, não são virtuais. Há pessoas que passam oito, nove, dez horas online. Não há uma diferença hoje em dia substancial, porque se nós estamos num estado de consciência a interagir com outras pessoas, a reagir ao ultraje, a insultá-las durante seis, sete horas, quando eu vou ao café o meu estado mental é exactamente o mesmo. Então acho que essa divisão hoje em dia é muito mais ténue. Pode-se dizer "ah, mas talvez as pessoas não digam cara a cara aquilo que dizem nas redes socais." Já começam a dizer. Essa linguagem das redes sociais já saiu e contamina a vida porque as redes sociais são a vida real."
(...)
"Eu, de vez em quando, vou espreitar as redes sociais, só espreitar - por uma questão de higiene não posso lá passar muito tempo - algumas contas que disseminam-nos desinformação e onde vão as pessoas vomitar o seu ódio diário."
sábado, 25 de janeiro de 2025
Hoje em Lisboa
Tertúlia da iniciativa de dois radialistas da Rádio pública, Nuno Galopim e João Lopes, autores do programa semanal «Duas Ou Três Coisas» na Antena1.
Este mês, a tertúlia é em homenagem ao cineasta (também músico, actor e artista plástico) norte-americano David Lynch, falecido no passado dia 15 aos 78 anos de idade, realizador das longas metragens «Eraserhead» (1977), «The Elephant Man» (1980), «Dune» (1984), «Blue Velvet» (1986), «Wild At Heart» (1990), «Fire Walk With Me» (1992), «Lost Highway» (1997), «The Straight Story» (1999), «Mulholland Drive» (2001), «Inland Empire» (2006) e da série de TV «Twin Peaks» (1990-1991; 2017).
Este mês, a tertúlia é em homenagem ao cineasta (também músico, actor e artista plástico) norte-americano David Lynch, falecido no passado dia 15 aos 78 anos de idade, realizador das longas metragens «Eraserhead» (1977), «The Elephant Man» (1980), «Dune» (1984), «Blue Velvet» (1986), «Wild At Heart» (1990), «Fire Walk With Me» (1992), «Lost Highway» (1997), «The Straight Story» (1999), «Mulholland Drive» (2001), «Inland Empire» (2006) e da série de TV «Twin Peaks» (1990-1991; 2017).
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Sobre a perda de ouvintes de Rádio
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
David Lynch na Rádio
1946-2025
20 de Janeiro 2025
Luís Caetano e Diogo Madre Deus
Luís Caetano e Diogo Madre Deus
Ouvir aqui
23 de Janeiro 2025
Inês Lourenço e Luís Caetano
Inês Lourenço e Luís Caetano
Ouvir aqui
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
O que as redes sociais nos fazem (I)
Fotografia de Jorge Carmona
A Rádio leva mais longe os encontros à volta dos livros, autores e leitores, através do mais belo e interessante programa diário da actual Rádio pública
Importante extracto da entrevista do radialista Luís Caetano à escritora neozelandesa Eleanor Catton, a mais jovem vencedora do Booker Prize, autora de «A Floresta de Birnam», o seu mais recente livro. A conversa teve lugar no Festival Internacional Literário Fólio, em Óbidos, cuja edição em Outubro de 2024 foi subordinada ao tema "A Inquietude".
"O que mais me inquieta é a nossa relação com as redes sociais. O tipo de interações que temos online, que fragiliza as nossas espectativas no relacionamento com os outros. Estamos a perder o sentido da espessura, riqueza e a complexidade do que é interagir com o outro na vida real.
Estamos a perder humanidade. A forma como vivemos o tempo online é tão estranha... uma espécie de existência em forma de tweet, os posts a passarem diante dos olhos, todo o ambiente viciante e tudo tão permanente. Podemos ir recuando a ler tudo o que se postou e tweetou interminavelmente e assim ficará até que alguém o apague. É um ambiente corrosivo, perigoso e larvar para a Humanidade. Esquecemo-nos do que é existir no tempo real. As nossas memórias formam-se a partir do que se escreveu na Internet e dos comportamentos ali assumidos. Há toda uma decadência também na memória que deixamos.
Já não estou nas redes sociais, deixei-as há oito anos. Fiquei muito mais feliz e foi uma felicidade instantânea. Foi inacreditável, na realidade. Percebi quanto me estavam a mudar o pensamento em relação a quase tudo. Já olhava superficialmente para os livros na livraria. Observava as capas e pensava se valeria a pena escrever um tweet sobre elas. E que imagem deixaria se publicasse um post sobre a leitura de determinado livro, se causaria boa impressão. Uma loucura, porque nem sequer tinha tido a experiência de o ler mas já estava a raciocinar sobre como poderia reverter esse gesto a meu favor, expondo-o publicamente. Estava a detestar tudo isso. Estou preocupada sobre os efeitos que isso terá na nossa imaginação e na capacidade de vermos o melhor nos outros.
Não acredito nisso de todo, que as redes sociais tragam uma nova forma de liberdade e Democracia em acção. Não acho que haja nada de democrático nas redes sociais. É um espaço concebido para o lucro total, para tornar as pessoas um bem lucrativo.
A maneira como os algoritmos colocam algumas coisas diante dos nossos olhos e escondem outras é algo totalmente fora do nosso controlo. Todo o uso que damos aos nossos aparelhos está a ser monitorizado e é vendido em pacote aos anunciantes e outras empresas, tornando cada vez mais rico um grupo inacreditavelmente restrito de pessoas que têm agora mais poder do que alguma vez foi imaginado, do que alguma vez alguém teve na história do mundo. Não compro essa ideia de que as redes sociais são uma versão moderna da praça pública. É acima de tudo um mercado e o que perdemos é, pelo menos, equivalente ao que elas nos podem dar."
16:00/18:00
28.Dezembro.2024 (2ª hora)
28.Dezembro.2024 (2ª hora)
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
O Mundo está uma Trampa
sábado, 18 de janeiro de 2025
Hoje em Évora
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Festival Antena 2
8ª edição | De 29 de Janeiro a 1 de Fevereiro | Teatro São Luiz em Lisboa
A única estação de âmbito nacional a realizar um festival em nome próprio.
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Happy Mondays
Outro dos emblemáticos programas da recentemente encerrada Rádio SBSR a ressurgir exclusivamente na Internet.
O encontro semanal entre dois melómanos radialistas em salutar partilha de discos.
O encontro semanal entre dois melómanos radialistas em salutar partilha de discos.
Ouvir aqui
Mais sobre o programa «Happy Mondays" na «Rádio Crítica»:
Segundas-feiras alegres (28.Outubro.2019)
Hoje na SBSR (25.Fevereiro.2020)
Segundas-feiras alegres (28.Outubro.2019)
Hoje na SBSR (25.Fevereiro.2020)
domingo, 5 de janeiro de 2025
"A vida ao vivo"
Antes de mais, sublinhar que a actual (com designação feminina) Correio da Manhã Rádio, cujas emissões regulares iniciaram-se no passado dia 11 de Novembro, nada tem de igual nem sequer parecido com o extinto (com designação masculina) Correio da Manhã Rádio que existiu entre 1987 e 1993. São histórias completamente diferentes, projectos totalmente distintos, apenas o nome é igual.
A actual CMR é um formato inédito no panorama radiofónico nacional e não pelas melhores razões. Querendo ser uma extensão da Correio da Manhã TV (CMTV) não é nem uma coisa nem outra. Ao sintonizar a CMR nas duas frequências em que emite em Frequência Modulada (FM), ou no sítio na Internet, o ouvinte comum depara-se com um formato híbrido, indestrinçável entre o som que é oriundo da Televisão e o som que é oriundo da Rádio.
A maior parte das 24 horas de programação é uma integral retransmissão da CMTV, onde se ouve expressões exclusivas da Televisão como "vamos ver as imagens", "como mostram as imagens", "como se vê no vídeo", "as imagens mostram", "vemos nas imagens", etc, etc. Uma amálgama que não é nem Rádio nem Televisão, extremamente confusa para quem ouve, utilizando linguagem indistinta dos dois meios, atirando para quem escuta o esforço de encontrar as devidas diferenças. Ou seja, o ouvinte que seleccione.
A programação está desprovida de referências básicas orientadoras de uma estação de Rádio, sem sinais horários, sem previsibilidade de quando há noticiários ou outro conteúdo qualquer. O discurso utilizado é uma mescla de informalidade demasiado banal fora dos espaços noticiosos, sensacionalista dentro da informação, sendo que neste aspecto em particular a CMR em nada surpreende, estando em linha com o formato que o Correio da Manhã habituou os consumidores do jornal diário e da emissão televisiva da mesma marca.
É uma meia-rádio desconcertante, perturbante, desorientadora, difícil de fidelizar, que assim não oferece conforto, pontos de referência, orientação programática, confiança e segurança auditiva.
Lamentável para alguns profissionais, forçados a trabalhar num estilo com o qual - e com toda a legitimidade - dificilmente se conseguem identificar, lamentável para o formato Rádio que, repetidamente, de cada vez que se mistura com a TV fica sempre a perder e lamentável para o mercado, mais uma vez distorcido por um produto desadequado à Rádio e com o qual está desconectado. Uma espécie de roda quadrada desenquadrada.
Foi para isto que se venderam as Rádios SBSR em Lisboa e Festival no Porto?
Lamentável para alguns profissionais, forçados a trabalhar num estilo com o qual - e com toda a legitimidade - dificilmente se conseguem identificar, lamentável para o formato Rádio que, repetidamente, de cada vez que se mistura com a TV fica sempre a perder e lamentável para o mercado, mais uma vez distorcido por um produto desadequado à Rádio e com o qual está desconectado. Uma espécie de roda quadrada desenquadrada.
Foi para isto que se venderam as Rádios SBSR em Lisboa e Festival no Porto?
A Rádio necessita de tempo para se afirmar, é uma viagem de longo curso até atingir níveis estáveis. A nova CMR, querendo, vai sempre a tempo de corrigir a sua actual orientação e centrar-se em princípios radiofónicos basilares, tem bons profissionais para isso, mas o primeiro passo - que é fundamental para a afirmação e fixação de ouvintes - já está dado e foi em falso.
CMR Lisboa 90.0 FM
CRM Porto 94.8
Site aqui