quarta-feira, 2 de março de 2005


Conheci um guitarrista que dizia «a minha amiga rádio». Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa Terra Longínqua da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo limitando-se a ouvir rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida.

22/12/79 Homestead Valley, Ca.

Sam Shepard in Crónicas Americanas



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